Dólar sobe 2% e vai a R$ 2,83 pela 1ª vez desde o fim de 2004
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta de mais de 2 por cento nesta terça-feira, na máxima em mais de dez anos, refletindo o estresse do mercado com a possibilidade de a Grécia deixar a zona do euro e com a desaceleração econômica da China.
Embora parte dos fatores que vêm pressionando a divisa norte-americana nos últimos dias tenham origem nos mercados externos, a deterioração dos fundamentos macroeconômicos brasileiros, dúvidas sobre o futuro da Petrobras e fatores técnicos garantiram que a pressão cambial fosse mais intensa aqui.
O dólar subiu 2,12 por cento, a 2,8364 reais na venda, maior nível desde 1º de novembro de 2004, quando fechou negociado a 2,854 reais. Na máxima da sessão, a divisa alcançou 2,8398 reais. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 1 bilhão de dólares.
"As moedas emergentes têm sofrido de maneira geral, mas o cenário da economia brasileira está muito deteriorado", resumiu o operador de câmbio da corretora Correparti João Paulo de Gracia Correa.
Segundo ele, a volatilidade recente do câmbio tende a provocar saída de capitais externos. "Aquele estrangeiro que entrou aqui para ganhar juros quando o dólar estava a 2,65 reais acabou perdendo dinheiro."
Nesta sessão, as preocupações com a fraqueza da economia da China, importante parceiro comercial do Brasil e referência para investidores em mercados emergentes, foram corroboradas por dados que mostraram que a inflação ao consumidor chinês atingiu em janeiro o menor nível em cinco anos.
O número alimentou o mau humor dos investidores internacionais, já afetado pelo temor de que o impasse entre a Grécia e seus credores force o país a sair da zona do euro, o que poderia enfraquecer ainda mais a economia global.
"Parece haver algum movimento na posição grega que ainda pode formar as bases para um acordo", escreveram analistas do Brown Brothers Harriman em relatório. "Dito isso, os credores oficiais não parecem ter aliviado suas exigências em nada."
No front doméstico, as crescentes expectativas de estagnação econômica e inflação de mais de 7 por cento em 2015 somavam-se às preocupações com o futuro da Petrobras, após a nomeação de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, para comandar a estatal.
Mais cedo, a Verde Asset Management, maior hedge fund do Brasil, divulgou relatório em que defende que a deterioração dos fundamentos macroeconômicos do Brasil ainda não se refletiu completamente no preço do câmbio, projetando mais valorização do dólar.
O mau humor com os fatores internos era corroborado ainda pelas crescentes dúvidas sobre a capacidade do governo de promover um ajuste fiscal significativo neste ano, em meio à crescente oposição às medidas que vêm sendo adotadas pela equipe econômica, encabeçada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
"O problema é que as expectativas de melhora na política econômica estão perdendo força", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta. "Se o apoio político deixar de existir, pode haver um downgrade (da classificação de risco soberano) à frente", acrescentou.
BC
Analistas ressaltaram que o avanço do dólar elevou a pressão para que o Banco Central esclareça se pretende permitir a pressão sobre a moeda ou se adotará medidas para limitar a volatilidade do câmbio.
"Mesmo no nosso cenário mais pessimista, estávamos considerando o dólar a 2,72 reais agora em fevereiro", disse a economista da CM Capital Markets Jéssica Strasbourg, acrescentando que precisará recalcular suas projeções, que apontavam que a moeda norte-americana terminaria o ano a 3,11 reais.
O BC vem atuando diariamente no câmbio desde agosto de 2013 para oferecer proteção cambial. O atual molde do programa de atuações diárias está marcado para durar "pelo menos" até 31 de março, o que deve alimentar a incerteza do mercado nas próximas semanas sobre uma possível extensão da intervenção.
Nesta manhã, o BC deu continuidade às rações diárias, vendendo a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, pelas atuações diárias. Foram vendidos 600 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1,4 mil contratos para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a 97,8 milhões de dólares.
O BC também vendeu a oferta integral de até 13 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 2 de março, equivalentes a 10,438 bilhões de dólares. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 42 por cento do lote total.
Em VEJA: Dólar fecha a R$ 2,83, maior cotação desde novembro de 2004
Moeda se valorizou impulsionada pela subida dos juros nos Estados Unidos, os dados negativos vindos da China e as preocupações em relação à economia brasileira
Dólar: moeda americana atinge maior patamar em 10 anos (Divulgação/VEJA)
O dólar voltou ao maior patamar de fechamento de 2004 nesta terça-feira, reagindo à insatisfação dos investidores com a situação da economia brasileira e diante dos riscos de racionamento de água e energia e, ainda, do avanço registrado ante outras divisas no exterior.
O dólar subiu 2,12%, a 2,83 reais na venda, maior nível desde 1º de novembro de 2004, quando fechou negociado a 2,85 reais. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 1 bilhão de dólares. No mercado futuro, o dólar para março avançava 2,21%, a 2,84 reais.
Dados publicados pela manhã pelo IBGE mostraram que o emprego na indústria avançou 0,4% na passagem de novembro para dezembro do ano passado, na série livre de influências sazonais, porém, acumulou uma queda de 3,2% em 2014. Os dados corroboraram indicadores anunciados recentemente que apontaram a deterioração econômica no país.
Leia também:
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Inflação na China atinge o menor patamar em 5 anos
A piora dos indicadores domésticos, a falta de sinalização sobre o balanço da Petrobras e as declarações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sobre o câmbio, feitas no fim do mês passado, continuam a minar o apetite por risco dos investidores no Brasil.
Analistas destacaram ainda que a proximidade do feriado prolongado de carnaval no país, durante o qual o mercado ficará fechado, também deixou os operadores na defensiva, preferindo ficar "comprados" em dólar – ou seja, apostando na continuidade da valorização da moeda.
O avanço do dólar ante o real também recebeu impulso da alta da moeda no exterior. O dólar ganhou força ante a maioria das divisas internacionais, beneficiado pelo avanço dos juros dos títulos do Tesouro. A moeda ampliou a alta depois que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de São Francisco, John Williams, afirmou nesta terça-feira que o período de subida dos juros está cada vez mais próximo.
Como os títulos do Tesouro americano são considerados os investimentos mais seguros do mundo — e sua rentabilidade está atrelada à taxa de juros —, quanto maior a expectativa de subida das taxas, mais atrativos os títulos se tornam ao investidor institucional. Com isso, amplia-se a tendência de migração de investimentos de mercados de maior risco para os Estados Unidos. Diante da confiança cada vez menor dos investidores no Brasil, o real acaba sendo mais penalizado.
Nesta sessão, houve também preocupações com a fraqueza da economia da China, importante parceiro comercial do Brasil e referência para investidores em mercados emergentes, foram corroboradas por dados que mostraram que a inflação ao consumidor chinês atingiu em janeiro o menor nível em cinco anos.
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)
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