Fed mantém taxa de juros nos EUA em sinalização à fraqueza da economia global
Por Howard Schneider e Ann Saphir
WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve, banco central norte-americano, deixou inalteradas as taxas de juros nesta quinta-feira, em um sinal de preocupação com a fraqueza econômica global, mas deixou aberta a possibilidade de um modesto aperto da política monetária ainda este ano.
Em recuo tático, o Fed disse que uma série de riscos globais e outros fatores o convenceu a adiar o que seria o primeiro aumento de juros em quase uma década.
"Os recentes acontecimentos financeiros e econômicos globais podem conter a atividade econômica de alguma forma e devem colocar mais pressão de queda sobre a inflação no curto prazo", disse Fed em seu comunicado ao final da reunião de dois dias.
O BC norte-americano acrescentou que os riscos à economia dos EUA continuam quase equilibrados, mas que está "monitorando os acontecimentos no exterior".
Entretanto, o banco central manteve seu viés na direção de alta dos juros ainda neste ano, ao mesmo tempo que reduziu sua perspectiva de longo prazo para a economia. Novas projeções mostraram que 13 das 17 autoridades do Fed ainda preveem alta dos juros ao menos uma vez em 2015, contra 15 na reunião de junho. Quatro autoridades acreditam agora que os juros não devem ser elevados até ao menos 2016, contra 2 que viam isso em junho.
As próximas reuniões de política monetária do Fed ocorrem em outubro e dezembro.
Sobre quando irá decidir elevar os juros, o Fed repetiu que quer ver "mais melhora no mercado de trabalho" e estar "razoavelmente confiante" de que a inflação vai subir.
"A taxa de desemprego tem diminuído e as condições gerais do mercado de trabalho continuaram melhorando. A inflação, no entanto, continuou abaixo do nosso objetivo de longo prazo, refletindo em parte o declínio nos preços da energia e das importações", disse a chair do Fed, Janet Yellen, em comentários após a decisão.
Após o anúncio do Fed, o dólar recuou forte ante o iene e o euro, caindo mais de 1 por cento em relação à moeda europeia. As bolsas dos EUA subiram logo após a decisão, mas passaram a oscilar entre altas e baixas, antes de se firmarem no território positivo.
Como um todo, as novas projeções do Fed de crescimento mais lento do Produto Interno Bruto (PIB), desemprego baixo e inflação ainda fraca sugerem que as preocupações com a chamada estagnação secular --longo período de baixo crescimento, em geral com juros baixos e deflação-- pode estar ganhando força entre as autoridades do Fed. Uma autoridade até sugeriu taxa de juros negativa.
A mediana das projeções das 17 autoridades mostrou que o Fed espera que a economia dos EUA cresça 2,1 por cento este ano, ligeiramente mais rápido do que o esperado anteriormente. Entretanto, suas projeções para a expansão do PIB em 2016 e 2017 foram reduzidas.
As autoridades também veem que a inflação avançará apenas lentamente na direção da meta de 2 por cento do Fed mesmo com o desemprego recuando mais do que o esperado. Eles agora esperam que a taxa de desemprego atinja 4,8 por cento no próximo ano, permanecendo nesse nível por até três anos.
A trajetória projetada do Fed para a taxa de juros mudou para baixo, com a taxa de longo prazo agora estimada em 3,5 por cento, ante 3,75 por cento na última reunião.
"O Fed se tornou mais 'dovish', com as projeções de crescimento revisadas para baixo em meio a conversas sobre 'estagnação secular'. Mas há um claro sinal de que, na ausência de qualquer descarrilamento sério da economia, a taxa de juros subirá antes do ano acabar", disse Chris Williamson, da empresa de informações financeiras Markit.
A votação foi um sinal de como a desaceleração econômica da China e a queda do mercado deixaram as autoridades do Fed nervosas sobre a economia mundial. Apenas o presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker, foi contrário à decisão.
0 comentário
Fed cita volatilidade e dúvidas sobre taxa neutra como motivos para ir devagar com cortes, diz ata
Gabinete de segurança de Israel aprova acordo de cessar-fogo com o Líbano
Ações europeias caem com temor sobre promessa de Trump de impor tarifas
México, Canadá e China alertam que tarifas de Trump prejudicariam todos os envolvidos
Autoridades do BCE mostram nervosismo com crescimento fraco e iminência de tarifas de Trump
Ibovespa avança na abertura com endosso de commodities e à espera de pacote fiscal