Em VEJA: Dilma conta com dinheiro chinês para turbinar concessões de infraestrutura

Publicado em 19/05/2015 08:54
Leia também "Negócios do Brasil", por Caio Blinder

Negócios do Brasil

Na visita de Li Keqiang, projetos e acenos simbólicos

Na visita de Li Keqiang, projetos e acenos simbólicos

O primeiro-ministro chinês Li Keqiang está no Brasil na primeira escala de uma viagem à América do Sul carregada de projetos e de simbolismo. As quatro escalas (Brasil, Peru, Colômbia e Chile) representam 57% das relações comerciais da China com a América Latina. O supergigante emergente desacelerou, mas o Brasil em estado recessivo topa qualquer negócio.

A China, na verdade, também, sem questionar a ética ou o regime político do freguês. No começo do ano, o presidente Xi Jinping falou em investimentos de US$ 250 bilhões na América Latina ao longo de uma década. Pequim trabalha a longo prazo (e tem US$ 4 trilhões de reservas), embora possua algumas preocupações imediatas para compensar sua capacidade excessiva na construção de obras de infraestrutura (o que não falta no país é elefante branco) e na produção de aço. Nada como construir alguns elefantes brancos também no exterior em meio a necessários burros de carga que cada país precisa para tocar as coisas.

Em entrevista ao jornal Valor, o veterano diplomata Sérgio Amaral (hoje presidente do Conselho Empresarial China-Brasil) observou que tanto interesse chinês no país é uma oportunidade para o Brasil substituir as construtoras envolvidas em projetos hoje ameaçados pelo envolvimento de grandes empreiteiras brasileiras em escândalos de corrupção. O governo brasileiro também busca ansiosamente novas fontes de financiamento para projetos ambiciosos, pois está em fase de ajuste e o BNDES está secando.

Cai sob medida neste contexto a construção de uma ferrovia transoceânica ligando o litoral atlântico brasileiro à costa peruana no Pacífico para escoar com mais agilidade as exportações de commodities brasileiras como soja, ferro e açúcar para a China, que ainda são as principais especiarias do Brasil no comércio bilateral (A China já superou os EUA como principal parceiro comercial brasileiro).

Com elegância de diplomata, o embaixador Sérgio Amaral disse que a visita ao Brasil (e ao resto da América do Sul) do primeiro-ministro Li Keqiang é um ato da “nova geopolítica da infraestrutura”. Sem maiores pudores, o jornal britânico The Independent ressaltou que com a visita do seu premiê a China “continua com sua colonização econômica” do Brasil. Com um pouco mais de educação, o Financial Times observou que o Brasil nunca soube capitalizar sua parceria comercial de forma tão lucrativa como a China, aumentando os temores de que se converta em uma “colônia econômica”.

O fato é que a “geopolítica da infraestrutura” é a alavanca para a China exercer mais influência na distante América Latina. O projeto da ferrovia transoceânica é uma forma da China evitar o Canal do Panamá, que Pequim considera um ponto de estrangulamento estratégico dos EUA.

Assim, a visita do primeiro-ministro chinês está carregada não apenas de projetos, mas de simbolismo, desafiando mais uma vez a noção de que a América Latina seja um “quintal americano” ou que uma atualização da Doutrina Monroe esteja em vigor. Há dois séculos, o propósito americano era desencorajar a influência e os negócios europeus na América Latina. Agora é a vez dos chineses se colocarem no seu devido lugar. Estrategistas de Pequim rebatem ser vital incrementar a influência na América Latina, pois os americanos estão fazendo o mesmo no “quintal” chinês na Ásia, reforçando seus laços econômicos e militares na região.

A China adora a conversa de “relações harmoniosas” e quer se livrar da imagem de novo colonizador. Em entrevista ao Valor, o embaixador chinês em Brasília, Li JInzhang, disse que existe um “novo normal” no relacionamento bilateral, no qual “a situação de demasiada dependência do comércio de commodities não podia continuar e precisa ser transformada”.

O “novo normal” do Brasil é topar qualquer negócio, da China ou de qualquer outro lugar. Imagine, o governo Dilma Rousseff se esforça até para melhorar as relações com os velhos colonizadores ianques.

(por Caio Blinder)

 

Em VEJA: Dilma conta com dinheiro chinês para turbinar concessões de infraestrutura

 

Premiê Li Keqiang chega nesta terça a Brasília com 53 bilhões de dólares no bolso para serem investidos num fundo de financiamento à infraestrutura

 

A presidente Dilma Rousseff participa da cerimônia de lançamento do Plano Nacional de Defesa Agropecuária

 

A presidente Dilma Rousseff se encontra com o premiê chinês nesta terça, em Brasília(Evaristo Sá/AFP)

Em um ano de dificuldades econômicas, o governo aposta nos cofres cheios de dinheiro da China para pagar pelos investimentos em infraestrutura que o Brasil não tem como fazer. A visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, na terça-feira, em Brasília, está sendo tratada como uma rara oportunidade de apresentar uma agenda positiva. Com 53 bilhões de dólares a serem investidos em um fundo de financiamento à infraestrutura, o governo chinês pode garantir obras como a segunda linha de transmissão de Belo Monte e a ferrovia entre Lucas do Rio Verde (MT) e Campinorte (GO).

Dos recursos já anunciados para o fundo de infraestrutura, que deverá ser gerenciado pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco de Desenvolvimento da China, cerca de 10 bilhões de dólares poderão ser investidos nas linhas de transmissão de Belo Monte. A empresa chinesa State Grid já venceu a licitação, com a Eletrobrás, da primeira linha, até São Paulo, que terá um custo de 5,5 bilhões de dólares. Este deve ser um dos mais de 30 acordos que serão assinados durante a visita de Keqiang.

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Uma segunda linha, até o Rio de Janeiro, com um custo de 7,7 bilhões de dólares, deverá ser licitada em junho e também interessa à State Grid. O investimento entraria na lista de financiamentos pelo novo fundo.

O governo também vê no fundo a possibilidade de resolver parte do financiamento à construção de ferrovias. Em 2014, durante a visita do presidente da China, Xi Jinping, foi assinado um termo de acordo para estudo de viabilidade de investimentos entre a construtora Camargo Corrêa e a China Railway Construction Corporation visando a construção da linha entre as cidades de Lucas do Rio Verde (MT) e Campinorte (GO), onde se ligaria à ferrovia Norte-Sul. Um dos trechos mais importantes para os produtores de grãos do Centro Oeste, de quase 900 quilômetros, teria um custo de 5,4 bilhões de dólares e ainda não foi licitado. Agora, pode entrar na lista de financiamentos chineses.

Salvação - Na véspera da visita do premiê, a presidente Dilma Rousseff convocou os ministros Joaquim Levy (Fazenda), Aloizio Mercadante (Casa Civil), Mauro Vieira (Itamaraty) e Nelson Barbosa (Planejamento) para uma reunião preparatória. Também participam da audiência os ministros Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Antônio Carlos Rodrigues (Transportes), Kátia Abreu (Agricultura) e Ricardo Berzoini (Comunicações), além do embaixador do Brasil na China, Valdemar Carneiro Leão, para revisar os últimos detalhes dos acordos. Dentro do Planalto, o premiê chinês tem sido visto como "o salvador da Pátria" em um ano de ajuste econômico severo.

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O Planalto conta com o apetite chinês no programa de concessões a ser anunciado em junho, principalmente na área de ferrovias, mas também portos, aeroportos e energia. O governo espera ter outras duas boas notícias para anunciar: a assinatura de um novo protocolo sanitário que permitirá ao Brasil voltar à exportar carne bovina em natura para a China Continental e a assinatura da venda de 22 aviões da Embraer para a Tianjin Airlines.

(Com Estadão Conteúdo)

 

Dilma: a cara da fome e da melancolia!

Levy e Dilma  durante assinatura do novo contrato de concessão da ponte Rio-Niterói

Levy e Dilma durante assinatura do novo contrato de concessão da ponte Rio-Niterói

Todos vimos ontem a presidente Dilma Rousseff ao lado do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Ela não estava magra, o que poderia ser motivo para ela própria celebrar, já que decidiu fazer uma dieta. Ela estava abatida. Aquilo, notou minha mulher, é cara de fome. Fome de algum sossego. Que ela não terá. Até sexta-feira, o governo decide o corte no Orçamento, que pode chegar perto de R$ 80 bilhões. E vai ter de chegar à carne — inclusive à carne das promessas eleitorais. Já está certo que obras do PAC e o Minha Casa Minha Vida entrarão no facão. Dilma não tem saída. Entre outras razões porque é obrigada a enfrentar a herança maldita deixada por… Dilma.

O governo enfrenta também perda de arrecadação. E aí será preciso dar um jeito de aumentar as receitas. Levy quer arrancar mais dinheiro de ao menos três tributos: elevar a arrecadação do PIS-Cofins, com o fim dos regimes especiais; elevar a alíquota da Contribuição Sobre Lucro Líquido (CSLL) cobrada dos bancos e aumentar o IOF. E isso quer dizer aprofundar um tantinho mais a recessão.

Ao mesmo tempo em que tal cenário difícil se avizinha, Dilma enfrenta pressão de parlamentares, muito especialmente dos de seu partido, para afrouxar o cinto. Acham exagerado, por exemplo, o superávit primário de 1,2% do PIB, como quer Levy, e propõem que o governo o deixe, assim, por 0,7%. A tese começou a ganhar adeptos também no PMDB. Nessa hora, claro!, Dilma poderia contar com a ajuda de seu padrinho político, de seu criador: Lula. Mas quê… O homem é um dos sabotadores do seu governo e já a aconselhou, entre outras delicadezas, a não vetar o texto que, na prática, extingue o fator previdenciário. Ela está disposta a não ouvi-lo.

Aquela cara de Dilma é a cara da melancolia.

Por Reinaldo Azevedo

 

O pior de Dilma não está no dolo, mas no que ela considera sabedoria, cálculo e estratégia

Têm razão todos aqueles que dizem que os governos petistas conseguem ser ainda mais incompetentes do que corruptos. E que se note: a incompetência não os torna menos corruptos; a corrupção não os torna menos incompetentes. A falha moral alarga a falha técnica, e a má técnica torna ainda mais deletérios os efeitos da corrupção. É o casamento do roto com o rasgado, do ruim com o pior, do mau princípio com a circunstância infeliz, da má ideia com a pessoa errada. Não se leva à lona, por exemplo, uma gigante como a Petrobras da noite para o dia.

Por que digo isso?

A Petrobras enviou à SEC, o órgão dos EUA que regula o mercado de capitais, um relatório devastador sobre o seu futuro de médio prazo. Se você é um investidor e quer fazer aposta no longuíssimo prazo, talvez a Petrobras seja uma boa opção. Mas põe longo prazo nisso… Se tem uma expectativa de ganho, sei lá, na próxima década, aí convém ter cuidado. O que a estatal diz de si mesma é um retrato da desolação.

A empresa admite à SEC que não terá recursos para arcar com o desembolso necessário na exploração do pré-sal. Ao elencar seus fatores de risco, uma obrigação diante daquele órgão, a empresa admite que terá dificuldades para se financiar no mercado, e tanto pior será se as agências de risco rebaixarem o rating da empresa. A estatal admite também dificuldade no fluxo de caixa, o que pode dificultar o pagamento de credores.

Mais dificuldades? Sim, há uma tendência, em razão da demanda, da elevação dos equipamentos de perfuração, o que pode acarretar custos inesperados. E a coisa vai por aí.

Pois é… O que faria um governo que fosse a um só tempo corajoso e prudente? Reconheceria o tamanho do problema, cederia aos apelos da realidade e mudaria o rumo de uma prosa que está acarretando prejuízos efetivos à Petrobras. Mas Dilma não seria Dilma se não adorasse dar murro em ponta de faca. O relatório enviado à SEC é a prova definitiva do erro do sistema de partilha, como foi concebido, especialmente a exigência de que a Petrobras participe com pelo menos 30% da exploração do pré-sal. Está na cara que não funciona. Está na cara que não dá certo. Está na cara que isso virou um peso absurdo para a empresa.

Mas quem faz Dilma se mover do lugar? Ela é uma mulher de ideias fixas e não é do tipo que se deixa convencer pela realidade, pouco importa o quanto isso possa custar para si mesma e até para o país. Querem ver? Todos se espantavam quando a czarina da energia decidiu tabelar a taxa de retorno das empresas que participassem, por exemplo, de Belo Monte. Ela não abriu mão. As empresas privadas caíram fora. Quando a doutora decidiu que a privatização das estradas federais deveria obedecer ao critério do pedágio mais barato, advertiram: “Não vai dar certo!”. Mas a mulher, sabem como é, acha que empresários são gananciosos e que pedágio a preços realistas, que ela considera altos, é coisa de tucano. Deu tudo errado. Nas estradas federais, há hoje pedágios e buracos.

Quando decidiu lançar Arlindo Chingalia (PT-SP) para a presidência da Câmara, foi advertida por Deus e o mundo  — inclusive por Chinaglia — de que seria um desastre. Ela considerou a prudência coisa de sabotadores e fez tudo como quis. Cito casos de áreas distintas para evidenciar um estilo. Dilma é uma espécie de João Figueiredo da era democrática. Ela odeia ouvir “não” e não se importa com a qualidade do “sim”.

Agora, Eduardo Braga, ministro de Minas e Energia, já andou flertando com a possibilidade de a Petrobras não participar de todos os campos do pré-sal e com a flexibilização da tal política de conteúdo nacional. A chefona desautorizou seu ministro, deitou falação e considera conspiração contra os interesses nacionais debater algo diferente.

À SEC, no entanto, a Petrobras é obrigada a falar a verdade. Ao Brasil, Dilma prefere ficar com a mentira. Nem é por dolo. Ela imagina que é por cálculo, sabedoria e sagacidade. 

Por Reinaldo Azevedo

 

É a crise

Alto forno 1 de Cubatão: desligado a partir do dia 31

Alto forno 1 de Cubatão: desligado a partir do dia 31

A Usiminas vive pesada briga entre os seus acionistas, mas não rasga dinheiro. A siderúrgica decidiu que vai desligar dois altos fornos responsáveis pela produção de ferro gusa – o da Usina de Cubatão e o da Usina de Ipatinga, a partir de 31 de maio e 4 de junho de 2015, respectivamente. Quer, assim, adequar a produção à (baixa) demanda.

Por Lauro Jardim

 

O governo da potência de araque não para de esbanjar lá fora o dinheiro que falta aqui

BRANCA NUNES

Neste 7 de maio, o governo federal comemorou a aprovação na Câmara dos Deputados da PEC 665, embrulho incluído no balaio do ajuste fiscal que altera regras no seguro-desemprego. Mais uma vez, Dilma Rousseff e seus parceiros avisaram que é pelo bem do Brasil que a população será sacrificada. A mesma cantilena foi entoada para que os pagadores de impostos aceitem outra contradição absurda: os parteiros do slogan Brasil – Pátria Educadora cortaram  R$ 500 milhões da verba que garantir a professores e bibliotecas públicas o suprimento de livros didáticos. Há alguns dias, enfim, o Ministério da Educação confessou que não resta um único tostão para investir no FIES.

A indigência financeira, cujo codinome é “contingenciamento de gastos”, provoca estragos que ultrapassam as fronteiras do território nacional. Já no primeiro mandato de Dilma, o Brasil perdeu o direito de voto em instituições internacionais, sofreu derrotas sucessivas na disputa por cargos relevantes e foi proibido de comandar missões de paz da ONU, entre outras sanções que deixaram em frangalhos a imagem do país. Como a soma das dívidas com as agências da Organização das Nações Unidas já passou dos R$ 600 milhões, não há perigo de melhorar.

Para recuperar, por exemplo, o direito de voto na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), perdido desde 1º de janeiro de 2015, o país precisa pagar R$ 10,3 milhões. Um débito de R$ 15,4 milhões e dois anos de calotes na contribuição financeira devida ao Tribunal Penal Internacional expulsaram o Brasil do quadro de eleitores da instituição. Na FAO, a a dívida acumulada chegou a R$ 38,6 milhões.

As embaixadas desenham um quadro de penúria. Em reportagem recente, o Estadão revelou que a representação brasileira em Benin, na África ocidental, ficou sem água nem luz por falta de pagamento. Os telefones só não haviam emudecido porque um diplomata ali baseado quitou a conta com o que restava do salário. A escassez de recursos atinge também representações em Tóquio, nos Estados Unidos e em Portugal.

No ano passado, o Brasil se recusou a pagar a contribuição obrigatória à Organização dos Estados Americanos (OEA), entidade que reúne as nações das Américas do Sul, Central e do Norte. Dos 8,1 milhões de dólares esperados, depositou apenas 1 dólar. Em contrapartida, o salário dos parlamentares saltou no começo do ano de R$ 26.723,13 para R$ 33.763,00. E as despesas federais no primeiro trimestre cresceram R$ 5,4 bilhões, passando de R$ 822 bilhões para pouco mais de um trilhão de reais por ano. “Sem contar a Petrobras”, ressalva o jornalista Carlos Brickmann.

Tudo somado, conclui-se que o Brasil Maravilha que Lula pariu e Dilma Rousseff carregou no colo só existiu na cabeça baldia do parteiro e no cérebro desabitado da babá. Pelo menos desde 2006, a dupla insistiu em enxergar um colosso emergenteno que nunca passou de um pobretão metido a besta. Fantasiado de rico com um fraque puído nos fundilhos, há mais de 12 anos a potência de araque deu de esbanjar lá fora o dinheiro que faz falta aqui. Neste início do segundo mandato, o fraque foi reduzido a andrajos que denunciam a miséria financeira e moral do perdulário irresponsável.

Neste 12 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou a liberação de mais R$ 50 bilhões para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O governo parece achar pouco: o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, move-se nos bastidores para apressar a transferência de outros R$ 10 bilhões atualmente em poder de um fundo criado com uma fatia de recursos do FGTS. De 2006 para cá, o total de empréstimos do Tesouro ao BNDES ultrapassou a fronteira dos R$ 410 bilhões — 8,4% do PIB.

Boa parte da dinheirama esvaiu-se na construção de usinas, portos, rodovias e aeroportos no exterior ─ em transações mantidas sob sigilo e sempre com juros de pai para filho. “Fazer empréstimos internacionais sem que eles passem pelo Congresso é uma atitude inconstitucional que se cristalizou no governo Lula e Dilma”, observou Maristela Basso, professora de direito internacional da USP, numa entrevista a Heródoto Barbeiro. “Emprestar para Cuba de forma secreta para a construção do Porto de Mariel, por exemplo, é nulo perante o direito brasileiro”.

Inconstitucional ou não, é o que o governo federal faz há mais de uma década. Entre 2006 e 2012, US$ 3,2 bilhões (R$ 6,4 bilhões) foram consumidos em empréstimos a companhias brasileiras em Angola –49% para a Odebrecht–, de acordo com uma reportagem da BBC Brasil. Trecho: “A Odebrecht conta com parte de uma nova linha de crédito do banco, de US$ 2 bilhões, para manter o ritmo de investimentos em Angola, entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões anuais (de R$ 1,1 bilhão a R$ 1,2 bilhão)”.

Também construído pela Odebrecht e financiado pelo BNDES, o porto de Mariel engoliu US$ 682 milhões só na primeira etapa. Com 18 metros e 12 quilômetros de ferrovias e 70 quilômetros de estradas pavimentadas com pista dupla no entorno, o primo cubano é tudo o que o Porto de Santos, em São Paulo, quer ser no dia em que o governo decidir gastar por aqui as verbas que sobram para modernizar a infraestrutura de países companheiros.

Pelo atalho do BNDES, a Queiróz Galvão fez chegar um bilhão de dólares aos canteiros de obras da hidrelétrica de Tumarín, na Nicarágua. No Equador, a Odebrecht foi contemplada com mais de US$ 90 milhões para construir a Hidrelétrica Manduriacu, além de outros US$ 240 milhões para a hidrelétrica de San Francisco. Acusada de “desleixo” no cumprimento do cronograma, a empreiteira foi expulsa do país, em 2008, pelo presidente Rafael Correa.

Cada vez mais numerosos, esses acertos internacionais são cada vez menos transparentes. Não se sabe ao certo quais são os critérios usados pelo BNDES para escolher parceiros. Boa parte das obras financiadas beneficia países da África e da América do Sul cuja irrelevância comercial é compensada pela permanência no poder de governantes amigos.

A suspeita de que o segredo de alguns contratos se presta a ocultar tenebrosas transações ameaça o sigilo que, no caso de Cuba e Angola, só seria suspenso em 2027. A reação do governo à iminente instauração de uma CPI do BNDES reforçou a sensação de que a devassa na multibilionária caixa-preta é inadiável. As descobertas podem espantar até os brasileiros convencidos de que, depois do Petrolão, não se espantarão com mais nada.

Seguem-se 14 obras no exterior financiadas pelo BNDES.

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(no blog de Augusto Nunes)

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Fonte:
veja.com

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