FOLHA: Kátia Abreu assume ministério sob críticas de índios e sem-terra
Setores envolvidos com temas fundiários criticaram as declarações da nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu, sobre a reforma agrária e a questão indígena.
Em entrevista à Folha publicada nesta segunda-feira (5), ela afirmou que o Brasil não tem mais latifúndios e que os indígenas "saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção". Também criticou invasões do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Em discurso durante sua cerimônia de posse no mesmo dia, Kátia Abreu afirmou que não vai travar nenhuma "guerra" nem vai aceitar qualquer "provocação" que prejudique seu trabalho à frente do ministério.
Para Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor sênior de geografia da USP, a ministra errou ao sugerir que já não há grandes propriedades improdutivas e concentração de terras no país.
Ele citou números do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) que mostram a existência de 196 imóveis com áreas acima de 100 mil hectares no país. Juntos, somam 66,4 milhões de hectares.
Segundo Oliveira, há várias propriedades declaradas improdutivas pelo Incra, como uma fazenda de 246 mil hectares em Boca do Acre (AM).
"São equívocos que uma representante de determinada classe social comete quando assume um ministério."
Para o historiador terena Wanderley Dias Cardoso, no caso de Mato Grosso do Sul --citado pela ministra-- os indígenas não viviam em florestas, mas em pequenas reservas demarcadas pelo Estado.
"No início do século 20, o governo achava que os índios logo deixariam as reservas e seriam abrasileirados. Não foi o que ocorreu", afirma.
Na aldeia Limão Verde, em Aquidauana (MS), onde Cardoso ensina, moram 1.800 terenas numa área de aproximadamente 4.000 hectares.
"O que a gente vê na prática é que outros órgãos, como o Ministério da Agricultura, têm mais força política para falar sobre o assunto do que a Funai, o órgão indigenista. O cenário não é animador."
O MST também fez duras críticas a Kátia Abreu. O coordenador Alexandre Conceição a tachou de "latifundiária" e disse que ela devia "tomar aulas" sobre o campo.
"Uma ministra da República não pode dizer tanta besteira. Devia ao menos conhecer o país em que vive."
Grupo investirá em frigorífico de R$ 450 milhões no PR
A Frimesa, que reúne cinco cooperativas agrícolas do Paraná, vai construir um novo frigorífico para abate e processamento de suínos.
A primeira etapa, que receberá um aporte de R$ 450 milhões, terá as obras iniciadas no último trimestre deste ano, com capacidade para 7.000 cabeças por dia.
A unidade ficará no município de Assis Chateaubriand, no oeste do Paraná, a 575 quilômetros de Curitiba.
"Nosso frigorífico processa hoje 6.500 cabeças por dia e está com a capacidade 100% ocupada", diz o diretor-executivo, Elias José Zydek.
Do total a ser aplicado no projeto, 30% serão de recursos próprios e o restante virá de financiamento do BNDES. As obras deverão ser concluídas em cerca de três anos.
A cooperativa já tem planos para uma segunda etapa na sequência, que consumiria mais R$ 300 milhões e dobraria a capacidade do local.
O aporte, no entanto, dependerá da evolução do mercado e do cenário econômico.
No ano passado, apesar das dificuldades do varejo, a Frimesa conseguiu ampliar o faturamento em 20%, na comparação com 2013.
A meta era faturar R$ 1,85 bilhão em 2014, mas o valor chegou a R$ 2 bilhões.
"As nossas vendas no segmento de carnes se mantiveram em um bom nível", diz Zydek. "Os lácteos vieram bem até setembro, mas, no último trimestre, a produção foi maior que o consumo, o que fez os preços caírem."
A Frimesa industrializa a matéria-prima de produtores das cooperativas Copagril, Lar, C.Vale, Copacol e Primato. O grupo tem hoje cinco unidades fabris: uma de suínos e quatro de laticínios.
A região Sul lidera as vendas (65%), seguida pelo Centro-Oeste (25%).
A JBS vai tremer?
Aguarda-se para logo mais uma forte queda das ações da JBS na Bovespa. Em 22 de dezembro, quando o Valor revelou que a empresa creditou 800 000 em duas contas-correntes de uma firma fantasma investigada pela operação Lava Jato, os papéis da JBS fecharam valendo menos 8% (chegaram a cair 18%).
Agora, apenas duas semanas depois, uma nova reportagem liga o grupo à Lava-Jato. O Estado de S. Paulo de hoje publica trechos da agenda de Paulo Roberto Costa que indicam um acordo comercial entre a J&F (controladora da JBS) . Os dados estão sendo investigados no inquérito da Lava-Jato. A J&F nega qualquer contrato.
No final do pregão do dia 22, quando ocorreu a primeira denúncia, a ação da JBS fechou a 11,16 reais.De lá para cá, caiu mais. Ontem, fechou a 10,64 reais.
Por Lauro Jardim, de veja.com
Soja supera minério de ferro e lidera exportações do país em 2014
Pela primeira vez desde 2009, a soja superou o minério e liderou as exportações da balança comercial.
Enquanto o complexo soja (grãos, farelo é óleo bruto) obteve US$ 31,3 bilhões em 2014, as exportações de minério de ferro renderam US$ 25,8 bilhões no período.
Mesmo com a liderança da soja, o agronegócio não conseguiu impedir o primeiro deficit comercial desde 2000.
Se açúcar em bruto e milho não tivessem exportado US$ 4,2 bilhões a menos em 2014, o país teria evitado o deficit, que foi de US$ 3,9 bilhões.
O grande desempenho da balança foi o café em grão, que rendeu US$ 6 bilhões para o país, um valor financeiro 30% superior ao de 2013.
Problemas climáticos na safra brasileira, o maior produtor mundial, e oferta escassa em outros países produtores puxaram os preços do café para cima.
O cenário favorável às exportações de café pelo Brasil permitiu ao país colocar o recorde de 36 milhões de sacas no mercado externo.
A Colômbia, segunda maior produtora de café arábica, começa a se recuperar, mas as incertezas sobre a próxima safra brasileira podem ainda manter os preços aquecidos neste ano.
O principal destaque negativo no ano foi o do milho, cujas receitas recuaram 38%, segundo apontam os dados do Ministério do Desenvolvimento para o período.
Após o recorde de 26,6 milhões de toneladas que saíram das fronteiras brasileiras em 2013, o pais conseguiu exportar 20,6 milhões em 2014. Apesar da queda, esse volume ainda é superior ao da média dos anos anteriores.
Neste ano, um período de grandes estoques de milho, o país ainda terá dificuldades para exportar o cereal.
Os EUA voltaram a ocupar o espaço que tinham perdido com a queda de produção há dois anos, e os estoques mundiais estão elevados.
CARNES
O ano de 2014 foi bom também para as carnes. Os dados do Ministério do Desenvolvimento, que consideram as exportações do produto "in natura", apontam para vendas de US$ 14,2 bilhões. Mas o setor deverá obter vendas totais recordes de US$ 17 bilhões.
O destaque no setor foi para a carne suína, cujas exportações renderam US$ 1,45 bilhão, 18% mais do que em 2013. O apetite russo elevou o preço no setor, gerando mais divisas.
Os preços deverão se manter aquecidos porque um dos poucos mercados disponíveis para os russos é o Brasil, após os atritos da Rússia com os países desenvolvidos, devido à crise na Ucrânia.
O Brasil melhorou também as receitas com as exportações de carne bovina a frango teve pequena queda.
No caso da carne bovina, os preços internos e externos também deverão permanecer aquecidos neste ano. O Brasil é o país que está em melhores condições de fornecer proteínas ao mercado mundial, diante da redução de rebanho nos outros países.
O mercado interno de ontem reflete bem essa situação. A arroba do boi voltou a subir e está em R$ 145 em São Paulo. Há um ano estava em R$ 117, e, em 2013, em R$ 97.
AÇÚCAR
Uma das principais perdas de receitas do país foi com o açúcar em bruto, cujas exportações recuaram para 25 milhões de toneladas, 9% menos do que no ano anterior.
A oferta menor de açúcar no mercado internacional neste ano, inclusive por parte do Brasil, deverá impedir novas quedas nos preços do produto.
O cenário para as exportações do agronegócio vai sofrer uma deterioração neste ano, devido a demandas menores e reduções de preços. Só a soja, o carro-chefe do setor, poderá perder US$ 8 bilhões em receitas.
O setor de minério, devido à queda internacional dos preços, registrou recuo de 21% no ano passado e não há perspectivas de melhora. Já as vendas de petróleo, agora que começam a se recuperar, vão enfrentar preços baixos no mercado internacional. (por Mauro Zaafallon).
Brasil registra o primeiro deficit comercial desde 2000
Importações superaram exportações em US$ 3,93 bilhões em 2014; resultado foi o pior desde 1998, quando o rombo ficou em US$ 6 bi
O Brasil fechou 2014 com um deficit comercial de US$ 3,93 bilhões. Essa é a primeira vez, desde 2000, em que o país encerra o ano com o resultado das importações superando o das exportações.
Em 2014, as exportações somaram US$ 225,1 bilhões, enquanto as importações chegaram a US$ 229 bilhões.
Os números foram divulgados nesta segunda-feira (5) pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e são os piores desde 1998, quando o deficit foi de US$ 6,6 bilhões.
Ao longo de todo o ano o governo evitou admitir que a balança poderia fechar com deficit, mesmo com acúmulo bilionário de resultados negativos. Apenas ao consolidar os resultados de novembro, quando foi registrado deficit de US$ 2,4 bilhões, o governo se viu forçado a revisar suas expectativas --o resultado foi o pior para novembro dos últimos 20 anos.
Entre as justificativas para o mau desempenho da balança estão a lenta recuperação da economia global, a recessão na Argentina --forte parceiro comercial do Brasil-- e as elevadas importações de petróleo e de derivados.
Houve retração nas vendas de manufaturados (-13,7%), semimanufaturados (-4,8%) e de produtos básicos (-3,1%).
Na lista de manufaturados são considerados, por exemplo, automóveis, plataformas de petróleo, açúcar refinado, motores para veículos e aviões --todos fecharam o ano com queda nas vendas.
Para semimanufaturados considera-se, por exemplo, a exportação de alumínio, óleo de soja, cobre, e ferro fundido, também com resultado inferior ao de 2013.
Da mesma forma, em produtos básicos entram grãos, fumo em folhas e carne de frango, que também tiveram redução nas exportações.
As transações comerciais em dezembro, por outro lado, apresentaram saldo positivo de US$ 293 milhões.
VINICIUS TORRES FREIRE
O plano real de Joaquim Levy
Plano é de reformas mais profundas do que mero corte de gastos; Levy reafirma desmanche de Dilma 1
O MINISTRO DA Fazenda, Joaquim Levy, afirmou pela terceira vez que pretende desmanchar a política econômica vigente entre 2012 e 2014. Foi o que disse em sua nomeação, em entrevista ao jornal "Valor" e ontem, quando tomou posse. O que vai resultar quando Levy trocar em miúdos o que tem dito?
Não se trata apenas de reduzir o buraco nas contas do governo. No ritmo de "o gato subiu no telhado", o ministro tem proposto um programa de mudanças mais profundas. De certo modo, comparou seu plano de ajuste ao que antecedeu o Plano Real.
O plano seria o seguinte, ainda trocado em miúdos grossos:
1) Acabar com reduções de impostos ditas setoriais, para empresas de certo ramos, as "desonerações" de Dilma 1. Vão acabar apenas daqui em diante ou vão ser canceladas desonerações já concedidas?
2) Abrir a economia a mais concorrência externa, o que pode ser feito por meio de redução de impostos de importação, do fim de barreiras de outra espécie ou no contexto de acordos comerciais, não se sabe. Parece prioridade de Levy;
3) Dar fim a subsídios. O governo não vai mais bancar parte do custo da eletricidade ou não vai permitir que estatais tomem prejuízo por vender produtos a preços abaixo daqueles de mercado (gasolina, por exemplo). Mas não são apenas esses os subsídios, diretos ou indiretos, concedidos pelo governo;
4) Aumentar impostos, o que foi dito de passagem e de modo algo enigmático. Quais seriam esses impostos que "tendem a aumentar a poupança doméstica"? De resto e em tese, a poupança doméstica aumenta mais com a elevação do aumento da poupança do governo do que com mais impostos. De qualquer modo, aumentar a poupança doméstica significa redução relativa do consumo, de governo e/ou famílias. Vai haver aumento de imposto sobre consumo?
5) "Ajustar preços relativos": significa também desvalorização do real sem que a inflação suba. Isto é, preços e salários têm de ficar mais baratos em dólar;
6) "Harmonizar" impostos de aplicações financeiras. Mistério;
7) Enxugar os bancos públicos, reiterou Levy outra vez;
8) Fim do "patrimonialismo". Na versão do discurso do ministro: deixar as empresas resolver seus próprios problemas sem socorros ou subsídios;
9) Reformar a demência do ICMS;
10) Reformas microeconômicas: Levy passou de leve sobre o assunto, mas nomeou um secretário de Política Econômica, Afonso Arinos Neto, especialista no assunto.
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Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC
Pessoalmente penso que chega a ser escandaloso o silêncio da FPA, da CNA, SRB, dos lideres da chamada bancada ruralista, das organizações e entidades representativas da agricultura e pecuária, sobre as declarações da ministra.
Ariovaldo Umbelino de Oliveira não criticou, mas contestou a fala da ministra, apresentou dados. No caso do MST sim, criticas sem fundamentação, embora concorde com a idéia de que Kátia Abreu é um zero à esquerda, tanto em conhecimento como em capacidade para conduzir o ministério da agricultura. Mas o fato importante não é esse, e sim que apesar do discurso da ministra ser completamente vazio de significado, não houve uma única manifestação a respeito do que significa afinal, “ser babá de 70% dos produtores rurais, ou que esses 70% passarão a ser produtores rurais sob a batuta de Dilma e Kátia? Darão as ordens e os trabalhadores rurais, tais como crianças, receberão a mamadeira, a chupeta, e as ordens sobre o que farão? E no entanto, nenhuma manifestação sobre esse absurdo. Se isso é coisa pouca e não merece atenção, o que dizer então da idéia de privatização da ministra? Ela chama privatização, o modelo de concessão adotado pelo governo. Ora, esse mesmo modelo já se mostrou ineficiente, e uma das razões é a de que ele trava os investimentos da iniciativa privada. Na verdade o que a ministra defende é que o dinheiro público pague pelos investimentos, e os amigos do poder administrem as concessões e com garantia de retorno. Não funciona. E está ai a ALL, ai estão os portos,... os investimentos ficam sempre aquém do necessário, do desejado. O governo quer fazer uma concessão administrativa, não privatização, que é a venda para a iniciativa privada. Nenhuma liderança de peso é capaz de apontar as incongruências e inconsistências, do discurso de Kátia Abreu. Não temos lideranças preparadas para isso, e se continuarmos calados, continuaremos a não ter. Ocorre amigos, que enquanto estamos quietos, muitas lideranças aproveitam para ficar no entorno do poder, tirando proveito de qualquer coisa que se apresente, chancelando os atos e declarações das autoridades, não importando o quão nocivos possam ser, tampouco a inutilidade e a falta de resultados. Para os produtores no entanto, o resultado sempre chega, contas astronômicas para pagar, acompanhadas de descaso e desrespeito.