Na véspera do Fed, dólar sobe 1% e busca R$3,30 com incertezas locais
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançava 1 por cento e buscava o nível de 3,30 reais pela primeira vez em quase onze anos nesta terça-feira, na véspera da decisão de política monetária do Federal Reserve, em meio a persistentes preocupações com a situação econômica e política brasileira e com as intervenções do Banco Central no câmbio.
Às 10h27, a moeda norte-americana subia 1,17 por cento, a 3,2824 reais na venda. Na máxima da sessão, atingiu 3,2844 reais, maior nível desde 2 de maio de 2003, quando foi a 3,3050 reais.
O quadro de apreensão doméstico tem levado investidores a adotar a filosofia de "na ausência de notícias, compre dólares", segundo o operador de um importante banco nacional. Para ele, notícias positivas podem gerar alívios pontuais, mas será necessária uma mudança significativa no cenário político para reverter a atual trajetória de alta da moeda norte-americana.
"Este é o novo normal: quando não acontece nada, o dólar sobe", afirmou.
Na noite passada, a presidente Dilma Rousseff tentou atenuar as tensões, afirmando que o governo federal tem obrigação de abrir diálogo de forma humilde e escutar quando acontecem protestos nas ruas, mas ao mesmo tempo tem de manter a postura firme sobre o que "acha importante"
A principal preocupação dos investidores é com o impacto das turbulências políticas sobre o ajuste fiscal promovido pelo governo, que vem parecendo cada vez mais difícil. Nesse sentido, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, buscou na véspera apoio às medidas de reequilíbrio das contas públicas, mesmo diante da atividade econômica em contração e da inflação elevada.
"De um lado temos uma presidente trabalhando para 'curar cicatrizes', de outro, um ministro da Fazenda operando em várias frentes visando à aprovação das medidas de ajuste fiscal o mais breve possível", escreveu o operador da corretora Correparti Luciano Copi em nota a clientes.
Analistas ressaltavam ainda que, mesmo no caso de um ajuste fiscal bem-sucedido, a percepção é que a economia brasileira precisa de um dólar forte para se recuperar. Autoridades do governo vêm dando sinais de que acreditam que as atuais cotações são mais próximas de um nível "justo".
EXTERIOR E BC
O movimento do câmbio no Brasil destoava de outros mercados emergentes, importantes, onde a divisa norte-americana variava pouco, enquanto investidores aguardavam a decisão do Federal Reserve de quarta-feira. A expectativa é que o banco cetral dos EUA dê pistas mais claras sobre a esperada alta de juros, o que poderia dar mais fôlego à escalada do dólar.
Outro fator importante para explicar o comportamento da moeda aqui é a incerteza em relação à continuidade das atuações diárias do Banco Central brasileiro no mercado. O programa está marcado para durar pelo menos até o fim deste mês, mas o BC não deu sinais, até agora, de que pretende estendê-lo, mesmo com a acentuada volatilidade no câmbio.
A volatilidade implícita no mercado de opções operava nos maiores níveis desde setembro de 2014, ápice da instabilidade eleitoral no Brasil.
Nesta manhã, o BC deu continuidade às rações diárias vendendo a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a uma posição vendida de 97,7 milhões de dólares. Foram vendidos 1 mil contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1 mil para 1º de março de 2016.
O BC fará ainda mais um leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril, que equivalem a 9,964 bilhões de dólares, com oferta de até 7,4 mil contratos. Até agora, a autoridade monetária rolou cerca de 39 por cento do lote total.
(Por Bruno Federowski)
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