Especialistas alertam para os riscos da falta de água na Argentina

A ilusão dos produtores argentinos com o anúncio de chuvas da sexta-feira passada durou pouco: o centro agrícola do país recebeu somente chuvas isoladas que dificultam ainda mais o plantio de soja e milho. Depois das inundações que afetaram a região dos Pampas, especialistas do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) local afirmaram ao jornal La Nación que a falta de chuvas começou a ser um problema nos últimos seis meses, já que grande parte da região dos Pampas está recebendo volumes abaixo do normal.

Carlos Di Bella, diretor do Instituto de Clima e Água do INTA, explicou: "a seca não começou agora, começou há meses. Enquanto a região dos Pampas sofria com problemas de excessos, também havia gente que sofria com a falta de água. O mapa de chuvas de novembro mostra entre 50mm a 60mm a menos de água do que o histórico para o mês para esta área".

Segundo dados do INTA, foram registrados 50mm no final de semana no norte de Santa Fe e no centro-sudoeste de Santiago del Estero, mas em outras localidades da região os milímetros foram escassos, não alcançando os volumes necessários para aliviar a preocupação dos produtores para o plantio. Di Bella destacou ainda que os meses de setembro, outubro e novembro, por exemplo, também tiveram volumes inferiores à média do período.

A Bolsa de Comércio de Rosario (BCR), por sua vez, confirmou que o sistema frontal do último final de semana provocou chuvas muito díspares e que o mês de dezembro começou com expectativas de normalizar a situação hídrica e voltar rapidamente para as tarefas de plantio. A entidade apontou que 70% da região núcleo recebeu menos de 10mm, 60% da zona recebeu menos de 5mm e não há previsão de chuvas para os próximos dias. "O clima mostrou que o padrão de chuvas mudou. Para os próximos dois meses será difícil que a quantidade de água alcance as expectativas", informou.

Estes volumes também não são suficientes para destravar os trabalhos de plantio pendentes - confirma o boletim. "Até quinta-feira passada faltavam 95.000 hectares de soja de primeira etapa e 880.000 hectares de soja de segunda etapa, ambos suspensos pela falta de água. A estes também se juntam 200.000 hectares pendentes de milho tardio e de segunda etapa".

"Estamos a dias de começar o período mais exigente do milho precoce. 10% dos quadros mostra situação entre regular e ruim. Os plantios se segunda etapa estão exigindo muito mais de 20mm para se desenvolverem", confirmaram.

Sobre o final de semana, o meteorologista Leonardo De Benedictis disse ao La Nación: "foi um evento muito díspar que começou na quinta-feira passada e finalizou anteontem, com acumulados distintos".

De Benedictis confirmou que não houveram grandes registros de chuvas no nordeste de Buenos Aires. Os dois setores mais importantes onde foram registrados acumulados próximos a 100mm, segundo ele, foram o norte de Santa Fe e o oeste da Zona Núcleo, em San Luís e Mendoza, onde foram registradas chuvas de até 80mm.

O meteorologista afirmou que a partir de amanhã (06) haverá o avanço de uma frente fria que afetará o sul da região dos Pampas, mas que "as chuvas não serão de grande magnitude: a média estará entre 10mm a 30mm".

Tradução: Izadora Pimenta