Clima seco atrasa plantio de grãos de verão no Paraná
No Paraná, o plantio da safra de grãos 2017/18 está atrasado devido ao clima seco, que agravou-se durante o mês de setembro e que estava completando quase 40 dias sem chuvas regulares. A Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento está avaliando com muita cautela a estimativa de safra, que aponta para um volume de 23,2 milhões de toneladas para os grãos de verão, 8% inferior ao colhido na safra anterior.
O Deral (Departamento de Economia Rural), que acompanha mensalmente o desempenho da safra no Estado, acredita que haverá replantio de algumas lavouras a partir da primeira chuva que está sendo aguardada com muita expectativa para este final de semana.
Diante desse quadro climático, o secretário estadual da Agricultura, Norberto Ortigara, alerta que quem cuida do solo, adota o plantio direto da forma correta, consegue maior proteção quando o clima enfrenta problemas como a adversidade atual.
Para o diretor do Deral, Francisco Carlos Simioni, as notícias de regularização do clima traz uma nova dinâmica para esta safra que só poderá ser calculada com mais efetividade após esse evento climático. “Existem vários fatores que podem repercutir em função desse clima seco dos últimos 40 dias, entre eles o mais sério é a concentração do plantio”, disse.
Com isso, segundo ele, haverá uma concentração dos demais estágios de desenvolvimento das principais culturas como floração, frutificação, maturação e colheita, que poderá ser prejudicial se houver novos eventos climáticos daqui para frente, porque afeta as lavouras nas mesmas condições em várias regiões do Estado. “Há que se lembrar ainda que o atraso no plantio da safra de verão terá repercussões no plantio do milho segunda safra, pois foram perdidos praticamente 18 dias desde o dia 11 de setembro, que em condições normais poderia ter iniciado o plantio de soja”, acrescentou Simioni.
SOJA - O plantio de soja, cuja previsão é ocupar uma área de quase 5,5 milhões de hectares, 3% a mais que na temporada anterior, está atrasado. O plantio oficial iniciou em 11 de setembro e até agora foi plantada apenas 2% da área prevista, quando no mesmo período do ano passado 14% da área já estava semeada.
A perspectiva é que a chuva propicie a retomada e a aceleração do plantio, para aproveitar o período recomendado. Segundo o economista do Deral, Marcelo Garrido, o plantio concentra-se mesmo em outubro. Ocorre que muitos produtores aproveitam a janela de oportunidade com o início do plantio em setembro para colher antes e plantar a safrinha de milho no início de 2018.
A estimativa de produção para a soja está sendo calculada com um intervalo entre 18,4 e 20,6 milhões de toneladas. Porém essa previsão está sujeita ao clima. A média prevista, de 19,5 milhões de toneladas representa um volume 2% inferior à safra anterior que teve as melhores condições de clima dos últimos anos, diz Garrido.
A comercialização antecipada da soja também está inferior em relação ao ano passado. Este ano, cerca de 8% da soja já foi vendida e no ano passado, no mesmo período, 12% da soja já estava vendida antecipadamente. Segundo Garrido, o produtor não está contente com o preço atual, em torno de R$ 59,00 a saca, enquanto no ano passado vendeu por R$ 66,00 a saca, em média. “O produtor de soja está capitalizado e por isso está esperando um cenário melhor para comercializar”, disse.
MILHO - O plantio da primeira safra é o mais atrasado. Este ano, apenas 16% da área prevista foi plantado quando, no ano passado, cerca de 50% da área já estava plantada. O plantio de milho começou em agosto e as condições são similares às da soja, com a mesma preocupação com o clima já que o grão é mais sensível à falta de chuvas, disse Garrido.
“Mas se a chuva voltar com regularidade, a lavoura ainda se recupera”, ressaltou. Segundo o Deral, só permaneceu plantando o milho da primeira safra o produtor especialista, altamente tecnificado, que sabe conduzir a lavoura e colhe com produtividade média acima de 9 mil quilos por hectare.
Após as chuvas previstas para o mês de outubro os técnicos do Deral voltam ao campo para fazer a avaliação do que é possível recuperar e do que será necessário para fazer o replantio.
A produção de milho da primeira safra cai bastante em decorrência do recuo de 33% na intenção de plantio. Este ano, o milho deve ocupar uma área de 343.490 hectares, enquanto no mesmo período do ano passado ocupou área de 513.627 hectares. Com isso a produção esperada será 37% inferior, devendo cair de 4,9 milhões de toneladas, na temporada 16/17, para 3,1 milhões na safra 2017/18.
Apesar do clima seco, a perspectiva para essa lavoura ainda é boa poque a produtividade é alta e compensa a redução no preço do grão. “O produtor da primeira safra, como é especialista, ganha na escala porque planta com custos muito próximos dos preços recebidos hoje”, explicou Garrido.
O preço do milho, de R$ 19,50 a saca, está 38% inferior ao praticado no ano passado quando a saca de milho era vendida por R$ 31,50 em média. Com isso, a comercialização está muito lenta, sendo que até agora apenas 1% da safra foi vendida quando no ano passado, na mesma época, 40% da safra prevista já estava vendida. Segundo Garrido, só com produtividade alta o agricultor consegue se manter com o atual preço de comercialização da safra.
FEIJÃO - Como nas demais culturas, o plantio de feijão também está atrasado por causa da falta de chuvas. Até agora, cerca de 20% da área prevista para o feijão da primeira safra foi plantado quando, no ano passado, 41% da área já estava ocupada.
A área plantada com feijão da primeira safra deve ter uma ligeira ampliação, de 2%, passando de 194.108 hectares para 198.244 hectares. A previsão de produção também sobe um pouco. Em torno de 4%, passando de 368.207 toneladas colhidas no ano passado para 383.204 toneladas este ano.
O engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Alberto Salvador, explica que o plantio de feijão no Paraná vai de agosto a novembro, com concentração entre os meses de setembro e outubro. Os núcleos de Ponta Grossa, Curitiba, Guarapuava e Irati concentram 70% da produção de feijão da primeira safra.
Salvador confirma que quem plantou o feijão no sistema do plantio direto está conseguindo escapar do quadro climático de estiagem que está retardando a germinação das sementes. É o caso dos produtores da Lapa, Região Metropolitana de Curitiba, onde 40% da área é plantada com plantio direto.
Ele acredita que após as chuvas haverá reavaliação e muitos produtores vão se manter no plantio de feijão ou vão plantar a soja. “Por isso a saída é a conservação dos solos porque essa é a ferramenta que o produtor tem no campo para enfrentar a adversidade do clima”, acrescentou.
O preço do feijão também recuou em relação ao ano passado, que foi um ano atípico em valorização do produto. Mas as cotações médias ainda estão acima do custo de produção, calculado em R$ 65,35 a saca. O feijão de cor está sendo comercializado hoje, em média, por R$ 96,29 a saca, quando no ano passado era vendido por R$ 339,00. O feijão preto está sendo vendido por R$ 111,74 a saca, quando no ano passado era vendido por R$ 205,00.
MANDIOCA - Como nos grãos, o plantio de mandioca também está atrasado em decorrência da falta de chuvas. Segundo o Deral, este ano cerca de 68% da área prevista foi plantado quando no ano passado 88% da área prevista havia sido plantada.
Segundo o economista do Deral, Methódio Groxko, a situação se agrava na região Noroeste do Estado, onde se concentra o plantio de mandioca e a falta de chuvas é acentuada. “A terra está endurecida, não permite a colheita da mandioca plantada no ano passado e isso impede novos plantios, o que traz prejuízos porque a oferta de raiz é pequena”, explicou.
Groxko diz que esse quadro está paralisando as atividades das fecularias da região Noroeste, que está com dificuldades para obter matéria-prima e está indo buscá-la em outros Estados.
Essa situação está refletindo nas cotações da mandioca, que já subiram de preço, em torno de 26%. Hoje a tonelada está sendo vendida, em média, por R$ 523,00 enquanto no passado, no mesmo período, era vendida por R$ 415,00 a tonelada.
A previsão de produção de mandioca é estável, em torno de 3,1 milhões de toneladas.
FUMO - O plantio de fumo também está atrasado, com 30% da área prevista ocupada, quando no ano passado 44% da área estava plantada. O Deral prevê aumento de 6% na área plantada, devendo passar de 75.038 hectares no ano passado para 79.526 hectares que serão plantados este ano. A previsão de produção é de 189.412 toneladas.
Segundo Groxko, o fumo é outra lavoura que se recupera com a chegada das chuvas
TRIGO - Se o clima atrasou o plantio da safra de grãos, está sendo benéfico para as lavouras de trigo da safra 2017. Este ano, 65% das lavouras estão colhidas, quando no ano passado 39% das lavouras já haviam sido retiradas do campo. Espera-se o final da colheita para o mês de outubro.
Apesar disso, a lavoura apresenta uma quebra de safra de 24% em decorrência de vários fatores climáticos no transcorrer do ciclo de desenvolvimento, como seca em julho que atingiu o estágio de floração da cultura. Após esse período houve uma sequência de geadas, mas que não foram tão prejudiciais quanto a seca, observou o economista Marcelo Garrido.
Após a redução na área plantada de 13%, a produção esperada pelo Deral era de 3,1 milhões de toneladas. Após os eventos climáticos, agora espera-se uma safra de 2,3 milhões de toneladas, uma perda de 700 mil toneladas de trigo.
Com a aceleração da colheita, a comercialização também ganhou fôlego. Atualmente 23% da safra está vendida, contra 14% na mesma época do ano passado, apesar do preço menor. O preço caiu 16%, passando de R$ 39,00 a saca no ano passado para R$ 32,00 a saca, em média, este ano.
Segundo Garrido, a palhada nas áreas de plantio direto ameniza os efeitos do clima seco, quando comparadas com as áreas aonde a prática não é conduzida de forma eficiente. “Se for confirmada a chuva que está sendo prevista pelos principais institutos de meteorologia do País para esse início de primavera, a expectativa é de bons resultados para as lavouras de primavera verão”, disse.
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