Com mercado aquecido, cultivar cafés especiais pode ser uma ótima opção para produtores brasileiros
A “Produção de Cafés Especiais no Brasil: avanços tecnológicos e fatores determinantes da qualidade" foi o tema defendido pelo professor Dr. Gerson Silva Giomo, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), na 25ª Edição da Fenicafé- Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura, realizada em Araguari, no Triângulo Mineiro. Segundo Giomo, o mercado de café especial vem crescendo devido à demanda mundial dos países desenvolvidos por café de alta qualidade. Apesar do Brasil não ter fama mundial de um produtor de boa qualidade, esse cenário vem mudando a partir das melhorias que o produtor brasileiro vem fazendo no sistema de produção.
O especialista explica que, de modo geral, o café tradicional é representado por um café comum, um café sem grandes atributos de qualidade, frequentemente torrado bem escuro e consequentemente bem amargo, o que requer bastante açúcar ou adoçantes para torná-lo palatável. Já um café especial é aquele que possui diversos atributos de qualidade, sendo reconhecido por uma bebida saborosa, agradável e fácil de beber sem açúcar. “No Brasil, um café especial seria equivalente a um café de bebida mole, ou com nota sensorial mínima de 80 pontos na escala internacional da Specialty Coffee Association (SCA). Trata-se de um café naturalmente doce, com acidez agradável e equilibrada, com sabores complementares que lembram frutas, caramelo, chocolate, castanhas, melado e flores, dentre outros “.
A qualidade do café é dependente de diversos fatores que interferem na lavoura, na colheita, no processamento pós-colheita, no beneficiamento, no armazenamento, etc. “Em condições normais de produção, ou seja, uma lavoura bem manejada e condições climáticas favoráveis, o momento da colheita é um fator decisivo na qualidade. Colher frutos maduros é essencial para produzir cafés de alta qualidade”, explica. Após a colheita, o processamento e secagem também são determinantes para preservar a qualidade do café. “Se mal conduzidos, a qualidade desejada não é obtida”.
Por fim ressalta-se a importância da variedade ou cultivar utilizada. “Sabemos que existem cultivares mais adaptadas em determinadas regiões e com potencial genético para expressar qualidade diferenciada na xícara, proporcionando aromas e sabores distintos e altamente valorizados no mercado de cafés especiais”.
Avanços tecnológicos - A partir das pesquisas são estudados os parâmetros necessários para o manejo da lavoura cafeeira, indicando as melhores formas de adubação, irrigação e manejo fitossanitário. “A forma de colher e secar o café tem recebido grande atenção da pesquisa, pois a pós-colheita é onde ocorrem os principais problemas que impedem a obtenção de boa qualidade do café. Muitos estudos foram feitos e hoje temos excelentes recomendações técnicas que favorecem a produção de cafés de alta qualidade”, adianta.
Recentemente tem sido dada bastante atenção ao estudo de variedades que produzem cafés de melhor qualidade. “Nesse assunto o IAC é pioneiro, por ser uma instituição que há 90 anos realiza melhoramento genético para melhoria da produção e da qualidade do café”, completa.
Embora todas as cultivares de café arábica possam produzir cafés de excelente qualidade, sabemos que existem variedades que se comportam de maneira diferente das cultivares comerciais, produzindo cafés com qualidade diferenciada e exótica, devido à complexidade de sabores e aromas que pode apresentar na bebida. Sabendo disso, em 2010 o IAC criou um Programa de Pesquisa para Cafés Especiais (@cafesespeciaisiac) exclusivamente para estudar formas de melhoria da qualidade do café a partir do uso de variedades não convencionais. “As variedades em estudo tem apresentado excelentes resultados, com perfil sensorial diferenciado e valorizado no mercado de cafés especiais. Com o avanço da pesquisa espera-se chegar a cultivares específicas para cada região de cultivo, otimizando a produção de cafés especiais com qualidade diferenciada”.
Produtores que já conseguem fazer um bom manejo da lavoura e de processamento pós-colheita poderão adotar o uso de novas cultivares com maior aptidão para produzir cafés especiais diferenciados.
Cafés especiais - Giomo explica que a produção de café especial nada mais é do que o aprimoramento da produção de café comum. A partir da utilização de técnicas específicas de colheita e processamento pós-colheita é possível melhorar substancialmente a qualidade do café, enquadrando-o no quesito de cafés especiais. A melhoria da qualidade é um processo contínuo, onde a cada ano o produtor vai fazendo os ajustes necessários que visam otimizar a qualidade do café. “Além dos cuidados básicos na colheita, que deve priorizar frutos maduros, deve adotar rigorosos protocolos para monitoramento da qualidade ao longo das diversas etapas de produção para que não haja perda de qualidade. É extremamente importante que o produtor esteja engajado na produção de cafés especiais e inserido em mercados que valorizem seu produto e reconheça a qualidade dos cafés, oferecendo remuneração digna e justa aos cafés especiais diferenciados”, finaliza.
A Fenicafé se divide em três partes: o 25º Encontro Nacional de Irrigação da Cafeicultura do Cerrado, 22º Simpósio Brasileiro de Pesquisa em Cafeicultura Irrigada e a 24ª Feira de Irrigação em Café do Brasil.
A feira é promovida pela Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA) e a Federação dos Cafeicultores do Cerrado com apoio da Embrapa Café.
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