Porto cubano financiado pelo BNDES vai beneficiar concorrentes do Brasil
A Revista Época divulgou recentemente documentos secretos do Itamaraty mostrando como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvaintermediou negócios da empreiteira Odebrecht em Cuba. O principal deles foi o financiamento da construção do Porto de Mariel. Depois da publicação da reportagem, o Instituto Lula declarou que o ex-presidente sente “orgulho” de trabalhar para “ampliar mercados para o Brasil e para as empresas brasileiras”, e chamou o Porto de Mariel de “estratégico”. No sentido de contribuir para o debate elevado sobre o Porto de Mariel, especialistas foram questionados se financiar sua construção foi um bom negócio. A opinião geral é que o porto é de utilidade duvidosa para incrementar nossas exportações. E, ao contrário, facilita a vida de nosso principal concorrente, os Estados Unidos.
Seria, se fosse operado por brasileiros ou se ajudasse a abrir o mercado externo para as commodities brasileiras. Não é o caso. Toda a operação do porto será feita por uma empresa de Cingapura, escolhida pelo governo cubano. “Faltou ao governo agir para que ganhos posteriores fossem garantidos. Mais obras e a operação do porto, por exemplo”, afirma Leonardo Paz, coordenador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais.
Sobre a exportação de commodities, as empresas brasileiras não usarão Cuba como um entreposto para exportações para os Estados Unidos. “O Brasil não precisa dessa porta de entrada para chegar aos americanos”, diz Lia Valls, professora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas. Para Carlos Cogo, consultor em agronegócio, o Brasil já começa a perder competitividade na exportação de arroz, um dos três principais itens do comércio com os cubanos, justamente por causa do porto, que facilitou a entrada da produção do Estado americano da Louisiana. “E vamos perder espaço também na soja e no frango, um por um. O Brasil passa dificuldade e ainda fez obras de infraestrutura para beneficiar nosso principal concorrente comercial em Cuba. Fico chocado com isso”, diz Cogo.
Quando, por decisão da Justiça, caiu o sigilo nas operações do BNDES, comprovou-se que os desembolsos a Cuba para obras no Porto de Mariel tiveram condições mais vantajosas do que os financiamentos a outros países. A ilha terá 25 anos para devolver o dinheiro, o dobro da média, a taxas menores do que em outros negócios. O banco afirma que o financiamento “está em linha com as características do projeto” e que a concessão foi baseada em critérios técnicos. Marcos Lisboa, Pedro Makhoul e Sérgio Lazzarini, do Insper, calculam que os empréstimos a Cuba nos projetos tocados pela Odebrecht custem US$ 49 milhões por ano ao país. É quanto o Brasil perde por emprestar a taxas camaradas, em média de 5,2% ao ano em 25 anos, ou 6,59 pontos percentuais abaixo da taxa que o Tesouro capta no mercado, no mesmo prazo. “Não há justificativa para financiar esse porto com subsídios pagos pelos brasileiros. Os prazos são longos demais. O BNDES diz que tivemos ganho em dólar, mas foi exclusivamente porque o dólar se valorizou – e não é papel do BNDES ganhar com operação cambial. O banco também alega que temos de ter taxas competitivas no mercado externo. Mas por que essa competição, se ela tem um custo alto para os brasileiros?”, diz Sérgio Lazzarini.
Leia a notícia na íntegra no site da Revista Época.
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