Bem-estar animal é componente agregador de valor e de competitividade no setor de proteína animal, segundo especialistas
A discussão sobre práticas de bem-estar animal, para além dos benefícios para os animais de criação comercial em si, perpassa o ambiente de ESG nas empresas (Meio Ambiente, Social e Governança, na tradução em inglês) até chegar a ser considerado um diferencial que aumenta a competitividade de determinados produtos. Durante discussão no webinar “Bem-estar animal em uma nova era de ESG”, organizado pela Colaboração Brasileira de Bem-estar Animal (COBEA), especialistas discutiram o tema e quais caminhos o Brasil segue para melhorar o setor de proteínas animais e rações.
No caso da área de nutrição animal, que em muitos produtos utiliza ingredientes vindos do setor de produção de carnes, João Paulo Figueira, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Special Dog Company, explica que a qualidade dos produtos virou uma commodity, e que práticas de sustentabilidade e bem-estar animal viraram um diferencial que trazem mais competitividade.
“Até 2022 a gente acreditava que produzir alimentos de qualidade e oferecer longevidade bastava (a animais de estimação), mas virou a chave que precisávamos olhar para a cadeia que fornecia os suprimentos e promover essa transformação de forma geral. A gente entende que com certeza, para os principais players de petfood, qualidade hoje é uma commodity que não diferencia mais estas grandes indústrias, não diferencia mais frente ao consumidor, e o bem-estar animal virou um driver essencial de competitividade no mercado petfood”, disse. “Daqui pra frente, cada vez mais, a gente vai ter a sustentabilidade, ESG e bem estar como driver para diferenciar as empresas e torná-las mais competitivas”, complementou Figueira.
Elisa Tjarnstrom, diretora executiva da COBEA, aponta que hoje há um consenso de que o bem-estar animal promove uma boa nutrição humana e segurança alimentar, além de melhorar índices zoonóticos de animais e melhor conversão alimentar. Mais do que isso, ela liga práticas de bem-estar animal à sustentabilidade e mostra como ao longo dos anos algumas empresas passaram a enxergar também os ganhos comerciais.
“Estamos vendo os relatórios de sustentabilidade cada vez mais obrigatórios, o que faz com que as empresas vejam suas produções com mais profundidade. Ou seja, não é mais possível que uma empresa alegue que não sabe o que acontece na sua linha de produção”.
A diretora executiva da COBEA aponta que, em 11 anos, o número de empresas que reconhecem o bem estar animal como uma questão empresarial subiu muito, saindo de 70% em 2012 para 95% em 2023. Em 2012, 46% das empresas publicavam de maneira formal suas políticas de bem-estar animal, chegando a 87% em 2023. Elisa acrescenta que, em 2023, 73% das empresas começaram a relatar alguns dados de impacto de desempenho em sua cadeia de suprimentos global.
“Se uma empresa tem bom desempenho na área de bem estar animal, geralmente tem bom desempenho em outras áreas ligadas à sustentabilidade”, acrescentou.
Os relatos de desempenho da cadeia de suprimentos global mostra como um ambiente colaborativo pode ajudar nos avanços nas práticas de bem-estar animal.
José Ciocca, diretor executivo da Produtor do Bem Certificações, afirma que existe a necessidade de “dar um passo atrás”, organizar o setor de produção de alimentos, criar uma estratégia a todos os que estão ligados nessa cadeia produtiva e de consumo e conceder essa certificação (de Produtor do Bem), mas de forma que seja cada vez menos um nicho de mercado.
“Precisa melhorar o diálogo no setor, conectando os elos. O que a gente entende é que o Brasil precisa deixar de ser reativo e passivo e começar a demonstrar a capacidade de trabalhar de forma proativa e colaborativa, transcendendo o bem estar animal e saúde nos conceitos. São necessárias ferramentas adicionais para um sistema produtivo mais sustentável, porque muitas mudanças são sistêmicas”, afirmou.
Para Ciocca, da pequena empresa/produtor até aqueles de maior escala, ampliar as práticas de bem-estar animal e as certificações só será possível de forma colaborativa e, para isso, a participação de toda a cadeia agroalimentar é fundamental. “Isso vai desde as redes de restaurantes, até outras redes varejistas, porque são players que acabam fazendo conexões com pequenos e grandes produtores, trazendo a possibilidade de que todos participem”.
GOVERNO COMO PROPAGADOR DA SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO BRASILEIRA
Sobre a importância da colaboração, proatividade e liderança para o setor de proteínas brasileiro, o diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Marcel Moreira, existem barreiras de comércio internacional em relação aos produtos brasileiros, mas estas barreiras não vêm de forma cronológica.
Ele elenca a defesa de demandas econômicas do setor, como tarifas e cotas de importação ou subsídios à exportação; questões relacionadas à segurança dos produtos, como normas sanitárias e fitossanitárias, rotulagem, aberturas de mercados; e temas como padrões éticos e morais do consumidor, onde entram conceitos de sustentabilidade, certificações, rastreabilidade e bem-estar animal.
“Temos buscado diálogos no exterior em missões para tratar com autoridades não apenas para negociar aberturas de mercado, mas também levar aspectos de sustentabilidade da produção brasileira, também assinando protocolos de intenção internacionais. Temos atuado fortemente em discussões em órgãos internacionais, como FAO, OMSA, Codex, e o Brasil segue as diretrizes. Por sermos receptores de muitas demandas, tentamos fomentar a cultura exportadora e o entendimento de questões regulatórias internacionais”.
Moreira destaca o papel dos adidos agrícolas brasileiros ao redor do mundo, que devem chegar a 40 em 2025. Segundo ele, são figuras-chave para ajudar na construção de informações qualificadas sobre o mercado global para ajudar a fomentar o setor agrícola brasileiro e vice-versa (quais informações o Brasil deve levar para determinados países).
“Em alguns países o agro braisleiro ainda é desconhecido, o que facilita a absorção de informações distorcidas, e vemos a necessidade de atuar forte nesta frente. A questão da sustentabilidade é abordada de forma diferente na Europa. O acordo com Mercosul e União Europeia é uma excelente abertura para debater isso, mas onde temos atuado para discutir este tema atualmente é na Ásia, tanto pelo desconhecimento quanto pela contaminação de ideias que não são verdadeiras, e além disso, a necessidade da segurança alimentar forte, mas sem deixar de dialogar com os demais países”, finalizou.
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