Custos na produção reduzem rentabilidade do arroz
A chegada de nuvens escuras e carregadas no horizonte causou preocupação aos arrozeiros gaúchos neste ano. Com o excesso de chuva no campo, tiveram uma perda de 3,6% na área plantada no Estado. A turbulência mais forte, no entanto, não ocorreu nos céus da Campanha, Depressão Central ou da Fronteira Oeste, mas em um terreno bem mais sensível, o bolso do produtor. Foi o aumento elevado no custo de produção que tirou o sono do agricultor.
O avanço no preço da saca foi muito tímido frente à alta nas despesas, que chegaram com intensidade e em várias frentes: combustíveis, energia elétrica, insumos e mão de obra.
Em Alegrete, os irmãos e sócios Luís Cadore, 53 anos, e Paulo Cadore, 46 anos, deram início à colheita há duas semanas e estão contentes com o resultado. Apesar da chuva que atingiu a cidade em outubro e dezembro, não vista com tanta força pelos produtores desde 1997, a produtividade na lavoura não foi tão prejudicada quanto o esperado. Nos primeiros dias com as máquinas no campo, estava sendo possível colher cerca de 8 mil quilos por hectare, 500 a mais do que o projetado logo após as enchentes.
- Está se confirmando uma sensação que já tínhamos faz algum tempo: o principal problema neste ano não é a queda na produtividade, mas a queda na renda. O preço da saca precisaria estar entre R$ 42 e R$ 45 para superar as despesas. E está abaixo disso, com perspectiva de cair ainda mais - afirma Paulo, ressaltando que o alto custo deve influenciar nas decisões para a safra seguinte.
Juntos, os irmãos plantam 1,3 mil hectares de arroz no município (85% em área própria) e têm no cereal a principal produção da propriedade. A alternativa seria investir na pecuária, atualmente com rendimentos maiores.
- Não vamos desistir do arroz, mas a cultura pode diminuir de importância - resume Paulo.
Entre os custos que pressionaram as despesas, a conta de luz, que veio bem mais salgada em 2015, deve dar um alívio neste ano. A concessionária AES Sul, que atende àquela região, deve reduzir até abril a tarifa cobrada em até 3%. O recuo não faz sombra ao aumento elevado de 2015, mas sinaliza uma pressão menor sobre as despesas.
- A AES já teve o aumento mais elevado no reajuste extraordinário do ano passado. Agora, deve haver uma redução e a mudança na bandeira tarifária deve ajudar - afirma Paulo Steele, analista que atuou por cinco anos na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no desenvolvimento do cálculo dos custos para as concessionárias e hoje está na consultoria TR Soluções.
Agroquímicos mais caros
A compra de insumos, por outro lado, deve seguir pesando na carteira dos produtores. Negociados em dólar, agroquímicos tendem a ficar ainda mais caros ao longo de 2016, com risco de alta no segundo trimestre, justamente o período de compras para a próxima semeadura.
- As sementes utilizadas hoje são bastantes suscetíveis ao fungo brusone, por exemplo. A praga está sob controle, atingindo algumas áreas restritas, mas exige mais aplicações de fungicida. É um custo cada vez mais importante - explica Leonardo Alonso, engenheiro agrônomo do Instituto Rio Grandense do Arroz(Irga) em Alegrete.
Diretor comercial do Irga, Tiago Sarmento Barata, afirma que, apesar do aumento nos custos, o dólar mais elevado ajudou mais do que atrapalhou na safra deste ano. Faltando um mês para o fechamento do ano comercial do Brasil, as exportações já superaram a média obtida nos últimos dois anos.
- No país, a expectativa é que cheguemos a 1,4 milhão de toneladas, um resultado excelente. O dólar mais valorizado também reduziu as importações, que será a menor em sete anos. Nossa balança comercial terá um superávit de 820 mil toneladas - explica Barata.
O diretor do Irga afirma que o Rio Grande do Sul só não exportou mais arroz em função de deficiências logísticas. Ele informa que alternativas podem ser encontradas para superar as dificuldades em infraestrutura e cita a maior utilização do porto de Imbituba, em Santa Catarina, como possibilidade.
Leia a notícia na íntegra no site Zero Hora.
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