Estudante brasileiro relata sua recente viagem a Cuba (Como Turista), por VITOR SOUZA

Publicado em 20/04/2015 06:56
Vitor Sousa esteve na ilha em março. Seu relato está em https://www.facebook.com/vitor.sousa.3781?fref=nf. Ele pertence Grupo de Economia, no facebook. (Seu relato foi compilado e reenviado por Telmo Heinen de Formosa, GO).

Conforme tinha dito anteriormente, visitei Cuba por sete dias. Fiquei por três noites na cidade de Cancún e outras quatro em Playa Del Carmen (México) antes de ir pra Ilha.

Objetivo do relato é descrever o que eu vi em Cuba e o que eu ouvi dos Cubanos. Qualquer análise de cunho pessoal ficará exposta de maneira bem clara durante o processo. Desnecessário dizer que eu fui como turista e as informações aqui foram todas obtidas no olhometro. Na tentativa de condensar o texto usei e abusei do uso de parênteses. A apresentação do texto ficou feio pra caramba. Favor, tenham Paciência.

 

Fiquei por quatro noites em Havana e outras três em Varadero. Minha estadia na cidade de Havana foi numa casa particular enquanto os dias que passei em Varadero foram num resort da Rede Meliá.

 

Apesar de tentar descrever os fatos em linearidade com seus acontecimentos dia após dia, alguns pontos valem a pena serem abordados todos de uma vez só como maneira de economizar tempo e simplificar o texto sem grandes idas e vindas.

Cheguei em Havana no dia 03/04 saindo de Cancún pela linha aérea Cubana. Marcamos com a dona do imóvel que alugamos da mesma ir nos pegar no aeroporto e nos levar até onde iriamos ficar. Doravante, vou chama-la de “DONA”.

Acho que as observações relevantes já começam por ai, ainda no aeroporto.

I) MOEDA

Fui trocar meus euros na loja de cambio. O primeiro detalhe é euros são preferíveis a dólares devido a uma taxa imediata de 10% que o governo aplica dólar americano (uma espécie de punição ou qualquer coisa que valha). Basicamente, Cuba opera no sistema de duas moedas: o CUC (peso conversível) e o CUP (peso cubano) sendo ambos negociáveis entre eles na taxa de 1:25. Pelo o que eu entendi ao longo da minha estadia por lá, o Cubano que não trabalha de maneira alguma com turistas (hotéis, taxis, casas de festas, etc) recebe em CUPs (salários do governo, principalmente) e, considerando o valor do mesmo e a acessibilidade que o CUC dá a certas lojas e serviços, aquele que recebe apenas em CUP deve sofrer de sérios problemas de exclusão dos serviços oferecidos no pais.

Basicamente, todos os serviços que tem cara “capitalista” (tipo, boa aparência e tal) aceitam CUCs. Nesses mesmos locais, alguns colocam adesivos “aceitamos também CUPs”. Famoso regime bi-metalista onde a moeda forte tende a engolir a moeda fraca.

FUN FACT I – Eu imaginava que os preços em Cuba representassem o valor-trabalho nele representados como mercadoria sem dar abertura a avaliações subjetivas aos consumidores. Ledo engano. Cervejas na rua custam 1 CUCs e na balada custam 2 CUCs. TOMEM ESSA MARXISTAS.

II) A CIDADE

FUN FACT II - Ainda sobre o aeroporto: os funcionários do mesmo usavam roupas parecida com a de militares e tinham uma fitinha escrita ADUANA na altura dos seus peitos. Já entrando na estrada em direção ao centro, tinham pelo menos duas dúzias desses funcionários olhando atentamente para cada carro que passava. A DONA me explicou: os ônibus que passam lá, o fazem em tempos esparsos e determinados. Aqueles que precisam deixam o aeroporto ficam mofando atrás de carona. Ela ainda me explicou que eles tendem há ficar muito tempo por lá por que não são bem vistos pelos cubanos exatamente por trabalharem na ADUANA, deixando o trabalho para arrumar uma carona bem difícil.

Achei belo e moral.

A DONA nos pega no sua LADA e segue em direção ao apartamento que ficaríamos casa. Até o caminho, ZERO cartazes de bens e produtos. Apenas propagandas sobre Che Guevara, Fidel e sobre a Revolução . Hugo Chavez aparece em boa parte dos cartazes em questão também. Imagens e pinturas de Che Guevara e Fidel Castro são onipresentes não só na cidade como em restaurantes e órgãos públicos. Excluindo as igrejas velhas que já existiam (vi algumas em Havana Vieja) e uma estatua de cristo perto dos pontos turísticos, NENHUMA referencia cristã (ou de qualquer outra religião). Apenas Fidel, Che e cartazes sobre a revolução. E um dos cartazes, exibiam crianças numa aula de bale e a frase gigante acima “A REVOLUÇÃO É INVENCÍVEL”. Não tirei foto nem de 1/10 dos que eu vi.

Como estávamos em via expressa, é natural que os carros acelerassem mais. O resultado disso foi tomar pelo menos umas três baforadas de fuligem saindo do encanamento daquelas banheiras. Resolvi subir o vidro do carro. Sobre os carros poluidores, guardem essa informação. Ela será importante num ponto mais adiante do relato.

Havana não é uma cidade pequena (2 milhões de habitantes).

E eis ai meu primeiro choque à medida que nos aproximávamos do centro da cidade: a cidade é grande, alguns prédios bem altos (~20 andares), muitas casas grandes e com uma arquitetura bem legal (meio antiga e etc), avenidas largas e com muitas pistas. Chegando no nosso ponto de estadia, vi dois hotéis gigantes e bem coloridos. Aparência e apresentação melhor até do que algumas das capitais brasileiras que eu conheço.

Ai me perguntei: “Nossa, como o socialismo fez isso?”. Ao perguntar sobre a estrutura da cidade, eis ai o primeiro choque de realidade: a DONA me disse que toda aquela estrutura já existia antes da revolução. TUDO, exceto por alguns prédios construídos durante o período da União Soviética e hotéis (estes últimos maior parte nos anos 90). Basicamente Havana é uma cidade grande, bonita, urbanizada, porém... não se constrói nada tem quase 30 anos. A DONA me falou que os jovens que vão se casando vão morando uns nas casas dos outros (família, parentes e etc).

Outra característica interessante: considerando a oferta rígida de imóveis, as mesmas famílias detém o mesmo imóvel desde a revolução. O mesmo vale para carros. Vai passando pra avô, pais, filhos e etc.

A comercialização de imóveis (compra, venda e aluguel de quartos para turistas) é uma atividade recente e tem apenas 5 anos. Os prédios que possuem apartamentos para alugar possuem um símbolo azul que parece uma ancora de ponta a cabeça colada nas suas portas. Agora que os imóveis pertencem às famílias e essa aparenta ser uma medida interessante não só como negócio, mas com direitos de propriedade estabelecidos, creio que problemas referentes à conservação de tais imóveis sejam reduzidos ao passar do tempo. Tal atividade aparenta prosperar: vi muitos símbolos indicando disponibilidade de quartos. Na internet, existem apartamentos que estão cobrando até 1000 CUCs a diária (!!!!).

Tal medida veio justo com o pacote “liberalizante” que Raul Castro implementou alguns anos que tomou o poder. Dentre as medidas, algumas atividades privadas (como restaurantes, lojas de artesanato, fazendas, assim como algumas profissões) foram autorizadas. Ainda assim, no olhometro, acho que 90-95% da atividade varejista a população segue estatal (restaurantes, lojas, mercadinhos, postos de gasolina, hotéis, baladas, etc).

Ter um apartamento bem localizado aparenta ser um dos melhores negócios a se ter na cidade. A DONA me falou que comprou um ape pra ela semelhante ao que ficamos (2 quartos, uns 200 m²) por USD 15.000. Logo, como ela cobra 55 EUROS a diária do outro apartamento dela (cada cubano só pode ter 1 imovel por CPF e apenas se for residente), se ela consegue “vender” 10 diarias por mês ao longo do ano, em dois-três anos ela consegue comprar outro imóvel semelhante ao que ela tem.

Eis ai outro ponto: arriscaria dizer, no olhometro, que ao redor de 15% dos prédios/casas que vi por Havana estão beirando as ruinas... ou são ruinas de fato, completamente inutilizáveis ou quarteirões inteiros parecendo um grande cortiço. Lembrando que eu estava numa zona que parece ser de alto interesse econômico (se considerarmos a proximidade a principais pontos turísticos, hotéis gigantes, baladas, etc) e ainda assim as ruinas estavam presentes.

Sobre os hotéis privados, eles pertencem a rede espanhola Meliá e foram construídos conjuntamente com o regime durante os anos 90. Tem um vídeo no Youtube em que o Fidel toma um esculacho espetacular de uma repórter ao perguntar sobre esse ponto. Procurem. A única construção que eu vi sendo realizada em toda minha viagem foi ao lado dos resorts Melia que fiquei em Varadero. Fora isso, só obras de reformas de nos prédios de Havana.

VIVENDO A VIDA: PONTOS TURISTICOS, BALADAS, POVO CUBANO, ETC.

Predio/apartamento que ficamos parecia ter uma arquitetura meio anos 50 (azulejos de florzinhas, pilastras na sala, etc). Existia um vão aberto pertencente ao próprio prédio que olhando pra baixo dava pra ver parte do que seria uma varanda varal e lavar roupa e com vista pra cozinha do andar de baixo. A família que lá residia oferecia serviços de alimentação para os que eventualmente estivessem hospedados no andar de cima. Contratamos jantar e café da manhã para os nossos 4 dias que íamos ficar lá por 7 e 5 CUCs (respec.) por pessoa para cada dia que ficamos em Havana.

Eram 3 tres que eu vou identifica-los da seguinte maneira: COZINHEIRO, BRODINHO e a TIA.

O COZINHEIRO era de fato cozinheiro profissional e passou maior parte da vida trabalhando com restaurantes em Cuba. Fez pratos animais e cafés da manhã estilo hotel (em um dos dias ele fez até lagosta, mas pediu discrição visto que a Lagosta não pode ser comprada pelo povão). BRODINHO era tipo um agregado da família e era professor de inglês e técnico mecânico. A TIA era mãe do COZINHEIRO e conversei muito pouco com ela L. O COZINHEIRO tinha um primo que chegou em Miami nos anos 90 naquelas embarcações zoadas e já tinha tentado ir para lá... porém o governo negou a autorização. Esse mesmo primo (ou foi outro?) ficou um tempo preso pelo regime por que estava portando moeda não cubana no seu bolso (proibido até inicio dos anos 90). A DONA tinha cidadania espanhola (por ser neto de espanhol) e conseguia sair de Cuba de boa (ela já tinha conhecido Europa e USA).

Putz, os caras eram muito gente boa. Impressionante como eles conhecem o Brasil. Novela brasileira passa sempre por lá, eles conhecem muito bem o futebol brasileiro (BRODINHO em especial sabia dizer o nome de toda a seleção campeã de 1994 e manjava de algumas equipes brasileiras). Assim que eu cheguei, eles estavam ouvindo um CD em espanhol da SIMONE (ouvi Roberto Carlos num dos Taxis que eu peguei).

Ambos estavam desempregados a quase 5 anos. Os empregos oferecidos pelo governo pagam ao redor de 12 USD e simplesmente não vale a pena ficar neles. Logo, eles preferiram viver nesse esquema de bicos, recebendo pessoas no apartamento e tal. Falaram que simplesmente não existem empregos o suficiente para absorver todos e entrar em algum dos empregos considerados bons (hotéis, restaurantes, etc) é preciso recorrer a um padrinho.

Terminando o jantar, fomos dar uma volta. A iluminação de Havana a noite é terrível. Sabe aquele único post de luz amarelo com tudo escuro ao redor? Poisé. É assim mesmo. Havana inteira na parte da noite é assim.

Ficamos perto dos Hoteis Habana Livre (um dos hotéis que Che Guevara ficou durante a tomada da cidade durante a revolução) e Hotel Nacional de Cuba. Entrando na sala histórica do primeiro hotel, eis as fotos que eu tiro (FOTO 03, 04, 05 e 06). Sim, sou um péssimo fotografo.

FUN FACT III: Vi uma boa quantidade de homossexuais perto e andando pelo Malecón (que é tipo a beira mar deles). Para um pais conhecido por persegui-los por ter o homossexualismo como algo anti-revolucionário, é um grande avanço.

Nos dias que fiquei em Havana e Varadero, as baladas que eu fui foram: Casa de La Musica, Don Cangrejo e Dos Gardenia e Cuevos do Pirata (essa ultima em Varadero com 90% do publico de gringo, majoritariamente Canadenses). Todas fazem o estilo “casa de show” com mesas na frente do palco e quem não reservou com antecedência fica nas laterais e na parte de detrás. Os custos oscilaram entre 10 e 20 CUCs. Mojitos por 4 CUCs. Todas essas baladas são estatais.

FUN FACT IV: Sempre ouvi que Cuba era uma espécie de prostíbulo para os EUA no período antes da revolução, abarrotado de cassinos e tal. Pois eu digo uma coisa: em Havana, 90% das mulheres que estão na balada são prostitutas. Existem exceções, mas é difícil achar. A graça nessa informação é que a prostituição lá não é somente abundante, como acontece sob a tutela do estado Cubano – partindo do principio que a balada é estatal. Amigo que estava comigo conseguiu ficar com uma cubana que não era puta... e nossa, lindíssima. Parecia a SASHA GREY (não coloquem esse nome no google com sua mãe ou esposa por perto, por favor). Mandou muito bem.

Em Havana, durante o dia eu fui em Havana Vieja, Malecón, Forte de Cuba, Praça da Revolução (FOTO 06 – quis sacanear o Che de alguma forma), museu da revolução (tem uma foto do Chico Buarque lá – foto 07).

Em Havana Vieja, os restaurantes TOP e hotéis são todos do governo. Lojas de artesanato e alguns restaurantes pequenos são privados. No mercadinho da pulgas que estava por lá, comprei broches de temática comunista (FOTO 08), bonés do fidel, charutos cubanos, imãs de geladeira e chaveiros em formato de charutos. Num desses restaurantes paguei 10 CUCs e comi uma quantidade absurda de lagosta.

Falando em lagosta: Num dos dias que jantamos na casa do COZINHEIRO, ele disse que ia fazer lagosta... porém não antes de colocar o indicador na altura do nariz e disse que comercialização de lagosta é proibida. No momento eu não perguntei o por que, mas chegando no Brasil e com buscas na internet, li que todo serviço pesqueiro é extremamente regulado e o pescado só pode servir para abastecer restaurantes oficiais (hotéis e etc). Creio que o restaurante privado que almocei deva ter algum tipo de autorização para poder vender tal produto.

Não vi meninos de rua. Mas vi mendigos (não sei se necessariamente moravam na rua) pedindo dinheiro, comida e outros artigos.

FUN FACT V: em um dos dias que estive em Havana, fui na direção de uma sorveteria COPPELIA, bem famosa. Assim que estávamos chegando, vimos uma fila bem grande do lado de fora (já imaginava ser a fila para sorveteria). Fanfarronicamente, atravessamos a fila toda e fomos entrando. Ai nisso, tinha um POLICIAL lá dentro (o cara devia ser tipo um POLICIA DO SORVETE) que nos parou antes de conseguirmos ingressar por completo. Viu que nos somos turistas e nos enviou para OUTRA PARTE distinta de onde estavam os cubanos. Claro, sem filas, todos sentadinhos e etc.

Quando ordeno meu pedido, o rapaz do meu lado se identifica como brasileiro e nos sentamos junto a eles e os amigos deles. Estudantes de geografia que estavam num congresso em Havana. Posso estar partindo de um conceito pre-estabelecido e julgar imediatamente todos como estudantes de geografia como amantes do socialismo (ahhh mas que tinham cara, isso tinham)... mas foi no mínimo irônico ver os mesmos tomando sorvetinho na área vip do Coppelia, bem longe do povão.

Outro detalhe importante: a cidade parece ser cheio de “comitês”, “uniões”, “grupos” e coisas assim – com prédios oficiais e tal. Tipo num paralelo com o que seria UNE, CUT, MST, etc. Achei meio estranho que num governo não democrático e sem giro no poder, a existência de tais órgãos que, a principio, deveriam ser algo voluntario e com certeza independência do governo para as demandas da sociedade nos segmentos que elas se inserem (campesinos, estudantes, etc.). Seria interessante alguém fornecer uma analise desses órgãos enquanto veículos do poder – enquanto as nossas UNE, MST, CUT e etc teriam, a principio, um caráter independente do governo, evidentemente que em Cuba isso não acontece. Eu sei que os grupos brasileiros que eu citei comem na mão do governo, mas uma analise dos mesmos enquanto uso do governo para seus objetivos de poder seria algo interessante.

Varadero é um grande aquário. Como fiquei em resort all-inclusve, dava a impressão que eu poderia estar em qualquer lugar do mundo – exceto pela quantidade de mojitos e a galera fumando charutos e cigarros dentro do hall do hotel. Nem parecia que eu estava em outro pais. Não tenho muito a falar sobre Varadero sobre a perspectiva do objetivo do texto. Exceto por um detalhe: 90% da televisão/rádio que eu assisti foi lá. E eis que começa a baixaria.

SAÚDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA PÚBLICA, MIDIA E INTERNET

Apesar de assuntos distintos, vou colocar tudo no mesmo grande bloco.

SAÚDE: nenhum dos Cubanos que eu perguntei tinha reclamações contra a saúde. Tenho minhas duvidas quanto a isso, mas se eles falaram... está dito. Não vou fazer mais comentários. TOMEM ESSA LIBERAIS.

Não vi muitos hospitais, mas os que eu vi eram grandes, bonitos e limpos por fora. Vi uma ambulância pegando uma senhora bem idosa em um dos momentos que estive pela cidade.

EDUCAÇÃO: Aparentemente, o serviço é universalizado na educação básica. Educação superior vai de acordo com as notas medias dos estudantes no ensino médio e a disponibilidade de vagas. Em minhas conversas com os cubanos, todos me pareceram muito articulados e conhecedores do que esta ao redor deles.

Mas ai eu vou abrir um parênteses fortíssimo por aqui – e ao mesmo tempo começar meu paralelo com a mídia.

Em TODAS as livrarias que eu entrei (não entrei em bibliotecas), apenas livros do regime. 1001 livros do Fidel e sobre Fidel. O mesmo sobre Che Guevara e a revolução. Não vi NADA que fosse diferente disso – exceto por alguns livros infantis. Esse tipo de postura me leva a questionar que tipo de educação é oferecida nas universidades. Um dos vendedores me mostrou um livro feito pelo Frei Betto entrevistando o Fidel. Tenho minhas duvidas quanto ao o que é ensinado nas universidades.

Em uma das praças que visitei em Havana Velha, existia tipo um comerciozinho de livros e outras coisas. Comprei uns BROCHES COMUNISTAS. Os vendedores tinham uns estandes de livros, que assim como as livrarias, só faziam apoio ao regime. O que mais me chamou a atenção foi um álbum de figurinhas infantil que descrevia como tinha sido a revolução cubana... o curioso é que TODOS os álbuns já vinham com todas as figurinhas neles já colados.

Ainda sobre educação, a DONA era engenheira e nunca exerceu. Um dos taxistas que eu peguei também era engenheiro e o mesmo comentou que existem muitos engenheiros, médicos e etc trabalhando em outras atividades que não a da sua formação, simplesmente por que não existem empregos e é mais benéfico ser taxista e etc.

A mídia é simplesmente um dos aspectos mais bizarros do que eu vi.

Jornal? Apenas os jornais do governo (peguei um exemplar do Ganma) e jornais regionais. Conteúdo? FOTO 09 e tirem suas conclusões.

Televisão?

Cinco canais, os conteúdos são mais ou menos assim:

Um canal de esportes e generalidades - o campeonato de baseball Cubano (4 times), futebol, séries americanas (vi passando CSI Las Vegas e Flash)

Um canal noticias de Cuba e apresentação de eventos culturais: o câncer mental que é se ter fontes cubanas como única maneira de informação fica muito forte aqui. Vários takes da cidade de Havana (sempre mostrando coisas belas e com musica cubana pro governo por detrás) com gente feliz e sorrindo, longas propagandas sobre a revolução com rosto do fidel e suas frases, programa estilo um jornal nacional com uma estrela socialista estilizada na bancada.

Nesse programa eu vi o que seria talvez o momento mais Orwelliano de toda viagem: o repórter estava entrevistando o que seria um ministro dos transportes de Cuba (ou algo assim) e o mesmo estava perguntando sobre a abertura comercial para entrada de carros no pais. Ai o cara responde que o acesso continuaria limitado como meio de preservação do meio ambiente Cubano, visto que os carros são um importante meio de poluição do meio ambiente. E aquelas banheiras cuspindo Fuligem na minha cara hein? Carro novo quase não emite CO² em comparação com os antigos.

Tanto a televisão quanto o radio (ouvi muito a radio rebelde) mostra quase que a todos os momentos a maneira como o governo Cubano “luta diuturnamente contra os ataques imperialistas dos EUA e pela manutenção dos direitos adquiridos do trabalhador cubano”. A mensagem mudava o corpo, mas era praticamente só isso que passava. Cuba Legal e os são EUA feios. Todo dia. Todos os momentos que eu vi televisão ou ouvi radio, os comentários eram desse tipo e uma coisa ou outra sobre esportes e coisas assim.

 

Passou muito sobre os preparativos da Cumbre de Las Americas (só takes mostrando os presidentes correlatos – Maduros, Dilma, Kirchner, etc). Quando estava rolando o evento, pelo o que eu entendi, de alguma maneira puxaram o tapete da comissão cubana. A TV mostrava a comissão Cubana aos berros no maior estilo DCE: o líder gritava “-REVOLUÇÃO” e toda a comitiva atrás “-VENCEREMOS” logo em seguida, em coro... Todos socavam o ar com os punhos em riste. O mesmo sujeito disse que a comitiva foi barrada POR OUTROS CUBANOS, estes porem LACAIOS IMPERIALISTAS que estavam recebendo DINHEIRO DOS EUA.

 

Ai logo em seguida, A PROPRIA REPORTER (da TV cubana) encerra a entrevista, retoma seu microfone e começa um longo discurso a favor dos cubanos que foram excluídos de alguma maneira que eu não entendi bem, usando as mesmas expressões e chavões utilizados pelo sujeito anteriormente entrevistado. Obs: Estava dando risada lembrando do acontecimento enquanto escrevia essa frase anterior.

Em todos os artigos de mídia que eu vi, li ou ouvi, dava a se entender que a Revolução NÃO ACABOU. Estava APENAS no seu ano 57 e o seu governo continuava lutando pelo logro da revolução.

Telesur: Tipo uma CNN socialista, feita junto com a Venezuela. Mesma essência da TV cubana, mas com aparência mais bonita e moderna. Só conteúdo revolucionário também.

Enfim, TV,radio e jornais totalmente na mão do governo. E todos parecem que foram feitos pelo DCE mais próximo. Enlouquecedora a parada. Fico imaginando ver e ouvir aquilo pelos últimos 57 anos.

Internet é cara (10 CUCS por 1 hora) e não está em todos os hotéis. Velocidade lixosa demais. Meu amigo ficou com uma menina na balada (não prostituta) e a mesma falou que séries e coisas assim chegam em Cuba via pendrives.

Basicamente: obvio que o povo Cubano não é burro e já tem contato com turistas e parentes em Miami para imaginar como é a vida fora da ilha (EUA como referencia, obvio). Mas a principio, a liberdade de comunicação é muito cerceada. É como se o povo cubano vivesse num aquário. Acesso fora às fontes de informação oferecidas pelo governo é muito, mas muito limitada.

SEGURANÇA: O povo cubano é unanime em dizer que a Ilha é segura no que diz respeito a assaltos e coisas assim. Todos os relatos que eu li diziam o mesmo e, de fato, não li nada que desabonasse tal afirmação.

Mas como eles conseguiram isso? Entramos no que eu considero a parte mais sombria de toda minha estadia na Ilha.

COMITES DA REVOLUÇÃO (CDR)

Basicamente, *TO-DOS* os quarteirões possuem um CDR (Lembra quando eu falei que Havana tem 2 milhões de habitantes?). Todos. Literalmente todos.

Em todas as quadras existem um apartamento ou casa com um estabelecimento desse tipo. Para que serve um CDR? Bem, com as palavras, Fidel (FOTO 10). Tirei essa foto de uma pequeno museu da CDR que fica na Havana Vieja.

Conversando com os cubanos, me falaram que hoje em dia eles servem para coisas relacionadas a serviço comunitário (pintar paredes, por exemplo). Ao chegar no Brasil, eu li que os mesmos foram muito ativos no período pós-revolução ao reportar ao Partidão quem eram os moradores de cada quadra que possuíam contatos nos EUA ou então eram homossexuais, para logo em seguida serem imediatamente perseguidos. Aparentemente, a última vez que eles se colocaram ativos foi na identificação de cada uma das DAMAS DE BRANCO (Mulheres que se vestem de branco e possuem parentes presos pelo regime castrista). Com isso, Cuba não somente erradicou antirrevolucionário como o mesmo deve acontecer com bandidos comuns.

Percebam que eu não falei muito sobre Varadero. Como fiquei em resort, é o equivalente a viver dentro de um aquário com comida e bebida liberada. Poderia estar na Bahia, Rio ou em qualquer outro lugar que daria a mesma.

Fim do relato. Não precisam mais ler nada. Abaixo, apenas opiniões pessoais – muito mais um desabafo do que qualquer outra coisa.

CONCLUSÃO

Gostei muito da viagem, principalmente por causa das perguntas que fiz. O mais atrativo da viagem na minha opinião foi exatamente isso: perguntar para as pessoas como é viver num regime totalmente distinto do nosso.

Cuba está muito mais (mas muito mesmo) próxima ao pesadelo Orwelliano do que ao sonho apregoado por nossos livros pro-socialistas.

A impressão que eu tive é que o povo Cubano está cansado de viver como vive e aparentam ser razoavelmente conscientes de estarem numa condição de subdesenvolvimento (o uso da expressão “subdesenvolvimento” foi inclusive utilizado por uma das prostituas que conversei). Eu perguntei para alguns se eles gostariam de viver no regime capitalista e todos foram unanimes em dizer que sim.

Falando num português bem claro: viver em Cuba e nas condições de um Cubano normal, é claramente uma BOSTA total. É um regime claramente totalitário, facista, arbitrário e totalmente envolto de um ambiente de paranoia pró-revolucionaria com livros, revistas, cultura e mídia totalmente na mão do governo – um dos motivos do logro socialista não está relacionado a melhora da condição de vida dos que moram lá dentro e sim CONVENCE-LOS que aquilo é uma das melhores coisas do mundo. Parece que a conquista da MENTE das pessoas é algo muito mais importante que a tomada dos meios de produção.

Para uma sociedade que promete ser sem classes, o sistema que usa uma moeda forte e moeda fraca naturalmente exclui aqueles que não conseguem ter acesso a cadeia produtiva em que a primeira se insere, assim como as oportunidades de desenvolvimento individual não apenas são extremamente limitadas como foram implementadas a meia década atrás e sem muita coisa feita depois disso – talvez um aeroporto e um porto, ambos financiados com chapéu alheio. O nosso, claro.

Falar das “conquistas sociais” da revolução também é uma posição espinhosa se considerarmos a maneira como a ilha alcançou baixos níveis de criminalidade (via CDRs), saúde (não trocaria meu plano de saúde por isso) e educação (claramente viesada e grande utilidade num nível profissional). NADA MAIS.

Muito se fala sobre o “atual dinamismo da economia cubana” ou whatever. Acho que autorizar operações de restaurantes, comercialização de imóveis e casas de artesanato para turistas não é exatamente uma grande revolução liberal se considerarmos que esse tipo de coisa já existe desde a aurora da humanidade. Ainda é um sistema EXTREMAMENTE fechado em termos de informações (e monitorado, pelo que pude ler) e os câmbios recentes já começam a envelhecer e com impactos ainda limitados – ainda positivos, só para constar. Taxis privados, donos de restaurantes, donos de apartamentos com foco no turista parece muito mais terem desejos burgueses (frequentar baladas, comprar apartamentos pros filhos, melhorar sua condição de vida) do que levantar uma bandeira cubana pró-revolução.

Conhecer aquilo lá a fundo e continuar protegendo aquilo com unhas e dentes é coisa de PSICOPATA. Sério mesmo. Lula, Dilma, Frei Betto, Leonardo Boff, Emir Sader, Marilena Chauí, Maria da Conceição Tavares, João Pedro Stédile, Jean Wyllis, Chico Alencar, Marcelo Freixo, Jandira Feghalli, PSOL, PC do B, Partido dos Trabalhadores, DCEs diversos, cursos de historia/geografia/economia com 4 ou 5 matérias focadas exclusivamente no Marxismo e toda essa putada que não recuou um único centímetro depois de mais de meio século de socialismo e quase 30 anos da queda do muro de Berlim são pessoas a serem execradas, desmoralizadas e seu caráter duvidoso expostos.

Capitalismo não é feito de flores (principalmente o nosso – ainda estatizante, protecionista, regulado e patrimonialista), mas tão pouco é viver no oceano de espinhos de uma sociedade legitimamente socialista. E mais do que qualquer bem material ou acesso a saúde que o povo possivelmente adquiriu, uma das coisas mais importantes foi surrupiado do povo: a Liberdade, principalmente a de pensamento.

Um taxista de um dos COCOTAXIS me disse que o pais vai realizar giro no poder de tempos em tempos: em 2018 entra um novo mandatário, ainda que do PCC. Quando o Fidel morrer e os fósseis vivos (como o Raul Castro) saírem do poder e a medida que os novos mandatários do partido forem entrando, creio que alguma coisa possa acontecer. Mais ou menos como é na China.

Mais ou menos isso ai. Desculpa pelo texto grande, mas quem quiser comentar qualquer coisa, estamos aí.

 

 

Foto de Vitor Sousa.
 
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Fonte:
grupo de economia / facebook

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