Leite garante que números de desmatamento não teriam afetado negociações na COP
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) -O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, classificou de "inaceitável" o aumento em 22% no desmatamento revelado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e garantiu que o governo vai reagir de forma "contundente", mas negou novamente que soubesse dos números antes da COP26 e garantiu que a publicidade dos dados não faria diferença nas negociações.
Em entrevista no Itamaraty para apresentar os resultados da conferência climática da ONU, Leite afirmou que as negociações não são o momento de "apontar fragilidades" de outros países, e por isso o maior desmatamento registrado desde 2006 não teria feito diferença.
"Eu tive contato (com os números) exatamente no mesmo dia que vocês tiveram contato", garantiu Leite, referindo-se à data de divulgação pública do relatório na quinta-feira passada.
"Dentro de uma conferência que busca um consenso multilateral, nenhum momento um país iria apontar as fragilidades do outro, porque estamos buscando um consenso multilateral muito complexo. Ali não era o momento de apontar fragilidades, então era irrelevante ter os números antes ou depois."
O relatório do Inpe foi publicado no site do Instituto no na última quinta-feira. No entanto, a data que consta do documento mostra que ele foi criado em 27 de outubro, cerca de 20 dias antes e a tempo de serem apresentados na COP26, como costumava ser a praxe do Brasil antes das conferências.
Uma fonte ouvida pela Reuters que estava envolvida nas negociações em Glasgow garante que de fato não teve acesso aos números. No entanto, uma segunda fonte, ligada ao Inpe, revelou que o presidente do Instituto, Clezio de Nardin, teve os números em mãos no final de outubro, mas decretou sigilo e os levou para o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, para que tivesse conhecimento.
Questionado, o Ministério ainda não respondeu o pedido de informações da Reuters.
Diante das críticas feitas ao país depois da revelação dos dados, Leite afirmou que, passadas as negociações, "é natural" que fragilidades dos outros passem a ser apontadas, mas que o Brasil irá atuar e cumprir a promessa, feita na COP, de acabar com o desmatamento ilegal até 2028.
"O momento é de um desafio e uma contundência em relação ao desmatamento. Os dados refletem um número até julho deste ano, nos últimos quatro meses estamos implementando esse outro modelo que será a base do Guardiões do Bioma e, com certeza nós iremos eliminar o desmatamento ilegal até 2028. Usaremos toda a força do Estado para eliminar a criminalidade na região da Amazônia, tenho certeza que temos a capacidade de fazer isso."
O desmatamento na floresta amazônica brasileira aumentou 21,97% em um ano, atingindo o maior nível desde 2006, segundo o relatório anual do governo divulgado na semana passada.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou uma área desmatada de 13.235 quilômetros quadrados entre 1 de agosto de 2020 a 31 julho de 2021, de acordo com dados apurados pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes).
Os números anunciados causaram surpresa e decepção entre diplomatas estrangeiros e elevam a pressão sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro para fazer mais para impedir a destruição.
Nesta segunda, o ministro do Meio Ambiente voltou a prometer mais ação.
"É hora de agir na nossa principal fragilidade, que é o desmatamento ilegal. Diante dos números inaceitáveis do desmatamento vamos agir de forma contundente, vamos ter mais recursos, mais homens", garantiu. "Seremos muito mais contundentes para atingir nosso principal objetivo dos nossos compromissos, especialmente depois de todos os compromissos ambiciosos que apresentamos."
Nos últimos anos, os órgãos de fiscalização ambiental perderam recursos, pessoal e material para agir. O governo aposta em uma ação conjunta com a Força Nacional de Segurança para reverter a queda na capacidade de ação. Leite disse ainda que estão abertas 700 vagas para transferir servidores de áreas burocráticas para a fiscalização.
(Reportagem de Lisandra ParaguassuEdição de Alexandre Caverni)
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