Disponibilidade ainda limitada de soja no Brasil provoca altas comedidas nos fretes
As principais regiões produtoras de grãos do Brasil já começam a sentir um aumento nos preços fretes, na medida em que a colheita da soja avança. O aumento, porém, ainda é comedido e os valores se mostram menores do que o no mesmo período do ano passado com o "pico da safra", de soja, principalmente, ainda não foi alcançado.
Como explicou o pesquisador da ESALQ-Log, Abner João, esse movimento de altas começou a ser registrado na última semana de janeiro, principalmente no Mato Groso, que é o estado onde a colheita da oleaginosa, tradicionalmente, se inicia. E embora as referências ainda se mostrem abaixo do mesmo intervalo do ano passado, "a tendência é de que haja um aumento semana a a semana", diz João.
Ainda segundo o pesquisador, o que ainda limita altas mais expressivas é essa menor disponibilidade de grãos que ainda é sentida no Brasil diante do atraso na colheita da temporada 2019/20 motivado pelas adversidades climáticas. "Em 2019, a colheita no começo do ano, e até mesmo no final de dezembro (de 2018), já foi forte, em 2020 tem sido bem diferente. Esperamos que o pico aconteça em março este ano e em 2019 foi em fevereiro".
Segundo relata o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, em Mato Grosso, Tiago Stefanello, os preços na região ainda não apresentam grandes alterações e o fluxo dos fretes está normal para o período. Mais do que isso, confirma estes valores ainda menores do que os de 2019 em função de uma oferta limitada se comparada a do ano passado, nessa mesma época.
O gráfico a seguir, do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), mostra o comportamento da relação frete de Sorriso a Santos e dos preços da soja na mesma cidade:
"Mas no pico da safra, os preços do frete sempre sobem, é natural. Além disso, os produtores já estão com a safra bem vendida", explica Stefanello. De acordo com dados do portal do sindicato, o frete de Sorriso para Paranaguá tem preço médio de R$ 280,00 por toneladas, enquanto para Santos vai a R$ 300,00.
Por outro lado, no Oeste do Paraná, os valores subiram de forma substancial nos últimos 30 dias, como explica o economista e analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais. "Os fretes que estavam entre R$ 60,00 e R$ 70,00 do interior para o porto de Paranaguá hoje estão casa de R$ 120,00 a R$ 130,00. E esta elevação acaba limitando a formação dos preços (da soja) no interior", diz.
Ainda assim, afirma também que mesmo com essa mudança, os preços se mantêm firmes e sustentados, principalmente pelo dólar. "O grande fator de alta, neste momento, é câmbio", completa Motter. Depois dos ajustes do final da última semana, com a intervenção do Banco Central, a moeda americana voltou a subir neste início de semana e opera a R$ 4,32 na tarde desta segunda-feira (17), por volta de 15h (Brasília).
FRETES X AVANÇO DA COLHEITA
A atualização da ARC Mercosul sobre a colheita brasileira de soja até a última sexta-feira (14) mostrou que os trabalhos foram concluídos em 27,4% da área e que o índice superou a média histórica pela primeira vez nesta safra somente na última semana. O gráfico abaixo é de autoria da ARC e ilutsra os avanços, que na última semana foram de mais de 11 pontos percentuais.
Da mesma forma, a consultoria afirma ainda que o Brasil já tem 10,05 milhões de toneladas de soja comprometidos com as exportações, o que representa uma alta de 16% sobre o mesmo período de 2019, como também mostra o gráfico a seguir.
"O mercado da soja, nesta nova semana, deverá trazer novas negociações, porque a colheita avança e, assim, mais produto chegará aos armazéns, devendo estimular os fechamentos, o que é motivado ainda por indicativos do momento ainda favoráveis e insumos com boa relação de troca frente à soja. Isso pode ser argumento para que os negócios andem em bom ritmo", acredita Vlamir Brandalizze.
Para o consultor da Brandalizze Consulting, o Brasil já tem cerca de 55 milhões de toneladas da nova safra de soja vendidas, com potencial para exportações deste ano chegando a 75 milhões. A Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) estima as vendas externas do país em 73,5 milhões.
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