Lula ironiza tríplex no Guarujá: ‘Era pequeno, tipo Minha Casa Minha Vida’

Publicado em 14/03/2016 17:08
em veja.com.br

Depois de ter prestado depoimento por quase quatro horas no último dia 4 no processo que o envolve no escândalo do petrolão, o ex-presidente Lula fez praticamente um comício para a militância, desqualificou as autoridades e desafiou os investigadores da Lava Jato com o novo bordão: "a jararaca está viva". Como tem feito desde que ascendeu à Presidência da República, ironiza o que considera privilégios das elites e ataca meios de comunicação. Mas como prova de que o discurso do petista nem sempre tem consistência com a realidade, o petista reclamou diretamente para o empreiteiro Leo Pinheiro, da construtora OAS, sobre a suposta simplicidade do imóvel e comparou o apartamento de luxo a uma unidade habitacional do programa popular Minha Casa Minha Vida.

Conforme revelou VEJA, o refúgio da família Lula da Silva no Guarujá é um tríplex de 297 metros quadrados, três quartos, suíte, cinco banheiros, dependência de empregada, sala de estar, sala de TV e área de festas com sauna e piscina na cobertura. Segundo as investigações da Lava Jato, por ordem de Lula, o imóvel foi amplamente reformado, com a instalação de um elevador privativo, porcelanato e acabamento de gesso refeitos, planta interna modificada e tudo bancado pela OAS.

Na versão apresentada pelo petista à Polícia Federal, a configuração inicial do tríplex não era o suficiente para abrigar a esposa e os filhos. A reclamação sobre as instalações foi direcionada ao amigo Leo Pinheiro. "Quando eu fui a primeira vez, eu disse ao Leo que o prédio era inadequado porque além de ser pequeno, um tríplex de 215 metros é um tríplex 'Minha Casa, Minha Vida', era pequeno", relatou o ex-presidente.

"Isso é bom ou é ruim?", questiona o delegado Luciano Flores de Lima. A resposta de Lula: "Era muito pequeno, os quartos, era a escada muito, muito... Eu falei 'Leo, é inadequado, para um velho como eu, é inadequado." Na sequência, o petista disse que o empreiteiro Leo Pinheiro se comprometeu a "pensar um projeto" para agradar o amigo.

Em janeiro, a Operação Lava Jato deflagrou a fase batizada de Triplo X e anunciou fazer uma varredura em todos os apartamentos do condomínio Solaris, no Guarujá, onde a empreiteira OAS, investigada por participar do petrolão, assumiu a construção dos imóveis após um calote da Bancoop, a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo. A cooperativa deu calote em seus associados enquanto desviava recursos para os cofres do PT, quebrou em 2006 e deixou quase 3 000 famílias sem seus imóveis, enquanto petistas graúdos, como o ex-presidente Lula, receberam seus apartamentos.

A Polícia Federal lista como objeto de possíveis irregularidades "manobras financeiras e comerciais complexas envolvendo a empreiteira OAS, a cooperativa Bancoop e pessoas vinculadas a esta última e ao Partido dos Trabalhadores" e diz que "unidades do condomínio Solaris, localizado na Av. Gal. Monteiro de Barros, 638, em Guarujá-SP, podem ter sido repassadas a título de propina pela OAS em troca de benesses junto aos contratos da Petrobras".

Publicamente Lula nega ser o proprietário do tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, embora os investigadores da Lava Jato não tenham dúvida quanto à titularidade do apartamento. Desta vez, no depoimento prestado em 4 de março, ele apresentou mais uma explicação esdrúxula sobre o motivo de supostamente ter desistido de quitar o bem - a ex-primeira-dama Marisa Letícia é dona de cotas de um apartamento no mesmo edifício. "Uma das razões é porque eu cheguei à conclusão que seria inútil pra mim um apartamento na praia, eu só poderia frequentar a praia Dia de Finados, se tivesse chovendo. Então eu tomei a decisão de não ficar com o apartamento", disse Lula.

O ex-petista chegou a classificar as suspeitas envolvendo o apartamento no Guarujá a uma "sacanagem homérica". "Eu acho que eu estou participando do caso mais complicado da história jurídica do Brasil, porque tenho um apartamento que não é meu, eu não paguei. (...) A Polícia Federal inventa a história do tríplex que foi uma sacanagem homérica, inventa história de tríplex, inventa a história de uma offshore do Panamá que veio pra cá, que tinha vendido o prédio, toda uma história pra tentar me ligar à Lava Jato, toda uma história pra me ligar à Lava Jato, porque foi essa a história do triplex", afirmou o petista no depoimento.

Lula foi ouvido em depoimento no início do mês, quando ficou por quase quatro horas diante dos investigadores em uma sala reservada no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Sempre que foi questionado sobre o funcionamento do Instituto Lula ou da remuneração da LILS, empresa de palestras dele e beneficiária de quase 10 milhões de reais de empreiteiras ligadas ao petrolão, disse não "gostar de participar das decisões" do instituto. Chegou a alegar que não cuida sequer das finanças de sua casa. O petista disse que as empresas não o procuravam espontaneamente para fazer doações, mas negou que ele próprio tenha intercedido em busca de recursos. "Não faz parte da minha vida política. Desde que estava no sindicato eu tomei uma decisão: eu não posso pedir nada a ninguém porque eu ficaria vulnerável diante das pessoas. Não [pediu dinheiro] e pretendo não pedir nos últimos anos que eu tenho de vida", alegou o ex-presidente. O fluxo financeiro do Instituto Lula, afirmou, "é menos do que eu precisava".

"Como qualquer outra empresa ou qualquer outro instituto, ou você recolhe fazendo o projeto ou você recolhe pedindo dinheiro. Eu não conheço ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro, nem o dízimo da igreja é espontâneo, se o padre ou o pastor não pedir, meu caro, o cristão vai embora, vira as costas e não dá o dinheiro. Então dinheiro você tem que pedir, você tem que convencer as pessoas do projeto que você vai fazer, das coisas que você vai fazer. Lamentavelmente, no Brasil ainda não é uma coisa normal, mas no mundo desenvolvido isso já é uma coisa normal, ou seja, não é nem vergonha, nem crime, alguém dar dinheiro para uma fundação. Aqui no Brasil a mediocridade ainda transforma tudo em coisas equivocadas", alegou.

Na condição de investigado na Operação Lava Jato, o ex-presidente disse que a Instituto Lula não tem "nenhuma" relação com a Camargo Correa e, questionado sobre as doações que ao grupo teria repassado à sua entidade, ironizou: "Até saiu na imprensa que ela fez". "Eu vou repetir, deve ter sido ou o tesoureiro do instituto ou algum diretor do instituto. Ela deu para o instituto acho que a metade do que ela deu para o Fernando Henrique Cardoso, metade, deveria ter dado mais, mas deu menos", disse o petista.

Em um momento de irritação, Lula afirmou que "é possível" que o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, ou a ex-assessora Clara Ant, que integra a diretoria da entidade, tenha pedido doações a empreiteiras. "A todas, todas, todas", resumiu Lula quando indagado explicitamente sobre pedidos de repasses feitos à Camargo Correa, OAS, Odebrecht, UTC e Queiroz Galvão. Todas elas têm dirigentes investigados ou condenados no escândalo do petrolão por terem se aliado para fraudar contratos envolvendo a Petrobras e distribuir propina a agentes públicos e políticos. "Como eu sou uma figura muito forte, se eu participo das reuniões, ou seja, dá a pressão que o que eu falar vira lei, então eu não participo que é para eles tomarem as decisões que entenderem corretas para o instituto", disse.

O petista evitou citar nomes de executivos ligados às empreiteiras que repassariam doações a seu instituto e mais uma vez se eximiu das funções financeiras da entidade: "Eu já disse para você que a mim não interessa discutir esses assuntos, não me interessa". Ele negou que grandes doações fossem "comemoradas" e não soube explicar o montante médio das doações. Mais uma vez, terceirizou as responsabilidades: "não pergunte para mim essas coisas financeiras porque eu não cuido disso. Faço questão de não fazer ideia". "Nem no instituto e nem em casa eu cuido disso, em casa tem uma mulher chamada dona Marisa que cuida e no instituto tem pessoas que cuidam", ironizou.

Campanha de 2006 - No depoimento à Polícia Federal, Lula foi questionado sobre a rotina de arrecadação de doações para a campanha de 2006. Naquele ano, quando José de Filippi era tesoureiro da corrida presidencial pela reeleição, empreiteiras do Clube do Bilhão repassaram pelo menos 2,4 milhões de reais em caixa dois para o caixa eleitoral de Lula. As revelações foram feitas pelo empreiteiro e delator da Lava Jato Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, que afirmou que as empreiteiras Queiroz Galvão, IESA e Camargo Correa aceitaram pagar doações não oficiais a pedido do então tesoureiro. No depoimento, Lula disse não saber da doação de 2,4 milhões de reais. Novamente, tentou se descolar do dia a dia da campanha ou dos métodos de arrecadação que o levaram pela segunda vez ao Palácio do Planalto: "Deixa eu lhe falar uma coisa, um presidente da República que se preze não discute dinheiro de campanha, se ele quiser ser presidente de fato e de direito ele não discute dinheiro de campanha", respondeu ele à Polícia Federal.

Nas investigações da Operação Lava Jato, o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró disse, em acordo de delação premiada, que a Petrobras pagou 300 milhões de dólares ao governo de Luanda pelo direito de explorar um campo petrolífero em águas profundas nas costas de Angola. Cerveró disse ter ouvido de Manuel Domingos Vicente - então presidente do Conselho de Administração da Sonangol, a estatal angolana do petróleo - que até 50 milhões de reais oriundos de propinas produzidas pelo negócio foram mandados de volta para o Brasil com o objetivo de irrigar os cofres da campanha de Lula.

Confira alguns trechos do depoimento:

Sobre a empresa do filho

Delegado da Polícia Federal: O senhor conhece a empresa G4 Entretenimento e Tecnologia Digital?

Lula: Eu não conheço, mas eu sei que acho que é do, o meu filho acho que era sócio dela, G4.

Delegado: Qual filho?

Lula: O Fábio.

Delegado: O senhor sabe quais as atividades exercidas por ela?

Lula: Não sei. Esse negócio de game, não me pergunte nada que eu sou analfabeto.

Delegado: O senhor saberia dizer, ele já comentou com o senhor quantos empregados, ele dá emprego para quanta gente lá, quantas famílias sobrevivem dela, não sabe dizer?

Lula: Não, cada um cuida do seu nesse país.

Delegado: Mas, assim, mais de 5, mais de 20?

Lula: Eu não sei, querido, não tenho a menor noção.

Delegado: E o senhor sabe onde ela se situa?

Lula: Não. Aliás, eu nunca fui.

Delegado: Além do seu filho Fábio, seria um dos sócios dela, quem seriam os outros sócios?

Lula: Não sei, querido.

Delegado: E ela já recebeu valores do Instituto Lula?

Lula: Se prestou serviços, não recebeu benefícios, recebeu pagamentos, eu não sei se prestou serviços, mas se prestou serviços recebeu, todo mundo que presta serviços para o instituto recebe.

Lula desconversa sobre os valores que eram doados ao Instituto Lula

"Nem no instituto e nem em casa eu cuido disso, em casa tem uma mulher chamada dona Marisa que cuida e no instituto tem pessoas que cuidam."

Sobre os pedalinhos do sítio de Atibaia

"Certamente que a dona Marisa adoraria ver os netos dela e outras crianças que fossem lá possivelmente passear naquilo (...) Eu fico, acho que não é legal, eu fico constrangido de você me perguntar de pedalinho e de me perguntar de um barco de 3 mil reais, sinceramente eu fico."

Sobre o tríplex do Guarujá

"Eu acho que eu estou participando do caso mais complicado da história jurídica do Brasil, porque tenho um apartamento que não é meu, eu não paguei, estou querendo receber o dinheiro que eu paguei, um procurador disse que é meu, a revista Veja diz que é meu, a Folha diz que é meu, a Polícia Federal inventa a história do triplex que foi uma sacanagem homérica, inventa história de triplex, inventa a história de uma offshore do Panamá que veio pra cá, que tinha vendido o prédio, toda uma história pra tentar me ligar à Lava Jato, toda uma história pra me ligar à Lava Jato, porque foi essa a história do triplex."

José Dirceu

Delegado da Polícia Federal: José Dirceu tinha alguma interlocução com o senhor na indicação e nomeação de diretores da Petrobras?

Lula:Ele era o chefe da Casa Civil, ele cumpria com o papel reservado a ele. As discussões com as lideranças aconteciam, com os ministros, e chegava pra Casa Civil, mandava para o GSI pra trazer pra mim.

Delegado: O senhor tomou algum conhecimento, que não seja pela imprensa, de que o senhor José Dirceu recebia vantagens indevidas relacionadas à Petrobras?

Lula: Pela imprensa.

Delegado: Só pela imprensa?

Lula: E sinceramente não acredito.

Delegado: Certo. E o senhor sabe me dizer qual o papel dele no Partido dos Trabalhadores após a prisão dele no processo do mensalão?

Lula: Acho que nenhum, querido. Nenhum, nenhum, é uma pena, que o José Dirceu era um grande dirigente político. Acho que poucas pessoas têm a cabeça privilegiada do ponto de vista político que tem o José Dirceu.

Sobre José de Filippi Junior, seu ex-tesoureiro de campanha e ex-presidente do Instituto Lula, que teria recebido milhões desviados da Petrobras. Defesa alega que dinheiro era para palestras do ex-presidente

Delegado da Polícia Federal: Ele nunca teria autorização para pedir ou fazer agendamento de palestras, tratar qualquer valor de remuneração a palestras.

Lula: Não.

Delegado: Isso o senhor afirma com certeza?

Lula: Tem 99% de possibilidade que ele nunca tratou disso.

Sobre seguranças, frangos e hotel de luxo

Delegado da Polícia Federal: A sua segurança é a atual, que vai junto nas palestras, mesmo sendo noutro país?

Lula: A segurança vai, a segurança é permanente.

Delegado: Mas ela não recebe da LILS. Ela é sempre remunerada pelo...

Lula: Não, as coisas dela são as coisas oficiais.

Delegado: Certo.

Lula: O salário deles é o salário que eles ganhavam das forças, não sei se é das Forças Armadas, ou seja, a...

Delegado: A diária também.

Lula: Não, a viagem deles é paga, eles vão de avião de carreira antes, e a viagem deles é paga pelo esquema da Presidência, no meu tempo era bem pouquinho, devia ser uns cem reais, ou seja, querido, eu vou lhe contar uma coisa, eu quando vejo denúncia de corrupção, eu vejo e acho que tem muita, eu devo lhe contar uma história, a primeira viagem que eu fiz para a ONU, 23 de setembro de 2003, os companheiros que levam a bagagem, alguns companheiros de segurança levaram, eu vou até, porque está filmando aqui, eu vou falar que tive utilidade um dia na vida, levaram frango com farinha, chegaram no hotel, aqui no hotel que todo mundo acha que é chic, o Waldorf Astoria, não tem?

Delegado: Sim.

Lula: Eles imaginaram que o cofre era o micro-ondas e colocaram o frango lá dentro, e não conseguiram abrir o cofre, acho que o frango deve estar lá até hoje ou o cara do hotel encontrou o frango. O pessoal comia, o pessoal da presidência comia coisa que levava, às vezes cozinhava no quarto, porque a diária não dava para pagar nada.

Palestras de 200 mil dólares

"Quando eu deixei a Presidência todas as empresas de palestras, que organizam palestras de Bill Clinton, Bill Gates, Kofi Annan, Felipe Gonzales, Gordon Brown, todas as empresas mandaram e-mail, mandaram telegrama, mandaram convite, telefonaram, que queriam me agenciar para fazer palestra, nós então fizemos um critério de não aceitar nenhuma empresa para me agenciar, primeiro por cuidado político, que a gente não sabia quem eram, e segundo porque a gente queria fazer palestras selecionadas, ou seja, que a gente pudesse falar do Brasil (...) o que o Brasil tinha de perspectiva para a frente, e decidimos cobrar um valor, todas as minhas palestras custam exatamente 200 mil dólares, nem mais nem menos."

Sobre todas as acusações levantadas pela Justiça contra ele

"Eu espero que quando terminar isso aqui alguém peça desculpas. Alguém fale: 'Desculpa, pelo amor de Deus, foi um engano."

 

Lula: vinhos, Zezé de Camargo e os carneirinhos de dona Marisa

No enésimo round do embate que travou com a Polícia Federal e o Ministério Público durante o depoimento que prestou no processo relacionado à Lava Jato, o ex-presidente Lula se irritou ao ser questionado sobre vinhos raros e premiados que armazenava nas adegas da Granja do Torto e nos escritórios dele e da ex-primeira-dama Marisa Letícia no período que ocupou a Presidência da República.

Documentos obtidos por VEJA mostram que, logo após deixar o governo, pertences do ex-presidente e da família foram levados, a expensas de empreiteiros envolvidos no petrolão, para o hoje célebre sítio em Atibaia, imóvel que as investigações apontam ser do petista. Foram exatas 37 caixas de bebidas, que armazenavam preciosidades como um Château Petrvs (sem indicação de ano), da região de Pomerol, na França. Uma garrafa não sai por menos de 10.000 reais. A rara edição da safra de 2000 beira os 35.000 reais.

"Por que essa pergunta do vinho? Porque o vinho é um transporte que é igual o carro de boi que o Zezé de Camargo e o Luciano me deram, igual aos bonecos de barro de presépio da dona Marisa, aquele presépio que ficava na frente do Palácio, quando eu era presidente, a dona Marisa embarcou carneirinho, embarcou o Jesus Cristo, embarcou o rei mago e levou tudo pra lá. Qual é a importância da pergunta extensiva ao vinho?", reclamou Lula no depoimento que prestou no último dia 4 de março.

O Château Petrvs identificado nas investigações da Operação Lava Jato estava armazenado no escritório da ex-primeira-dama em São Paulo. Segundo Lula, ele foi presenteado com o exemplar durante as Olimpíadas de 2008 e disse "não ter a menor noção" se o vinho é bom. Menos se vangloriando por supostamente não saber a diferença entre vinhos populares e exemplares premiados - discurso que adotou para a militância assim que deixou o depoimento há dez dias - o ex-presidente não perdeu a oportunidade de reclamar da qualidade do vinho nacional Miolo Seleção.

"Eu sou tão conhecedor de vinho que se o cara me der um... Como é que chama o nosso gaúcho lá, o sabor, o primeiro nome? O Miolo Seleção que não é muito bom. Se o cara me der dois copos de vinhos, separado em copo, eu sou um péssimo bebedor de vinho. Gostaria de não ser, você bebe vinho bem, né? Mas eu sou péssimo", justificou Lula.

Quando se revelou a existência de uma torre de telefonia móvel da Oi próxima ao sítio que frequenta em Atibaia, no interior de São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou desqualificar a suspeita de favorecimento argumentando que não usa celular. Em seu depoimento na Operação Aletheia, Lula deu à Polícia Federal mais uma prova de desapego. Questionado se os seguranças que o acompanhavam nos finais de semana faziam compras em farmácia e padarias de Atibaia com o cartão bancário do petista, ele respondeu: "Eu não tenho cartão". Surpreso, o delegado federal insistiu: "Não tem?". E Lula confirmou: "Não uso cartão, querido". 

 

Lula ignora cartaz e diz à PF que Bumlai "nunca esteve" no Planalto

 

José Carlos Bumlai
Cartaz que detalhava "atendimento específico" a Bumlai no Planalto(VEJA.com/VEJA)

No depoimento de Lula à Polícia Federal na Operação Aletheia, a 24ª fase da Operação Lava Jato, o ex-presidente manteve o expediente de negar os fatos com exageros no mínimo inverossímeis. O mesmo Lula que se saiu com um "não uso celular" para desqualificar um possível favorecimento da Oi a ele na instalação de uma antena próxima ao sítio de Atibaia afirmou à PF que, salvo engano, José Carlos Bumlai "nunca esteve no Palácio do Planalto" e "nunca teve uma audiência comigo". Segundo VEJA revelou em 2011, um cartaz com a foto do pecuarista figurava em uma das portarias do Planalto com os seguintes dizeres: "O sr. José Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento na portaria Principal do Palácio do Planalto, devendo ser encaminhado ao local de destino, após prévio contato telefônico, em qualquer tempo e qualquer circunstância".

(João Pedroso de Campos, de veja.com.br,  São Paulo)

 

Cinismo de Lula em depoimento à PF é incalculável (por Felipe Moura Brasil)

Veja mais de 10 pontos tragicômicos, desmascarados e comentados pelo blog

1) Lula, em nota ao Jornal Nacional: “Não comprei nem ganhei apartamento, mansão, sítio“. Lula, em depoimento à PF: “tudo que os companheiros que compraram o sítio fizeram foi tentar garantir que eu tivesse um lugar pra descansar”.

Lula ganhou o sítio, sim, para seu descanso. Lula desmente Lula.

2) “Delegado da PF: Quando que os seus amigos compraram o sítio para o senhor usar para descanso ou pra qualquer atividade?

Lula: Eu sei que eles deram sinal, depois pagaram, e foi dividido, e eu fiquei sabendo no dia 13 de janeiro de 2011 e fui conhecer o local dia 15 de janeiro. Sei também, dito pelo companheiro Fernando [Bittar], pelo Jacó Bittar e pelo Jonas [Suassuna], de que uma das ideias deles era não só que eu tivesse um lugar pra descansar, mas também que tivesse alguma coisa pra guardar as tralhas de Brasília, que é muita tralha que a gente ganha.”

a) O delegado devia ter citado os seguintes fatos:

— uma semana antes, em 6 de janeiro de 2011, o Estadão já informava que a mudança de Lula de Brasília seria levada para seu sítio em Atibaia;

— a mudança — inclusive 37 caixas de bebida — seguiu, de fato, para o sítio, como mostrou recente reportagem de VEJA;

— a mudança — paga pela Presidência — foi entregue no dia 8 de janeiro de 2011.

b) O delegado devia ter feito a pergunta que antecipei aqui:

Como pode o senhor só ter sabido da compra do sítio 3 dias depois de sua mudança ter ido para lá e 7 dias depois que a imprensa a noticiou?

Provavelmente, Lula diria que não lê o Estadão e que não foi ele quem cuidou da mudança, então não sabia de nada, como de costume. Mas era necessário registrar.

3) Sobre os pedalinhos do sítio, identificados neste blog como tendo os nomes dos netos de Lula, ele respondeu ao delegado:

“Certamente que a dona Marisa adoraria ver os netos dela e outras crianças que fossem lá possivelmente passear naquilo (…). Eu fico, acho que não é legal, eu fico constrangido de você me perguntar de pedalinho e de me perguntar de um barco de 3 mil reais, sinceramente eu fico.”

Eu fico, acho que é bem legal, eu fico contente e orgulhoso de ter ajudado a constranger Lula.

4) Sobre ter pedido dinheiro a empresas para seu Instituto, Lula disse ao delegado:

“Não, porque não faz parte da minha vida política, ou seja, eu desde que estava no sindicato eu tomei uma decisão: eu não posso pedir nada a ninguém porque eu ficaria vulnerável diante das pessoas”.

Diante das suspeitas contra Lula, é inevitável traduzir a frase como “eu sempre usei operadores”, “eu sempre usei laranjas”.

Este blog relembra a conclusão do então procurador-geral da República Roberto Gurgel sobre a atuação de José Dirceu no mensalão:

“É certo que, em sua defesa, o acusado afirma que não existe prova de que tenha praticado os atos que lhe atribui a denúncia. Isto porque, como quase sempre ocorre com chefes de quadrilha, o acusado não aparece ou não apareceu ostensivamente nos atos de execução de esquema.”

Tirem suas próprias conclusões.

5) Tuitei em 22 de fevereiro:

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O tuíte virou um post mais completo neste blog, intitulado: “Depois de ‘O PT não tem marqueteiro’, só falta ‘Instituto Lula é de FHC’“.

Pois bem. Agora sabemos o que Lula disse à PF a respeito:

“Eu era, na verdade eu era a fotografia do instituto, eu era a cara do instituto, era não, eu sou a cara do instituto, o instituto está ali por minha causa, o do Clinton só existe por conta dele, o do Kofi Annan só existe por conta dele, qualquer instituto só existe em função da cara da pessoa que dá o nome, o Instituto Mandela existe por causa do Mandela, então o instituto vai existir, eu não sei se vai persistir quando eu morrer, mas enquanto eu existir está lá o instituto.”

Questionado se autoriza gastos, Lula disse ainda:

“Eu não autorizo porque eu não, no instituto hoje eu sou só presidente de honra e você sabe que se um dia você for presidente de honra da Polícia Federal aqui você não representa mais nada, ou seja, então o presidente de honra é um cargo de honra só, eu não participo das reuniões da diretoria, eu não participo das decisões, porque o instituto tem uma diretoria própria“.

Como queríamos demonstrar: só faltou dizer “Instituto Lula é de FHC”.

6) Lula disse à PF que não participa da gestão de seu instituto e que a única sede dele é aquela “só em São Paulo, só naquele lugarzinho ali” no bairro Ipiranga, mas, ao ser confrontado sobre a existência de uma outra sala em São Bernardo do Campo, onde a PF encontrou documentos, Lula sabia exatamente o que funciona lá e até confirmou o nome do dono do imóvel:

Lula: Lá funciona a assessoria de imprensa, lá funciona o blog do instituto, lá funciona a presidência do instituto.

Delegado da PF: Certo. O senhor conhece Jair Francisco Sapurani?

Lula: Deve ser o proprietário que alugou a casa.

Em suma: Lula quer que a PF acredite que ele conhece o funcionamento das sedes, mas não o do dinheiro. Aham.

7) Lula disse que a função de pedir dinheiro em nome do Instituto cabe à “direção do instituto”.

Delegado da PF: Então é possível, por exemplo, que o próprio Paulo Okamotto ou a Clara Ant tenham pedido doações a qualquer empresa, entre elas a Camargo Correa?

Lula:­ É possível, é possível.

Em seguida, o delegado pergunta sobre cada empreiteira que pode ter feito doação e Lula vai confirmando até responder de uma vez:

Lula:­ Todas, todas, todas.

(…) Delegado da Polícia Federal:­ Enfim, todas essas fizeram doações ao Instituto Lula…

Lula:­ Não sei se todas fizeram.

Delegado da Polícia Federal:­ Não sabe?

Lula:­ Não sei, querido.

O que Lula sabe é que tentou jogar a culpa em Paulo Okamotto e Clara Ant para não ficar vulnerável diante das pessoas.

Os operadores existem, afinal, para levar a culpa do chefe na hora do aperto.

Como queríamos demonstrar na edição de imagens do samba:

8) Lula confirmou à PF que seu Instituto, criado – em tese – para combater a fome no mundo, não doou um centavo arrecadado junto às empreiteiras para as pessoas famintas de lugar algum.

Delegado da PF: E foi enviado algum recurso para a África para eventualmente ajudar na miséria ou fome, alguma coisa assim?

Lula: Não, não.

Delegado da PF: Aqui no Brasil foi…

Lula: Que eu saiba não.

Delegado da PF: E aqui no Brasil?

Declarante: Deixa eu lhe falar, o instituto não é uma ONG, o instituto não é, eu tomei uma decisão que o instituto não seria uma ONG, nós não vamos fazer um instituto que ‘Ah, mandar 10 milhões para cuidar não sei do que, não sei aonde’, não, não é esse o papel do instituto, o papel do instituto é tentar mostrar para as pessoas que é possível pescar, o papel do instituto é ensinar as pessoas a pescar os mesmos peixes que nós pegamos no Brasil, mostrar que é possível um país se desenvolver, evoluir, gerar emprego, gerar renda, melhorar a vida de todo mundo, melhorou a vida da Polícia Federal pra caceteno meu governo, melhorou a vida dos catadores de papel pra cacete, melhorou a vida do pequeno produtor rural como nunca melhorou nesse país, então o que nós fazemos é mostrar o que acontece, o que é possível fazer num país, esse é o papel do instituto.

O Instituto Lula, de fato, pescou todos, todos, todos os maiores peixes do petrolão.

Isso melhorou a vida do Lula pra cacete.

9) Lula disse não saber da doação de 2,4 milhões de reais em caixa dois para o caixa eleitoral de sua campanha de 2006.

A doação foi feita por empreiteiras do Clube do Bilhão da Petrobras, segundo o delator Ricardo Pessoa.

“Deixa eu lhe falar uma coisa, um Presidente da República que se preze não discute dinheiro de campanha, se ele quiser ser presidente de fato e de direito ele não discute dinheiro de campanha”, respondeu Lula à PF.

Diante das suspeitas contra Lula e PT, é inevitável traduzir a frase como “se você quer ser presidente do Brasil, tem de fazer vista grossa ao dinheiro sujo que entra na sua campanha”.

10) O delegado também perguntou se o petista José de Filippi, tesoureiro da campanha de reeleição de Lula em 2006, tem alguma relação com a empresa de palestras de Lula, L.I.L.S:

Lula: Não tem.

Delegado da PF: Nunca teve?

Lula: Nunca teve.

Delegado da PF: Então ele nunca teria autorização para pedir ou fazer agendamento de palestras, tratar  qualquer valor de remuneração a palestras?

Lula: Não.

Delegado da PF: Isso o senhor afirma com certeza?

Lula: Tem 99% de possibilidade que ele nunca tratou disso.

Ah, querido, aquele 1%…

11) Nunca antes na história deste país um ex-presidente escarneceu tanto dos pobres como Lula:

Delegado da PF: Qual era a intenção da segunda visita [ao triplex do Guarujá]?

Lula: Quando eu fui a primeira vez, eu disse ao Léo [Pinheiro] que o prédio era inadequado porque além de ser pequeno, um triplex de 215 metros é um triplex “Minha Casa, Minha Vida”, era pequeno.

O cinismo de Lula é incalculável.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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Na FOLHA: PF questiona Lula sobre superfaturamento na redução da miséria

POR DINHEIRO PÚBLICO & CIA (folha de s. paulo)

No depoimento que prestou à Polícia Federal no último dia 4, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi questionado sobre um dos números mais notórios -e obscuros- da propaganda petista: a suposta retirada de 36 milhões de pessoas da miséria na gestão do partido.

Nenhuma contagem aponta uma quantidade tão grande de indigentes antes do governo Lula. Usando os critérios do programa Bolsa Família (renda mensal até R$ 70, em valores de 2011), o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ligado ao Executivo federal), estimou 14,9 milhões de miseráveis em 2002 e 6,5 milhões em 2012.

 

Por outra metodologia, que leva em consideração a necessidade de consumo de calorias, o Ipea calcula que os extremamente pobres eram 23,9 milhões em 2002 e 8,2 milhões em 2014. Nada que se pareça, portanto, com o número repetido por Lula.

A conta do PT se origina de documentos do Ministério do Desenvolvimento Social segundo os quais havia, em 2011, 36 milhões de pessoas atendidas pelo Bolsa Família que, sem a ajuda do programa, estariam na miséria.

No interrogatório de Lula, o delegado apresentou dúvidas sobre os dados, e o ex-presidente se atrapalhou nas respostas. Veja abaixo a íntegra do diálogo, com observações em destaque:

Lula – (…) a grande novidade no mundo é as pessoas saberem como é que nós conseguimos elevar 40 milhões de pessoas à classe média e como é que nós conseguimos tirar 36 milhões de pessoas da pobreza absoluta, esse é o grande segredo do mundo.

Delegado – Quando o senhor tirou 36 milhões de pessoas da pobreza absoluta, qual era a população do Brasil?

Lula – Era 200 milhões de habitantes.

(Errado: pelas estimativas oficiais, a população só chegou a tanto em 2013, já no governo Dilma Rousseff)

Delegado – Então, mais de 15%…

Lula – Ou 198, 199, uma coisa assim, a população de dez anos atrás, era 200 milhões de habitantes.

(A população de dez anos atrás, ou seja, ao final de 2005 e início de 2016, era de pouco mais de 185 milhões de pessoas)

Delegado – Então o senhor afirma que mais de 15% vivia na pobreza absoluta?

Lula – Era aproximadamente 15%, era aproximadamente 54 milhões de pessoas.

(54 milhões são 15% de 360 milhões, ou cerca de o dobro da população no início do governo Lula)

Delegado – Na pobreza absoluta?

Lula – Aí quando nós tivemos o estudo em 2003, dados do IBGE, nós tínhamos cerca de 54 milhões de pessoas vivendo na extrema pobreza no Brasil.

(Pelo critério das necessidades calóricas, o número de extremamente pobres subiu de 23,9 milhões, em 2002, para 26,2 milhões em 2003)

Delegado – Então, mais de um quarto da população nessa época…

Lula – Eram pessoas que viviam na pobreza, ganhavam menos que, eu não sei se eram US$ 2 por dia, US$ 1 por dia.

(Fica visível a confusão entre taxa de pobreza, muitas vezes apurada pelo critério de US$ 2 por dia, e de extrema pobreza, ou miséria, que emprega a metade desse valor ou um pouco mais. Os 36 milhões da propaganda petista seriam miseráveis)

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Fonte:
veja.com,br

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