Vendas no varejo recuam 1% e têm pior julho na série, com inflação e desemprego
Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - O ritmo de queda das vendas no varejo no Brasil acelerou em julho para 1 por cento sobre o mês anterior, marcando o pior resultado para esse mês na série histórica e mostrando forte deterioração no consumo de alimentos e supermercados, em meio à economia em recessão, inflação alta e maior desemprego.
Em junho, o setor havia registrado queda mensal de 0,5 por cento e, no mês seguinte, foi marcada a sexta perda seguida na série histórica, iniciada em 2000.
Na comparação com julho de 2014, quando o Brasil sediava a Copa do Mundo, as vendas registraram queda de 3,5 por cento, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
"O nível de consumo doméstico tem relação clara com o mercado de trabalho e o desemprego gera insegurança, o que provoca o adiamento do consumo", destacou a economista gerente do IBGE Isabella Nunes.
"A elevação dos juros e queda na massa de salários é uma combinação bastantes impactante para o comércio. O quadro é inibidor do comércio", completou.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de queda de 1 por cento na comparação mensal e de 3,95 por cento sobre um ano antes.
O país enfrenta inflação e juros elevados com aumento do desemprego em meio a uma intensa crise política, afetando a confiança do consumidor. Além disso, o dólar vem se valorizando fortemente ante o real, o que eleva os preços dos produtos importados.
SUPERMERCADOS
De acordo com o IBGE, sete das oito atividades pesquisadas no varejo restrito registraram queda mensal no volume de vendas em julho, sendo que Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, setor de maior peso na estrutura do comercio varejista, recuou 1,0 por cento. Essa foi a terceira queda mensal seguida, acumulando no período perdas de 2,3 por cento.
"A inflação corrói o salário e reduz o poder de compra do consumidor, e isso vale para todo o comércio. Mas há setores que sofrem mais, como hiper e supermercados", disse Isabella.
A maior magnitude de queda foi registrada por Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, de 5,5 por cento, em julho. A única exceção foi Outros artigos de uso pessoal doméstica, que ficou estável em julho sobre junho.
Já o varejo ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, registrou avanço de 0,6 por cento em julho sobre o mês anterior, mas queda de 6,8 por cento na base anual.
As vendas de Veículos e motos, partes e peças tiveram alta de 5,1 por cento sobre o mês anterior, mas segundo Isabella esse resultado é pontual, com a atividade registrando queda em 5 meses deste ano.
A fraqueza generalizada nas vendas varejistas é reflexo da situação negativa da economia brasileira, que entrou em recessão. O país também perdeu o selo de bom pegador pela agência de classificação de risco Standard & Poor's.
"O cenário de curto prazo para o consumo privado e as vendas varejistas continua negativo devido à desaceleração do fluxo de crédito de bancos públicos e privados, alto nível de endividamento das famílias, queda da criação de empregos e do crescimento do salário", disse o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos.
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