Dólar fecha perto de R$ 3,96, segundo maior nível histórico, com temor político e econômico
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar saltou cerca de 2 por cento e fechou próximo a 3,96 reais nesta sexta-feira, segundo maior nível de fechamento na história, pressionado por rumores e especulações sobre mais um rebaixamento do Brasil, em meio ao cenário de deterioração das contas públicas e instabilidade política.
O dólar avançou 1,96 por cento, a 3,9582 reais na venda, maior nível desde 10 de outubro de 2002, quando a moeda norte-americana encerrou na máxima histórica de 3,990 reais.
A divisa dos EUA chegou a subir 2,07 por cento na máxima dessa sessão, a 3,9627 reais. Na semana, avançou 2,09 por cento, quinta semana consecutiva de alta, acumulando avanço de 13,64 por cento no período.
"Está havendo boato a torto e a direito e o mais forte diz respeito a um rebaixamento do Brasil pela Moody's", disse o operador da corretora de um banco nacional, sob condição de anonimato. "E não ajuda o fato de ser fim de semana. Ninguém quer ficar exposto se tem chance de a situação azedar".
Quatro profissionais do mercado relataram à Reuters os rumores sobre a agência de classificação de risco Moody's, mas todos mostraram ceticismo sobre essa possibilidade.
O eventual rebaixamento significaria a perda do selo de bom pagador do Brasil por duas agências, o que provocaria intensa fuga de capitais. Na semana passada, a Standard & Poor's rebaixou o Brasil para "BB+", grau especulativo.
O último movimento da Moody's também foi recente. No dia 11 de agosto, rebaixou o rating brasileiro para "Baa3", última nota dentro da faixa considerada como grau de investimento, mas alterou a perspectiva da nota para "estável" ante "negativa", sinalizando que o selo de bom pagador do país deveria ser mantido no curto prazo.
Na terça-feira, a Moody's classificou as medidas fiscais anunciadas pelo governo brasileiro na véspera como "desenvolvimento positivo" e mais equilibradas do que as propostas anteriores, que lidavam basicamente com medidas do lado da receita.
O pacote de medidas anunciado pelo governo nesta semana foi mais uma tentativa de colocar as contas públicas do país em ordem. No entanto, o mercado vem demonstrando ceticismo sobre a aprovação dessas ações, com foco no retorno da CPMF, no Congresso.
"A situação no Brasil está muito complicada, então sempre que vê algum espaço, o mercado compra (dólares)", disse o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira.
Operadores esperam que o dólar continue em trajetória de alta, superando em breve 4 reais e atingindo níveis nunca vistos antes. "O dólar vai deixar para trás os 4 reais voando, sem olhar duas vezes", disse o especialista em câmbio da corretora Icap, Italo Abucater.
Com isso, operadores deixaram em segundo plano a manutenção dos juros nos Estados Unidos, que tende a sustentar a atratividade de papéis de mercados emergentes. Analistas lembravam também que o quadro global difícil, uma das justificativas do Federal Reserve, banco central norte-americano, para não mudar a taxa, tende a afetar negativamente o humor em relação a países como o Brasil.
Nesta manhã, o Banco Central brasileiro deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em outubro, vendendo a oferta total de até 9,45 mil contratos, equivalentes a venda futura de dólares. Ao todo, já rolou o equivalente a 5,860 bilhões de dólares, ou cerca de 62 por cento do lote total, que corresponde a 9,458 bilhões de dólares.
Dólar chega a R$ 3,95 e Bovespa afunda 2,65%, puxada por Petrobras e bancos
No pregão desta sexta-feira (18), o mercado internacional teve fortes reações à decisão do Federal Reserve de manter os juros norte-americanos no patamar de 0,25%, ao mesmo tempo em que deixou aberta a possibilidade de uma elevação da taxa ainda em outubro. No Brasil, os receios em relação ao crescimento da economia global fizeram o Ibovespa afundar 2,65%, aos 47.264 pontos. Em contrapartida, o dólar disparou frente ao real, chegando a bater R$ 3,95 (+1,95%) e, mais uma vez, renovando suas máximas desde 2002.
No cenário doméstico, a Receita Federal divulgou uma arrecadação em agosto que frustrou as expectativas do mercado. Montante foi de R$ 93,7 bilhões, o que significa uma retração de 9,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Adicionalmente, tensões políticas em relação ao ajuste fiscal proposto pela equipe econômica da presidente Dilma Rousseff aumentaram os rumores de que a Fitch possa revisar, a qualquer momento, o rating soberano do Brasil. Hoje, sindicatos protestam contra as medidas anunciadas pelo governo.
No radar internacional o grande peso está na decisão anunciada pelo Fed ontem (17) sobre a manutenção dos juros nos Estados Unidos. Apesar da taxa continuar no mesmo patamar, a presidente da entidade, Janet Yellen, não descartou uma eventual elevação em outubro. Ela também mostrou preocupações em relação ao desempenho da economia chinesa, o que alertou investidores e diminuiu seu apetite por risco.
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