Café: Crescem pontos de baixa no mercado internacional, mas incerteza ainda persiste
A Hedgepoint Global Markets analisa os fatores que estão levando a uma pressão de baixa nos preços do café no mercado internacional. “Ainda que a volatidade siga elevada, de certa forma a segunda quinzena de outubro tem sido marcada pelo recuo dos preços futuros do café. Alguns pontos têm contribuído para esse cenário de baixa como o retorno das chuvas no Brasil, a aproximação com a safra 24/25 vietnamita e o possível adiantamento da EUDR”, destaca Laleska Moda, analista de Café da Hedgepoint.
“Por outro lado, ainda esperamos que esses fatores contribuam para uma pressão baixista no curto prazo, não podemos esquecer que alguns suportes permanecem no mercado”, observa.
No Brasil, de fato o acumulado de chuvas em outubro (em especial após a segunda quinzena) já é superior aos dois últimos anos e se aproxima das médias históricas para o período e tem sido um fator positivo para a próxima temporada de café, especialmente com novas floradas ocorrendo nas regiões de arábica neste mês.
“A expectativa é que tenhamos uma melhor recuperação dos cafezais e um pegamento das flores caso as precipitações sigam mais constantes nas próximas semanas, o que deve contribuir para a temporada 25/26”, diz a analista.
No entanto, não se pode esquecer que, na maior parte de 2023 e 2024 as precipitações acumuladas mensais permaneceram abaixo da série histórica (com as temperaturas médias também de certa forma acima da média).
“Esse cenário de clima adverso contribuiu para uma produção menor em 24/25 e pode ter comprometido parte do potencial produtivo de 25/26, mantendo o cenário de grande incerteza em relação a oferta brasileira no próximo ano e aumentando a volatilidade do mercado nos próximos meses”, acredita.
Por outro lado, no curto prazo existe a expectativa do aumento de oferta no Vietnã, com a intensificação da colheita da safra 24/25 nas próximas semanas – ainda que nossas expectativas para essa temporada sejam de uma menor produção de café em relação à 23/24.
“É valido apontar que os preços domésticos do Vietnã vêm recuado nas últimas semanas e a comercialização tem seguido lenta, com a demanda mais enfraquecida no país, à medida que compradores esperam a entrada de grãos da nova temporada no mercado”, indica.
Aliado ao maior volume vietnamita esperado no mercado nos próximos meses, a grande possibilidade do adiantamento da EUDR para dezembro de 2025 também tem acionado os baixistas no mercado. Após a aprovação pelo Conselho em meados deste mês, agora resta apenas a aprovação do Parlamento para que o pedido de adiantamento seja efetivado.
“Ainda que a decisão do Parlamento possa ocorrer apenas entre a segunda quinzena e o fim de novembro é esperado que o adiantamento da legislação leve a uma queda da demanda nas próximas semanas”, ressalta.
Isso porque, os importadores e as empresas europeias aceleraram suas compras nos últimos meses, tentando colocar o café na UE antes de dezembro, em antecipação à EUDR, o que possivelmente resultará em um aumento dos estoques do bloco até o fim de 2024.
Os dados de importação europeia até setembro deste ano já apontam para uma recuperação no volume de café trazido ao bloco em relação aos anos anteriores, com a importação acumulada de 36,6 M de sacas de café verde até o mês anterior.
“Assim, sem a pressão do EUDR e com os estoques europeus mais altos, podemos ter uma desaceleração na demanda da EU no curto prazo. Dado que a União Europeia é o maior importador de café do mundo, uma demanda mais enfraquecida poderia adicionar à pressão de baixa do mercado”, pondera.
“Entretanto, como mencionado anteriormente, ainda há pontos de sustentação do mercado no médio-longo prazo. Além dos riscos relacionados à safra 25/26 no Brasil, com a menor produção registrada no país em 24/25 e uma safra menor no Vietnã em 24/25 esperamos que o atual ano safra registre um déficit no balanço global de café”, aponta.
Do outro lado, ainda que as importações mais aquecidas de diversos países consumidores em 2024 possam levar a uma recuperação dos estoques, de forma geral esse volume ainda será inferior que ciclos anteriores, sendo que também se espera redução dos níveis de estoques nas origens até o final da temporada.
“Assim, enquanto no curto prazo podemos ter um cenário mais baixista, nossa expectativa ao decorrer de 24/25 ainda é de um certo suporte para as cotações, especialmente após a finalização da colheita no Sudeste Asiático e durante a entressafra brasileira”, finaliza.
Em resumo, de forma geral, os futuros dos cafés arábica e robusta tem recuado durante outubro, pressionados especialmente pelo retorno das chuvas no Brasil, que podem auxiliar na produção de 25/26. Além disso, a aproximação com a safra 24/25 do Vietnã e o possível adiantamento da EUDR podem adicionar à baixa do mercado, tanto devido a um aumento da oferta de robusta nos próximos meses quanto à uma possível redução da demanda Europeia, visto as importações de café para o bloco foram impulsionadas em 2024 devido ao regulamento, podendo contribuir para uma recuperação dos estoques.
No entanto, ao longo da atual temporada, ainda podemos ter pontos de suporte as cotações do grão. As expectativas para 24/25 ainda são de déficit global de café, refletindo a menor produção no Brasil e no Vietnã. Além disso, os estoques nas origens e até mesmo nos destinos ainda podem seguir abaixo das médias históricas, mesmo que esbocem uma leve recuperação em países consumidores.
Outro ponto de atenção no mercado que pode aumentar a volatilidade nos próximos meses é a temporada 25/26 do Brasil. Ainda que de fato as precipitações em outubro devam auxiliar na recuperação das lavouras e pegamento das floradas, o clima até setembro foi adverso e ainda pode traduzir em perda do potencial produtivo na safra seguinte.
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