Brasil pressiona pela mudança, por JUAN ÁRIAS, no EL PAÍS

Publicado em 07/04/2015 21:47
"Como Diógenes, os brasileiros acendem hoje sua lanterna em busca de um homem ou uma instituição não contaminados de ilegalidade", por JUAN ÁRIAS, do EL PAÍS.

O Brasil não está em crise porque as pessoas saem à rua para protestar. É o contrário: decidiram fazer isso porque desejam mudar o velho Brasil. Querem que o país se supere e ressuscite da crise, e não acreditam mais nas promessas de seus atuais governantes, convencidos como estão de que eles mentiram.

Vai fazer dois anos que neste país os indignados saíram pela primeira vez de suas casas para exigir melhorias em alguns serviços públicos para que fossem dignos de um país moderno, e protestar contra a corrupção. Na época não gritavam “Fora, Dilma” nem “Fora, PT”.

Para aplacar o mau humor das pessoas, a presidenta fez cinco promessas aos brasileiros, entre as quais um plebiscito nacional para a reforma política – que se mostrou inútil por ser anticonstitucional – e o combate sem trégua contra a corrupção.

As promessas não só não foram levadas adiante como também, hoje, a situação do Brasil é muito pior do que na época. A reforma políticase enreda em si mesma porque os encarregados de fazê-la não querem perder seus privilégios, enquanto a corrupção, em vez de ter sido freada, irrompeu como uma bomba nuclear com o novo escândalo da Lava Jato, que fez o do mensalão empalidecer. E outros novos escândalos já estão na fila da investigação judicial.

Os brasileiros se cansaram de promessas e escândalos, e se radicalizaram: desta vez pedem até uma nova República, outro Brasil. Querem que os que prometeram o que não souberam ou não quiseram cumprir saiam para dar lugar a outros. Por ora, talvez não saibam com quem substituí-los, mas sabem que querem algo novo e diferente.

Esse clima que o Brasil vive e que as manifestações anunciadas para o próximo dia 12 poderiam confirmar ou desmentir me fizeram recordar o que se conta, entre história e lenda, do filósofo grego Diógenes, que há 2.500 anos andava com uma lanterna em busca de “um homem”, ou seja, um que fosse honesto, e não corrupto.

O filósofo vivia sem nada e dormia na rua em um barril, desafiando com fina ironia os poderosos corruptos de seu tempo.

Um dia o rei Alexandre Magno quis conhecê-lo. Quando estava diante dele, disse-lhe, com arrogância: “Peça-me o que quiser”. Diógenes se limitou a dizer: “Que se afaste, pois está me tirando o sol”.

Num outro dia o rei viu Diógenes observando uma pilha de ossos e lhe perguntou o que estava fazendo. O filósofo, sem olhar para ele, respondeu: “Estava tentando descobrir os ossos do seu pai, mas não consigo distingui-los dos de um escravo”.

Voltando aos nossos dias, vistos à luz daquela antiga sabedoria grega, poderíamos dizer que os brasileiros deram um salto. Amadureceram, e é bem mais difícil acreditarem em promessas. Não basta que os políticos e governantes lhes digam: “Peçam-nos o que quiserem”. Hoje, preferem responder como Diógenes: “Afastem-se porque estão tirando o nosso sol”. Querem mais do que promessas, querem uma substituição, porque consideram esgotado o atual modelo político e econômico.

Se o filósofo grego dizia irônico ao rei poderoso que era difícil distinguir os ossos dos nobres daqueles dos escravos, hoje os brasileiros também têm dificuldade em reconhecer quem são os políticos corruptos e os honestos, os que vivem para enriquecer ou para pensar no bem comum.

Como Diógenes, os brasileiros acendem hoje sua lanterna em busca de um homem ou uma instituição não contaminados pela ilegalidade, capazes de lhes devolver confiança. Encontrarão?

A cada dia que passa, com o surgimento de novos escândalos e com a economia no momento naufragando, há quem veja o perigo de que possa surgir algum salvador da pátria, que em vez de melhorar possa até agravar a situação, com consequências negativas para a ainda frágil democracia conquistada com tanto sacrifício.

E há, como o escritor e poeta Eurico Borba, que foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que no artigoUma Proposta para a Crise, no jornal O Globo, acaba de pedir uma “refundação da República”. Para isso, propõe decisões muito mais drásticas e motivadas do que as gritadas nas ruas pelo brasileiro comum.

Para Borba, é preciso que haja, sem ferir a Constituição, uma solução drástica e rápida antes que a situação piore e se deteriore mais. Para isso, seria necessário no espaço de seis meses serem dissolvidos os atuais partidos, destituir a presidenta e o vice-presidente da República, convocar novas eleições nas quais seriam votados os novos partidos, que teriam de apresentar programas claros, com definições ideológicas. Provavelmente meia dúzia de partidos com identidade e não os 32 de hoje que degradam a política.

Enquanto isso, segundo o escritor, o Supremo Tribunal Federal deveria poder governar o país até que sejam eleitos o novo Presidente da República e o novo Parlamento. Utopia? Não, embora seja impensável no momento.

Melhor, no entanto, do que deixar soltas as águas do rio desenfreado dos protestos sem apresentar soluções. As únicas descartáveis são as que firam a Constituição. E essas, se excetuadas as numericamente insignificantes que evocam a volta dos militares, praticamente não existem. Os brasileiros não são jacobinos.

O que não é justo com a democracia brasileira é satanizar as petições dos cidadãos que desejam mudanças radicais, confundindo-as com absurdos golpes ou desejos de obscuras revanches, como faz uma ala radical do PT. A História foi escrita tantas vezes e, para melhor, com decisões radicais nos momentos de crise em que os remendos já são inúteis.

Hoje não cabem no Brasil novas noites da Bastilha. Os tempos são outros, existe já uma burguesia e uma classe média brasileira responsáveis, capazes em sua imensa maioria de frear os impulsos e tentações antidemocráticos.

O que cabe, sim, é uma maior responsabilidade dos governantes, que deveriam ter a coragem de ceder eles mesmos o lugar para que outros tentem o que eles, segundo a maioria da população, se mostraram incapazes de levar a cabo.

E essa responsabilidade está sendo sentida até fora do Brasil. Matias, estrela de um programa da rádio chilena Luna, me explicava através das ondas da emissora que a crise global que o Brasil vive “afeta toda a América Latina”. E dizia isso com convicção.

Essa é hoje a grande responsabilidade deste país que, embora se sinta pouco latino-americano, é ao mesmo tempo consciente do peso que tem e deveria continuar tendo no continente.

Apesar do que pensam certos demagogos, a experiência nos mostra que nos países com menos corrupção, maior nível econômico, mais cultura, menos desigualdade social, menor impunidade e maiores oportunidades para todos é onde se vive ao mesmo tempo uma democracia mais madura e com melhor qualidade de vida.

Os maiores responsáveis pelo que está acontecendo são os que têm em suas mãos o poder legítimo que as urnas lhes deram. Esse poder não é um direito divino e, definitivamente, continua nas mãos dos cidadãos, que são no fundo a coluna vertebral de qualquer democracia moderna.

O problema está nos palácios, no coração do poder, não na rua. Por estar em suas mãos a maior responsabilidade dos destinos de um povo, têm ao mesmo tempo a obrigação de não incitar à guerra; de saber escutar republicanamente até os gritos mais díspares dos que protestam, sem estigmatizar ninguém por suas preferências políticas. Todas as cores do arco-íris têm sua própria dignidade.

A pergunta que muitos se fazem com responsabilidade é se o Brasil conta neste momento de crise, como ocorre algumas vezes na História, com verdadeiros estadistas, líderes capazes de sacrificar as próprias razões e aceitar seus erros pelo bem comum, em vez de alimentar ódios e ameaçar com vinganças. Líderes capazes de unir em vez de esgarçar.

É a generosidade inteligente e sábia do pai ou mãe de família capaz de lançar sobre si até culpas que talvez não lhe pertençam desde que os filhos possam continuar vivendo em paz, sem o perigo de desuniões e velhos ódios.

As grandes mudanças geracionais capazes de devolver confiança e prosperidade a um país descontente e desiludido foram conseguidas sempre graças à grandeza e a sabedoria política e humana de alguns líderes iluminados que, em vez de inventarem bodes expiatórios nos quais descarregar seus desejos de se manterem no poder a qualquer preço, preferiram sacrificar-se deixando que outros tomem lugar.

Alguém terá que ter em algum momento neste país a coragem e a força moral de dizer a um certo poder que parece impotente e fortemente corrupto o que o filósofo Diógenes disse ao rei Alexandre Magno: “Afaste-se, pois me está tirando o sol”.

Os tropicais e criativos brasileiros, incapazes de viver entre sombras e névoas, lutam para dissipar essas nuvens ameaçadoras da crise que os aperta e que desejam ver solucionada quanto antes para sentir de novo em sua pele o sol de tantas ilusões desperdiçadas. E desta vez não parecem dispostos a voltar atrás.

Melhor seria para os responsáveis levar isso em conta sem tentar esconder a cabeça sob a asa ou proteger-se com inúteis passes de mágica. Os brasileiros estão desmontando as velhas certezas que o poder usava com eles até ontem.

 

O duelo Levy-Rousseff

Com ele, Dilma encontra dificuldades dentro e fora do PT e do Governo. Sem ele, a nave da economia entraria em águas mais tempestuosas

 

Há um suspense para saber como terminará o duelo em curso entre o Davi bíblico, Joaquim Levy, e o gigante do Planalto, Dilma Rousseff, que o convocou para reanimar a enferma economia brasileira, assim como entre ele e os gigantes do Congresso, dos sindicatos e do PT, que prefeririam em seu lugar um político mais flexível.

Por enquanto a luta é quase de esgrima. Levy, cuja etimologia em hebraico significa “unir”, mantém um embate verbal com a presidenta, sobre quem afirma que tem boas intenções, mas nem sempre faz as coisas de “forma eficaz”. E começa a encarar políticos de peso, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, considerado virtual candidato à presidência das fileiras do PMDB, enquanto é aguardado para ser sabatinado no Senado da República.

O maior confronto pode ser entre ele e Rousseff. São duas figuras com personalidade, conscientes de seu valor. Ambos sabem que a disputa não será fácil. A presidenta é sem dúvida suficientemente inteligente para saber que neste momento é Levy, e apenas ele, quem pode salvá-la do abismo. E para isso deve deixá-lo usar o bisturi livremente. E Levy afirma que deseja fazer isso. Até onde, e quem terá o bolso mais afetado?

Uma figura “difícil de dobrar” em suas convicções, foi como o jornalFolha de S.Paulo definiu Levy, que quando aceitou ser o novo capitão da economia que fazia água sabia muito bem que Rousseff também não era mulher fácil de ser curvada.

Os brasileiros, inclusive os políticos, conhecem melhor as virtudes e defeitos, o caráter forte e determinado, às vezes excessivo, de Dilmaque do banqueiro, que conta a seu favor com a fina ironia típica da cultura judaica, herdada de seu pai, Silvio, cirurgião.

Talvez por esse desconhecimento se comece a criticá-lo, por ser pouco prudente em suas críticas às fórmulas empregadas no passado, que deixaram a economia brasileira combalia, e à presidenta. O que acontece é que Levy, devido a sua formação nos Estados Unidos, na ortodoxa escola de Chicago, e por seu trabalho em ambiente internacional, está menos acostumado a certa cautela na linguagem ao se dirigir ao poder, herdada da antiga pompa portuguesa.

Levy também começa a ser acusado de ser pouco político. É porque ele não o é, nem tem por que ser. É um técnico, e essa foi a razão de ter sido escolhido. Seria como acusar um cirurgião de não ser diplomático. O que o médico precisa é saber usar bem o bisturi, como Levy sabe usar bem as tesouras com os gastos. Ele soube pelo seu pai o que significa cortar e costurar numa sala de cirurgia. E um psiquiatra me disse que os melhores cirurgiões são os que conseguem ser frios na hora de operar. E que precisam até de uma pitada de sadismo.

O banqueiro não é verdadeiramente um polemista nem um caçador de intrigas. Daí que seu linguajar seja franco e ao mesmo tempo suave.

Ele, que vem de uma família de religião judaica, deve conhecer as palavras de Mt.10, 16 da Bíblia, quando o profeta Jesus diz a seus discípulos: “Eu os envio como ovelhas em meio aos lobos. Sejam astutos como as serpentes e mansos como as pombas.” Levy parece ter a prudência astuta da serpente e a singeleza das pombas, mesmo que não confie em ninguém, porque também as pombas sabem ser firmes e obstinadas quando são perseguidas, explica um etnólogo.

A pergunta de difícil resposta é como acabará o enfrentamento entre Dilma e Levy. Há apostas para todos os gostos. Fala-se de uma possível ruptura. Quem conhece Levy garante que ele, como já fez em outras ocasiões, vai acabar saindo se vir que não poderá levar a cabo a tarefa que se comprometeu a realizar ao aceitar ser ministro de uma economia que se precipita para a recessão com inflação, juros e dólar em alta.

Mais difícil parece que desta vez seja Dilma que prescinda dele, já que se com Levy a presidenta encontra dificuldades dentro e fora de seu partido, dentro e fora de seu governo, sem ele a nave da economia entraria em águas mais tempestuosas, já que sua operação de resgate também está sendo acompanhada de perto por investidores brasileiros e estrangeiros.

Entretanto, Levy não é um personagem –afirmam os que o conhecem melhor– disposto a fracassar, acostumado que está a ter sucesso. Exige-se, por exemplo, do banqueiro que recomponha a economia sem que se permita apostar num modelo novo, menos ideologizado que o fracassado e mais realista em relação ao momento em que o Brasil se recoloca no tabuleiro mundial. Pede-se, dentro do PT e entre os sindicalistas, que faça o milagre de reequilibrar a economia sem usar suas “tesouras de ouro”, ou se exige que as use mais para aumentar impostos do que para acabar com o desperdício de Brasília.

Ele poderia lembrar nesses momentos de outro ditado bíblico, o de Mc, 2,13, onde se afirma: “Ninguém remenda com um pano novo um vestido velho, pois o rasgão se faria maior”.

A Levy se pede, talvez, algo parecido: que recupere a velha e desgastada economia brasileira com um remendo de criatividade em vez de poder participar da criação de um modelo novo de traje econômico, já que o atual parece rechaçar remendos.

O melhor seria, apostam não poucos analistas econômicos, que o deixassem trabalhar em paz. Ganhariam todos, começando pelos mais pobres, já que são sempre eles os primeiros a perder quando a economia naufraga. Ganharia o gigante Brasil, que depois de haver sentido o gosto de ser o país do presente, se veria, como adverte o analista econômico do Financial Times, Martin Wolf, obrigado a continuar se conformando em ser o eterno país do futuro.

Hoje, o Brasil é um país rico, dos mais ricos do mundo, mas os brasileiros ainda são pobres se compararmos sua renda per capita com a de países menos favorecidos pela natureza.

Segundo um relatório do FMI de 2013, a renda per capita do Brasil está em 77º lugar entre os 80 países mais ricos do mundo.

Naquele ano, a renda per capita do Brasil era de 12.000 dólares (em 2014 foi de apenas 8.352, influenciado pela alta do dólar), abaixo de países irmãos como Chile, com 19.475; México, com 15.930; Espanha, com 30.620; Portugal, com 23.185, para não falar nos Estados Unidos, com 51.248.

O Brasil necessita, com Levy ou sem ele, produzir mais, desperdiçar menos e distribuir melhor sua riqueza.

 

PMDB versus PT: uma luta de vida ou morte

(Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

PMDB, representado por Michel Temer, e PT, por Dilma: é matar ou ser morto (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Por Paulo Moura*

Desde que se instaurou a crise entre PMDB e PT, comentaristas têm afirmado que, se Dilma ceder espaço ao PMDB no governo a paz voltaria a reinar nas hostes governistas. Será? Os caciques do PMDB são ingênuos a ponto de não perceberem qual é o objetivo do PT?

O PT é um partido hegemonista. Isso quer dizer que o objetivo que preside as ações do PT é lutar nos terrenos político, social e cultural com vistas a conquistar apoio da sociedade para sua perpetuação no poder. Repito: perpetuação no poder com sustentação em consenso social.

Como os métodos tradicionais de tomada revolucionária do poder, que eram: insurreição popular e assalto ao palácio (Rússia); guerrilha camponesa (China); guerra popular prolongada (Vietnã e Camboja); guerrilha de vanguardas de substituição (Cuba), fracassaram, a esquerda assumiu como estratégia o chamado “marxismo cultural”.

Lenin e Trotsky; Mao Tse Tung; Pol Pot; Ho Chi Minh; Che Guevara e Fidel Castro foram os líderes das estratégias de assalto ao poder das revoluções comunistas do século XX e focaram-se na tomada do poder pela da violência. Gramsci, teórico comunista italiano, focou suas preocupações na conquista e preservação do poder pela via da sedução dos corações e mentes da maioria da sociedade. O partido é O Príncipe, que Maquiavel via nos “condottieres” do século XVI.

Gramsci é o inspirador da esquerda contemporânea e do “Socialismo do Século XXI”. Em síntese, o que a esquerda latino-americana pratica é a tentativa de sua perpetuação no poder pela conquista de apoio da maioria da sociedade usando a democracia para corrompê-la por dentro.

Para isso, além de buscar apoio na sociedade através de políticas clientelistas (bolsas) dirigidas ao andar de baixo; oferta de crédito subsidiado (bancos públicos), ao andar de cima; e patrocínio para a classe artística (Lei Rouanet e publicidade governamental), o PT adotou a corrupção sistêmica como forma de cooptação das elites tradicionais como método para sustentar seu projeto de poder.

Com apoio da base alugada, o PT pretendia mudar as leis aos poucos, para legalizar seu projeto de solapar as instituições democráticas visando perpetuar-se no poder. Paralelamente, a ideia era a de ir queimando a imagem e a viabilidade eleitoral das elites tradicionais, especialmente do PMDB, até o ponto de asfixiá-las e destruir seus partidos de forma que, no médio prazo, somente sobrevivessem o PT e seus satélites como partidos relevantes.

O primeiro movimento dessa estratégia foi um recuo tático à direita com a vitória de Lula em 2004. Para conquistar a confiança dos mercados, Lula usou Palocci para implementar uma política econômica mais ortodoxa do que a de FHC e pavimentar o caminho para os avanços seguintes. Um passo atrás, dois passos adiante, preconizou Lenin, com a NEP (Nova Política Econômica) adotada na Rússia em 1924, que estimulou a propriedade privada para alavancar a economia nos primeiros anos da revolução e depois estatizar tudo.

Ao se reeleger, Lula trocou Palocci por Mantega e deu início ao descontrole fiscal. Ao eleger Dilma, Lula substituiu Henrique Meireles por Tombini, trocando o tripé (câmbio flutuante, juros para conter inflação e superávit fiscal) pela chamada “nova matriz econômica”, que acaba de fracassar.

A reeleição de Dilma seria, na estratégia do PT, o momento de mudar a Ordem Política da Constituição aprovando o voto em lista e o financiamento público de campanha, de modo a fortalecer o voto na legenda, num contexto em que o PT era a legenda mais forte.

O financiamento público de campanha daria mais dinheiro à maior bancada (adivinhem qual é?), e jogaria na ilegalidade os demais partidos que buscassem o caixa dois para compensar a desvantagem competitiva com o PT. Mas, o PT cometeu dois erros básicos que só comete quem não corrigiu na juventude o pecado da soberba e da arrogância. O primeiro foi acreditar na visão teórica da esquerda sobre a economia. O segundo foi subestimar a inteligência do inimigo. No caso, o PMDB.

Quem estudou Mises, Friedman, Hayek e demais liberais saberia que a bagunça que o PT faz na economia brasileira só poderia dar no que deu. Quem aprendeu na juventude que a soberba e a arrogância são atitudes burras e contraproducentes poderia prever que as atitudes de Lula, Dilma e do PT só poderiam dar no que deram.

No entanto, tudo indica que a ficha de Lula, Dilma e do PT ainda não caíram. No âmbito interno da estratégia geral do PT, Dilma tinha seus próprios objetivos e imaginava que a conquista do segundo mandato a libertaria do jugo do seu criador. Na cabeça dura de Dilma, seu primeiro mandado foi Lula/Dilma. O segundo mandato seria Dilma/Dilma.

Mas, Dilma não entendeu as circunstâncias da sua vitória. Nem Dilma e nem o PT entenderam que o povo brasileiro não é de esquerda. Pelo contrário, é conservador e patrimonialista. Ao criar uma crise econômica sem precedentes, Dilma foi forçada a cortar bolsas para o andar de cima e o andar de baixo. Dilma jogou os custos da crise que fabricou no bolso de quem a elegeu e jogou esse povo que pagará a conta no colo de quem foi às ruas em 06/2013 e 03/2015. Erro fatal!

*  Paulo Moura, professor universitário, é cientista social, consultor de comunicação e marketing político em campanhas eleitorais e analista político e de pesquisas de opinião e de mercado

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Perdida como cachorro que caiu de caminhão de mudança, Dilma recorre a fiel aliado e ex-ministro de FHC para articulador político — mas ele recusa o cargo

(Foto: Presidência da República)

Padilha, ministro, despachando com o presidente Fernando Henrique: homem de confiança (Foto: Presidência da República)

A ordem à presidente Dilma partiu de Lula: para melhorar as péssimas relações com o principal aliado do PT e tentar colocar alguma ordem na catastrófica situação do Planalto junto ao Congresso, coloque alguém do PMDB no círculo mais próximo de decisões do governo. De preferência, como coordenador político do Planalto — o cargo que leva o solene título de ministro de Relações Institucionais –, uma vez que ninguém, no Congresso, dava a menor importância para o atual titular do cargo, o obscuro deputado Pepe Vargas (PT-RS).

Obediente, a presidente resolveu convidar alguém do PMDB para o cargo. E, ironia do destinou, acabou chamando um deputado do PMDB gaúcho que foi grande colaborador, fiel aliado e ministro do Presidente Fernando Henrique Cardoso — ocupou a poderosa pasta dos Transportes, de 1997 a 2001.

Padilha não era apenas ministro dos Transportes de FHC. Muito ligado ao presidente, mesmo antes de ocupar o posto, era expoente do PMDB gaúcho, a seção estadual do partido mais próxima ao governo do PSDB.

Agora, porém, segundo informam os repórteres de VEJA.com em Brasília Gabriel Castro e Marcela Mattos, “a ida de Padilha para a articulação política do governo Dilma não é unanimidade no PMDB e enfrenta resistências na bancada parlamentar do partido” — e Padilha, atual ministro da Aviação Civil, não aceitou.

“Não ser unanimidade” e “enfrentar resistências” poderia perfeitamente ser substituída por uma única afirmação: Padilha não foi porque o hoje todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não quis.

Cunha revestiu a coisa toda de um extenso palavreado (confiram aquireportagem a respeito de VEJA.com), mas a verdade dos fatos é que o episódio é mais um na queda de braço que o PMDB mantém com o Palácio do Planalto, da qual vem participando, com alegria cada vez maior, também o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) — que, agora, até a independência do Banco Central determinada por lei vem defendendo, para horror do petismo mais ortodoxo.

O convite a Padilha mostra o quanto o PT está capitulando para o PMDB nesse confronto, e o grau de confusão que reina na seara da presidente Dilma. A recusa de Padilha (e de Eduardo Cunha) revela, por sua vez, o quanto o PMDB acha pouco o que vem conseguindo do Planalto.

(por RICARDO SETTI, de veja.com)

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Fonte:
El País + VEJA

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