Exportadores de frutas buscam ambiente propício para crescimento e geração de renda no semiárido brasileiro
Os desafios encontrados pelo setor produtivo de frutas para ampliar a competitividade no comércio internacional e a eficiência da produção e das instalações portuárias na região Nordeste foram termas abordados em webinar realizado pelo Fórum Nacional Brasil Export nesta terça-feira, dia 16. A fruticultura ocupa aproximadamente 2,5 milhões de hectares no território brasileiro, gerando pelo menos 5 milhões de empregos diretos, mas sofre com a falta de políticas públicas direcionadas para o setor. Parte dessa força de trabalho está em áreas carentes de iniciativas geradoras de riqueza, como o semiárido brasileiro. O presidente do Conselho do Nordeste Export, Aluísio Sobreira, ressaltou que as exportações de frutas geralmente ficam em segundo plano no debate nacional, em detrimento do complexo soja e milho, mas que há grande potencial de multiplicar os negócios envolvendo a fruticultura na região.
O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Eduardo Brandão, lamentou que embora seja o terceiro maior produtor de frutas do mundo, o Brasil exportou apenas 3% do que produziu em 2018, ocupando a 23ª posição entre os países exportadores. Há espaço, portanto, para aumentar o envio da produção ao exterior. Brandão disse confiar na tendência de expansão e citou o aumento do plantio no Piauí e a busca de empresários por áreas na região do Parnaíba. Ele também anunciou a abertura de tratativas com a China para a exportação de abacate avocado e limão tahiti. “Mas precisamos de condições logísticas para as frutas chegarem lá com qualidade. O salto de emprego e renda nas regiões onde se produz é enorme”.
União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos concentram mais de 80% das exportações de frutas pelo Brasil. O diretor-executivo da Abrafrutas citou como principais entraves para abertura de novos mercados barreiras fitossanitárias, falta de fiscais suficientes em portos e aeroportos, ausência de políticas públicas de incentivo às exportações e dificuldades relativas a questões tarifárias, especialmente pela obrigatoriedade em firmar acordos com outras nações em conjunto ao Mercosul.
O Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, é o principal porto exportador de frutas no País, localizado estrategicamente próximo ao polo produtor de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Entre os principais trunfos do Complexo, destacou o gerente de Negócios Portuários, Raul Neris Viana, estão duas linhas marítimas regulares operadas pela Mediterranean Shipping Company (MSC), duas câmaras frigoríficas destinadas à vistoria das frutas por órgãos anuentes, grande quantidade de plugs para os contêineres reefers, gate dedicado e a profundidade natural do Porto, uma instalação offshore que evita custos com dragagem. “Somos o último porto em escala para Estados Unidos e Europa nas duas linhas da MSC, oferecendo um curto tempo de trânsito e atendendo a um novo mercado no Oriente Médio através de conexão com o Porto de Valência [na Espanha]”.
O complexo portuário cearense movimentou 18.100.767 toneladas de cargas entre janeiro e dezembro de 2019, resultado 5% superior em comparação com o ano de 2018. De acordo com Viana, as instalações do Pecém podem movimentar, no momento, até 25 milhões de toneladas ao ano. Essa capacidade operacional, disse o gerente aos conselheiros do Brasil Export, deve ser ampliada ainda em 2020. As obras de uma nova ponte de acesso, de um novo berço de atracação e de uma esteira transportadora adicional já estão finalizadas, necessitando de licenças e de ritos burocráticos para determinar o início de operações. A diretoria do Complexo espera inaugurar os equipamentos no segundo semestre. O Porto de Roterdã, na Holanda, o mais movimentado na Europa, detém 30% das ações do empreendimento no litoral do Ceará, tendo direito a indicação para a diretoria e para o Conselho de Administração de Pecém, incluindo a gestão compartilhada da área industrial e da Zona de Processamento de Exportação (ZPE).
O gerente da MSC em Fortaleza, Daniel Soares, comunicou aos participantes da videoconferência que a companhia utilizará, pela primeira vez, embarcação com capacidade acima de 10 mil TEUs para transportar as exportações de frutas na próxima safra a partir do Complexo do Pecém. Há três anos a empresa realiza operações no porto cearense enviando, especialmente, a produção de melão e melancia cultivada em Mossoró. Ele explicou que o desafio na prestação do serviço é bastante peculiar, com período concentrado de embarques, necessidade de operar no limite da capacidade navios, espaços e equipamentos.
O primeiro serviço regular oferecido pela MSC voltado à exportação de frutas no Complexo do Pecém foi para o Norte da Europa, conectando o empreendimento cearense com grandes portos como Roterdã, Hamburgo e Antuérpia. Em 2019 foi inaugurada a linha destinada a portos da Itália e da Espanha.
Marcelo Grabois Gadelha, diretor de Exportação da Vita+, relatou trabalhar com a exportação de frutas desde 1990 e ter o privilégio de ver a evolução das operações, desde quando as frutas eram armazenadas em porões, e não em contêineres refrigerados. Segundo ele, as margens financeiras para a exportação de frutas são muito pequenas, o que aumenta a pressão pela eficiência de toda a cadeia logística para o sucesso no comércio internacional.
Conhecedor da região, ele elogiou o cultivo de frutas em Mossoró, município localizado a cerca de 4 horas via terrestre de Pecém, possibilitando um transit time de apenas 8 dias para levar as frutas exportadas até a Espanha e o Mediterrâneo. A incorporação de tecnologia é fundamental para o acesso das frutas brasileiras ao mercado mais exigente, observou Gadelha. Nas embalagens das frutas frescas são aplicados códigos de rastreabilidade para o controle da origem da produção e de todo percurso da mercadoria até o destino final.
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