Denúncia contra Lula tem o peso de uma lápide, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Publicado em 04/05/2016 07:17
Janot colaborou com Lula e Dilma o quanto pôde! Mas não deu mais pra segurar (POR REINALDO AZEVEDO, de VEJA)

O cronista Nelson Rodrigues ensinou que a morte é anterior a si mesma. Começa antes, muito antes. É todo um lento, suave, maravilhoso processo. O sujeito já começou a morrer e não sabe. Tome-se o caso de Lula. Fenece politicamente desde 2005, quando explodiu o mensalão. Mas demorou dez anos para que a Procuradoria-Geral da Repúlica providenciasse a lápide.

Veio na forma de uma denúncia e de uma petição ao STF. Na denúncia, o procurador-geral pede a conversão de Lula em réu por ter tentado comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró. Na petição, requisita a inclusão de Lula e outras 29 pessoas no “quadrilhão”, como é conhecido o principal inquérito da Lava Jato. Nesse texto, Janot esculpiu um epitáfio com cara de óbvio:

“Essa organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Lula dela participasse.''

A conclusão do procurador-geral elimina uma excentricidade dos governos do PT. Está chegando ao fim a era da corrupção acéfala. Janot fez, finalmente, justiça a Lula, protegendo-o de si mesmo. A pose de Lula diante da roubalheira não fazia jus à sua fama.

O mal dos partidos políticos, como se sabe, é que eles têm excesso de cabeças e carência de miolos. O PT sofre da mesma carência, mas com uma cabeça só. Desde que empinou a tese do “não sabia”, Lula vinha renegando sua condição de cérebro solitário do PT. Reivindicava o papel de cego atoleimado.

Se aceitar a denúncia da Procuradoria, o STF não irá apenas transformar Lula em réu. Restabelecerá a lógica, acomodando o personagem no topo da hierarquia da quadrilha.

Mirando para baixo, Janot disparou várias balas que muitos davam como perdidas. Requereu a inclusão no inquérito do “quadrilhão” de vários nomões do PT, do PMDB e da vizinhança de Dilma.

Gente como os ministros palacianos Jaques Wagner, Ricardo Berzoini e Edinho Silva; os ex-ministros Erenice Guerra, Antonio Palocci e Henrique Alves; os senadores Jader Barbalho e Delcídio Amaral; o deputado Eduardo Cunha… De quebra, foi alvejado o principal assessor de Dilma, Giles Azevedo.

Como se fosse pouco, Janot requereu a abertura de inquérito contra a própria Dilma, o advogado-geral do impeachment, José Eduardo Cardozo e, de novo, Lula. Acusa-os de tentar obstruir as investigações.

No início de março, quando foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento à Polícia Federal por ordem do juiz Sérgio Moro, Lula reagiu com uma entrevista de timbre viperino. “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo, porque a jararaca está viva.'' Pois bem. Janot acertou a cabeça da víbora.

Lula estava zonzo desde o dia em que o doutor Moro atrapalhou sua nomeação para a Casa Civil jogando no ventilador os diálogos vadios captados em grampos legais. Numa conversa com Dilma, a jararaca destilara todo o seu veneno:

“Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado. […] Nós temos um presidente da Câmara fodido, um presidente do Senado fodido. Não sei quantos parlamentares ameaçados. E fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e vai todo mundo se salvar…”

Depois disso, a Suprema Corte avalizou o rito do impeachment, o presidente da Câmara coordenou a goleada de 376 X 137, o presidente do Senado passou a flertar com o vice-presidente “conspirador”, os parlamentares traem madame gostosamente e Lula revela-se uma cobra sem veneno. Tornando-se réu, talvez chegue a 2018 mai perto da cadeia do que das urnas.

Quanto a Dilma, ninguém estranharia se o noticiário sobre sua Presidência migrasse da editoria de política para o espaço que os jornais reservam aos avisos fúnebres. Os curiosos lêem compulsivamente, à espera de uma surpresa agradável. Jurada de morte, madame tenta se convencer de que ainda está cheia de vida. Mas todos sabem, inclusive seus aliados, que, mais dia menos dia, acaba o seu dia a dia. Tudo passa, exceto o PMDB, que é imortal.

 

OS ÚLTIMOS DIAS – E Janot pede mesmo o inquérito específico para Dilma, Lula e Cardozo

Não perca a conta aí, caro leitor. O passado está começando a bater à porta de Luiz Inácio Lula da Silva, de Dilma Rousseff e de José Eduardo Cardozo, hoje advogado-geral da União.

Falemos do grande demiurgo, do Babalorixá de Banânia. Agora ele já é um denunciado. Rodrigo Janot, procurador-geral da República, pediu a inclusão de seu nome no inquérito que apura a tentativa de comprar o silêncio de Nestor Cerveró. Se a Segunda Turma do Supremo aceitar, ele se torna réu. A decisão está nas mãos dos ministros Teori Zavascki, Gilmar Mendes, Carmen Lúcia, Dias Toffoli e Celso de Mello.

O procurador-geral também quer Lula investigado no grande inquérito que apura múltiplos crimes cometidos pela organização criminosa na Petrobras. Ao todo, Janot quer incluir 31 novos nomes no grupo: além de Lula, os petistaços Jaques Wagner, Edinho Silva, Ricardo Berzoini e José Sérgio Gabrielli.

A reversão da fortuna continua para Lula. A Procuradoria-Geral da República pede a abertura de um segundo inquérito contra Lula — aí em companhia de Dilma e Cardozo.

Ao nomear Lula para a Casa Civil, Dilma teria praticado desvio de finalidade com o objetivo de obstruir o trabalho da Justiça. Gravações que vieram a público revelaram que a intenção era mesmo tirar o chefão petista da alçada da 13ª Vara Federal de Curitiba, protegendo-o de uma eventual ação de Sérgio Moro.

O pedido de Janot leva em conta a delação de Delcídio, segundo quem o governo teria iniciado gestões junto a tribunais superiores para interferir na Lava Jato. Entre elas, estaria a nomeação do ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça.

O pedido de inquérito deve incluir também o ministro Aloizio Mercadante (Educação). Em conversa gravada com um assessor de Delcidio, ele oferece ajuda ao senador em troca, tudo indica, do seu silêncio.

Como o caso envolve a presidente da República, Janot pode apelar ao pleno do Supremo para decidir se abre ou não o inquérito contra Dilma.

 

Janot colaborou com Lula e Dilma o quanto pôde! Mas não deu mais pra segurar

POR REINALDO AZEVEDO, de VEJA

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai demonstrando que é um excelente administrador do tempo e das circunstâncias. E também prova que sabe ler o sentido dos ventos com a precisão de uma biruta. Não! Não vou criticá-lo por fazer a coisa certa. Mas não vou me furtar aqui a apontar, vamos dizer, o notável atraso com que atuou nos casos de Lula e Dilma.

Qualquer observador atento da realidade sabe que Janot se preparou para qualquer resultado do jogo. Quem quer que tente atribuir a ele uma colaboração mínima que seja com o impeachment de Dilma Rousseff estará cometendo uma injustiça. Em momentos decisivos, o procurador-geral atuou em favor do “Fica Dilma”. Agora que os fatos estão praticamente consumados, nós o vemos ativo e buliçoso. E, finalmente, fazendo a coisa certa. Explico tudo.

Janot resolveu oferecer denúncia contra Lula no inquérito que apura a compra do silêncio de Nestor Cerveró, então prestes a fazer delação premiada. O senador Delcídio do Amaral deixou claro que atuava com delegação do Poderoso Chefão. O procurador-geral, ora vejam!, descobriu que um esquema como o petrolão não poderia funcionar sem a conivência de Lula.

Não parou por aí: pediu ainda que o nome do ex-presidente seja incluído no inquérito-mãe do petrolão — o que apura as safadezas na Petrobras —, junto com Jaques Wagner, Ricardo Berzoini, Edinho Silva e José Sérgio Gabrielli.

Mais: quer outro inquérito para apurar se Dilma — sim, a presidente —, Lula e José Eduardo Cardozo não se irmanaram num trabalho de obstrução da Justiça quando o ex-presidente foi nomeado ministro.

Síntese: contra o ex-presidente, uma denúncia e dois inquéritos; contra a atua, ao menos um inquérito. Os principais homens do Palácio — Wagner, Berzoini e Edinho — podem integrar a investigação-chave do petrolão.

É evidente que também eu fico tentado a dar os parabéns a Janot. Mas vou me conter.

Lembro que, não faz tempo, esse mesmo procurador-geral opinou que Dilma poderia, sim, nomear Lula seu ministro. Chegou a alegar a gravidade da conjuntura como fator e evitar embaraços para a consumação do ato. Dias depois, mudou de ideia e passou a enxergar o tal desvio de finalidade e a obstrução da Justiça. Não fosse a liminar contra a posse, concedida pelo ministro Gilmar Mendes, o homem estava lá na Casa Civil.

Noto que, então, Janot apontou esses vícios, mas, ainda assim, não pediu a abertura de inquérito contra Dilma. Aliás, a questão é de tal sorte grave e evidente que já poderia era ter oferecido uma denúncia.

Pensemos um pouco em Lula. Lembram-se do contrato de US$ 1,6 bilhão que o grupo Schahin fechou para administrar o navio-sonda Vitória 10.000? Pois é… Em razão dele, o PT deixou de pagar uma dívida de R$ 60 milhões com o grupo. O dono da empresa, além de Nestor Cerveró e de Fernando Baiano, acusaram a atuação do ex-presidente no caso. Motivo para pedido de abertura de inquérito? Por muito menos, outros estão sob investigação.

Mas Janot, prudentemente, esperou.

E foi Janot também que imprimiu especial velocidade à investigação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), principal inimigo de Dilma, quando comparamos o seu caso com os dos demais investigados. Não que ele não mereça ainda mais celeridade, não é mesmo? Mas e os outros?

Querem mais? Janot se conformou com a leitura torta do Parágrafo 4º do Artigo 86 da Constituição, segundo a qual Dilma não pode responder no segundo mandato por crimes praticados no primeiro, ainda que esses crimes tenham colaborado para conquistar esse segundo mandato, o que é uma aberração.

Em suma: Janot postergou o quanto pôde a investigação de Dilma e Lula. Esperou que os dois fossem condenados pela ordem de fatos completamente alheios à sua atuação para só então despertar.

Não fossem as ruas, que não esperaram a vontade de Janot, a mover o Congresso, e Dilma e Lula iriam nos assombrar até 2018.

Corajosamente, o procurador-geral esperou que a dupla não tivesse mais saída para fazer, então, o que deveria ter feito há muito tempo.

#protontofalei

 

O BRASIL SOB O JUGO DE UMA QUADRILHA (Reinaldo Azevedo)

Os governistas, liderados pelo cara-pintada transformado em cara de pau Lindbergh Farias (PT-RJ), fizeram o diabo para tentar impedir o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) de ler o seu relatório. As chicanas foram se multiplicando. Mas a leitura está em curso. E o texto é favorável à continuidade do processo. Deve ser aprovado pela comissão sem problemas e certamente terá a anuência da maioria simples do Senado. E Dilma será, então, afastada.

Quem visse Lindbergh e seus valentes em ação não ligaria o governo que está aí, liderado pelo PT, àquilo que ficamos sabendo do depoimento de Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez. O conteúdo explica por que Rodrigo Janot pediu que Lula, Ricardo Berzoini e Edinho Silva, entre outros, passem a ser investigados do inquérito-mãe da Lava Jato.

Azevedo relata que, em 2008, foi chamado para uma reunião com Berzoini, então presidente do partido — e noto que ele havia assumido o cargo porque o mensalão havia destruído José Genoino — e por João Vaccari Neto, o tesoureiro. Os companheiros deixaram claro que a segunda maior empreiteira do país teria de pagar 1% de propina sobre toda obra por ela realizada desde, atenção!, de 2003 — desde, portanto, a chagada do partido ao poder.

Não só: ali ficou acertado que esse 1% valia para todas as obras então em curso e para as que viessem a ser feitas. O PT unia, assim, as três pontas da corrupção: passado, presente e futuro. Entre 2009 e 2014, Marques estima que a Andrade Gutierrez repassou R$ 90 milhões do PT. Desse total, pelo menos R$ 40 milhões, disse, eram oriundos de propina. Na campanha de 2014,  Edinho Silva apresentou a conta que o partido fez para a empreiteira: R$ 100 milhões.

É muito constrangedor ler textos de alguns colunistas — espero que seja só convicção torta — que tratam o impeachment como um golpe das elites econômicas contra os interesses populares. Fazê-lo corresponde a se alinhar com um regime conduzido por larápios e ladrões. Nesta terça, vimos, por exemplo, Marcelo Lavenère, ex-presidente da OAB, num fim melancólico de carreira, a desenvolver suas teorias furadas sobre a marcha do retrocesso que estaria um curso.

Notem: por que o presidente da segunda maior empreiteira do país mentiria? Especialmente quando as informações da sua delação coincidem com as de outros depoentes? O PT decidiu ser sócio de todas as empreiteiras do país. Na verdade, decidiu se apropriar de uma parcela do caixa de quantas empresas fizessem negócios com órgãos públicos.

Haverá corrupção no governo Temer e em qualquer outro? Estou certo de que sim. Que os responsáveis paguem por aquilo que fizeram. Corruptos fazem mal ao país quando incrustados na máquina pública. Mas eles podem destruí-lo se impõem o seu método de governança.

E nós estamos ainda sob o jugo de uma quadrilha.

Carvalho, petista que já quis disputar Deus com evangélicos, descerá a rampa com o rabo entre as pernas

Gilberto Carvalho, braço-direito de Lula e ministro do primeiro governo Dilma, voltou ao Palácio do Planalto nesta quarta para participar de um balanço das ações do Ministério do Desenvolvimento Social. Segundo homem mais poderoso do PT, hoje ele é presidente do Conselho Nacional do Sesi. Também vai perder a boquinha — no caso, bocona.

Como Dilma não estava presente, ele se encarregou de usar um prédio público que é sede do Poder Executivo para o proselitismo político contra as instituições. Essa gente, no devido tempo, terá de ser responsabilizada por tamanha afronta. Chamou, também ele, o cumprimento da Constituição de golpe e disse que estará presente, quando Dilma for afastada, para descer com ela a rampa.

O PT pretende armar uma pantomima para mobilizar a sua tropa. Talvez não fosse prudente fazê-lo. Suponho que os adversários saberão transformar o ato supostamente solene num momento patético. Petistas gostam, no entanto, de uma patuscada romântica. Que seja!

Carvalho fez de conta que o partido que vai ser apeado do poder não é aquele que chamou o então presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, em 2008, para avisar — isto está em sua delação — que a empreiteira tinha de pagar 1% de propina sobre todas as obras que tocava no governo federal desde… 2003.

Descendo a rampa com Dilma, é muito provável, estará Ricardo Berzoini, secretário de governo da presidente e, em 2008, presidente do PT. Segundo Marques de Azevedo, foi quem comandou a tal reunião. Também deve estar com Dilma Edinho Silva, que apresentou à mesma empreiteira, em 2014, um pleito de R$ 100 milhões. E deve compor a turma Jaques Wagner, igualmente incluído no inquérito-mãe da Lava Jato.

Nada disso! Segundo Carvalho, o que está em curso é um golpe, desfechado por aqueles que não estão conformados com as conquistas sociais proporcionadas pelo petismo. Ele não se referiu ao desemprego acima de 10%, claro!

Com a cara de pau que tão bem o caracteriza, disse: “Todo mundo sabe que nós estamos saindo por conta da escolha certa que nós fizemos do ponto de vista da luta de classes”. É verdade. Na luta de classes, os petistas escolheram os empreiteiros, que, por sua vez, escolheram os petistas. Carvalho emendou: “Dilma está tendo cassado o seu mandato e não pode ser acusada por um tostão.” É… Não se trata de tostão. O crime de responsabilidade remonta a muitos bilhões de reais.

Estou contando as horas para ver a companheirada descer a rampa com o seu ar ativo. Ao fazê-lo, além dos milhões de desempregados, deixam como herança um déficit brutal, a mais longa recessão da história, a Petrobras quebrada, o maior escândalo de corrupção que o mundo já viu e o exemplo acabado da privatização do Estado a serviço de uma camarilha.

Compreendo a chateação de Gilberto Carvalho. Esse cara estava tão certo de que já havia aniquilado a oposição no país e que o PMDB já estava neutralizado que, no dia 27 de janeiro de 2012, num discurso no Fórum Social de Porto Alegre, deixou claro que a etapa seguinte do projeto totalitário petista era medir forças com os evangélicos. Sim, esse grande pensador queria um partido político disputando o mercado das ideias religiosas.

E não parou aí, não. Naquele discurso, ele também defendeu — e era ministro de Estado! — que o governo investisse numa mídia estatal para a Classe C.

Era o auge do delírio. Embora o país já estivesse no rumo do desastre, isso não aparecia. Mais de 70% consideravam o governo Dilma ótimo ou bom. A máquina corrupta operava a todo vapor. As porcentagens de propina eram pagas religiosamente, e não parecia haver força viva capaz de se opor ao petismo.

Quatro anos depois, Carvalho está planejando como vai descer a rampa com Dilma, com o rabo entre as pernas.

Engula essa, papudo!

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo, de VEJA

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