Na FOLHA: Lula aluga duplex de primo de Bumlai para evitar 'desconforto', diz Okamotto

Publicado em 08/03/2016 00:15
+ Josias de Souza, do UOL

O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou nesta segunda-feira (7) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aluga uma cobertura ao lado da que mora, em São Bernardo do Campo (SP), porque sabe do "desconforto" de alguém ter um político como vizinho.

Reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" desta segunda informa que a cobertura alugada por Luiz Inácio Lula da Silva pertence a um primo do pecuarista José Carlos Bumlai chamado Glaucos da Costamarques.

Costamarques disse ao jornal que comprou o imóvel em 2011 por indicação do advogado Roberto Teixeira –que, assim como Bumlai, é amigo de Lula– após o petista deixar a Presidência da República por ser um bom negócio.

Ainda segundo o jornal, o imóvel, quando Lula estava na Presidência, era alugado pelo governo como medida de segurança. Costamarques contou que comprou a cobertura por cerca de R$ 500 mil, e que hoje o aluga por R$ 4.300, pagos por transferência bancária.

Em 2010, Costamarques era controlador da Bilmaker 600. No mesmo endereço, foi registrada a holding LLCS por sócios como Fábio Luís, o Lulinha, e Luís Cláudio, filhos de Lula. Otavio Ramos e Fabio Tsukamoto, outros sócios da Bilmaker à época, eram também sócios de Luís Cláudio na ZLT 500, empresa de produção e promoção de eventos esportivos.

COMPRADOR

Okamotto disse que, no final do mandato do ex-presidente, "achou-se" um comprador interessado na aquisição do apartamento vizinho ao do petista. Perguntado se Lula ou PT procuraram um comprador, respondeu: "o PT? Não".

"No final do mandato tinha um processo de venda do apartamento. Achou-se uma pessoa que comprasse o apartamento e que tivesse apenas o interesse de investir. Não de morar", afirmou.

O presidente do Instituto Lula disse ainda que o apartamento era alugado pelo partido. Em 2002, com a chegada de Lula ao Planalto, as despesas ficaram a cargo da Presidência. O imóvel funcionava, segundo ele, como apoio. Okamotto afirmou que quem paga o aluguel do imóvel atualmente é Lula.

Em nota divulgada nesta segunda, o advogado Roberto Teixeira confirmou ter indicado o imóvel ao primo de Bumlai, ressaltando que Lula paga aluguel ao proprietário "ao valor de mercado".

Teixeira afirma que esses fatos vieram à tona devido a um "reprovável vazamento da declaração de imposto de renda" de Lula.

"Uma vez mais deturpam a realidade dos fatos, utilizando-se do vazamento de um documento dotado de sigilo legal, como é o caso da declaração de imposto de renda, para atacar a minha atuação enquanto advogado", diz a nota.

Na semana passada, Lula foi alvo da 24ª fase da Operação Lava Jato, que apura se empreiteiras e Bumlai favoreceram o petista por meio de um sítio em Atibaia e de um tríplex em Guarujá (SP).

O ex-presidente prestou depoimento após ser conduzido coercitivamente pela Polícia Federal. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão em sua residência, em São Bernardo do Campo, assim como na de seu filho, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, em Moema.

'LUGAR NENHUM'

Nesta segunda, Okamotto, disse que "isso [a operação] não vai levar a lugar nenhum". Segundo ele, é preciso "desmistificar" a falsa ideia de que "Lula é o homem mais rico do país".

O presidente do Instituto Lula afirmo que o ex-presidente e a família dele foram humilhados pela ação da PF.

Okamotto disse ainda que, em seu depoimento à PF, teve que explicar o funcionamento do instituto.

Lula se reúne nesta manhã com o líder do MST José Rainha.

 

Para evitar municiar oposição, Dilma quer impedir confrontos em atos

Nesta segunda-feira (7), o Palácio do Planalto passou o dia monitorando movimentos sociais e centrais sindicais e tentando sensibilizá-los a não insuflarem manifestações de rua no próximo domingo (13), quando estão marcadas manifestações no país de grupos a favor de seu impeachment.Com receio de que seja prejudicada com a radicalização do debate político, a presidente Dilma Rousseff decidiu atuar para tentar evitar que os protestos favoráveis e contrários à administração da petista acabem em confrontos.

Depois da operação da Lava Jato que teve como alvo Lula, petistas e movimentos sociais passaram a defender a realização, também no domingo, de protestos para defender o ex-presidente.

Dilma também entrou em contato com governadores a fim de pedir que evitem autorizar a realização no mesmo local, no dia 13, de manifestações de grupos que favoráveis e contrários ao governo.

A avaliação é que a radicalização do debate político pode ser positiva para o PT, mas é negativa para o Planalto e pode alimentar ainda mais o discurso dos partidos de oposição de que o governo aposta na divisão do país.

Se isto acontecer, avaliam assessores presidenciais, a oposição pode ganhar munição para tentar aprovar o pedido de abertura de um processo de impeachment.

Na palavras de um assessor presidencial, "tudo o que o governo não precisa agora é dar mais um motivo para inflamar os movimentos contrários" ao governo.

A presidente também avalia que a governabilidade também pode ser afetada, prejudicando a votação de propostas do ajuste fiscal no Congresso.

Nos últimos dias, o governo tem constatado um aumento nas adesões às manifestações pelo impeachment nas redes sociais.

A preocupação do Planalto é de que as recentes acusações contra a presidente e seu antecessor engrossem os protestos e, assim, retome a discussão sobre a saída da petista, que havia perdido força desde o final do ano passado.

No esforço de evitar confrontos, os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Casa Civil) reuniram-se com o presidente nacional do PT, Rui Falcão.

À tarde, a petista reuniu o núcleo político para traçar uma estratégia de atuação. "Pode haver um confronto de ideias, mas não um confronto físico. Temos de evitar a todo custo qualquer tipo de agressão tanto de um lado como de outro", disse a petista.

Nas conversas com o governo, tanto o partido como as centrais sindicais garantiram que não apoiarão protestos no domingo (13), mas alegaram não ter poder de impedir a presença de integrantes na manifestação.

 

Dilma grudou os problemas de Lula no Planalto, por Josias de Souza (UOL)

Dilma Rousseff tem um curioso senso de oportunidade. Afastava-se de Lula e do petismo sob o argumento de que precisava governar para todos os brasileiros. Absteve-se até de comparecer à festa de aniversário do PT. Ficou em cima do muro até a última hora. Quando não teve mais jeito, saltou para o lado errado. Grudou o drama político-judicial de Lula no casco do Palácio do Planalto, hoje reduzido à condição de sede de um governo à deriva.

Na última sexta-feira, em manifestação lida diante dos repórteres, Dilma disse ter ficado “indignada” com o fato de Lula ter prestado depoimento sob os rigores da condução coercitiva. Mas a menção a Lula soou protocolar num discurso 99% dedicado a rebater as acusações feitas pelo delator Delcídio Amaral contra a própria presidente.

Na sequência, Dilma voltou a criticar, num encontro com governadores, o tratamento “desrespeitoso” dedicado a Lula. Em pleno gabinete presidencial, ouviuo que não queria: “Entendo que não houve desrespeito, presidente. Ninguém está acima da lei”, disse o governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB).

No sábado, Dilma voou de Brasília até São Bernardo, para abraçar o problema. Ao lado de Lula e da ex-primeira-dama Marisa Letícia, a presidente da República acenou para um grupo de devotos que cultuava o ex-mito defronte do seu prédio. A oposição pedirá o ressarcimento das despesas dessa viagem, espetada num Tesouro Nacional em petição de miséria.

Nesta segunda-feira, Dilma agarrou-se novamente à figura de Lula numa cerimônia oficial de entrega de casas populares na cidade gaúcha de Caxias do Sul. Dessa vez, além de se queixar do método escolhido para interrogar seu criador —“sob vara”—, a presidente acusou a oposição de “dividir o país.” Apagou da memória o bordão criado por Lula: “Nós contra eles.” E desconsiderou as evidências de que a oposição, meio tonta, só conseguiu dividir a si mesma.

Dilma se apega à forma do depoimento de Lula sem atentar para o conteúdo. Sitiado por inquéritos, o personagem não consegue levar à balança da Justiça meio quilo de explicações. Ao enganchar o governo nas interrogações que rodeiam seu padrinho, a presidente empurra a encrenca para dentro do Planalto, autoconvertendo-se em parte do problema.

Errar é humano. Mas escolher o erro cuidadosamente, homenagear o erro em reuniões fechadas, meter-se em aviões e helicópteros para ir ao encontro do erro, posar para as câmeras ao lado do erro e render-se ao erro em discursos oficiais, só mesmo Dilma Rousseff, uma presidente fascinada pelo erro.

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo + UOL

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