Cacau: Sequência de quebras nas safras africanas mantém preços elevados, acima dos US$ 10 mil/t em 2025

Publicado em 06/01/2025 10:56 e atualizado em 06/01/2025 11:59
Commodity foi a que mais se valorizou no último ano; mercado segue complexo e volátil

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O cacau encerrou 2024 como a commodity mais valorizada do ano, atingindo o preço recorde de US$12.565 por tonelada na Bolsa de Nova York, representando uma alta anual de aproximadamente 300%. Essa valorização reflete um cenário desafiador, marcado por quebras sucessivas na produção de países africanos, os principais fornecedores globais. Essa situação tem pressionado os estoques e agravado o desequilíbrio entre uma oferta limitada e uma demanda crescente. A volatilidade deve persistir em 2025, com clima instável e a disseminação de doenças em cacaueiros africanos como fatores de risco principais. Esse contexto levanta dúvidas sobre a sustentabilidade de preços tão elevados a longo prazo.

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Ao longo de um ano, a volatilidade do contrato do cacau foi de cerca de 300%

Assim como as demais commodities, o mercado de cacau está intrinsecamente ligado às dinâmicas de oferta e demanda. Contudo, o produto tem sido moldado por um cenário atípico, impactado por fundamentos econômicos, especulação e dinâmicas financeiras. Essas forças combinadas criaram um ambiente instável e imprevisível, desafiando previsões de estabilização e indicando que o futuro da commodity dependerá de uma complexa combinação de fatores econômicos e climáticos.

“O mercado futuro de cacau, negociado na Bolsa de Nova York, desempenhou um papel crucial nas distorções observadas em 2024. A extrema volatilidade levou à liquidação de posições de muitos agentes e à redução no número de contratos abertos, que atingiu o menor patamar em mais de uma década. Essa retração foi agravada por elevações nas margens exigidas pela bolsa para operar contratos, refletindo o aumento do risco percebido. Além disso, a baixa relação entre estoque e demanda ampliou a volatilidade, algo comum em mercados de commodities com estoques reduzidos,” explica Rafael Machado Borges, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“O mercado precisou se proteger contra os preços elevados, mas muitos contratos de hedge foram fechados com valores mais baixos, impactando negativamente os balanços das indústrias. Para os produtores, embora a alta pudesse gerar margens melhores, a oferta limitada restringiu esses ganhos. Além disso, a inadimplência nas entregas aumentou, com o contrabando ganhando força na África. Alguns produtores optaram por negociar no mercado negro para obter preços mais altos,” aponta Alê Delara, Sócio-Diretor da Pine Agronegócios.

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Embora a curva futura sinalize uma possível estabilização, a continuidade de déficits na safra 2024/25 pode sustentar os preços acima de US$10 mil por tonelada por um período prolongado. As condições climáticas na África desempenharão um papel crucial nesse movimento, já que algumas regiões enfrentaram chuvas excessivas entre outubro e novembro, enquanto outras sofreram com a seca.

"Relatos indicam que a contagem de vagens de cacau nas árvores atingiu o menor nível em décadas. Essa instabilidade climática pode ter comprometido a produção, aumentando o risco de escassez na safra intermediária, prevista para abril. Apesar disso, os embarques aos portos permanecem favoráveis, alinhados aos volumes registrados na safra anterior," destaca Borges.

“Particularmente eu acredito numa oferta bem abaixo das expectativas apontadas em meados de 2024, deixando o quarto ano consecutivo com déficit no balanço da commodity. As entregas nos portos aumentaram no final do ano passado, o que é comum devido a sazonalidade, porém, árvores muito velhas, doenças, falta de mão de obra, condições climáticas adversas como foi o excesso de chuvas para a safra principal e a seca para a próxima safra intermediária, acabaram reduzindo o volume total da safra”, complementa Delara.

Além das questões agronômicas, o cenário atual do mercado de cacau reflete mudanças estruturais acumuladas ao longo dos últimos anos, uma vez que, durante décadas, os preços desse mercado oscilaram entre US$2 mil e US$3 mil por tonelada. Essa estabilidade desestimulou investimentos e resultou em quedas na produtividade e na área plantada em vários países. Entretanto, a recente sequência de déficits e a escalada de preços reacenderam o interesse por novas áreas de plantio e projetos de renovação.

"A realidade atual afeta de forma distinta produtores e consumidores. Para os produtores, há maior incentivo para investir, mas as doenças continuam sendo um grande desafio, especialmente no Brasil e no oeste africano, regiões onde o cacau é altamente suscetível a pragas e enfermidades", explica Rafael Machado Borges, analista da StoneX.

Do lado dos consumidores, a alta nos preços gerou estratégias para mitigar impactos. Indústrias estão ajustando fórmulas, reduzindo a quantidade de cacau em produtos e adotando novos posicionamentos de marketing. O objetivo é minimizar o repasse de custos ao consumidor final e preservar a competitividade.

“Há uma máxima no mercado de commodities que fiz que preços altos destroem a demanda, porém, antes que isso ocorra, o mercado físico se ajusta através dos diferenciais de base, repassando preços aos consumidores ou, em último caso, absorvendo um custo mais alto para não perder Market Share e vimos os três fatores no último ano”, analisa Delara.

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Por:
Ericson Cunha
Fonte:
Notícias Agrícolas

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