Na FOLHA: Homenagem aos pracinhas foi transferida do Rio para o Planalto para impedir vaias a Dilma

Publicado em 08/05/2015 08:09
na edição de hoje da Folha de S. Paulo

O Palácio do Planalto encontrou uma saída dupla para blindar a presidente Dilma Rousseff de possíveis protestos e vaias durante as celebrações dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, nesta sexta-feira (8).

Primeiro, cancelou a ida da presidente ao Rio de Janeiro, onde a petista participaria de um evento em local aberto, no Monumento dos Pracinhas, no Flamengo. Em seguida, organizou um evento de última hora no interior do próprio Palácio do Planalto, às 15h desta sexta, para as celebrações militares.

Dessa forma, a presidente não estará vulnerável a nenhum tipo de protesto.

Em área aberta, avaliam assessores palacianos, Dilma estaria sujeita a vaias e outros tipos de manifestações contrárias que não poderiam ser evitadas pela segurança.

A versão oficial do governo é a de que a viagem ao Rio foi cancelada para "adequamento de agenda", inclusive com uma nova reunião sobre o pacote de concessões que Dilma pretende lançar ainda no mês de maio. Segundo aFolha apurou, os investimentos devem chegar a mais de R$ 100 bilhões.

Assessores têm evitado expor a presidente em eventos públicos e em pronunciamento em rede nacional.

Fato inédito desde 2011, quando assumiu o primeiro mandado, Dilma deixou de fazer o tradicional pronunciamento de 1º de Maio em cadeia nacional de rádio e TV. Optou por três vídeos divulgados nas redes sociais. A ideia é repetir esse padrão em outras datas comemorativas.

Quatro dias depois, Dilma deixou de participar do programa nacional de rádio e TV do PT. Ela só foi mostrada em duas rápidas ocasiões, sem dar qualquer declaração.

 

ANÁLISE DE BERNARDO MELLO FRANCO

Síndrome do pânico da vaia

BRASÍLIA - O cancelamento da ida ao Monumento dos Pracinhas, no Rio, é mais um sintoma do mal que abate a presidente Dilma Rousseff: a síndrome do pânico da vaia.

Dilma viajaria nesta sexta para participar da comemoração dos 70 anos do fim da Segunda Guerra no front europeu. Desistiu há dois dias, com medo de novos protestos.

Apesar do forte esquema de isolamento planejado pelo Exército, assessores alegaram que a presidente enfrentaria uma plateia hostil no Rio. Soou como tentativa de jogar a culpa pela impopularidade da chefe no colo dos nonagenários da FEB.

Para que Dilma não passasse o vexame de ignorar a data histórica, o governo improvisou uma cerimônia no Planalto. Serão convidados militares da ativa, que terão que aplaudi-la, e um ou outro ex-combatente. O povo e as panelas ficarão de fora.

A nova operação antivaia só evidencia a fragilidade da presidente. Apesar do esforço para dizer que o pior da crise passou, sua equipe continua a fazer o possível para evitar qualquer contato com as ruas.

Foi por isso que Dilma cancelou o pronunciamento do Dia do Trabalho, escapou do programa do PT e cortou as aparições públicas. Ela não faz uma viagem oficial há dez dias.

A estratégia de manter a presidente reclusa não elimina todos os constrangimentos. Na quarta, horas depois do último panelaço, ela tentava aparentar normalidade em um ato com agricultores no palácio.

Em determinado momento, o locutor anunciou a assinatura de um termo técnico do Programa Nacional de Controle de Moscas das Frutas. Quem prestava atenção em Dilma notou suas expressões de enfado.

Ao fim da solenidade, a presidente deu uma curta entrevista. Os repórteres pediram uma palavra sobre sua derrota mais recente no Congresso, a aprovação da PEC da Bengala. "Eu não estou escutando, eu estou encerrando. Um beijo para todas vocês", respondeu Dilma, antes de virar as costas em direção ao gabinete.

 

O dinheiro esgotou, diz Lula. "PT também comete erros", diz ex-presidente

Ao lado do presidente da Bolívia, Evo Morales, Lula afirmou que quem erra deve pagar

 

Durante visita ao Acre ao lado do presidente da Bolívia, Evo Morales, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o PT cometeu erros e que os responsáveis devem pagar por isso.

"O PT, como é composto por seres humanos, também comete erros. E quem cometeu erro tem que pagar", disse nesta quinta-feira (7).

Os dois participaram de evento para piscicultores em Rio Branco e visitaram as instalações do complexo industrial do peixe, obra executada pelo governo estadual em parceria com o setor privado.

Em defesa do governo federal, Lula disse que não se pode medir a gestão de Dilma Rousseff com base em cinco meses de governo e que a petista cumprirá todas as promessas feitas na campanha.

Ele afirmou ainda que as medidas econômicas do primeiro mandato de sua sucessora foram necessárias para manter o Brasil com taxas baixas de desemprego.

O ex-presidente também citou o ajuste fiscal --"quando a gente vai fazer ajuste fiscal, todo mundo se ajusta"-- e disse que o Brasil não está vivendo "seu melhor momento" devido a uma crise internacional e porque Dilma teve de fazer investimentos para manter empregos. "Mas chegou uma hora que precisou parar, o dinheiro esgotou", afirmou.

Lula exaltou a gestão de Evo Morales na Bolívia, "motivo de orgulho para a esquerda brasileira", e o "período de paz e progresso" que o país vizinho vive agora.

"Quando esse índio ganhou as eleições na Bolívia, parte da elite brasileira queria que eu brigasse com ele. 'Lula, ele está querendo pegar a Petrobras'", disse.

Ele deixou o evento sem falar com a imprensa e se recusou a comentar o "panelaço" ocorrido em ao menos dez capitais brasileiras na terça (5), em protesto à exibição do programa do PT em rede nacional de televisão.

 

Sem ajuste, Brasil iria falir, diz Rodrigo Maia, líder do DEM

Deputado oposicionista que votou a favor do governo afirma não ter constrangimento

DE BRASÍLIA

Ex-presidente do DEM --um dos principais partidos de oposição-- e crítico contumaz da gestão do PT, o deputado Rodrigo Maia (RJ) disse ter votado a favor do ajuste fiscal de Dilma Rousseff porque, para ele, o país iria falir caso a medida fosse rejeitada.

"O Brasil iria quebrar hoje", disse. Ele afirma que quis garantir votos de confiança ao vice-presidente Michel Temer (PMDB) e ao ministro Joaquim Levy (Fazenda). Ambos, defende Maia, comandam a nação atualmente.

Oito dos 22 deputados do DEM votaram pelo ajuste, apesar da ferrenha oposição. O apoio se deu após negociação com Temer e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM). Leia trechos da entrevista.

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Folha - Por que o sr. votou a favor do pacote fiscal de Dilma?

Rodrigo Maia - Se a MP fosse rejeitada o Brasil iria quebrar hoje. Não é uma questão de governo e oposição. A gente vive no Brasil, e as contas públicas estão sob descontrole. Se não se fizer nada, daqui a pouco vamos chegar à situação da Espanha, de Portugal.

Hoje o dólar ia estar a R$ 4, R$ 5. A perspectiva do Brasil de recuperação, de um ano, ia ser para daqui três anos. Eu quis garantir na verdade um voto de confiança ao ministro da Fazenda [Joaquim Levy] e ao presidente Michel Temer, muito mais do que um voto de confiança a ela [Dilma].

Não fica um constrangimento, votar em consonância com quem sempre criticaram?

Não fiquei. Não há ajuste fiscal aqui, aqui há reorganização de distorções criadas e deixadas pelo próprio governo para reeleger a Dilma.

A bancada do DEM se encontrou com Michel Temer?

Encontro com o Michel Temer toda semana quase, há muitos anos. Outros deputados, do governo e da oposição, estiveram com o Temer.

É natural que o coordenador do governo explique as medidas aos deputados que tenham intenção de votar e os convença. O estranho é votar algo do qual não esteja convencido. Há um mês, fiz um jantar para o Joaquim Levy com deputados para que ele tivesse o direito de convencer, para explicar a situação do Brasil, que é muito ruim.

Houve participação do prefeito de Salvador na articulação?

O prefeito de Salvador tem uma cabeça liberal na economia. E ele endente que a derrota do ajuste fiscal iria gerar uma tremenda dificuldade para a Prefeitura de Salvador. Não é uma questão: "Ah, tenho interesse de salvar a Dilma". Não é, tenho interesse em salvar os brasileiros.

 

análise de VINICIUS TORRES FREIRE

O PT, quase na oposição

Votação do ajuste fiscal amplia poderes dos vários PMDBs e diminui ainda mais Dilma e seu partido

A CÂMARA APROVOU, a muito custo, a primeira parte dos pacotes de arrocho de gastos e aumento de impostos --ficou mais difícil conseguir seguro-desemprego. Parece agora mais provável que passe o resto do plano Levy, ainda que talhado, aparado e atrasado, o que deve reduzir em um terço o total de dinheiro que o governo esperava arrecadar neste ano.

Dilma Rousseff e o PT saíram politicamente arrochados do episódio, um ajuste que evidenciou o corte do orçamento de poder da presidente e de seu partido, que de resto saíram ainda mais estranhados da refrega. Considere-se.

Primeiro, o primeiro pacote do dito ajuste fiscal passou na Câmara só porque parte da oposição cedeu alguns votos, 19 votos. Caso 13 oposicionistas de DEM, PSB, PV ou SD mudassem de ideia, a coisa desandava.

Segundo, o PMDB demonstrou que pode mandar não apenas em parte do governo mas que também manda no PT. Decidiu que apenas aprovaria o primeiro dos pacotes do Ministério da Fazenda caso o PT "fechasse questão", determinasse o comportamento da bancada. Está certo que, dos 64 deputados, do PT, 10 ainda se recusaram a aprovar o primeiro aperto do arrocho. Mas a regra do PMDB era clara: se o PT não dançasse conforme a música do governo, ninguém mais iria ao baile.

Aliás, diga-se de passagem e abstraída a mumunha política do momento, o PMDB fazia uma exigência óbvia e razoável. Se o partido da presidente quer debandar, eles que são vermelhos que se entendam.

Terceiro, a coordenação da vitória, ainda que parcial e precária, foi de Michel Temer, PMDB, vice-presidente, assessorado pelos outros ministros do partido. Enquanto esteve sob o comando nominal do PT, a articulação política do governo Dilma 2 produziu apenas derrota e caos. Ou seja, o PMDB assumiu de fato e, sob certo aspecto, por mérito mais uma parte do poder de governo.

Temer, portanto, pelo menos começou a arrumar a bagunça parlamentar criada pelos petistas entre o final de 2014 e o primeiro trimestre deste ano. Negocia o subministério (os cargos de segundo escalão). Eduardo Cunha, PMDB, presidente da Câmara, define boa parte da agenda parlamentar. Renan Calheiros, PMDB, determina a, por assim dizer, contra-agenda, ao mesmo tempo em que azucrina Dilma Rousseff.

Em suma, Cunha, Calheiros e Temer lideram sublegendas do PMDB, todos os três calculando a seu modo como caminhar sobre as ruínas do governo petista até 2018, sem tropeços que atrapalhem projetos de poder presidencial, plano inédito no partido em quase 30 anos, oportunidade proporcionada pelo PT, saudações. Cunha seria o candidato do PMDB-Oposicionista A, Calheiros poderia inventar José Serra, ora PSDB, como candidato do PMDB-Oposicionista B, e Temer seria o nome do PMDB-Governista.

O que resta do PT, evidenciado nos discursos de Lula e no programa que o partido levou à TV, exime-se de defender o programa básico ou restante de Dilma 2. Tal programa, como se sabe, por ora limita-se ao arrocho para evitar a ruína e ao desmanche da política econômica de Dilma 1, plano elaborado, implementado e governado até politicamente por Joaquim Levy, ministro da Fazenda.

Não é de admirar que o PT esteja à beira de ir para a oposição a si mesmo.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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