Em ano desafiador e de variação alucinante nos preços, ABIC projeta alta de até 1,5% no consumo interno de café
Ainda sentindo os efeitos da geada do ano passado, 2022 foi o segundo ano de produção de café arábica abaixo do que o estimado pelo setor. O resultado, consequentemente, foi de mais um ano com desafios para a indústria nacional de café. O ponto positivo é que o consumo se manteve, inclusive, com expectativa de elevação em 2022.
Os dados oficiais da Companha Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de arábica do Brasil deste ano é de 32,7 milhões de sacas, o que representa alta de 4,1% em relação ao ciclo anterior, mas ainda assim volume abaixo do ideal para abastecimento interno e exportação do produto.
De modo geral, a expectativa do setor cafeeiro nacional é que no próximo ano, se as condições climáticas continuarem dentro do ideal, que o produtor de arábica veja uma recuperação na produção, mas, para a indústria a retomada e ajustes nos preços deve ser mais lenta, já que a tendência é de mercado travado até que se entenda o potencial da produção brasileira no ano que vem.
Traçando uma linha do tempo e fazendo um balanço sobre o ano de 2022, Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café, volta ao mês de março, quando a indústria ainda se preparada para aplicar o repasse para os demais elos da cadeia.
"Demorou em torno de 6 a 8 meses para a indústria conseguir recompor a sua margem minimamente aceita para remunar seus respectivos negócios, tendo até março acumulado entre 120 e 125% de alta na matéria prima (arábica e conilon) de quando aconteceu a geada e a indústria ainda em março acumulava alguma alta residual e ainda repassando os aumentos exponenciais em um curto espaço de tempo, de julho até março", explica.
Deste montante, os dados da ABIC mostram que aproximadamente 55% da alta foi repassada ao varejo. É importante destacar que o café representa cerca de 65% dos custos pagos pela indústria, e segundo o presidente ainda seria necessário o repasse entre 7 e 10% para o setor conseguir fechar as contas com mais tranquilidade.
Durante todo o ano a indústria precisou estudar o cenário de trabalho e se enquadrar nas novas dinâmicas de mercado, acompanhando as estimativas oficiais de safra do Brasil, fato que ajudou a manter a volatilidade dos preços acentuada durante os 12 meses do ano.
"Se deparar com uma revisão da Conab em meados de maio, derrubando em dois milhões de sacas a expectativa da colheita, foi outro impacto devastador para a indústria que já acumulava perdas e não conseguia repassar os aumentos acumulados para o varejo", complementa.
Entre os meses de outubro e novembro, o setor cafeeiro observou volatilidade ainda mais intensas nos preços da commoditie na Bolsa de Nova York (ICE Future US). O retorno das chuvas no Brasil, as primeiras impressões da safra 23 e principalmente a migração dos fundos de commodities para o mercado de capitais, justificaram a intensa oscilação nos preços.
"Os fundos não perdoam. Saíram da posição comprada de commodities para os mercados de capitais, haja vista a grande expectativa de aumento de juros", afirma Pavel se referindo aos impasses econômicos nos Estados Unidos e na Europa.
Todos esses fatores pressionaram os preços na Bolsa. As cotações que chegaram a ser negociada acima dos 200 cents/lbp em Nova York, voltaram a ser negociados abaixo deste valor e atualmente estão na casa dos 170 cents/lbp.
"O retorno, no entanto, foi rápido. Uma curva quase de mergulha e uma ascedencia extremamente veloz. E a causa para isso a gente explica com a indústria que precisava repor os estoques, os produtores com receio de vendas esperando por uma melhora nos preços e o receio do próprio comerciante de café com essa mudança de governo, ninguém sabe o que vem por aí", afirma.
Podemos afirmar que os negócios que já estavam lentos, desde novembro o mercado está ainda mais travado. Além desses fatores, o produtor também espera a virada do ano fiscal para realizar novos contratos. Em termos de negociação, segundo especialistas, a expectativa é que a retomada seja observada só em janeiro e ainda assim depois das chuvas na importante fase de desenvolvimento da safra.
"A mistura desses elementos todos foram de um ano extremamente desafiador para todo setor café. A indústria que sofreu com uma expectativa de abastecimento que foi extremamente volátil, preocupante e uma variação de preço que foi alucinante", complementa. Para suprir a quebra no arábica, a indústria passou a demandar mais do conilon no mercado interno. O reflexo disso, inclusive, foi a queda no volume de café conilon exportado pelo Brasil durante o ano.
Para 2023, Pavel destaca que os desafios continuam a começar pela incerteza que o setor ainda tem em relação ao tamanho da safra 2023.
"Sem dúvida essa dinâmica que vai permear no nosso setor até termos efetivamente a confirmação desses números por órgãos oficiais (Conab e IBGE). Enquanto a gente não tem esses números oficiais, vamos ficar "passeando" entre as informações que cada setor enxerga pela metodologia das suas pesquisas e a volatilidade permanece. Sem dúvida será uma safra maior, todos têm esse sentimento. Afinal essa safra atual ainda foi prejudicada pela geada, mas é natural que no ano que vem que as lavouras que não tiveram produção neste ano, tenha no ano que vem. Qual o tamanho dela? A conferir", complementa.
Diante dessa volatilidade e expectativa de números que ainda não são oficiais, somada às margens justas que a indústria vem trabalhando, a queda nos preços na gôndolas do supermercado só deve acontecer quando o volume da nova safra se confirmar. "Até lá muita volatilidade, muita tensão e muita cautela por parte do industrial, por parte do produtor e naturalmente do consumidor", acrescenta.
ABIC projeta alta de aproximadamente 1,5% no consumo interno
Em termos de consumo, a ABIC projeta o crescimento entre 1 e 1,5% para o ano de 2022 em comparação com o ano passado, que teve aumento de 1,6% e consumo interno de 21,5 milhões de sacas.
Acrescenta ainda que o consumo de café no Brasil é sólido, mas além dos problemas na oferta a alta na inflação brasileira não afetou o consumo da bebida, mas forçou uma mudança no tipo de café comprado pelo brasileiro.
"A inflação foi destruidora para o bolso do brasileiro. Toda a cesta estava acima de 10%, e é natural que o consumidor neste momento busque por café mais barato", afirma. Neste sentido, Pavel considera que apesar da mudança de arábica para o conilon, o brasileiro também se adaptou a nova realidade.
"Consideramos que foi satisfatório porque o consumidor teve um café equilibrado, de qualidade e com rendimento maior ao final da xícara. Consumidor consegue fazer mais bebida, com menos café com o robusta", acrescenta.
Mais segurança de ponta a ponta na cadeia
A Portaria 570 possui um papel em comum com as certificações da ABIC, de proteger o consumidor. Juntas se fortalecem, mas exercem papéis diferentes, visto que a portaria não trata de preferências do consumidor e sim de um padrão mínimo de identidade e qualidade para o produto.
Os selos seguirão informando ao consumidor sobre a conformidade do produto quanto a pureza e segmentando as categorias de qualidade Extraforte, tradicional, Superior, Gourmet, auxiliando o consumidor na escolha do melhor produto que atende ao seu paladar. O poder público terá a função de punir os fraudadores e a Associação seguirá no processo de denunciar os produtos irregulares, certificar e qualificar os industriais, representar a categoria junto ao governo e promover o consumo.
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Mudanças nos Programas de Certificação
De acordo com a ABIC, serão duas principais alterações. A primeira se trata da junção dos selos de Qualidade e o de Pureza. Um café pode ser puro, ou seja, não conter elementos estranhos, mas, ainda assim possuir qualidades desagradáveis ao consumidor. Dessa maneira, não basta mais o produto ser puro. Ele precisa também atingir o padrão mínimo global estabelecido pela Portaria 570.
A segunda novidade é consequência dessa unificação. Os produtos que não atingirem os requisitos mínimos exigidos pelo texto serão identificados como “Fora de Tipo” e não receberão os selos da ABIC. Eles ainda serão fiscalizados quanto à pureza, pois podem ser comercializados, mas não mais certificados pela ABIC.
A ABIC também está estruturando o novo plano de marketing visando ampliar o conhecimento e reconhecimento das certificações da Associação pelos supermercadistas e consumidores, reforçando a credibilidade conquistada ao longo de quase meio século. A Associação também está em vias de se tornar uma empresa credenciada para realizar a classificação do café torrado e moído.
A reestruturação foi discutida e aprovada pelos membros do Conselho Deliberativo da entidade. As mudanças terão um período para adequação e a entidade seguirá orientando os Associados por reuniões virtuais, através de materiais e vídeos didáticos para mais esclarecimentos.
Com informações do Jornal do Café*
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