Faesc preocupada com importação de frutas da China
A cadeia produtiva da fruticultura catarinense está preocupada com a possibilidade de ingresso da maçã chinesa no mercado brasileiro. A questão é fitossanitária e mercadológica: a China convive com pragas que já foram erradicadas no Brasil e pratica preços muito baixos porque mantém subsídios ao produtor – o que é condenado pela Organização Mundial do Comércio.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) vem alertando o governo sobre a questão. No início de dezembro, a ministra da agricultura Kátia Abreu assegurou ao presidente da Faesc José Zeferino Pedrozo que em 2016 não será autorizada a importação de maçã, mas, sim da pêra chinesa. Em contrapartida, os chineses consumirão o melão brasileiro.
A notícia não acalmou os produtores catarinenses, explica o vice-presidente da FaescAntônio Marcos Pagani de Souza, que participou de audiência pública na Câmara dos Deputados e de reunião no Ministério da Agricultura. As exigências fitossanitárias para a pêra são iguais às da maçã. “Isso significa que, aprovada a importação da pêra, estará tecnicamente aberta à futura e eventual importação da maçã.”
O mundo produz 80 milhões de toneladas e a China, sozinha, responde por quase 50% o que significa 39,6 milhões de toneladas. O Brasil produz apenas 1,3 milhão de toneladas. Mas não é só o gigantesco poderio da China que assusta os catarinenses. Em razão dos subsídios e baixo custo da mão de obra, o produto chegaria ao mercado muito abaixo dos concorrentes.
Por isso, a Faesc alerta que a abertura do mercado brasileiro para a fruta da China prejudicará as condições de competitividade dos produtores catarinenses. O subsídio do governo chinês permite que a maçã daquele país chegue a um preço abaixo do praticado por produtores catarinenses. Uma caixa de 20 quilos de maçã chinesa pode chegar a R$ 34 no Brasil, quando a caixa do fruto pode alcançar R$ 60 no segundo semestre deste ano.
“Nossa sorte é que a maçã da China é de má qualidade, tanto assim que a Europa recusa esse produto”, expõe Pagani, que adverte: “pode ocorrer com a maçã o que aconteceu com a produção de alho brasileira na década de 1990. Quando houve a abertura para o mercado chinês, muitos agricultores abandonaram o cultivo por impossibilidade de concorrer.”
O Brasil é o único país livre de pragas conhecidas como traça-da-maçã ou cyndia pomonella. Com a introdução da maçã chinesa, essa praga pode reingressar. A Faesc sabe que cedo ou tarde a maçã chinesa chegará ao Brasil se o Ministério da Agricultura realizar a Análise de Risco de Pragas (ARP) e constatar que a importação de maçãs da China não oferece risco significante à produção agrícola nacional. Nesse caso, o Brasil como país membro da Organização Mundial do Comércio deve permitir a importação de maçãs daquele país.
Santa Catarina responde pela metade da safra brasileira de maçã e 75% dos produtores do País. Cerca de 1.700 produtores geram 650 mil toneladas por ano, movimentando mais de 2,3 bilhões de reais e sustentando 40 mil empregos durante a colheita.
Os principais importadores da maçã in natura do Brasil são Holanda, Reino Unido, Bangladesch, Alemanha, Irlanda, França, Portugal e Espanha. Os principais compradores do suco de maçã são Estados Unidos, Japão, África do Sul, Trinidad e Tobago, Holanda, Alemanha, México e Porto Rico. As receitas cambiais totalizaram 54 milhões de dólares no ano passado.
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