Folha: o agronegócio avançou porque inovou (editorial da FOLHA deste domingo - SEMEAR TECNOLOGIA)
Semear tecnologia (editorial da FOLHA deste domingo)
Há quem enxergue na exuberância agropecuária brasileira um indicativo de retrocesso, pois seus produtos passaram a dominar a pauta de exportações, enquanto bens industriais perderam mercado.
Grande disparate. O setor agrícola não pode ser responsabilizado pela carência de inovação na indústria nem pelas políticas equivocadas que retiraram dos bens manufaturados nacionais a capacidade de concorrer no plano mundial.
Afinal, foi a infusão de tecnologia no campo que o transformou num peso pesado da economia, gerando quase 25% do PIB brasileiro.
Como mostraram reportagens da série "O Brasil que Dá Certo", nesta Folha, o agronegócio avançou porque inovou.
Técnicas de plantio direto e correção do solo no Brasil Central, assim como o desenvolvimento de cultivares de soja e de cana, permitiram bater recordes de competitividade das commodities agrícolas mesmo com as acabrunhantes deficiências logísticas do país.
Não se ignora que, na rápida expansão da fronteira agrícola nas duas últimas décadas, houve excessos. E não foram poucos, dos subsídios para produtores com baixo rendimento à desordem fundiária, do abuso de agrotóxicos à devastação de biomas únicos, como a floresta amazônica e o cerrado.
Iludem-se, contudo, os que veem na agricultura orgânica e em iniciativas similares uma alternativa à exploração intensiva. Ainda que cresça à taxa de 30% anuais, como em 2014, ela permanecerá por bom tempo como um nicho restrito. O mercado de orgânicos movimentará neste ano estimados R$ 2,5 bilhões, apenas 0,2% de um PIB agrícola da ordem de R$ 1,1 trilhão.
É de mais tecnologia, e tecnologia de baixo impacto sobre os ecossistemas, que o campo precisa. Aumentar a produtividade para diminuir a necessidade de desmatar novas áreas e, de permeio, melhorar a renda e a qualidade dos empregos agrícolas –ao mesmo tempo em que se atendem demandas socioambientais dos mercados.
Cada vez mais pecuaristas se dão conta, por exemplo, de que a modalidade extensiva usada por cinco séculos não tem mais cabimento.
O futuro está nas boas práticas de base tecnológica, como o melhoramento genético e a integração de lavoura com pecuária e florestas. Produzindo mais carne por unidade de área, o setor liberará áreas devastadas e degradadas para a produção de grãos.
Muito se ouve que o Brasil não precisa mais desmatar para expandir a produção agrícola. Chegou a hora de demonstrar que isso não é conversa para boi dormir.
Igo Estrela/ObritoNews/Fato Online | |
O ex-ministro José Dirceu é preso pela PF em Brasília, durante nova fase da Operação Lava Jato |
ANÁLISE de Igor gielow
Prisão de José Dirceu recoloca PT na mira da Operação Lava Jato
A prisão do ex-ministro José Dirceu nesta segunda-feira (3) recoloca o PT, partido à frente do Palácio do Planalto durante todo o período em que a Operação Lava Jato identificou corrupção na Petrobras, em posição de destaque nas investigações.
Não que tivesse perdido o protagonismo, claro. É que, em seu ritmo algo alucinante, a Lava Jato havia recentemente deslocado os holofotes para outros parceiros da coalizão governistas –o PMDB à frente, particularmente com o depoimento acusando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), de ter recebido US$ 5 milhões.
Dirceu é um símbolo do PT. É chamado até hoje, depois de ter sido condenado e preso no mensalão, de "guerreiro do povo brasileiro" por militantes em encontros. Simpatizantes de classe média intelectualizada do partido até hoje relativizam o tema corrupção quando o personagem é o ex-ministro da Casa Civil.
Ainda assim, ou talvez por ter esse capital, Dirceu se viu preso no âmbito dos dois maiores escândalos de corrupção da história. Enquanto fazia uma "vaquinha" vista com estranheza por membros de tribunais superiores para pagar suas dívidas com a Justiça no mensalão, amealhava milhões de reais com um trabalho de consultoria igualmente nebuloso.
Para a Lava Jato, os R$ 39 milhões que Dirceu ganhou tem em parte origem nas propinas do esquema de drenagem de recursos públicos tripartite investigado: envolvia políticos, empresários e funcionários da Petrobras.
Um desses últimos, o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque, ganha especial importância neste momento. Ele está preso e é apontado como indicado de Dirceu e seu operador no cargo, algo que a defesa do ex-ministro nega. Só que começou a negociar um acordo de delação premiada, algo que arrepia o PT e o Palácio do Planalto, por ser, segundo os investigadores, um homem do partido.
Até aqui, os delatores de dentro da Petrobras, notadamente Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, tinham mais informações sobre outras siglas aliadas do Planalto -não por acaso, uma fatia expressiva da bancada do PP acabou com denúncia aceita no Supremo Tribunal Federal.
Se Duque falar o que esperam Ministério Público e Polícia Federal, o foco será deslocado para a nata do PT.
Mesmo que diga que tudo isso é problema do partido, o Planalto tem vários motivos para se preocupar com o movimento. As operações de Dirceu se deram quando ele não estava mais no governo, mas sua influência e trânsito nas gestões Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff poderá ser demonstrada. Para complicar, a apuração é sobre a Petrobras cujo Conselho de Administração era presidido por sua sucessora na Casa Civil, a mesma Dilma.
Até aqui, ressalte-se, a campanha de Dilma foi citada no escopo das investigações, mas não a figura da presidente. São muitos elementos combustíveis em um ambiente para lá de volátil nesta volta de recesso legislativo.
Abatido, Dirceu esperava que fosse preso na Operação Lava Jato
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso nesta segunda-feira (3) em nova fase da Operação Lava Jato, já esperava que fosse detido.
O relato de amigos e aliados que conversaram com ele nas últimas semanas é que o petista demonstrava estar fragilizado emocionalmente e fisicamente, mas conformado com a possibilidade de ser preso durante o cumprimento de pena domiciliar pelo escândalo do mensalão.
Segundo a descrição deles, o número dois no início do governo do ex-presidente Lula estava abatido, com olhar perdido e sem a voz de comando característica de seu tempo de militância política e de trajetória partidária.
O petista havia perdido peso e estava preocupado com o fato de não ser mais réu primário e com a possibilidade de seu irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, sócio dele na JD Consultoria, também ser detido, o que ocorreu nesta segunda.
Em sua residência em Brasília, onde cumpria prisão domiciliar, José Dirceu passava boa parte do tempo nas últimas semanas com sua filha mais nova, Maria Antônia, de 5 anos.
Ele a carregava no colo e assistiam a desenhos animados juntos. Nesse período, seu advogado, Roberto Podval, chegou a dormir duas noites em sua residência.
Nesse período, seu advogado, Roberto Podval, chegou a dormir duas noites em sua residência.
"Dirceu tinha vontade de ser redescoberto depois do mensalão, mas agora a vontade dele era de ser esquecido", resumiu um aliado petista.
Ele acordava cedo e fazia questão de ler todos os jornais, blogs e sites jornalísticos. Em um caderno, fazia anotações do que considerava incongruências e equívocos nas acusações contra ele.
Com quem conversava, negava sistematicamente que havia recebido propina. Às pessoas que o visitavam o petista sempre externava a preocupação com o futuro da filha Maria Antonia e também com o longo período que poderia durar sua detenção.
Chamava a atenção dos amigos a postura "totalmente entregue", diferente dos tempos em que ficou detido no presídio da Papuda, em Brasília, quando manifestava se sentir um preso político e fazia planos de reconstruir a vida pública.
O ex-ministro da Casa Civil foi citado em depoimento pelo ex-executivo da Toyo Setal Julio Camargo, segundo o qual entregou R$ 4 milhões em dinheiro vivo ao petista a pedido do ex-diretor da Petrobras Renato Duque.
Ele virou alvo dos procuradores da Operação Lava Jato porque várias empreiteiras sob investigação fizeram pagamentos à empresa de consultoria que ele abriu depois de deixar o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, no auge do escândalo do mensalão.
O ex-ministro faturou como consultor R$ 39 milhões entre 2006 e 2013. Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram a ele R$ 9,5 milhões, num período em que o diretor de Serviços da Petrobras era Renato Duque, apontado como afilhado político de Dirceu –o que ele nega– e atualmente preso em Curitiba.
CASA NOVA
Antes de se tonar um dos focos da Operação Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu tinha planos de retomar a vida e se mudar para Vinhedo (SP). Há cerca de dois anos, comprou uma nova casa em um condomínio fechado na cidade e a reformou.
Os honorários da arquiteta foram pagos pelo lobista Milton Pascowitch, que disse, em seu acordo de delação premiada, que intermediou pagamentos de propinas ao petista.
Apesar do investimento na residência em Vinhedo, Dirceu nem chegou a conhecer o imóvel.
Lava Jato 'vai retirar um câncer de uma sociedade doente', diz procurador
A corrupção é um câncer que torna a sociedade doente, e a Operação Lava Jato é a cirurgia que vai extirpar essa doença.
Foi utilizando-se de imagens médicas que o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, arrancou risos e aplausos de cerca de 750 pessoas na noite deste domingo (2), em Curitiba, durante a abertura de um congresso de medicina.
João Maurício Carneiro/Divulgação | ||
Procurador Deltan Dallagnol participa de palestra no Congresso Brasileiro de Cirurgia |
Convidado para fazer a conferência de abertura do 31º Congresso Brasileiro de Cirurgia, na capital paranaense, Dallagnol questionou os médicos presentes se eles deixariam de lutar e de empregar todos os esforços se tivessem um filho com apenas mais seis meses de vida.
O recado que quis passar era: "Por algumas causas vale a pena lutar, independentemente do resultado".
"Ao salvar vidas, vocês são os heróis do nosso país", afirmou o procurador, no início de sua fala. Ao explicar a função do Ministério Público Federal, disse que o órgão deve servir à sociedade. "Eu sou servo dos senhores", acrescentou.
Com a ajuda de slides e de vídeos, mostrou em sua exposição os números da corrupção no país e elencou os problemas que ela causou ao Brasil, ao longo da história. "A Lava Jato transforma o país?", questionou. Antes de dar a resposta, pediu para que cada participante fizesse a mesma pergunta para a pessoa ao lado e que refletisse durante um minuto.
Após o debate na plateia, o procurador afirmou que a Lava Jato "trata de um tumor" e que o melhor que pode vir é a devolução do dinheiro desviado e a punição dos corruptos.
Dallagnol falou ainda sobre as dez medidas que defende para endurecer o combate à corrupção. Ele pediu assinaturas para a campanha do Ministério Público Federal que tenta endurecer leis contra a corrupção, a exemplo do que fez no mês passado ao falar para cerca de 200 pessoas numa igreja batista na Tijuca, na zona norte do Rio.
Ricardo Borges/Folhapress | ||
O procurador da República Deltan Dallagnol tira fotos em igreja batista após dar palestra, em julho |
Dallagnol usou em sua palestra, como exemplo, a situação de Hong Kong, que conseguiu diminuir os casos de corrupção e até forçou pessoas a fugirem. "Como seria no Brasil?", questionou.
O procurador contou ter sido reconhecido por uma mulher dentro do avião que lhe disse que a Lava Jato "não vai dar em nada". Sobre a ideia de impunidade, foi incisivo: "Nós não podemos perder a nossa capacidade de nos indignar. Eu não compro a tese de que o Brasil não tem jeito".
No fim da palestra, Dallagnol recebeu um jaleco do presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, posou para fotos segurando a peça e depois a vestiu, sendo aplaudido pelo público.
Ainda à deriva (editorial da FOLHA)
Política econômica parece ter parado de piorar, mas não se nota a organização de uma agenda capaz de evitar danos piores e crise mais aguda
A velocidade com que a economia se deteriorou nos últimos meses atropelou a estratégia do governo Dilma Rousseff (PT). Se o Ministério da Fazenda já havia jogado a toalha em relação à meta de poupança nas contas públicas, agora o Banco Central reconheceu que, dado o quadro recessivo, não poderá manter a alta dos juros.
Com a elevação da Selic para 14,25%, o BC deu por encerrado o ciclo de aperto monetário, mesmo sem ter obtido a convergência das expectativas de inflação para a meta de 4,5% em 2016 –a projeção atual é de 5,4%.
Foi uma decisão correta, tendo em vista que as estimativas de queda do PIB para 2015 se aproximam de 2%; um número crescente de analistas, ademais, conta com retração também no ano que vem. Nesse ambiente, faz sentido aceitar um recuo mais lento da inflação.
Em termos mais gerais, o governo errou de forma grosseira ao apostar na repetição da fórmula utilizada em 2003, quando a adoção de uma política ortodoxa de corte de gastos e aumento de juros afastou o pessimismo e ajudou o país a crescer 5,7% em 2004.
Desta vez, porém, os problemas são bem maiores. O governo registrou inédito deficit de R$ 9,8 bilhões no primeiro semestre (antes dos estratosféricos desembolsos com juros), apesar do maior contingenciamento de gastos de que se tem notícia –R$ 78 bilhões até agora.
Mesmo a meta de economia reduzida para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB) em 2015 depende de receitas extraordinárias pouco prováveis.
Não resta dúvida de que o aperto orçamentário será insuficiente. Há um desequilíbrio estrutural entre receitas (em queda, por causa da recessão, mas não só por isso) e despesas (sempre crescentes).
Não será possível estabilizar a dívida sem mudanças mais profundas nos gastos obrigatórios –incluindo benefícios sociais e uma ampla gama de subsídios– e aumentos de impostos.
Quanto à inflação, o BC fez o possível. Ao contrário dos últimos anos, manteve firme a tentativa de conter os preços. Se não atingir os prometidos 4,5% em 2016, há boas chances de isso ocorrer em 2017.
Pelo menos há uma boa notícia: a política econômica está no rumo correto. Mas o ajuste necessário é duro, impopular e demandará tempo para render frutos. Até agora não se nota a organização de agenda mínima capaz de evitar danos piores e crise mais aguda.
Um primeiro passo seria Dilma Rousseff apresentar um diagnóstico honesto dos problemas e, em nome de um consenso, abandonar todo oportunismo eleitoral. Improvável, é claro; mas, sem isso, o ambiente político não desanuviará –e o país continuará à deriva.
CARLOS HEITOR CONY
Marilyn Monroe e a inflação
RIO DE JANEIRO - De todos os chefes de Estado do mundo, e talvez da história, desconfio que Dona Dilma seja a que mais aparece e se expõe na mídia. Mesmo os ditadores que podem e gostam de aparecer, ela ganha de longe. Bem verdade que nesta semana apareceu com destaque, mordendo um dedo, bem maquiada, com uma expressão coquete que poderia aparecer na capa dessas revistas dedicadas aos homens solitários. Não deixa de ser um velado elogio à sua imagem.
No entanto toda vez que frequenta a mídia, seja andando de bicicleta, ou fazendo charme quase libidinoso, o que ela diz é bem contrário ao que a sociedade escuta e sofre.
Ela nega a inflação que começa a subir e inquietar cada dona de casa, na hora de pagar os supermercados, as farmácias, escolas e vestuário. Aos maridos, os juros dos cartões de crédito e impostos em geral.
Dona Dilma deve ser a primeira a saber, daí que se espanta (mas não resolve) o problema de suas contas, a ponto de se falar num impeachment (torço para que não se chegue a este ponto), mas, como a maioria da classe política e a sociedade, acho quase inevitável que não seja necessário. Ou ela muda ou será mudada. Tivemos a experiência da inflação anterior ao Plano Real.
Critiquei a guinada que ele deu na economia nacional, considerando-a eleitoreira. Não estou arrependido mas concordo com aqueles que elogiaram a medida que flagelou o bolso de todos, que inclusive degolou as poupanças.
Não há um plano sólido para controlar a subida dos preços. Inclusive ela própria está ameaçada pelo Tribunal de Contas de não ter aprovadas suas contas.
Sei o quanto é difícil frear os preços, mas com coragem e competência, é sempre possível melhorar a situação. Muitos países conseguem combater a inflação, sobretudo quando ela se torna massacrante.
ELIO GASPARI
O dilema de Dilma
Há momentos em que a Presidência depende de uma decisão solitária, às vezes suicida, às vezes redentora
A doutora Dilma parece perdida como cego em tiroteio. Sua reunião com os governadores foi mais um exercício de perda de tempo. Admitindo-se que ela consiga desviar-se da ruína econômica, resta-lhe uma decisão: o que fazer diante da Lava Jato? Até agora ela se deixou corroer porque supõe que pode ficar numa posição de neutralidade contra. "Eu não respeito delator" será uma frase que a acompanhará pela vida.
Ou ela se alista publicamente na Lava Jato, ou está frita. Lula deu meios passos ao tirar José Dirceu da Casa Civil e Antonio Palocci da Fazenda. Faltou dissociar-se do mensalão, e o resultado está aí. Fernando Collor teria terminado o mandato se, na primeira hora, tivesse rifado o tesoureiro Paulo Cesar Farias. O general Figueiredo arruinou seu governo e sua biografia acobertando o atentado do Riocentro.
Não há agenda positiva possível enquanto o governo estiver sitiado pelas roubalheiras que hospedou, tolerou e finge desconhecer. Pactos são coisa para patos. Um rompimento com os conluios será coisa difícil, até porque enquanto a doutora está neutra-contra a Lava Jato, a oposição está a favor, desde que ela pare, limitando-se na amplitude e no tempo.
A doutora deve reler o que diz.
Na reunião com os governadores, informou:
"Nós, como governantes que somos, não podemos nos dar ao luxo de não ver a realidade com olhos muito claros."
Quem souber o que isso quer dizer ganha um fim de semana em Miami.
LULA EM SÃO PAULO
A oposição dá como fava contada a derrota do PT na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Há algo de exagero nisso.
Se Marta Suplicy ganhar a disputa, Lula terá todo direito de se proclamar vencedor, mesmo fazendo de conta que não é o dono do poste Fernando Haddad.
A senadora foi uma petista histórica e caiu em desgraça junto aos comissários do Palácio porque defendeu o "Volta, Lula" na eleição do ano passado.
LÁ VEM TUNGA
O poderoso lobby das operadoras de planos de saúde voltou a armar seus botes em cima dos consumidores. Na linha de frente da manobra, vem a ameaça de um colapso do setor, provocado pelo aumento dos custos dos serviços que venderam e dos contratos que assinaram.
Em 20 anos, esse setor produziu muitos bilionários. Não é razoável que, entre os seus argumentos, usem o dos custos do atendimento aos idosos. Pode ser verdade que um jovem de 18 anos custe R$1 mil por ano e um idoso, R$ 1 mil por mês, mas essa patranha é velha.
Em 1997, o deputado Ayres da Cunha, dono da operadora Blue Life, disse o seguinte: "Se tirássemos todos os idosos do meu plano, minha rentabilidade aumentaria muito". Ninguém fica velho porque quer e, ao contrário da gripe, a velhice não chega sem avisar.
Uma operadora de planos de saúde só com jovens é o sonho do Eremildo. Se isso não for possível, o idiota se contenta em ficar amigo de amigos do Palácio do Planalto, onde se cozinham ferradas nos consumidores.
SAMUEL PESSÔA
As razões da nova matriz
O PT é social-democrata; não é claro o motivo de o partido ter embarcado na aventura intervencionista
A nova matriz econômica, o regime de política econômica vigente de 2009 até 2014, conjuntamente com o esgotamento do contrato social da redemocratização, causou a crise econômica atual.
A nova matriz econômica teve como elemento central tornar o setor público o principal protagonista no processo de desenvolvimento do país. O PT é um partido social-democrata. Não é claro o motivo de ter embarcado na aventura intervencionista.
A social-democracia defende Estado grande para prover os seguros sociais básicos. O intervencionismo estatal –BNDES, desonerações, fechamento da economia, novo marco regulatório do petróleo, recriar indústria naval etc.– não faz parte necessariamente desse pacote.
Como tenho argumentado, a adoção desse pacote de política econômica foi obra dos intelectuais e economistas petistas.
O posicionamento dos intelectuais e economistas petistas foi influenciado por uma literatura produzida em departamentos americanos de ciências humanas aplicadas, com ênfase no desenvolvimento.
Dois autores foram particularmente influentes: Alice Amsden, com escritos sobre o desenvolvimento sul-coreano, e Robert Wade, sobre Taiwan. Esses autores documentaram que houve fortíssimo intervencionismo estatal nas experiências de desenvolvimento desses países.
Lamentavelmente, a absorção pela nossa academia dessa literatura foi acrítica. Os trabalhos de Amsden e Wade têm várias limitações.
Nada indica que o intervencionismo tenha sido o responsável pelo crescimento econômico daqueles países asiáticos. Simultaneamente, essas sociedades faziam um monte de outras coisas! Desenvolveram sistemas públicos de educação universais de elevada qualidade. Foram economias que não toleraram bagunça na macroeconomia e sempre apresentaram taxas de poupança doméstica elevadíssimas.
Atribuir o desenvolvimento ao intervencionismo e desconsiderar o papel desempenhado pela altís- sima qualidade da educação, pelas elevadas taxas de poupança e pe- la estabilidade macroeconômica constituem um erro daqueles autores que nossa academia heterodoxa reproduziu.
Mesmo que o intervencionismo tenha sido fundamental para o desenvolvimento espetacular que essas sociedades experimentaram, é possível que a estabilidade macroeconômica e a elevada qualidade da força de trabalho, em razão da qualidade da educação pública, tenham sido um requisito essencial para o sucesso do intervencionismo.
Por exemplo, as altas taxas de poupança levavam a baixas taxas de juros, o que tornou bem mais barato crédito subsidiado pelos bancos públicos ao crescimento dos Chaebols, as campeãs nacionais sul-coreanas.
Finalmente, mesmo que o intervencionismo tenha sido essencial e mesmo que as diferenças que há entre nós e eles não sejam decisivas para o sucesso da estratégia intervencionista, é necessário saber se o setor público brasileiro tem capacidade gerencial para implantar com um mínimo de eficiência essa agenda.
No caso sul-coreano, o Estado sempre se preocupou em desenhar a política pública com incentivos corretos e sempre foi claro que have- ria punição se as metas não fossem cumpridas.
A desconsideração desses condicionantes e a aceitação acrítica do intervencionismo "porque todos fazem" ajudou em muito a cavar nos últimos seis anos o buraco no qual nos encontramos hoje.
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