Café: Safra 22 no Cerrado Mineiro terá "cara" de ano ímpar, mas produtor refaz negociações para garantir entrega ao comprador final
A região do Cerrado Mineiro, como já é de conhecimento do mercado, está entre as que mais sofreram com as adversidades climáticas nos últimos anos. Além da seca que foi um fator determinante para a quebra de produção, a geada no inverno do ano passado também assustou o cafeicultor no município de Patrocínio/MG, justamente o maior produtor de café arábica do Brasil.
Apesar de ainda não ser possível afirmar os números da produção para 2022, fato é que a super safra, antes estimada pelo mercado, também não é mais uma realidade para o Cerrado Mineiro.
"Sem os problemas climáticos, a região toda do Cerrado teria sim potencial para produzir aproximadamente 8 milhões de sacas, mas ainda não podemos bater o martelo com números. Precisamos ver o mês de março como o grão ficará, a lavoura está de fato muito bonita, enfolhada, mas são fatores positivos para 2023", afirma Simão Pedro Lima - Superintendente da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer).
Com relação ao número oficial da Conab, que indica uma produção de até 55,7 milhões de sacas na safra 22, sendo 38 milhões de sacas do tipo arábica, Simão acredita ser um número coerente, mas reforça a necessidade de esperar para saber como a planta vai reagir ao clima daqui pra frente.
Em 2020, ano de bienalidade positiva, a produção no Cerrado Mineiro foi de 7 milhões de sacas, em 2021 o volume foi de 6.5 milhões de sacas. "2021 nós tivemos ciclo baixo, mas dentro da normalidade apesar de tudo. Embora a safra tenha sido menor, com o preço mais alto o produtor precisou vender menos café, diminuiu de certa forma a oferta, armazéns um pouco mais cheios. Para 2022 nós devemos ter uma safra com cara de safra ímpar, com uma peneira razoável", afirma.
O município de Patrocínio é reconhecido por ter uma produção empresarial forte, mas a região sul foi a mais afetada pela geada, justamente a área que tem a maior parcela de pequenos produtores na região. O produtor local também tem como característica participar ativamente do mercado futuro e com as incertezas na produção, a cooperativa tem feito um trabalho de negociação dos contratos.
"O produtor que viu o preço e travou uma quantidade maior do que seria ideal para travas pode ter sim alguma dificuldade para entrega, mas na maioria dos casos a negociação está sendo feita e existe sim um bom senso entre as duas pontas, produtor e o comprador porque uma coisa é não querer entregar, outra é não ter o café para entrega", acrescenta.
Simão comenta ainda que apesar das dificuldades, o comprador não ficará sem o café, destacando ainda que o cafeicultor da área tem como característica manter os contratos. "Esse é um cenário de novidade e estamos tendo esse trabalho de ajustar com o produtor para o comprador final", acrescenta.
Outro fator que contribuiu para os estoques mais cheios foi o problema logístico que afetou toda a cadeia exportadora do país. "Logística muito complicada o que acabou deixando mais café no armazém, é aquele problema: quando se tinha uma coisa, não tinha outra. Ainda não está regular, mas já temos um cenário um pouco mais confortável", comenta.
A Expocaccer mostra que a cooperativa embarcou aproximadamente 20% a menos em termos de volume no ciclo anterior em decorrência dos problemas logísticos. "Com isso nós tivemos boa parte dos estoques consumida, que se tratam daqueles estoques que já estavam na mão de compradores. É uma sequência de fatores inéditos", acrescenta.
Simão ainda comenta que a mercadoria que ainda não foi embarcada pode trazer nos próximos meses a "falsa realidade" de problema resolvido, mas que é importante estar atento ao fato de se tratar de uma carga que estava parada seja nos armazéns ou nos portos.
"Apesar das dificuldades, quando falamos em mercado de café no Brasil, os números da exportação são os mais objetivos e que nos dão a real movimentação da produção brasileira porque eles são certificados, é diferente das muitas estimativas de safra que temos no mercado", comenta.
O setor aguarda pelos números de embarque do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) que deve ser divulgado ainda nesta semana, mas valoe lembrar que em janeiro o país exportou um total de 3,226 milhões de sacas de 60 kg, volume que implica queda de 11,8% em relação às 3,659 milhões de sacas registradas no mesmo período do ano passado.
1 comentário
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SAULO ANTONIO MELO SIQUEIRA Cássia - MG
Com todo o meu respeito ao Sr. Simão Pedro Lima, acho que há uma certa incoerência no que disse. Ele afirma que a safra de café do cerrado mineiro foi prejudicada. E mesmo assim acha razoável a projeção de safra estimada pela CONAB. Com certeza ele não tem andado pelo parque cafeeiro do sul de Minas (quanto à Zona da Mata nada falo porque não conheço a realidade da produção de lá. Só sei ´´por ouvir dizer``. Não fui lá verificar.), pois a realidade aqui é cruel. A quebra é imensa. Fácil de falar para quem realmente está observando de fato a realidade do parque cafeeiro que a produção brasileira ficará muito aquém da projeção da CONAB. Repetindo, muito aquém. E a estimativa da CONAB não é 57,7 milhões de sacas e sim 55,7 milhões.