No EL PAÍS: JOSÉ MUJICA (EX-PRESIDENTE DO URUGUAI): “A corrupção mata a esquerda, é inexplicável isso no Brasil”
P. A política está mudando?
R. A crise da política apenas acentua o individualismo. Prefiro que as pessoas não estejam com a esquerda, mas que estejam com a política. Pagaria esse preço. A antipolítica é aventureirismo ou fascismo. Prefiro a política conservadora, mas a política.
P. Tem medo do populismo?
R. Tenho medo dos sem partido, os que não respondem a nenhuma disciplina. Os partidos são o primeiro elemento de controle que os indivíduos têm. Seja o PP, o socialismo, Podemos. Mas é algo coletivo. Mas, cuidado, se o populismo é luta para elevar o nível de vida das pessoas ou as políticas de igualdade, muitos podem cometer esse pecado. A fronteira disso é quando as medidas tomadas paralisam a economia, porque você quer dividir tanto, que no final rompe o interesse no trabalho e no investimento. Se você matar isso, não tem para dividir. Eu chamaria isso de populismo.
P. As pessoas protestam e se distanciam da política no Brasil, no Chile, por causa da corrupção. As novas gerações são mais exigentes?
R. Temos um flagelo interior de caráter ético. Quando o afã de fazer dinheiro se mete dentro da política, isso mata a nós da esquerda. Por que a corrupção prolifera tanto? Parece sensato que pessoas de 60, 70 anos se sujem com pesos imundos? Sabem que têm pouca vida pela frente! A questão de ter dinheiro para ser alguém pode ser uma ferramenta de progresso no mundo do comércio, onde há riscos empresariais, mas, quando se insere na política, estamos fritos. Isso aconteceu na Itália, em parte na Espanha. É inexplicável isso no Brasil. E aqui na Argentina o vice-presidente está sendo processado.
P. No livro diz que no Brasil parecer impossível fazer política sem ceder à corrupção.
R. A democracia moderna é muito cara. O Brasil é muito grande, tem Estados que são como países. Ali há partidos locais, e o que conquista o Governo nacional tem de negociar com eles. Aí começa tudo.
P. Vem uma época difícil para a esquerda latino-americana?
R. Não sabemos. A direita também não está dando muitas respostas, não acho que possa fazer maravilhas. Acho que estamos em um momento de retrocesso da esquerda na Europa e certo grau de estancamento na América Latina.
P. Como alguém que foi guerrilheiro vive a aproximação entre EUA e Cuba?
R. Era um resquício da guerra fria, é preciso acabar com isso. Nos EUA muita gente acredita que isso vai levar a mudanças na sociedade cubana, e os cubanos acham que vão resistir. A história vai decidir. Os cubanos têm um ponto forte: mandam milhares de médicos para o exterior e o grau de deserção é mínimo. Poderão resistir? Não sei, porque será preciso ver o efeito da entrada em Cuba da "magia da mercadoria", nas palavras de Trotsky.
No EL PAÍS: Precisamos falar sobre a pobreza
Precisamos falar mais sobre a pobreza. Com esse objetivo, a ONG Teto, que constrói casas populares para pessoas que moram em situação precária, lançou uma campanha que joga luz à banalização do que é notícia, e alertando para a miséria no Brasil.
Lançada há duas semanas, a campanha traz imagens dos moradores da comunidade Malvinas, em Guarulhos. Nas fotos, eles seguram cartazes com mensagens como "Cantora é flagrada tomando água" e "Famosa é vista falando ao celular". As frases, segundo Julio Lima, diretor Social da Teto, foram todas retiradas de notícias reais da internet. "Essa campanha não é uma critica direta às pessoas queconsomem essas notícias, mas é um convite para que elas deem atenção à pobreza também", diz.
A ideia surgiu através do trabalho realizado todos os finais de semana nas comunidades, segundo Lima. "A realidade das favelas mais precárias não vira pauta, por isso quisemos fazer essa jogada". Além de fazer esse alerta, as peças foram criadas para buscar voluntários para a campanha COLETA 2015. Nos dias 22, 23 e 24 de maio, mais de 5.000 jovens voluntários estarão nas ruas das cidades de São Paulo, Campinas (SP), ABC (SP), Rio de Janeiro, Curitiba (PR) e Salvador (BA) para arrecadar recursos para dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos nas comunidades.
Um dos exemplos mais clássicos desse tipo de notícia que virou alvo da campanha é uma que envolveu o cantor Caetano Veloso. Há quatro anos, o portal Terra publicou a seguinte notícia: "Caetano [Veloso] estaciona carro no Leblon nesta quinta-feira". A nota vinha acompanhada de três fotos do cantor, uma "se preparando para atravessar a rua", a outra "olhando para o fotógrafo" e a outra "esperando no estacionamento". A banalidade da informação viralizou a "notícia" que, a cada ano, é lembrada por internautas com a hashtag #CaetanoEstacionaNoLeblon. O Terra agradeceu seus leitores por "tornar a data da publicação da matéria tão marcante", como escreveram em um texto fazendo piada com a própria publicação. Segundo o portal, foi uma das mais vistas nas redes sociais. "Nem parece que faz quatro anos! Todo mundo se lembra onde estava quando Caetano estacionou o carro no Leblon", comentou um leitor.
A verdade inconveniente é que não é raro que algum editor de revista ou jornal diga que 'não colocamos pretos e pobres na capa [das publicações]'. Em um país onde mais de 10 milhões de pessoas ainda vivem abaixo da linha da pobreza, uma visita à banca de jornais ilustra bem a ausência de notícias sobre essa realidade.
Investigações sobre Lula e marqueteiro aumentam desgaste do PT
O Partido dos Trabalhadores vive dias turbulentos. Depois do processo da Lava Jato, que constatou um esquema de corrupção na Petrobras, desta vez, é o ex-presidente Lula e o marqueteiro das campanhas eleitorais de Dilma Rousseff, João Santana, que estão sob a mira dos agentes fiscalizadores. A Procuradoria Geral da República, em Brasília, abriu no último dia 21 o que no mundo jurídico se chama notícia de fato, uma investigação preliminar sobre o papel do ex-presidente Lula nos negócios fechados no exterior pela empreiteira Odebrecht.
Um dos procuradores do núcleo de Combate à Corrupção do órgão entrou com uma representação, anexando matérias publicadas na imprensa, para levantar se há indícios de tráfico de influência na atuação do ex-presidente junto a governos internacionais, entre 2011 e 2014, para facilitar as parcerias com a Odebrecht em outros países na execução de obras de infraestrutura. “Ainda não há prova nenhuma, e isso não foi convertido em investigação”, explica Mirella Aguiar, procuradora responsável por avaliar o processo e decidir se ele tem consistência para se transformar numa investigação de fato. Ela tem até o dia 20 de maio para decidir sobre o andamento do processo, ou arquivá-lo, inclusive.
O assunto foi levantado este final de semana pela revista semanal Época, em reportagem que questionou as viagens de Lula, custeadas pela Odebrecht, a países como Gana ou República Dominicana, onde a empresa depois fechou contratos de execução de obras, financiadas posteriormente pelo BNDES, o banco público que financia obras de infraestrutura, inclusive no exterior. Se for alvo de inquérito formal, tanto as viagens para o exterior, que mostram o contato de Lula com líderes de outros países, como o eventual papel do ex-presidente para a liberação de crédito à Odebrecht, poderiam ser objeto de avaliação da PGR.
Em outra frente, a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal abriu inquérito sobre o publicitário João Santana. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o objetivo é apurar a suspeita de que ele teria trazido ao Brasil 16 milhões de dólares, oriundos de Angola, em 2012, no que poderia ser uma operação de lavagem de dinheiro para beneficiar o PT, segundo o jornal. Santana atuou, naquele ano, em duas campanhas eleitorais: em São Paulo, para o então candidato Fernando Haddad, que venceu o pleito para prefeito da capital, e em Angola, onde assessorou o partido MPLA, cujo então candidato, José Eduardo dos Santos, venceu as eleições presidenciais. De acordo com a Folha, o dinheiro devido em Angola pode ter sido pago por empreiteiras que atuavam naquele país ao marqueteiro a título de custear a campanha de Haddad.
As duas versões foram contestadas, tanto por Lula quanto por Santana. Na página do Instituto Lula, em texto intitulado “As sete mentiras da capa da Época sobre Lula”, a assessoria do ex-presidente rebate o conteúdo da reportagem, lembrando que faz e fez palestras promovidas por empresas, nacionais e internacionais, “remunerado, como outros ex-presidentes que fazem palestras”. “Como é de praxe, as entidades promotoras se responsabilizam pelos custos de deslocamento e hospedagem”, afirma.
A assessoria de Lula diz ainda que a revista criminaliza e partidariza a questão do financiamento pelo BNDES de empresas brasileiras na exportação de serviços. “É importante notar que esse financiamento começou antes de 2003, ou seja, antes do governo do ex-presidente Lula.”
Santana, por sua vez, publicou na página da sua agência, a Pólis Propaganda contratos de prestação de serviço, valores e documentos de pagamentos recebidos tanto pela campanha em Angola como pelo PT, em São Paulo, incluindo notas fiscais e recibos de transferência de recursos do exterior, para comprovar que não houve pagamento cruzado, ou seja, o dinheiro da campanha eleitoral angolana não foi utilizada para custear a campanha de Haddad. “Isso não ocorreu, como está cabalmente provado nos itens anteriores desta nota”, diz o texto, lembrando que o que está na Polícia Federal é “um procedimento investigatório preliminar”, afirma.
As duas acusações podem até vir a ser arquivadas, mas dão combustível aos parlamentares de oposição, que trabalham parasangrar o Governo de Dilma Rousseff, inclusive com a ameaça constante de pedidos de impeachment. No caso da denúncia contra Lula, o assunto está servindo de pretexto para aumentar a pressão no Congresso por uma Comissão Parlamentar de Inquérito do BNDES. O cientista político Carlos Melo observa que a pauta política no Brasil está contaminada por uma espécie de "vingança" contra Dilma e o PT, depois da campanha eleitoral de 2014. A presidenta não foi perdoada por ter pregado um clima terror sobre o que aconteceria com a economia caso seus adversários fossem eleitos. Agora seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, aplica receituário similar ao que Rousseff rejeitava em campanha. “É um clima de uma eleição que ainda não acabou”, diz Melo. “Mistura-se um clima de ressentimento com elementos de desconfiança que a operação Lava Jato deixou”, afirma.
Melo diz que em política, errar tem um peso, mas mentir tem outro muito maior. E a comunicação na campanha foi interpretada como uma sucessão de mentiras.
A dificuldade da presidenta mostrar-se como uma liderança capaz de unir o Brasil agrava a sua crise, acredita Melo. “Todos estão com o PT preso na garganta”, diz ele. A economia próspera seria o antídoto perfeito para começar a fazer as pazes com o país, mas assim como o PT, a presidenta não saiu da tempestade perfeita para manter sua popularidade em baixa.
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