Conheça três tecnologias para otimizar a logística do setor sucroenergético
As operações do agronegócio vão muito além do plantio e da colheita, envolvendo uma grande cadeia produtiva — compra e distribuição de suprimentos, armazenamento de produtos, movimentação de matéria-prima, transporte para indústrias ou consumidores, entre outros processos. Nesse cenário, uma boa logística é indispensável, considerando que quase todos os produtos do setor dependem de condições específicas.
A cana-de-açúcar, por exemplo, tem uma grande associação com a indústria, que consome a matéria-prima para chegar ao produto final, como o açúcar e o álcool. “Como ela pode perecer e sofrer contaminação, é preciso entregá-la o mais rápido possível para a indústria. Ou seja, para manter a qualidade do produto e evitar desperdícios, é necessário ter agilidade, diferente do que acontece com o transporte de grãos, por exemplo, que é menos crítico”, explica Alexandre de Alencar, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da divisão de Agricultura da Hexagon — empresa que desenvolve e fornece tecnologias para o campo e está envolvida nos processos de 46% da produção nacional de cana-de-açúcar.
Com um bom planejamento logístico, também é possível levar uma quantidade maior de matéria-prima em menor tempo, de maneira eficiente e econômica. “Isso é essencial, sobretudo no Brasil, onde ainda dependemos muito do modal rodoviário para o transporte de cargas”, comenta Alexandre. Segundo pesquisa da Fundação Dom Cabral, cerca de 75% de todo produto transportado no país é carregado por rodovias.
Nesse contexto, contar com o apoio de tecnologias avançadas para aprimorar a logística nas operações sucroenergéticas é uma ótima alternativa para produtores e gestores que querem garantir aumento na produtividade e nos lucros. Confira três processos que podem ser otimizados nessa área com uso de soluções inovadoras:
Sincronização das operações no campo
Ainda na fazenda de cana-de-açúcar, já é possível otimizar a logística com tecnologias para o ciclo local de atividades, como a alocação dinâmica de transbordos. A ideia é sincronizar o ritmo de corte das colhedoras com a movimentação dos transbordos. “O sistema prevê quando o transbordo em uso atingirá seu limite e, a partir disso, chama de forma automática e otimizada um novo trator. O transbordo cheio, por sua vez, vai descarregar a matéria-prima no caminhão de transporte e retomar a fila para atender as colhedoras em ação”, aponta o diretor de P&D da divisão de agricultura da Hexagon.
A escolha do equipamento que atenderá o chamado leva em consideração critérios como a distância entre a colhedora e os transbordos, posicionamento e orientação das máquinas, tamanho da fila etc. A sincronização é feita por meio de comunicação máquina a máquina (M2M) entre frente de trabalho e fila de transbordo.
Segundo Alexandre, “esse tipo de tecnologia impede que a colhedora interrompa o corte da cana-de-açúcar, reduz o tempo de espera por um novo transbordo para continuidade da operação e ajuda na padronização da tomada de decisão entre todas as frentes de trabalho. Sem contar que, com os dados gerados, é possível otimizar a gestão das frotas”.
Os ganhos são ainda mais significativos quando comparados com uma operação manual, que fica dependente da experiência dos operadores e à mercê de falhas de comunicação, podendo gerar até acidentes por colisão entre veículos. Há registros de redução de até 20% no número de transbordos necessários em uma safra com a adoção desse tipo de operação semi automatizada.
Otimização de transporte entre máquinas e caminhões
Com a finalização do ciclo local de logística, inicia-se a sincronização entre as máquinas agrícolas e os caminhões que farão o transporte da cana-de-açúcar para as usinas. O desafio solucionado por sistemas tecnológicos, nesse caso, é organizar as rotas para que não haja desperdício de tempo.
“Um software trabalha para que o caminhão chegue na frente de trabalho na hora ideal. Isto é: nem atrasado, pois isso faria com que as colhedoras precisassem parar o corte para aguardar o esvaziamento dos transbordos, e nem antes da matéria-prima estar disponível para ser carregada, pois isso significaria ficar parado esperando pela cana”, explica Alexandre.
Esse sistema também cuida da otimização de transporte para que o direcionamento do despacho dos caminhões seja realizado da melhor maneira. Para isso, diversos fatores são levados em consideração, tais como: o número e a velocidade das colhedoras, o ritmo de corte da cana-de-açúcar, se há algum trator quebrado, o tempo médio das viagens, a disponibilidade de caminhões, os horários de trabalho dos motoristas, e assim por diante.
“A tecnologia funciona por meio de um algoritmo inteligente que analisa todos esses dados e indica o melhor destino para despacho do caminhão, de acordo com a capacidade de entrega das fazendas. Ao final do dia, a ideia é ter conseguido transportar o máximo possível de matéria-prima com o menor número de locomoções”, reforça Alexandre. As maiores usinas chegam a despachar até 800 viagens por dia — qualquer ganho percentual nessa otimização de transporte já resulta em um aumento significativo na eficiência da operação como um todo.
Rastreamento de matéria-prima até a indústria
O retorno dos caminhões com matéria-prima para a indústria é outra fase da logística que pode ser otimizada com auxílio da tecnologia. Uma das principais soluções, nesse caso, é o rastreamento de matéria-prima, que serve para registrar a origem e o percurso da cana-de-açúcar, do campo até a usina.
“Antigamente, isso era feito com apontamentos manuais e etiquetas de identificação. Mas imagine no cenário de uma área de produção gigante, com centenas de máquinas trabalhando em atividades intensas de deslocamentos e transferências de matéria-prima no mesmo dia. É muito fácil se perder nesse rastreio”, comenta o diretor de P&D. No processo automatizado, o rastreamento é feito por meio de recursos de comunicação avançados — primeiro, passando as informações dos displays das colhedoras para os dos tratores transbordos durante o processo de corte, depois desses para as carretas e caminhões na operação de transbordamento, e por fim, desses últimos para o sistema de recepção quando da chegada na indústria.
Dados como ID dos equipamentos e dos operadores das máquinas, acompanhados de detalhes completos da telemetria da colheita, são disponibilizados pela solução. “Hoje, essa rastreabilidade é fundamental para um diagnóstico de produtividade: sabendo exatamente de qual área do talhão veio aquela cana, é possível verificar se o investimento feito e as técnicas aplicadas geraram resultados ou não, o que ajuda a gestão a definir as estratégias para a próxima safra”, explica Alexandre.
Esse rastreamento também é válido se pensarmos na busca por certificações de qualidade, já que torna possível comprovar o rastreamento completo da matéria-prima utilizada desde o histórico de plantio e tratos culturais aplicados, até sua colheita e lote de processamento na indústria, por exemplo. “Além disso, no caso de trabalho com terceiros, é possível realizar o pagamento com a confiança de que a carga recebida veio exatamente do local registrado”, afirma o diretor da divisão de Agricultura da Hexagon.
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