Café: Mesmo nas máximas em 13 anos, preços não afastam compradores e mercado ainda é bastante resiliente
Alta volatilidade dos preços nas bolsas internacionais. Preocupação com a produtividade da safra 2025 devido ao baixo pegamento das floradas nos cafezais do Brasil. Problemas climáticos enfrentados por países produtores. Estoques certificados com níveis baixos. Uma oferta comprometida diante de um grande potencial de demanda. Estes e outros fatores vem movimentando o mercado cafeeiro nos últimos dias e levaram os preços do arábica, por exemplo, às máximas em 13 anos na Bolsa de Nova York.
Os futuros negociados no mercado futuro norte-americano, mais uma vez, chegaram a se aproximar dos US$ 3,00 por libra-peso - como mostra o gráfico abaixo, da agência internacional de notícias Bloomberg, enquanto no Brasil, as cotações chegaram a testar os R$ 2000,00 por saca em algumas regiões produtoras nesta semana.
Entre as preocupações, a fragilidade e incerteza que marcam a oferta se destaca. "Os fundamentos permanecem os mesmos: os problemas climáticos continuam e são globais, prejudicando a produção de café em todos os principais países produtores; os estoques são baixos, tanto nos países produtores como nos consumidores; as informações crescentes sobre a queda forte de flores nos cafezais brasileiros, e a resistência dos cafeicultores brasileiros em vender café nestes meses finais de 2024, contribuem com a alta forte nas bolsas de café e no mercado físico brasileiro", afirmou o analista de mercado e diretor do Escritório Carvalhaes, Eduardo Carvalhaes.
Dados divulgados essa semana pelo Serviço Agrícola Estrangeiro (FAS) do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), projetou a produção de café do Brasil em 2024/25 em 66,4 milhões de sacas, número abaixo da previsão oficial do departamento que era de 69,9 milhões de sacas. O USDA também reduziu a estimativa de estoques de café no país, que devem atingir apenas 1,2 milhão de sacas, quando a temporada atual terminar em junho. Isso representa uma queda de 26% em relação ao ano anterior.
Já no Brasil, o presidente do CNC (Conselho Nacional do Café), Silas Brasileiro, relembra que nos útlimos 3 anos a cafeicultura vem enfrentando muitos desafios, principalmente climáticos, mas conseguía manter uma média de 60 milhões de sacas de produção e tinha bons estoques remanecentes. Agora, a situação mudou, e o país está enfrentando um quadro complicado com níveis baixos de estoques e um comprometimento da produtividade já observado para a safra 2025. "Temos um trabalho ativo de campo que vem mostrando o alto abortamento dos chumbinhos nas lavouras, um resultado de mais de 140 dias de estiagem no nosso país", explicou o presidente.
Reveja sua entrevista completa ao Notícias Agrícolas, realizada no último dia 19:
Um levantamento incial da StoneX sobre perspectiva da safra de café 2025/26 já aponta uma quebra de 0,4% da produção. O relatório destaca que a produção do arábica sofreu muito com o clima adverso e seco no Brasil, e deve ter uma queda de 10%, com uma estimativa de 40 milhões de sacas para 2025/26.
Por outro lado, o robusta se manteve mais resiliente a adversidade climática, e por ter sua produção em regiões que fazem uso de um amplo sistema de irrigação nas lavouras, existe então uma estimativa de alta de 21% para a variedade, com 25,6 milhões de sacas para próxima temporada. O Indicador CEPEA/ESALQ aponta que o robusta vem renovando o recorde real da série histórica do Cepea (iniciada em novembro de 2001) e, na parcial deste ano, registra valorização de mais de 100%. Segundo pesquisadores do Cepea essa alta está atrelada à oferta limitada da variedade no Vietnã e no Brasil, além dos maiores preços do arábica.
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IMPACTOS PARA O MERCADO NACIONAL
Sobre as vendas e negociações no mercado doméstico, a Safras & Mercado divulgou no último dia 18 de novembro, que as vendas de café da safra 2024/25 do Brasil tinham atingido 70% do total colhido neste ano, representando um avanço de oito pontos percentuais na comparação com levantamento divulgado no mês anterior, com produtores mantendo negociações nos momentos de altas nos preços. Segundo a consultoria, o fluxo de vendas continua "acelerado" em relação ao mesmo período do ano passado, quando os produtores tinham comercializado 64% da safra. O ritmo também supera ligeiramente a média dos últimos cinco anos para o período (67%).
Os embarques de café do Brasil têm sido fortes este ano, o que mostra que a demanda permanece muito presente e, principalmente, resiliente frente às altas de preços e, mais do que isso, reforçando a força que tem o papel social do café, a segunda bebida mais consumida do mundo. E em um cenário em que a oferta está completamente comprometida nas principais origens, o consumo crescente e frequente servirá sempre como combustível importante para as cotações.
Segundo levantamento realizado pelos pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, de janeiro a outubro, embarques de café subiram mais de 40% e superaram US$ 1 bilhão.
De acordo do Bloomberg, embora não haja uma estimativa oficial sobre a quantidade de café que o país tem atualmente em estoque, há uma especulação crescente de que as exportações podem desacelerar nos próximos meses. O diretor comercial da trader Ecom Group no Brasil, Carlos Santana Jr., disse ao portal internacional que podemos não ter café suficiente para chegar à próxima temporada. “Faltam cerca de oito meses para o início da próxima temporada, e a porcentagem de café vendida pelos produtores brasileiros é muito alta”, completou o diretor.
"O mercado está firme, há muito interesse comprador para todos os padrões de café, para exportação e consumo interno, mas o interesse vendedor neste final de ano é pequeno", afirmou Eduardo Carvalhaes.
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