Oferta de CBIOS na B3 dispara com expectativa de definição de metas de emissão de papel em 2020

Publicado em 25/08/2020 15:03

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A escrituração de Cbios (unidades de crédito de descarbonização) na B3 por usinas de biodiesel e etanol disparou em julho e agosto, em meio ao debate sobre as metas de emissões do papel para 2020 e às primeiras operações de compra e venda. Escrituração é o processo burocrático, de preparação do título, para que em seguida ele possa ser registrado e negociado em bolsa, no caso dos Cbios, a B3.

Depois da primeira escrituração na B3, em 27 de abril, o número de títulos registrados na bolsa, prontos para serem comercializados, chegou a 1,2 milhão em junho, 3,9 milhões em julho e 6,1 milhões na última sexta-feira (21). Por trás da rápida ascensão está a expectativa de que o Ministério de Minas e Energia (MME) defina a meta para este ano, segundo a superintendente executiva de Corporate para o Agro do banco Santander, Caroline Perestrelo.

"O mercado se aqueceu muito em junho e julho. Agora, em agosto, temos visto escriturações diárias", contou Caroline. O Santander lidera as escriturações de Cbios no Brasil, com aproximadamente 77% do total. Entre abril e agosto, foram 5 milhões de Cbios, dos 6,1 milhões registrados na B3. "Em 2018, quando o Renovabio ainda era um projeto, o banco se predispôs a entendê-lo e participar das reuniões com a B3, emissores, distribuidores, por enxergar ali algo positivo para clientes (do setor) e a própria sustentabilidade", explicou.

Os Cbios são o alicerce do Renovabio, programa federal de estímulo à produção de biocombustíveis. Distribuidoras terão de adquirir Cbios anualmente para compensar suas emissões de gases de efeito estufa decorrentes da venda de combustível fóssil no ano anterior. O mercado aguarda o estabelecimento das metas, revistas pelo ministério em virtude da avaliação de que usinas de etanol (de cana e de milho) e de biodiesel produziriam menos do que o esperado, acompanhando o desaquecimento do consumo após as medidas de isolamento social.

Fonte ouvida pelo Broadcast Agro na semana passada informou que o MME decidiu cortar pela metade a meta anual de emissões de Cbios para 2020, para 14,53 milhões. O número é o mesmo apresentado na proposta colocada em consulta pública no período de 5 de junho a 4 de julho deste ano. Para 2021, a meta será de 24,86 milhões de Cbios emitidos por ano; em 2022, 34,17 milhões; 2023, 42,35 milhões; em 2030, chegará a 90,67 milhões de Cbios, segundo a fonte.

"Se as metas tivessem sido definidas há dois meses, o mercado já estaria efetivando compras e vendas com maior velocidade. Sabemos que algumas unidades (usinas) não escrituraram porque estavam aguardando a meta e a valorização do título, assim como a definição da tributação (para o emissor), estabelecida em 15% há cerca de uma semana", ponderou a executiva do Santander. Ela acredita em maior velocidade dos registros até dezembro. "O potencial (de produção de biodiesel e etanol) dos nossos clientes já supera a meta (prevista) de emissões de Cbios para o próximo ano", contou.

Os 4,7 milhões de Cbios escriturados apenas pelo Santander até agora foram emitidos por 61 grupos com mais de 160 usinas de biodiesel e etanol de cana-de-açúcar ou milho, segundo Caroline. "O interesse é generalizado", garante ela.

Outro entrave a uma maior liquidez do mercado foi a expectativa das usinas emissoras pela valorização do papel, o que não ocorreu ainda. A primeira negociação do título ocorreu em junho. A Datagro Conferences, braço da consultoria Datagro responsável por conferências, comprou 100 Cbios por R$ 50 cada ou cerca de US$ 10. Os papéis foram emitidos pela Adecoagro, produtora de etanol com unidades em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Desde então, outros negócios, inclusive vendas para distribuidoras que precisam compensar emissões de gases de efeito estufa, saíram por cerca de R$ 20 por Cbio.

Apesar dos imprevistos, Caroline aposta neste mercado. "Está claro o potencial de valorização. Além das empresas que precisam comprar Cbios para neutralizar emissões (de CO² e outros gases de efeito estufa), fundos de investimento também têm interesse do papel", diz ela. Os Cbios poderiam ganhar ainda mais força, na avaliação da executiva, com o crescimento do mercado secundário (revenda do papel para terceiros) e regulação do mercado de créditos de carbono no Brasil - que envolve outras ações que capturam gás carbônico da atmosfera, assim como outras empresas que precisam compensar suas emissões. "Os Cbios deveriam ser uma ponta do mercado de carbono", diz.

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Fonte:
Estadão Conteúdo

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