Preço do suíno e custo da ração: os principais desafios para os suinocultores

Publicado em 15/06/2020 11:24 e atualizado em 15/06/2020 12:09

A suinocultura brasileira tem sofrido os impactos do Coronavirus devido, principalmente, ao confinamento e a redução na demanda por carne suína em restaurantes, escolas, hotéis e outros serviços de alimentação. Com isso, os preços no mercado interno registraram forte queda no mês de abril, enquanto os preços dos componentes da ração (milho e soja) vêm registrando altas desde o segundo semestre de 2019. O que tem trazido um pequeno alívio aos produtores é o aumento das exportações de carne suína fresca, refrigerada ou congelada para China, que cresceram 153,5% no primeiro quadrimestre do ano, quando comparado ao mesmo período de 2019.

Parte considerável do rebanho chinês de suínos foi dizimada pelo surto de Peste Suína Africana (PSA) que assolou o país em 2019, comprometendo a produção de carne suína no país. No mercado interno, o Gráfico 1 representa a evolução do preço real do suíno vivo em R$/kg entre 2011 a abril de 2020 em Minas Gerais, estado com maior média de preço nacional para o produtor, em Santa Catarina, maior produtor e exportador, e no Brasil . Percebe-se que o comportamento dos preços é semelhante entre os Estados destacados e a média nacional, sendo que todos eles se encontram, no último mês, abaixo do valor médio do período, se aproximando das mínimas históricas registradas no ano de 2018. 

Observando com mais detalhe o Gráfico 1, entre 2011 e 2019, o preço real do suíno vivo no Brasil passou de R$ 4,00 para R$ 4,50, um aumento de 12,6% no período. Logo no primeiro mês de 2020, os preços continuaram aumentando e atingiram valores recordes em torno de R$ 5,77, um aumento de 28,2% em relação à média de 2019, sustentado principalmente pelo aumento das exportações chinesas a partir do segundo semestre de 2019. Entretanto, o que se observou a partir daí foi uma forte queda no preço real do suíno vivo, que atingiu R$ 4,03 em abril de 2020, uma redução de 30,1% quando comparado aos preços de janeiro de 2020, se aproximando dos menores valores históricos observados em 2018. Assim, o que se verificou até o momento em 2020 foi um aumento da receita em janeiro, seguido por fortes quedas nos meses seguintes.

senar suinocultura 1

Em termos de custo de produção, os dados do Projeto Campo Futuro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostram que o custo com nutrição pode representar até 75,7% do custo operacional efetivo da produção dos suinocultores utilizando como exemplo a região de Sorriso– MT. Por essa razão, o insumo torna-se extremamente estratégico para produtores independentes que desejam uma alta rentabilidade. Dentre os principais componentes da ração para suínos, dois deles se destacam: o milho (70%) e o farelo de soja (25%). Apesar do aumento na produção nacional das commodities, a mesma não permitiu que os preços reais caíssem acentuadamente, muito em função do aumento da demanda interna e principalmente devido ao crescimento das exportações de grãos no período, que mais que dobraram entre 2018 e 2019, por exemplo.

Apesar disso, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Cepea, no período de 2011 a 2019, o preço real da saca de 60kg de milho passou de R$ 48,19 para R$ 38,21, uma redução de 21% no período. Enquanto isso, o preço real da saca de 60kg de soja passou de R$ 75,15 em 2011 para R$ 76,54 em 2019, um incremento de apenas 2%. O Gráfico 2 mostra a produção de milho e soja em milhões de toneladas (barras) e os preços reais das sacas de 60kg de milho e soja (linhas) entre os anos de 2011 e 2020.

Em meados do segundo semestre de 2019, houve uma aceleração nos preços de ambos os grãos, mesmo com as previsões de novos recordes nas safras brasileiras de milho e soja para 2019/20 (101,9 milhões de toneladas e 122,1 milhões de toneladas, respectivamente). Os preços das sacas de milho e soja em abril alcançaram valores reais médios de R$ 52,92 e R$ 102,30 respectivamente, um aumento de 39% e 34% para ambas as sacas em comparação aos preços reais médios de 2019. Desse modo, observa-se que a média dos preços das sacas de milho e soja em abril 2020 encontram-se acima dos últimos picos reais históricos registrados em 2016 e 2012, respectivamente.

O que se observou nos últimos meses foi uma deterioração dos termos de troca entre suíno vivo e os principais insumos que compõem a ração. No ano de 2019, em média, era preciso 8,6kg e 17,3kg de suíno vivo para a aquisição de uma saca de milho e soja, respectivamente. Já em abril de 2020, esta quantidade saltou para 13,2kg e 25,4kg, um aumento de 52% e 47% para a relação de troca entre o quilograma do suíno vivo e uma saca de milho e soja, respectivamente.

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Com isso, espera-se que o custo da ração permaneça em patamares elevados este ano, principalmente em função das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, a falta de estabilidade da produção de suínos na China, dizimada pela peste, e a pandemia de Coronavírus, trazendo maiores incertezas sobre o mercado interno e externo. Desse modo, caso as medidas internas contra o Coronavirus se prolonguem, diminuindo a demanda interna e, por consequência, os preços do suíno vivo no mercado interno, e o custo da ração continue em patamares elevados, a tendência é que o ano de 2020 seja de pressão sobre a margem dos produtores de suínos no Brasil.  
 

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