Na FOLHA: Delator deu ao governo provas de repasse de US$ 31 mi em propina antes da reeleição de Dilma

Publicado em 15/04/2015 03:12
Apesar da riqueza de detalhes do material entregue por Taylor, a CGU só decidiu abrir um processo contra a SBM no dia 12 de novembro, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff e o anúncio de um acordo da SBM com o Ministério Público da Holanda (por LEANDRO COLON, repórter da FOLHA em LONDRES)

A CGU (Controladoria-Geral da União) recebeu durante a campanha eleitoral do ano passado informações detalhadas sobre o repasse de US$ 31 milhões em propinas pagas pela empresa holandesa SBM Offshore para fazer negócios com a Petrobras.

O ex-diretor da SBM Jonathan Taylor disse à Folhaque entregou à CGU dados sobre depósitos feitos entre 2008 e 2011 numa conta da Bienfaire, empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas e controlada pelo lobista brasileiro Júlio Faerman, apontado como o operador encarregado de distribuir o suborno no país.

Folha teve acesso ao documento, uma tabela com os valores, as datas dos depósitos e os projetos da Petrobras a que se referem. A SBM aluga para a estatal plataformas de exploração de petróleo.

Segundo o documento, três transferências para o lobista, no total de US$ 4,6 milhões, foram feitas por causa da plataforma P-57, inaugurada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, quando ele estava em campanha para eleger Dilma Rousseff.

  Leandro Colon/Folhapress  
O britânico Jonathan David Taylor em entrevista à Folha
Jonathan David Taylor, ex-funcionário da SBM Offshore, em entrevista à Folha

As informações fazem parte de um dossiê entregue por Taylor à CGU no dia 27 de agosto do ano passado por e-mail. O recebimento do material foi confirmado pelo órgão, que mandou três funcionários até o Reino Unido para tomar o depoimento de Taylor no dia 3 de outubro.

Apesar da riqueza de detalhes do material entregue por Taylor, a CGU só decidiu abrir um processo contra a SBM no dia 12 de novembro, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff e o anúncio de um acordo da SBM com o Ministério Público da Holanda.

À Folha Taylor acusou a controladoria de esperar a eleição para processar a empresa, que pagou pelo menos US$ 139 milhões ao lobista Júlio Faerman entre 2007 e 2011.

Ao justificar a decisão tomada em novembro, a CGU afirmou que demorou porque somente naquele momento identificou elementos de "autoria e materialidade" suficientes para abrir processo.

O ex-funcionário da empresa holandesa também entregou à CGU uma gravação de uma reunião em que um executivo diz que a propina paga pela empresa pode ter atingido 5% em alguns casos.

Participaram da conversa, que ocorreu em março de 2012, o próprio Taylor, o principal executivo da SBM, Bruno Chabbas, e o ex-diretor Hanny Tagher, então agente da empresa em vários países.

Tagher afirmou que Júlio Faerman cobrava comissões equivalentes a 3% dos pagamentos que a SBM recebia da Petrobras. Segundo ele, o lobista dizia que ficava com 1% e distribuia os 2% restantes. Em alguns casos, de acordo com Tagher, as comissões podiam chegar a 4% ou 5%.

Taylor então perguntou: "Isso ia para as pessoas da Petrobras?". Tagher respondeu: "Sim". O diretor jurídico da SBM, Alessandro Riguto, confirmou que a reunião ocorreu, mas afirmou não ter detalhes sobre ela. A empresa acusa Taylor de chantageá-la e diz que as gravações foram tiradas de contexto.

 

Lula chama momento enfrentado por Dilma de 'enrascada'

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como enrascada o momento enfrentado pela presidente Dilma Rousseff. Ele disse ainda, nesta terça-feira (14), que os manifestantes ainda vão se "ajoelhar aos pés de Dilma", para agradecer à "companheira por ter combatido tanto a corrupção".

Lula participou do 9º Congresso Nacional dos Metalúrgicos da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Ele, que iniciou sua carreira política no sindicato dos metalúrgicos, conclamou os sindicalistas a defender o governo.

"Neste instante em que é mais fácil entrar no banheiro da fábrica e falar mal do governo, não podemos permitir que a infâmia, o malcaratismo e a má-fé de algumas pessoas venham a destruir o projeto político que começamos a construir no pais", afirmou.

Ao justificar as medidas do ajuste, Lula afirmou também que Dilma não se rende diante da adversidade. "Porque aos 20 anos, levava choque. Naquela época, não era delação premiada, não. Era choque", ironizou.

  Miguel Schincariol/AFP  
Lula cumprimenta o ator americano Danny Glover durante congresso da CUT em SP
Lula cumprimenta o ator americano Danny Glover durante congresso da CUT em Guarulhos (Grande SP)

Durante a solenidade, Lula vestia um agasalho com o símbolo da confederação. Na abertura, um grupo teatral exibiu num telão a imagem, captada num ato contra o governo Dilma, de bonecos da presidente e de Lula enforcados.

Ele citou reportagem da Folha segundo a qual queda de Dilma prejudica a imagem dele. Segundo ele, foi uma tentativa de azedar sua relação com a presidente. Ele afirmou que nada prejudicará sua ligação com a presidente. E mandou um recado para ela: "Dilma, se tem gente para te defender para sair dessa enrascada é esse pessoal aqui", disse ele, apontando para os sindicalistas.

Sob aplausos, Lula ironizou o PSDB ao afirmar que as mesmas empresas doam para os mesmos partidos.

"Ou será que o dinheiro dos tucanos veio de quermesse?", perguntou.

EDUARDO CUNHA

Reunido com metalúrgicos de todo o pais, Lula incitou os sindicalistas a lutar contra a aprovação do projeto que amplia a terceirização do trabalho no Brasil. "Não deixar aprovar a lei 4330 é uma questão de honra para os trabalhadores", disse.

Ele afirmou ainda que nos momentos difíceis, quando se fala em impeachment, são os sindicalistas que ajudam o governo a sair da enrascada.

Lula afirmou que em 2005, durante o escândalo do mensalão, a oposição tentou tirá-lo do governo. Mas graças ao apoio dos movimentos sociais seus opositores "baixaram o faixo".

Ele fez uma crítica ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), um dos entusiastas da terceirização.

"O que o Eduardo Cunha não sabe é que a aprovação da lei nega tudo que foi construído ao longo de anos e anos", disse.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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