Bancos privados querem aumentar a participação no financiamento ao agronegócio
Como único setor da economia que cresceu em 2015, o agronegócio despertou o interesse dos bancos privados, que antes eram avessos aos riscos de trabalhar com o campo, pragas e adversidades climáticas.
Atualmente, o financiamento agrícola está nas mãos dos bancos públicos, sendo o Banco do Brasil o maior custeador com crédito subsidiado pelo governo federal. No entanto, esse cenário pode começar a mudar a partir da safra 2016/17 com o avanço das linhas comerciais com juros de mercado.
Além dos bons níveis de crescimento em 2015 - avançando 2,1% de janeiro a setembro - a agropecuária tem hoje um dos menores índices de inadimplência, contrariando a reputação de mau pagador dos produtores. De acordo com o último levantamento do BB, a taxa chegou a 0,82% no primeiro trimestre do ano passado.
Segundo o gerente da Aprosoja Mato Grosso, Frederico Azevedo, a iniciativa dos bancos privados é positiva, uma vez que as projeções indicam aumento na produção de soja, o que demanda mais crédito, e também é um importante fator de mitigação de risco.
"O que precisamos estabelecer, além do volume ofertado, são as taxas de juros que precisam ser competitivas", destaca Azevedo.
Atualmente, as diretrizes do Plano Safra impõem o limite de 1,5 milhão de reais por produtor, sendo assim, caso o valor necessitado seja maior, o saldo restante será emprestado a juros livre, compondo assim o mix que corresponde a parte do recurso obrigatório e o outro montante destinado pelo banco.
Além disso, as instituições financeiras com aporte ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) são obrigadas a destinar 34% do depósito a vista para sistemas de crédito agrícola. No entanto, segundo o superintender executivo do banco Santander responsável pelo agronegócio, Carlos Aguiar, essa delimitação restringe os recursos subsidiados pelos bancos, já que o percentual de depósito dos bancos sofre poucas alterações.
Assim, o objetivos é buscar a fatia de financiamento que são oferecidos pelas tradings e revendas, onde não há restrição orçamentária e as taxas de juros são maiores.
"Hoje as tradings pegam financiamento junto aos bancos e repassam o recurso aos produtores com o juros embutidos na operação, mas se os bancos trabalharem também nesse sentido além de encurtar o processo também é possível ter uma taxa melhor", explica Azevedo.
Em entrevista à revista Exame, o presidente do Santander, Sérgio Rial, afirmou que a instituição tem interesse de atuar mais no agronegócio, expandindo sua área de atendimento ao Centro-Oeste, onde os bancos privados têm presença tímida.
De acordo com Aguiar, a projeção é de ofertar 40 bilhões em toda a cadeia do agronegócio, abordando desde o insumo ao incentivo as exportações. As taxas de juros, dos recursos captados pelo próprio banco, devem ficar acima dos 14,25% (Selic).
O movimento também visa competir diretamente com bancos públicos, que têm sido mais rigorosos na concessão de crédito e, na atual safra 2015/16 aumentaram a fatia de financiamento a juros não controlados.
No Mato Grosso, por exemplo, a combinação recorde de área e custos de produção na safra 2015/16, com valores de 2,1% e 19,9% respectivamente maiores, culminou para uma maior necessidade de volume de capital a fim de custear a safra.
De acordo com o levantamento de funding do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Aplicada), que define a participação de cada agente do mercado no custeio agrícola da soja, com o custo da lavoura de R$1.756,13/hectare e uma área de 9,2 milhões de hectares, o total de custeio no Estado para o ano agrícola de 2015 foi de R$16,16 bilhões, uma alta de 10% em relação à safra anterior.
A participação de recursos próprios e das multinacionais aumentou nessa safra, passando de 35% para 40% e 5% para 17% respectivamente. Enquanto as revendas (17%) e os bancos federais (15%) diminuíram. Neste contexto os bancos privados representaram apenas 11% dos recursos nesta safra.
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