Alta nos custos de reposição em 2019 elevou em até 33% os custos operacionais totais da pecuária de corte
Apesar das altas observadas na remuneração aos pecuaristas durante o ano de 2019, o período também foi caracterizado por elevação dos custos de produção, conforme os dados do projeto Campo Futuro, uma parceria entre o Cepea e a CNA.
A principal elevação foi ocasionada pela valorização dos animais de reposição, que tiveram como motivação o abate elevado de fêmeas em anos anteriores, limitando a disponibilidade desses animais, e a alta nos preços da arroba do boi gordo, incentivando a busca por esses animais. O reflexo da valorização foi observado de forma intensa nos sistemas de recria e engorda, dependentes de animais de reposição, e de forma branda no sistema de cria, que repõe apenas animais de reprodução.
Considerando a média Brasil, em 2019, os sistemas de recria e engorda amostrados pelo Projeto Campo Futuro apresentaram elevação de 16,3% em seus custos operacionais totais, sendo mais de metade da alta observada nos últimos dois meses do ano. Entre janeiro e outubro de 2019 os sistemas de recria e engorda acumularam alta de 7,9% no COT (Custos Operacionais Totais – que considera todos os desembolsos anuais de uma propriedade, acrescidos da depreciação de seu inventário).
Os maiores registros foram nos estados do Pará (21,1%), Rondônia (18,9%) e Mato Grosso (18,7%), locais em que o custo com reposição de animais representa, respectivamente, 60,0%, 59,7% e 65,7% do COT.
No caso do sistema de confinamento, localizado em Goiânia (GO), a valorização dos animais elevou o COT em 33,5%, sendo que a reposição representa 84% desse custo.
Em sistemas de cria, o COT aumentou 3,9% entre janeiro e dezembro de 2019, na média Brasil, ocasionado pelo aumento no custo de aquisição e reposição de reprodutores. Dos estados analisados, as maiores variações acumuladas foram verificadas no Rio Grande do Sul (8,2%), Mato Grosso do Sul (7,0%) e em Rondônia (5,2%).
É válido ressaltar que no modelo do estudo este custo é indexado no valor de venda de bois gordos, que, por sua vez, teve considerável alta em novembro e dezembro de 2019.
Mesmo assim, no acumulado do ano, o panorama da pecuária nacional continua positivo. Os sistemas de cria nacionais terminaram o ano de 2019 com margem líquida de R$ 183,91 por hectare de área útil, contra R$ 102,72/ha em janeiro/19. Os sistemas de recria e engorda obtiveram margens de R$ 503,45/ha em dezembro/19, contra R$ 235,43/ ha no primeiro mês do ano, enquanto no confinamento de Goiânia, a margem passou de R$ 64,36/@ produzida para R$ 138,12/@.
A média da relação de troca de 2019, em arrobas de boi gordo necessárias para se adquirir uma arroba de bezerro, permaneceu estável em relação à média registrada em 2018.
As últimas semanas de 2019 e no início de janeiro de 2020, o Indicador do bezerro ESALQ/BM&F Bovespa se manteve mais estável que o valor da arroba do boi gordo, referenciada no indicador do boi gordo CEPEA/B3. Dessa forma, a relação de troca, até a metade de janeiro de 2020, se mantém acima dos valores observados tanto em 2018 e 2019.
O ano de 2019 se encerrou com sensação de alívio para os pecuaristas nacionais, devido às margens mais confortáveis. No entanto, historicamente, os preços da arroba passampor ajuste nos próximos meses, devido à chegada do fim das águas e, consequentemente, maior oferta de bois a pasto para os frigoríficos. Isto poderá influenciar as margens operacionais dos produtores que optaram por investir em animais de reposição mais valorizados.
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