Embrapa lança variedade de mandioca para a indústria
Uma nova variedade de mandioca para a indústria, recomendada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) — vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) — para os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, será lançada no próximo dia 2 de julho, durante o 10º Encontro de Mandiocultores, tradicional evento realizado na Fazenda Santa Luzia, em Nova Londrina (PR), pela Cooperativa Agroindustrial do Noroeste Paranaense (Copagra), em parceria com a Embrapa. A demanda do setor produtivo do Centro-Sul do país por novas variedades com alta produtividade, elevado teor de amido e resistência às principais doenças é grande. Nessa região, estão concentradas as indústrias, responsáveis por cerca de 80% da produção brasileira de fécula de mandioca, mas a produção de raízes baseia-se em poucas cultivares, plantadas em grandes áreas. Em consequência disso, têm surgido vários problemas, associados principalmente a pragas e doenças, que diminuem a produtividade, prejudicando o rendimento das indústrias e reduzindo o lucro dos agricultores.
Desde 2007, a Embrapa avalia novos clones de mandioca (mais de dois mil) nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, em campos experimentais de instituições parceiras. Esse trabalho resultou na seleção do clone registrado em fevereiro de 2016 como BRS CS 01 no Registro Nacional de Cultivares (RNC). “Na Embrapa Mandioca e Fruticultura [BA], fizemos cruzamentos das melhores variedades do Nordeste com as mais utilizadas no Centro-Sul. As plantas provenientes das sementes obtidas nesses cruzamentos foram levadas para a Embrapa Agropecuária Oeste [MS], sendo avaliadas por três anos agrícolas em comparação com as quatro variedades mais plantadas nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Também houve avaliações em áreas de parceiros nos municípios paranaenses de Paranavaí, Nova Londrina e Marechal Cândido Rondon e em Naviraí [MS]”, conta o melhorista Vanderlei Santos, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura.
De acordo com o pesquisador Marco Antonio Rangel, responsável pelo campo avançado da Embrapa Mandioca e Fruticultura no Centro-Sul juntamente com o pesquisador Rudiney Ringenberg, há outros clones promissores para indústria em processo de avaliação. Esse trabalho conta também com experimentos na área da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) em Entre Rios do Oeste (PR).
Vantagens da nova cultivar
Nas avaliações, a BRS CS 01 apresentou boa cobertura de solo em relação às variedades mais usadas, permitindo conduzir a lavoura com menos capinas, o que implica redução de custos. Tem ainda bom porte, característica importante para o plantio mecanizado. Em relação às principais doenças (superalongamento, bacteriose e antracnose), a reação da BRS CS 01 foi similar à das cultivares atuais. O grande diferencial ficou por conta das características relacionadas à produtividade. No primeiro ciclo (colheita aos dez meses), a produtividade de raízes foi pelo menos 31% maior que a das variedades atualmente plantadas; e no segundo ciclo (colheita aos 18 meses), o aumento registrado girou em torno de 93%.
A superioridade da BRS CS 01 nos dois ciclos indica que esse clone alia a precocidade, que lhe permite ser colhido com um ciclo, à capacidade de aumentar significativamente a produtividade no segundo ciclo. A precocidade é uma das características mais destacadas pelos parceiros. “Apostamos que vamos ter opções de variedades diferentes, que sejam precoces para colher com 12 meses. Aqui na região são quatro variedades só que temos. E são de dois ciclos, com colheita a partir de 18 meses. E queríamos uma opção para colher com 12 meses, se não a gente fica muito tempo parado, e é caro hoje em dia o custo para fazer um plantio de mandioca. Então apostamos nessa variedade nova, que demonstrou muito bons resultados”, afirma Vitorio Fadel Neto, consultor da Tereos - Syral, em Palmital (SP).
Em relação à produtividade de matéria seca, cujo principal componente é o amido, a apresentada pela BRS CS 01 foi quase 50% maior no primeiro ciclo em relação às variedades mais plantadas atualmente e, no segundo, chegou a valores maiores que 100%. Isso proporciona retorno mais rápido do investimento feito na implantação da lavoura e ganhos de valor junto à indústria.
Parceiros nos experimentos, como o diretor da Associação Técnica das Indústrias de Mandioca do Paraná (Atimop), Sigmar Herpich, destacam também uma tolerância da nova cultivar à podridão radicular maior do que as variedades mais plantadas, embora os dados sobre essa característica, como salienta Rangel, ainda não tenham sido analisados de forma definitiva. “Acompanhamos o desempenho da nova cultivar e vimos que, nessa questão da podridão radicular, ela é melhor que a cultivar-padrão. E este ano, com as chuvas, houve muito problema de podridão. E a variedade não apresentou problemas com outras enfermidades, pragas ou doenças”, ressalta Sigmar. No dia 28 de julho, a BRS CS 01 será lançada também em dia de campo da Atimop, em Marechal Cândido Rondon.
Adaptação ao plantio direto
Outra característica considerada importante é a adaptação ao plantio direto, uma necessidade da região, que sofre com a erosão. Nesse sistema conservacionista, mantêm-se palha e restos vegetais de outras culturas na superfície, garantindo cobertura e proteção do solo, e o plantio é realizado no solo não revolvido. O coordenador do Centro Tecnológico da Mandioca (Cetem), em Paranavaí, Claodemir Grolli, afirma que o plantio direto é o futuro para a cultura da mandioca. “Se queremos sustentabilidade, temos que cuidar do solo, e a forma mais correta é o plantio direto. Procuramos então incentivar produtores a que comecem a se familiarizar com o sistema.” Ele acrescenta que a principal dificuldade hoje para adoção do plantio direto é que as variedades utilizadas não são desenvolvidas para isso. “São variedades de seleção natural, e no momento que se utilizam em plantio direto, a resposta varia muito. Em algumas situações, a mesma variedade pode dar um bom resultado, mas na maioria das situações não dá. Essa é a expectativa principal que temos com a entrada de novos materiais para que possamos ter a tecnologia definida.”
Multiplicação
Cinco grandes parceiros da Embrapa nas pesquisas realizadas na região se mostraram interessados em atuar como multiplicadores da variedade e estão sendo cadastrados no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), do Mapa. São eles: Copagra (Nova Londrina, PR), Atimop (Marechal Cândido Rondon, PR), Tereos – Syral (Palmital, SP), Podium Alimentos (Tamboara, PR) e Cooperativa Agrícola Sul Matogrossense – Copasul (Naviraí, MS).
“O que tem de mais animador nesse trabalho é o tamanho da demanda. O setor começou a demandar fortemente materiais mais adaptados, visando à maior sustentabilidade da atividade. Quando despontaram os primeiros clones promissores, começamos a criar o sistema de certificação na produção de manivas”, afirma Huberto Paschoalick, gerente local do Escritório de Dourados (MS) da Embrapa Produtos e Mercado, onde estão instalados os jardins clonais de plantas básicas. Segundo ele, a expectativa é que o trabalho de aumento de volume de distribuição da nova cultivar seja feito por esses multiplicadores. “Eles vão receber as plantas básicas e transformar nas plantas matrizes que serão distribuídas aos agricultores. O grande desafio é conseguir criar esse fluxo de oferta de material propagativo. Para isso aproveitamos a experiência do Reniva [Rede de multiplicação e transferência de materiais propagativos de mandioca com qualidade genética e fitossanitária para o estado da Bahia]”.
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