Incêndio na Austrália: governo ordena retirada de 240 mil pessoas
As autoridades australianas enviaram, nesta sexta-feira (10), mensagens de celular a 240 mil pessoas no estado de Victoria recomendando-lhes que estejam prontas para fugir da sua área de residência "assim que recebam a ordem". Apesar de as previsões apontarem para uma queda do vento, a partir de sábado (11), as autoridades antecipam que as próximas horas serão "muito, muito complicadas".
As populações de regiões de alto risco, em Nova Gales do Sul e Austrália do Sul, foram igualmente notificadas para pensarem em abandonar as suas casas, mas não foi revelado quantas pessoas receberam a mensagem.
Shereen e Kim Green, proprietários de três casas e de 50 cabeças de gado nos arredores da cidade costeira de Éden, na Nova Gales do Sul, foram entrevistados enquanto enchiam um tanque com capacidade para mil litros de água.
Atrás deles, o horizonte era só fumaça, enquanto o ar em torno ficava carregado de cinzas empurradas pelos ventos fortes.
"Isto é para apagar focos de incêndio e vamos ficar a pé a noite toda para proteger a nossa propriedade", explicou Shereen, enquanto o seu veículo estremecia sob as rajadas de vento. "Estamos a aproveitar a oportunidade enquanto podemos".
Em Éden, o nível de alerta subiu para atenção e ação na noite de sexta-feira. Sob uma torre de vigia, Robyn Malcom, outro residente, garantiu que "se tudo correr mal, vamos correr para o porto e embarcamos num barco".
Aos jornalistas, o primeiro-ministro, Scott Morrison, revelou que os militares estão de prontidão para agir no terreno, caso as condições de eclosão de incêndio se tornem extremas, sob altas temperaturas e ventos erráticos.
Críticas e protestos
Morrison está ele mesmo debaixo de fogo, após milhares de australianos terem saído à rua na tarde de sexta-feira, contra a estratégia do governo para combater as alterações climáticas.
O primeiro-ministro da Austrália tem rejeitado as críticas e, aos microfones da radio 2GB, mostrou-se desapontado com a relação que as pessoas têm feito entre os recentes incêndios no seu país e os objetivos de redução de gases de estufa.
"Não queremos objetivos e alvos de destruição de empregos, de destruição de economia e de desmantelamento econômico, que não mudarão o fato de que temos incêndios florestais ou coisas dessas na Austrália", afirmou Morrison.
Publicidade
Várias das estradas principais do sudeste australiano estavam fechadas esta tarde, devido à fumaça e às chamas.
Em torno de Sidney, foram as manifestações que bloquearam a circulação automóvel, com pessoas a cantar "ScoMo has to go!" ["ScoMo vai-te embora"]. Houve protestos também em Camberra, capital da Austrália, e em Melbourne, cidades recentemente incluídas na lista dos lugares com pior poluição atmosférica do mundo devido à fumaça dos incêndios.
A ira chegou mesmo à Grã-Bretanha, onde uma centena de pessoas se manifestou junto à sede da Alta Comissão da Austrália, em Londres.
"Estou aqui porque o governo australiano não está a fazer absolutamente nada sobre as alterações climáticas. Pelo contrário, de forma geral negam-no e precisam ser submetidos a pressão intensa", disse Peter Cole, um londrino de 76 anos, erguendo um cartaz que acusa Scott Morrison de "tocar violino, enquanto a Austrália arde".
Outro cartaz chamava Morrison de fossilfool, num trocadilho com as palavras inglesas para combustíveis fósseis.
Horas "muito complicadas"
Daniel Andrews, responsável pelo estado de Victoria, um dos mais afetados pelos incêndos, criticou as manifestações, dizendo que desviam recursos securitários e são inoportunas.
"O senso comum diz-nos que há outras alturas para marcar posição", reagiu Andrews num briefing na televisão. "Respeito o direito das pessoas ao seu ponto de vista, e estou inclinado a concordar com muitos dos pontos referidos - as alterações climáticas são reais - mas há um tempo e um lugar para tudo e não penso de um protesto esta noite seja algo apropriado".
As autoridades do estado estão focadas no evoluir das condições atmosféricas e dos fogos ativos, e na proteção das populações.
"Até com chuva em Melbourne, mesmo com a precisão de melhoria de condições na próximas semana, há ainda um longo caminho a percorrer naquilo que tem sido uma prevalência de incêndios sem precedentes", disse Andrews. "E, claro, sabemos que temos muitas semanas da época de incêndios pela frente", acrescentou.
"As próximas horas vão ser muito, muito complicadas".
Lisa Neville, ministra de Victoria para a Proteção Civil, informou que as comunidades receberam telefones satélite, comida para bebês, alimentos, fraldas e lanternas, para o caso de ficarem isoladas.
Mais 1 grau Celsius desde 1910
Nova Gales do Sul contabilizava ao início da noite de sexta-feira 160 fogos ativos, 46 dos quais sem controle. Dois evoluíam sob o "nível de emergência" e mais oito sob a categoria "atenção e ação". O restante mantinha-se no nível mais baixo de atenção.
No vizinho estado de Victoria contavam-se 36 incêndios, nove deles em nível de emergência. O estado já perdeu 1,3 milhões de hectares para as chamas nos meses recentes.
Numa área de fronteira entre ambos os estados, dois incêndios estavam prestes a se fundir, criando um incêndio de mais de 600 mil hectares.
Desde outubro já morreram 27 pessoas e milhares foram forçadas a fugir, várias vezes, devido a incêndios devastadores, que queimaram mais de 10 milhões de hectares - numa área semelhante à da Coreia do Sul - provocando igualmente a perda de milhares de espécies naturais e uma catástrofe ecológica.
Cientistas do clima alertam que a frequência e intensidade dos incêndios se irá agravar à medida que o continente australiano se tornar mais quente e seco. Desde que há registos (1910), o clima da Austrália aqueceu cerca de 1 grau Celsius, revelou esta semana a cientista da NASA Kate Marvel.
"Isto torna mais prováveis as ondas de alta temperatura e de fogos", tweetou Marvel. "Não há explicações para isto - nenhuma - que faça sentido, além das emissões de gases de estufa", acrescentou.
Incêndios florestais na Austrália diminuem e autoridades reforçam defesas (Reuters)
SYDNEY (Reuters) - Incêndios florestais diminuíram na Austrália neste sábado, após uma noite cansativa para os bombeiros, e as autoridades esperam aproveitar pelo menos uma semana de clima mais ameno para intensificar as defesas contra as enormes chamas que permanecem queimando.
Temperaturas mais baixas e a chuva amenizaram as condições, depois de forte mudança do vento na sexta-feira que atingiu rajadas de mais de 100 km/h, provocando alguns incêndios na costa leste até o nível de alerta de emergência.
A pausa tão necessária é uma oportunidade para consolidar e tentar controlar os incêndios, disse Shane Fitzsimmons, comissário do Serviço de Bombeiros de Nova Gales do Sul.
"Parece que temos pelo menos uma semana", afirmou Fitzsimmons em entrevista à imprensa. "Provavelmente serão os melhores sete dias, sem um aumento nas classificações de incêndio muito perigosas".
A polícia de Nova Gales do Sul disse em comunicado que as áreas não afetadas pelos incêndios na costa sul --um popular destino de férias--, estão em condições de reabrir os negócios, embora os parques nacionais vão permanecer fechados até 1º de fevereiro.
As autoridades pedem aos turistas estrangeiros que continuem visitando a Austrália, que depende da renda do turismo, já que a indústria responde por 3,1% do produto interno bruto do país.
Desde outubro, 27 pessoas morreram na Austrália e milhares foram obrigadas a sair de casa, devido a incêndios enormes e imprevisíveis que queimaram mais de 10,3 milhões de hectares --uma área aproximadamente do tamanho da Coreia do Sul.
0 comentário
Desmatamento na Amazônia cai 30,6% em um ano
Medida provisória destina R$ 938 milhões para ações de combate à seca e a incêndios florestais
Governo brasileiro lança plataforma para acelerar investimento sustentável
De Oktoberfest a Shows, Tereos conecta campo e cidade através da sustentabilidade de grandes eventos
Após pressão do setor produtivo, União Europeia pede adiamento da lei antidesmatamento
Brazil Climate Summit: empresas apresentam propostas para restauração florestal brasileira