Na FOLHA: Subida do dólar acelera empobrecimento do Brasil
A alta do dólar durante o governo Dilma Rousseff levou a um empobrecimento a jato do Brasil na comparação com outros países.
Com a moeda norte-americana rondando R$ 4,00, a relação PIB per capita em dólar dos brasileiros deve chegar ao final deste ano a menos da metade do que foi no seu primeiro ano de governo.
O PIB per capita foi reduzido de U$ 15.984 em 2011 para US$ 7.856 em 2015.
A consequência mais visível disso é que ficou muito mais difícil para o brasileiro viajar ao exterior. O Brasil também tende a perder posição no ranking das maiores economias do mundo.
Mesmo no cálculo em reais, o PIB per capita no Brasil deverá sofrer a maior retração desde o governo Fernando Collor (1990-1992).
Em termos de poder de compra, são as famílias mais pobres (que estiveram na base da reeleição de Dilma) que mais sofrem neste ano.
No acumulado de 12 meses, os grupos familiares que ganham até 2,5 salários mínimos (R$ 1.970), conviveram com uma inflação de 10,4%, acima da média da população, segundo a FGV-RJ.
Em outra frente, há forte queda no poder de compra por conta do desemprego e do corte que os bancos vêm praticando no crédito concedido às famílias.
Segundo a Tendências Consultoria, a alta do desemprego, os salários maiores substituídos por mais baixos e o arrocho no crédito levam a uma queda no poder de compra das famílias de 8% neste ano, já descontada a inflação.
Alta do dólar pressiona empresas brasileiras endividadas na moeda
A valorização do dólar superior a 50% em 2015 está levando a uma melhora nas contas externas do Brasil.
O país está importando menos e enviando menos dólares ao exterior via remessas de lucros e gastos de turistas.
Com isso, o deficit externo em conta corrente deve cair dos US$ 104 bilhões do ano passado para cerca de U$ 65 bilhões neste ano.
Essa melhora, no entanto, pode ser revertida no futuro em função do impacto que o dólar vem tendo sobre empresas brasileiras endividadas em moeda estrangeira.
Esses compromissos crescentes também tendem a manter aguerrida a recusa do setor empresarial em aceitar mais impostos para melhorar a situação fiscal do país.
Segundo a Austin Rating, levantamento entre 811 empresas em 2011 mostrava que as dívidas em dólar dessas companhias equivaliam a 28% do seu patrimônio líquido. Em 2014, outra amostra (com 633 empresas) revelou que o endividamento em dólares saltou para 52%.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, diz que a alta do dólar encolhe consideravelmente a possibilidade das empresas de buscar créditos no mercado. Tanto para rolar as dívidas vencendo como para investir.
Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, alerta para o fato de que na quinta (24) o prêmio cobrado pelo mercado para vender seguro ("hedge") a empresas brasileiras endividadas em dólares atingiu o mesmo patamar do auge da crise de 2008.
Segundo ele, há uma percepção cada vez maior dos credores dessas empresas de que elas terão dificuldades em obter dólares em um mercado pressionado como hoje.
"O mercado de câmbio no Brasil neste momento, apesar das reservas de US$ 375 bilhões do Banco Central, volta a lembrar as crises dos anos 1980 e 1990. É um mercado de uma ponta só: a compradora", afirma Blanche.
Uma consequência do dólar em alta e sua pressão exercida sobre a inflação é que o governo acaba recebendo uma ajuda na contenção de sua dívida pública.
O próprio presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, admitiu isso. "A inflação não é ruim para o setor público consolidado. É positiva", disse, segundo relato ao "Valor Econômico".
Tombini vocalizou o que muitos acreditam que o governo fará para reduzir seu deficit. Com a inflação, o Estado aumenta a arrecadação tributária nominal mensalmente enquanto paga suas despesas com defasagem, às vezes apenas uma vez por ano, como nos reajustes a servidores e aposentados.
análise de VALDO CRUZ, da folha:
Sentimento de urgência
BRASÍLIA - O empresariado está perdendo a paciência com a presidente Dilma. Pelo menos o da construção civil, principalmente os que tocam obras do governo federal, como as do Minha Casa, Minha Vida.
Reunidos em Salvador para o encontro nacional do setor, empresários aplaudiam com entusiasmo quando convidados para falar sobre reformas criticavam Dilma Rousseff ou defendiam seu impeachment.
Não foi uma nem duas, foram inúmeras as vezes em que os empresários fizeram questão de manifestar contrariedade, de forma bem efusiva, com a presidente Dilma.
Ministro das Cidades, Gilberto Kassab já havia sentido na pele o clima hostil dos presentes contra o governo, que tem atrasado sistematicamente o pagamento de obras.
Na abertura do evento, Kassab foi vaiado ao ser anunciado como representante da presidente. Depois, foi alvo de fortes apupos ao repetir a chefe e atribuir a culpa pela crise brasileira ao cenário mundial.
Para quem esteve presente, ficou patente o sentimento de urgência e emergência dos empresários em busca de uma saída para a crise que engole a construção civil. Em outras palavras, o clima do encontro era de "não dá mais para aguentar".
Tal insatisfação crescente no setor empresarial deve acender um sinal de alerta no Palácio do Planalto. Afinal, até aqui os donos do PIB se colocavam contra qualquer iniciativa de impeachment da presidente e lançavam âncoras para Dilma.
Não que o empresariado esteja a ponto de abraçar a bandeira do impedimento da petista. Pelo contrário, entre eles segue a avaliação de que a presidente tem legitimidade para estar no cargo e nada de grave surgiu contra ela até agora.
O que já se discute, porém, é que às vezes não basta ter legitimidade, é preciso demonstrar viabilidade para se manter no posto diante de uma crise aguda na economia. A vantagem de Dilma é que, neste caso, a solução está em suas mãos.
Mudança de planos
A construção do Porto de Mariel, em Cuba, pela Odebrecht, com dinheiro brasileiro, foi resultado de uma mudança drástica de percurso dos irmãos Castro. Nos idos de 2008, o governo cubano assinou um contrato de financiamento de 150 milhões de dólares com o BNDES para construir trechos da Autopista Nacional, a principal rodovia que corta a ilha.
O banco autorizou desembolsos de 43 milhões de reais para a obra. Contudo, em 2009, um aditivo ‘daqueles’ mudou o escopo do documento: devido a “mudanças de prioridade” do governo cubano, o dinheiro seria usado para compor o financiamento do porto, que terminou custando 682 milhões de dólares ao banco de fomento.
Da redação
O trator Alckmin
Geraldo Alckmin já traçou o próximo passo para fortalecer sua pré-candidatura à Presidência da República. Em uma reunião com auxiliares próximos, definiu os nomes que irão disputar a prefeitura nas vinte principais cidades de São Paulo no ano que vem –agora só falta bater o martelo nas duas maiores, São Paulo e Guarulhos.
O objetivo é conseguir uma vitória esmagadora para se contrapor ao desempenho de Aécio Neves na eleição de 2014, quando o tucano, principal alternativa a Alckmin para 2018, perdeu no próprio estado.
Da redação de VEJA
“A tragédia e a chanchada” e outras sete notas de Carlos Brickmann
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
CARLOS BRICKMANN
É uma frase clássica de Karl Marx, o grande ídolo da esquerda que estudou: a História acontece como tragédia e se repete como farsa.
Fernando Collor, tentando salvar seu governo ameaçado pelo impeachment, montou o Ministério dos Notáveis, com Marcílio Marques Moreira, Célio Borja, Eliezer Batista. Não se salvou; e jogou a culpa pela tragédia pessoal em seus ministros, por terem compromisso maior com o país do que com o governo.
Dilma Rousseff, tentando salvar seu governo ameaçado pelo impeachment, anunciou publicamente que iria demitir o ministro da Saúde para entregar o cargo ao PMDB. Não conseguiu encontrar um nome, e a crise continua; e o ministro que deixou de ser ministro continua a ser ministro, só que sem mandar nada.
E quem são os notáveis em que Dilma pensa? O deputado Marcelo Jr., da Paraíba; o deputado Helder Barbalho, do Pará, filho dos parlamentares Helder Barbalho e Elcione Barbalho (donos daquele famoso ranário que não tinha rãs, mas ao qual jamais faltaram verbas oficiais), Celso Pansera, do Rio ─ aquele que o doleiro e delator premiado Alberto Youssef chamou de “pau mandado” de Eduardo Cunha. Tudo bem, Pansera costuma ser enviado por Cunha para representá-lo em reuniões menos importantes, mas não é só isso que faz: também cuida de seu restaurante em Caxias, cujo nome é “Barganha”. Outros nomes há, mas para que citá-los se Dilma ainda nem sabe quais pastas serão mantidas ou fechadas?
Com Dilma, a história não se repete como farsa, mas como chanchada.
Elas por elas
Dilma viajou para os EUA sem definir seus ministros. Em compensação, os ministros também não sabem direito quem está hoje na Presidência.
A opinião de quem sabe
Para salvar seu cargo, Dilma concordou com todas as exigências do PMDB. Comentários de Eduardo Cunha, líder operacional do partido, presidente da Câmara Federal (e responsável por aceitar ou rejeitar o pedido de impeachment):
1 - Não há a menor possibilidade de aprovação da nova CPMF;
2 - Há grandes possibilidades de que o PMDB deixe o governo de Dilma em novembro.
O governo deu tudo. Os pixulecos foram liberados. E não adiantou nada.
Eles por eles
O pessoal do Instituto do Desenvolvimento do Varejo, que promoveu reunião na Fiesp na sexta, não compartilha as dúvidas dos ministros. O tempo todo trataram o vice-presidente como “presidente Temer”.
Ato falho. Ato muito sábio.
Os olhos da presidente
O helicóptero de Dilma soltou chamas ao decolar, mas seguiu para a Base Aérea, onde ela pegaria o avião para os Estados Unidos. Dilma disse que não percebeu as labaredas.
É a prova de que falava a verdade ao garantir que não sabia de nada: como saberia do Petrolão, se nem o fogo na cauda conseguiu perceber?
Um, dois, mil Moros
A militância petista que detesta o juiz Sérgio Moro festeja sem parar a decisão do Supremo que divide as investigações sobre casos até agora unicamente de sua responsabilidade. Acham que, com isso, o Supremo quebrou as pernas de Moro e agora será muito mais fácil livrar mensaleiros, petroleiros e outros gatunos da possibilidade da punição.
Acontece que Moro já foi recebido em São Paulo, no lançamento de um livro, com palmas e flores; foi aplaudido numa palestra com líderes empresariais; é cumprimentado nas ruas. Será que outros juízes não se sentirão tentados a buscar este reconhecimento público? Ou não se sentirão obrigados a julgar com severidade, seguindo o exemplo de conduta de Moro? Ou não estarão dispostos a demonstrar que Moro não é o único juiz corajoso o suficiente para enfrentar o poder político, empresarial e econômico da alta gatunagem?
Se isso acontecer, muita gente vai ter saudades dos tempos em que só Sérgio Moro e seu pessoal de Curitiba mandavam nos processos.
Pão com pão
Na guerra petista contra Moro há lances engraçados. Um deles é uma reportagem com título na linha “Provas duvidosas nos processos”, algo assim. Os três entrevistados faziam duras referências ao juiz e criticavam suas sentenças: um jurista tradicionalmente ligado ao PT, por ideologia e laços de família; o advogado de um dos réus condenados por Moro; e o presidente da CUT, aquele que ameaçava pegar em armas contra os adversários dos petistas.
Se até estes estivessem a favor de Sérgio Moro e da Polícia Federal, quem estaria contra?
PT, saudações
Como na mata, os pixulequinhos crescem à sombra do pixulecão. São Bernardo, SP, reduto político de Lula, fortaleza do PT, tem como prefeito um ex-presidente da CUT, Luiz Marinho. A funcionária municipal Neide Aparecida conseguiu licença médica para uma cirurgia. E foi localizada pela BandNews FM.
Onde? No Egito. Sim, Egito. Disse que no período de licença médica pode fazer o que quiser. A Prefeitura, por ordem de Luiz Marinho, não comentou o assunto. Ah, sim: Neide foi candidata a deputada federal em 2014. Pelo PT.
Tags: Carlos Brickmann, chanchada, Dilma Rousseff, Fernando Collor,ministérios, PMDB, Sérgio Moro
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