Produção de sorgo dobrou nos últimos quatro anos e área cultivada deve subir 100% nos próximos quatro
O cultivo de sorgo já foi encarado pelo produtor como vilão nas lavouras brasileiras por, supostamente, “roubar” nutrientes da cultura subsequente da soja, mas tem se tornado mocinho com um melhor entendimento do cultivo e novas oportunidades de negócios surgindo.
“Já se acreditou que as áreas de sorgo traziam malefícios para a soja. Na verdade, o sorgo era utilizado nas áreas mais marginais da propriedade e com baixíssimo investimento em adubação, como grande cultura produtora de grãos que é, o sorgo extraia nutrientes do solo. Hoje, de vilão está virando o grande mocinho. Com a grande palhada remanescente e algumas cultivares que tem se mostrado com baixo fator de reprodução de nematoides, há condições melhores para a soja seguinte vir a produzir mais”, explica o Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Flávio Tardin.
Dados da Associação Brasileiro dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho) apontam que a produção brasileira de sorgo dobrou nos últimos três ou quatro anos, chegando perto de 5 milhões de toneladas, o que transformou o Brasil no terceiro maior produtor mundial do grão.
“O sorgo tem potencial de continuar crescendo. Eu acredito que essa nova safra de 2025 já vai para, possivelmente, de 1,8 milhão de hectares a 2 milhões de hectares e vamos colher entre 5,5 e 6 milhões de toneladas, superior às 4,5 milhões de toneladas dessa última safra”, opina Vlamir Brandalizze, Analista de Mercado da Brandalizze Consulting.
O pesquisador da Embrapa destaca que o crescimento da opção pelo cultivo do sorgo se apoia nas características agronômicas da planta.
“O produtor vem sofrendo muito com as atipicidades climáticas que vem ocorrendo na segunda safra e precisa de uma cultura mais resiliente a seca e ao estresse hídrico, e o sorgo tem mecanismos de conviver com esses tempos prolongados sem chuva. O sorgo não vem para competir com o milho, mas é uma cultura para fazer uma verdadeira rotação do sistema soja e milho. O sorgo deve ser posicionado em áreas ou épocas em que há alto risco de plantar o milho, já que é uma cultura que requer menos água do que o milho e com uma janela, em geral, 20 dias a mais do que o milho”, diz Tardin.
“O ambiente do sorgo vai se abrindo bem porque a janela total de milho é muito difícil, o milho tem o tempo dele de plantar até o final de fevereiro e começo de março, e não há tempo de plantar toda a soja cedo para conseguir plantar o milho. Então as áreas de sorgo têm potencial de crescer. Só o milho tem potencial normal de plantar 17 ou 18 milhões de hectares e nós vamos plantar 48 milhões hectares de soja. Então potencial tem de, nos próximos 4 ou 5 anos, dobrar a área e chegar em 4 milhões de hectares com demanda interna para ração, confinamento, etanol e exportação”, acrescenta Brandalizze.
Este cenário de aumento do cultivo e da produção vem também acompanhando pelo fortalecimento do quadro de demanda, com altas para o setor de alimentação animal com rações e confinamentos e o investimento em plantar de etanol produzidos a partir do sorgo.
“Um grande ponto que os produtores reclamavam era a comercialização, mas a gente tem vindo com a alimentação animal e as fábricas de etanol. No Maranhão, por exemplo, uma usina de etanol está se instalando e já está recebendo sorgo”, conta Tardin.
“Algumas usinas de etanol já estão se preparando para também produzir etanol de sorgo como acontece hoje no Mato Grosso do Sul e Goiás. Isso vai dar uma dinâmica diferente para o sorgo, que pode crescer em outras regiões além de Goiás e Minas Gerais, onde está concentrado basicamente hoje”, diz Paulo Bertolini, Presidente da Abramilho.
“Agora tem até indústria de etanol focada em sorgo. Está saindo uma na Bahia específica para sorgo na região de Luís Eduardo Magalhães que vai estimular o produtor a plantar. Só ali são 200 mil hectares de sorgo para etanol”, conta Brandalizze.
EXPORTAÇÃO
Outro elemento que tem potencial de estimular este crescimento do sorgo no Brasil são as exportações do grão, especialmente diante das tratativas para abertura do mercado chinês para receber o sorgo brasileiro.
“Além do cenário nacional que vai absorver esse grão nas indústrias de alimentação animal e de etanol, temos que pensar uma organização para exportar esse grão. Nossos vizinhos da Argentina exportaram 1,3 milhão de toneladas de sorgo no ano passado, enquanto a gente embarcou cerca de 50 mil”, aponta o pesquisador da Embrapa.
O presidente da Abramilho conta que a entidade está trabalhando na assinatura de um protocolo sanitário de exportação e espera que a visita do presidente chinês ao Brasil no próximo mês sele esta liberação para iniciar os embarques.
“O mercado chinês é o maior mercado consumidor de sorgo, consumindo em torno de 10 milhões de toneladas, das quais 7 milhões são importadas. A nossa intenção é permitir que o Brasil possa exportar sorgo também para a China e aí alavancar a nossa agricultura com o sorgo na segunda safra”, relata Bertolini.
Além dos tramites elaborados pela Abramilho em conjunto com o Mapa, Bertolini destaca que uma comitiva está sendo organizada para trazer chineses para visitar a produção brasileira de sorgo em pelo menos três estados na próxima safra, por volta do mês de maio de 2025.
“A nossa ideia é que a China possa liberar já de imediato esse protocolo para começar o processo de exportação de sorgo com o compromisso do Brasil de fazer que essas delegações vejam os campos de produção no país na próxima safra”, detalha a liderança.
“O cenário do sorgo, tanto em cultivo, produção e demanda vai continuar crescendo bastante nos próximos anos e a China potencialmente vai se tornar um importante comprador para as nossas exportações do grão”, avalia Brandalizze.
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