Dólar sobe 1,25% sobre o real, com preocupações locais e após Fed
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta de mais de 1 por cento sobre o real nesta quinta-feira, em sessão volátil e longe das máximas do dia, após o Federal Reserve, banco central norte-americano, manter os juros, mas com investidores ainda sob a pressão dos temores com a cena política e econômica local conturbada.
O dólar avançou 1,25 por cento, a 3,8822 reais na venda, após chegar a subir 1,96 por cento, a 3,9092 reais na máxima da sessão. Na mínima do dia, foi a 3,8314 reais.
"Manter os juros favorece emergentes, mas o motivo por trás da decisão é negativo", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta. "Soa para mim bastante improvável que o Fed aumente os juros neste ano", acrescentou.
O Fed informou que uma variedade de riscos globais e outros fatores convenceram a adiar o que seria o primeiro aumento de juros em quase uma década.
Em entrevista coletiva após anunciar a decisão, a chair do Fed, Janet Yellen, afirmou que os desenvolvimentos econômicos e financeiros globais recentes podem exercer ainda mais pressão para baixo sobre a inflação no curto prazo.
Durante a entrevista de Yellen, o dólar chegou a recuar brevemente sobre o real, mas logo retomou a trajetória ascendente.
"A impressão do comunicado era 'dovish' e foi confirmada pelo discurso de Yellen. Se isso é bom ou ruim para emergentes, o mercado ainda não decidiu", disse o operador de uma corretora nacional.
Nesta tarde, os juros futuros nos EUA mostraram chance de 18 por cento de o Fed elevar os juros em outubro, contra 41 por cento antes da decisão. A probabilidade de isso acontecer em dezembro caiu a menos de 50 por cento, comparado a 64 por cento apostados pela manhã.
Pela manhã, os juros futuros apontavam chance de apenas 25 por cento de o Fed elevar a taxa nesta quinta-feira, enquanto uma ligeira maioria dos economistas consultados em pesquisa Reuters previa a manutenção dos juros.
Juros mais altos nos EUA podem atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados em países como o Brasil, amplificando o efeito das incertezas locais.
O dólar vinha operando em alta superior a 1 por cento desde cedo em relação ao real, reagindo ao quadro local conturbado. Notícia publicada no jornal Valor Econômico nesta manhã trouxe que o Instituto Lula e o PT estariam defendendo a flexibilização das políticas fiscal e monetária. Isso implicaria a redução da taxa de juros "na marra" e o afrouxamento do gasto público, e somente seria viabilizado com a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Investidores avaliaram que esse cenário poderia precipitar a perda do selo de bom pagador brasileiro por outras agências de classificação de risco além da Standard & Poor's, provocando fuga de capital do país. Além disso, a crise política cada vez mais intensa fazia investidores adotarem posturas ainda mais defensivas.
"Há muito ruído no cenário local. Isso acaba com qualquer fundamento do mercado", disse mais cedo o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo.
Nesta manhã, o Banco Central brasileiro deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em outubro, vendendo a oferta total de até 9,45 mil contratos, equivalentes a venda futura de dólares. Ao todo, já rolou o equivalente a 5,414 bilhões de dólares, ou cerca de 57 por cento do lote total, que corresponde a 9,458 bilhões de dólares.
0 comentário
Vendas no varejo caem 1,7% em dezembro, diz Stone
Ações da China ampliam perdas, Hong Kong cai pelo 6º dia com expectativa menor de corte nos juros dos EUA
Galípolo diz em carta que BC tem tomado providências para que inflação atinja a meta
Ibovespa fecha em queda com forte declínio de índices em NY
Dólar sobe quase 1% após dados de emprego nos EUA e termina semana acima de R$6,10
Taxas de juros longas sobem no Brasil após dados fortes do mercado de trabalho dos EUA