Na FOLHA: Corte no orçamento deve ficar perto de R$ 70 bi, e governo Dilma já procura receita extra
A presidente Dilma ouviu de sua equipe econômica que "não há muito espaço para o corte do Orçamento ficar abaixo" de R$ 70 bilhões. A reunião que aconteceu neste domingo em Brasília, com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Nelson Barbosa (Planejamento) e Joaquim Levy (Fazenda), durou cerca de quatro horas, e discutiu opções de bloqueio de gastos; anúncio deve ser feito até sexta.
O valor, segundo assessores, seria "muito próximo do necessário" para garantir o cumprimento da meta de superavit primário (receitas menos despesas) neste ano.
Um corte na casa de R$ 70 bilhões representaria fazer o governo voltar ao patamar de gastos de 2013, como tem defendido Joaquim Levy.
A decisão final será da presidente Dilma e pode ser discutida nesta segunda (18) por ela em reunião com líderes aliados, comandada pelo vice-presidente Michel Temer.
A petista é pressionada pela ala mais política do governo a cortar cerca de R$ 60 bilhões, para evitar uma paralisia do governo federal.
Já a equipe econômica preferia um corte de R$ 80 bilhões, por causa das mudanças que o Congresso está fazendo no pacote fiscal, que já reduziu em cerca de R$ 4 bilhões a economia prevista.
Para atingir a meta, Dilma tem em vista ao menos mais quatro fontes de recursos, que tenta viabilizar ainda neste ano. São elas a venda de ações do setor de seguridade da Caixa, aumento de impostos, leilão de concessões de exploração de petróleo e da folha de pagamento dos servidores.
RECEITAS
Segundo a Folha apurou, com a venda de ações da Caixa Seguridade o governo quer arrecadar ao Tesouro valor próximo ao obtido com a BB Seguridade --cerca de R$ 6 bilhões. A única dúvida é se a operação conseguirá ser montada para gerar recursos ainda neste ano.
No caso da concessão de petróleo fora do pré-sal, estima arrecadar pelo menos R$ 2 bilhões em 2015.
Com o aumento de tributos, só a elevação da alíquota da CSLL de bancos de 15% para 17% pode render mais R$ 1,5 bilhão. Já o leilão da folha dos servidores não tem previsão fechada.
A equipe econômica acredita que os cortes, que devem ser anunciados até o final desta semana, e o aumento de receitas levarão à meta de economia deste ano, de R$ 66,3 bilhões para todo o setor público, sendo R$ 55,3 bilhões apenas do governo.
A meta do setor público equivale, hoje, a 1,1% do PIB. O mercado avalia que, se o governo chegar a 0,8% do PIB, já será um bom caminho.
ANÁLISE de valdo cruz
Equipe econômica já se prepara para a segunda onda de pressão política
Definido o valor do corte de gastos e aprovadas as medidas do ajuste fiscal no Congresso, a equipe econômica já se prepara para uma onda de pressões no meio do ano, diante da retração da atividade econômica do país.
Até agora, as equipes de Joaquim Levy (Fazenda) e Alexandre Tombini (Banco Central) vivem mais um período de trégua do que de críticas dentro do governo, já que a prioridade é corrigir o rumo da política econômica brasileira para resgatar a confiança dos investidores.
Mas a tendência, na avaliação da equipe de Tombini e Levy, é que os ventos mudem e a artilharia contra a atual política econômica --focada em ajuste fiscal e aperto nos juros-- cresça quando aumentar a sensação de que a economia "está no chão" e o desemprego em alta.
Segundo um assessor presidencial, isto vai acontecer no momento em que a inflação começar a cair, a partir de maio, e o ajuste fiscal já estiver implementado, estimulando a ala política do governo a pedir flexibilização no receituário ortodoxo.
Aí, a equipe econômica será alvo de pressões principalmente para afrouxar a política monetária e também para liberar gastos públicos para tentar reverter o quadro de desaceleração da economia.
No Palácio do Planalto, o maior pesadelo da ala política é que as estimativas mais pessimistas do mercado se confirmem e a retração da economia brasileira chegue aos 2% neste ano.
ÂNCORA
A equipe econômica não acredita num recuo desta magnitude. Diz que essa possibilidade "não existe" e trabalha com algo mais na casa de 1%, o que já será uma desaceleração forte, suficiente para despertar dentro do Planalto as primeiras críticas, ainda um pouco tímidas, ao aperto monetário do BC.
Críticas que devem aumentar porque a equipe de Tombini já sinalizou que seguirá subindo a taxa de juros, hoje em 13,25% ao ano, mesmo num momento de forte retração da economia.
O BC tem sinalizado que, neste momento, seu foco é levar a inflação para o centro da meta de 4,5% ao final de 2016. E que não pretende ceder à artilharia, quando ela aumentar, por considerar que se não conseguir ancorar as expectativas nesta direção nos próximos meses perderá novamente a batalha.
Os problemas do governo, contudo, não estão restritos à condução da política econômica. Outro pesadelo a atormentar a equipe de Dilma são os reflexos da Operação Lava Jato sobre a saúde financeira das empreiteiras.
A cada novidade nas investigações, como a delação de Ricardo Pessoa, da UTC, aumenta o risco de quebradeira no setor. Um complicador a mais para a fraca atividade econômica do país e para o futuro do plano de concessões que Dilma vai lançar para tirar o país do chão.
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