Gripe aviária em vacas leiteiras nos EUA: mais perguntas do que respostas
Desde o final de março deste ano, casos confirmados de contaminação em rebanhos de vacas leiteiras por influenza aviária de alta patogenicidade vêm sendo anunciados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Desde a confirmação em uma propriedade no Estado do Texas, no dia 25 de março até agora, são 12 propriedades espalhadas pelo país norte americano que registraram casos da doença em bovinos de leite: 7 propriedades no Texas, duas no Kansas, uma em Michigan, uma no Novo México e uma em Idaho.
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Segundo informações do USDA, na segunda-feira, 25 de março, amostras clínicas de leite não pasteurizado de gado doente foram coletadas de duas fazendas leiteiras no Kansas e uma no Texas, bem como coleta de amostras com swabs na laringe de vacas de outra fazenda leiteira no Texas, que testaram positivo para influenza aviária altamente patogênica. Testes adicionais foram iniciados anteriormente, ainda na sexta-feira, 22 de março, e no fim de semana porque nestas fazendas também houve relato de terem sido encontradas aves selvagens mortas. Com base nas descobertas do Texas, as detecções parecem ter sido introduzidas por aves selvagens.
Fabio Vannucci, professor associado na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, e integrante do laboratório de diagnóstico veterinário (em especial suínos e bovinos), parte da rede que faz colaboração com o trabalho do USDA, destaca que ainda há investigações sendo feitas e dúvidas sendo respondidas sobre estes casos.
Na linha do tempo, Vannucci explica que desde o final de 2023 alguns casos clínicos em vacas leiteiras vinham sendo reportados, com sintomas de diminuição da produção de leite, apetite, diarreia, leite com aspecto mais consistente que o normal, e febre. A diarreia, especificamente ocorrendo no período de inverno, gerou a suspeita inicial de “disenteria de inverno”, algo relativamente comum para gado, segundo Vannucci.
“As investigações deram negativo para essa enfermidade, e não se sabia ao certo o que estava acontecendo. Em fevereiro/março, foram feitos testes no leite das vacas para a gripe aviária de alta patogenicidade. Chamou a atenção que nestas propriedades onde havia a doença, existia uma grande quantidade de aves que, invariavelmente, acabavam bebendo da água do gado e acabavam defecando por ali. Os casos foram corroborados com aspectos mais gerais, como a presença de aves migratórias contaminadas com o vírus da influenza aviária nas propriedades”.
Para Vannucci, a contaminação em gado de leite, por si só, já é algo surpreendente. Mas mais surpreendente ainda, para ele, é o fato de que a carga viral no leite era muito maior do que nas amostras colhidas com swabs nas narinas ou na laringe dos animais. Ele comparou com casos de gripe aviária na Califórnia, nos quais a carga viral encontrada nos ovos e nos ovidutos das galinhas era maior do que as amostras coletadas com swabs nas laringes.
De acordo com Luizinho Caron, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, o vírus também pode atingir o tecido epitelial dos animais contaminados, chegando às glândulas (excretoras, no caso das aves e mamárias, no caso das vacas).
PROTOCOLOS
Casos de gripe aviária altamente patogênica em granjas comerciais têm um protocolo de biosseguridade a ser seguido, tanto para prevenção da entrada do vírus nas granjas como a erradicação do patógeno, com o abate dos animais, sanitização e vazio sanitário dos galpões. Entretanto, no caso do gado leiteiro, ainda não há um procedimento estabelecido, de acordo com Vannucci.
“O que está sendo discutido aqui é que não há um protocolo ainda para como agir quando o vírus acomete os bovinos (abater, fechar a propriedade, por exemplo). Estamos tentando entender a extensão dessas detecções, se existem mais focos ou se os animais contaminados estão sendo movimentados e levando o vírus para outras localidades. O que se tem e que ainda é bem primitivo, é que se for mover os animais de uma região infectada, é colocar os animais em observação, mas não se sabe ainda por quanto tempo”, diz o professor da Universidade de Minnesota.
Vannucci destaca que é recomendável que trabalhadores em fazendas tomem medidas de biosseguridade, como óculos de proteção, máscara, luvas, para evitar o contágio. “Uma das primeiras hipóteses foi a transmissão de animal para animal, e aí, sem dúvida, quando se há caso em humano, e é trabalhador, pode ser que o leite cru possa ser uma via de contaminação. O leite pasteurizado é seguro”, finalizou.
CASO EM HUMANO
Na segunda-feira (1º de abril), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), confirmou que um homem testou positivo para o vírus da gripe aviária altamente patogênica A(H5N1). O paciente, segundo o CDC, teve contato com gado leiteiro no Texas, supostamente infectado com o vírus. O homem desenvolveu uma conjuntivite e foi orientado a se isolar e fazer uso de medicamento antiviral para gripe.
“Exposições próximas ou prolongadas e desprotegidas a aves ou outros animais infectados (incluindo gado), ou a ambientes contaminados por aves ou outros animais infectados, correm maior risco de infecção. O CDC está trabalhando com os departamentos estaduais de saúde para continuar monitorando os trabalhadores que possam ter estado em contato com aves/animais infectados ou potencialmente infectados e testando as pessoas que desenvolvem sintomas”, informou o CDC.
Ainda segundo o órgão de saúde norteamericano, esta é a segunda pessoa com teste positivo para o vírus influenza A(H5N1) nos Estados Unidos. Um caso humano anterior ocorreu em 2022 no Colorado. “As infecções humanas por vírus da gripe aviária A, incluindo o vírus A(H5N1), são incomuns, mas ocorreram esporadicamente em todo o mundo. O CDC tem monitorado doenças entre pessoas expostas a aves infectadas pelo vírus H5 desde que os surtos foram detectados pela primeira vez em aves selvagens e aves de criação dos EUA no final de 2021. As doenças humanas com gripe aviária H5N1 variam de leves (por exemplo, infecção ocular, sintomas respiratórios superiores) a doenças graves (por exemplo, pneumonia) que resultaram em morte em outros países”, aponta o CDC.
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