Caos Logístico: Congestionamento nos portos do mundo, falta de contêineres e vagões aprofundam disrupção nas cadeias de suprimentos
As discussões cada vez mais frequentes sobre os atuais cenários de escassez de insumos e, consequentemente, sobre o processo inflacionário que se registra no mundo todo também chamam atenção para a crise logística, com congestionamentos em portos ao redor do globo. De acordo com a jornalista internacional especialista em commodoties Karen Braun, somente nos terminais do porto de Xangai, na China, o número de navios aguardando atracação aumentou 34% em relação ao mês passado.
"Os lockdowns por conta da Covid-19 na China pioraram os problemas da cadeia de suprimentos global. Estima-se que um quinto da frota mundial de navios porta-contêineres esteja preso no congestionamento de portos não só da China", explica Karen.
A imagem abaixo, disponibilizada pela especialista, da empresa Refinitiv Eikon, mostra o congestionamento de embarcações de todos os tipos, incluindo graneleiros e porta contêineres. A costa da China é uma das mais congestionadas, se não a mais.
A imagem seguinte é a que refere-se aos navios carregando grãos e é possível observar a enorme concentração deles na costa chinesa.
Assim, todo esse caos e essa considerável reduçao na eficiência logística marítima no mundo todo também entra na conta do andamento das cotações das commodities agrícolas nos mercados internacionais. No mercado de café, o problema já vinha se mostrando preocupante desde meados de 2020, quando os surtos de coronavíruas ainda nem tinham se espalhado pelo mundo todo.
A semana vai se encerrando com um forte sentimento de aversão ao risco, segundo avalia o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, e parte desse sentimento tem sido, há meses, alimentado por esses atrasos e incertezas logísticas que seguem se agravando.
"A China segue empacada com sua política zero-covid, setor de serviços na China sob forte pressão, empresas pensando em sair do país e 25% dos containers do mundo parados, deixando as cadeias de suprimentos cada vez mais estressadas", diz.
A fotografia já é preocupante e ainda tem espaço para altas de juros pelo Federal Reserve nos EUA, além de "taxas de juros das hipotecas nos EUA subindo forte, custos das empresas subindo e consequente aperto nas margens, empresas de TI entregando lucros menores que o esperado, sanções sobre a Rússia não têm surtido os efeitos esperados, petróleo perto de $110 o barril. Enfim, é muita notícia ruim para um mês só. Muito difícil, com todo esse sentimento, os grãos ficarem de fora", complementa.
Ao lado das commodities agrícolas todas que estão paradas nesses porta-contêineres ou graneleiros, há ainda matérias-primas para que esses produtos possam ser produzidos e, neste momento, o problema mais grave é entre os fertilizantes. A entrega dos adubos tem se mostrado comprometida em diversos países-chave na produção agrícola global, entre eles a China - também pela política de tolerância zero contra o coronavírus - e os Estados Unidos.
"Estão falando que a entrega de sementes de soja e químicos está muito lenta, o que pode favorecer o plantio do milho. A CF Industries, voltou a comentar que será um grande desafio a entrega de fertilizantes para os produtores americanos nesse ano. A falta de vagões, o maior tempo de espera nos pátios e a redução geral da eficiência das ferrovias americanas seriam as justificativas", afirma Vanin.
O que se observa nestes primeiros meses de 2022 é resultado do choque de disrupção que a pandemia trouxe ao mundo nos últimos dois anos. Atualmente, são mais de 40 cidades em lockdowm na nação asiática.
"Para as cadeias globais esses últimos dois anos na China têm sido um purgatório. Falta de componentes, atrasos de recebimento e envio de cargas, falta de caminhões, extravio de cargas, cargas perecíveis sendo perdidas, custos maiores e sistemas de "produção em bolha". Sucessivos lockdowns, falta de energia, novas leis anti-poluição, novas leis anti-especulação, falta de caminhões e incapacidade de repasse de custos para empresas que atendem o mercado interno. Segundo a Câmara Europeia de Comércio, muitas empresas estão pensando em sair da China", detalha o analista da Agrinvest.
A crise logística também sente os impactos de 70 dias de guerra entre Rússia e Ucrânia. E uma manchete da agência de notícias Bloomberg, mostra que o próximo possa ser o conflito chegando, efetivamente, ao Mar Negro, o que pode comprometer ainda mais a chegada e saída de produtos pela região.
"Os russos parecem dispostos a cortar a economia ucraniana do acesso ao mar – essencialmente recriando a estratégia Anaconda que o presidente dos EUA, Abraham Lincoln, usou no século XIX para sufocar a Confederação.
Mas o sucesso russo dificilmente é garantido, pois os ucranianos estão se mostrando tão surpreendentemente robustos no mar quanto em terra, já realizando um punhado de combates bem-sucedidos contra as forças navais da Rússia", reportou a Bloomberg.
Com a logística divindo espaço no radar dos traders e trazendo preocupações que são, portanto, crescentes, a aversão ao risco se faz, realmente, bastante presente. Somente nesta sexta, depois de uma semana completamente volátil e intensa, os futuros da soja e do milho fecharam o pregão desta sexta com perdas expressivas, lideradas pela soja. A oleaginosa encerrou seus negócios na Bolsa de Chicago perdendo mais de 23 a 25,75 pontos, levando o julho a US$ 16,22 e o agosto a US$ 15,71 por bushel. No milho, as perdas foram de 11,50 a 17,75 pontos, com o julho sendo cotado a US$ 7,84 e o setembro, US$ 7,42.
Ainda na CBOT, cederam o farelo e o óleo de soja, também depois de terem registrado uma semana de muita volatilidade. Na Bolsa de Nova York, o algodão e o café despencaram mais de 3%. O petróleo, seguindo seus fundamentos, fechou em campo positivo. A oferta restrita ainda é uma preocupação do mercado - o que mantém os fretes marítmos e todos os demais em patamares bastante elevados, além de outras variáveis - apesar da demanda da China - em função da continuidade dos lockdowns ainda gerar certa incerteza.
De outro lado, somente frente ao real, somente nesta sexta-feira, o dólar subiu mais de 1%, levando a moeda americana aos R$ 5,08.
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Renato Santi Locatelli Alvorada do Sul - PR
O golpe tá aí,cai quem quer... Já se viu esse filme -- congestionamento sempre teve devido ao alto volume de importação e exportação da china. O que se tenta neste momento e desvalorizar as commodites devido à sua alta dependência por alimentos. Não se iludam, os chineses não são bobos não, e jogam sujo pra poder manter seu abastecimento interno a qualquer custo.
Política neoliberal é ficar dependente de quem produz mais barato. Compram soja barata, importam minério de ferro barato e vendem para nós produtos industrializados e tecnologia. É o que sabem fazer. O povo deles tem trabalho mas vivem sob exploração.