Oposição encaçapou dona da mesa e dos tacos, por Josias de Souza (UOL)

Publicado em 12/04/2016 08:43
no blog do Josias (UOL)

Oposição encaçapou dona da mesa e dos tacos, por Josias de Souza (UOL)

A derrota sofrida por Dilma na comissão do impeachment desafia a lógica elementar de um torneio de sinuca. A oposição prevaleceu por 38 a 27 num jogo contra a dona da mesa, com as regras e os tacos da casa —e com o governo comprando quem pudesse lhe causar problemas.

Num golpemício realizado no Rio de Janeiro, Lula discursou: “A comissão acabou de derrotar a gente. Mas isso não quer dizer nada. A comissão foi montada pelo Cunha. É o time dele. A nossa luta vai ser no plenário. Domingo é que temos que ter clareza. Sabemos que temos que conversar com os deputados.''

Não é bem assim. Eduardo Cunha de fato tentou compor uma comissão com as suas digitais. Mas o STF, acionado pelo protogovernista PCdoB, redefiniu as regras, anulou os atos de Cunha e mandou refazer o processo. Em vez de chapa avulsa, os nomes foram indicados pelos líderes partidários, como queria o Planalto. A votação secreta tornou-se aberta. E o plenário apenas referendou os nomes dos líderes, elegendo um colegiado de maioria governista.

À medida que o torneio foi avançando, desapareceram na caçapa das ilusões o poder de sedução de Lula e o comando dos líderes dinheiristas sobre suas bancadas. De resto, percebeu-se que, sob a ruína produzida por Dilma, maiorias irresistíveis viram minorias especializadas em sobrevivência.

Nem nas suas contas mais pessimistas o Planalto imaginou que pudesse ser derrotado na comissão por uma diferença de 11 votos. A certa altura, sonhou com a vitória. Depois, imaginou que perderia por 33 a 32. Nas suas contas mais pessimistas, imaginou que faria 30 votos, contra 35 da turma do ‘Fora, Dilma’.

Num ponto, Lula tem razão: o governo terá de conver$ar muito com os deputados até a final de domingo. Se for encaçapada novamente no plenário da Câmara, Dilma chegará ao Senado em frangalhos.

 

Bala de prata de Dilma falha na primeira batalha

Ninguém esperava ver Lula cabalando votos na entrada da comissão que derrotou Dilma na primeira batalha da guerra do impeachment. Seria muito teatro. Mas pouca gente entendeu o que fazia o criador no Rio de Janeiro, numa manifestaçãoornamentada com artistas e intelectuais, na hora em que sua criatura tanto precisava dele em Brasília.

Ficou no ar a incômoda impressão de que Lula começa a virar a página. Empatado com Marina Silva na liderança do último Datafolha presidencial, Lula parece mais preocupado com a publicidade do aplauso de plateias companheias do que com o esforço oculto para manter unido um rebanho congressual que salta o alambrado.

Devolvido à cena brasiliense como “bala de prata” de Dilma, Lula revelou-se um traque no primeiro embate. De nada adiantaram as prome$$as feitas no escurinho do quarto de hotel. Num colégio de 65 votos, o impeachment prevaleceu por 38 a 27. Nada que permita concluir que a oposição já garantiu os 342 votos de que precisa no plenário da Câmara. Mas foi constrangedor para o governo ter de “comemorar” a derrota pouco elástica, inferior a dois terços.

O jogo não acabou. Porém, o governo dispõe de pouco tempo para esboçar uma reação. A batalha do plenário está marcada para domingo. Por ora, a coreografia favorece os partidários do impeachment, já que a bancada dinheirista admite tudo, menos ficar do lado perdedor. Às voltas com dificuldades para confirmar sua própria nomeação para o ministério, Lula já não é o mesmo sedutor de outrora. E tende a tornar-se irrelevante se não se der conta de que Chico Buarque não têm direito a voto no plenário da Câmara.

 

PT já receia cassação do governador de Minas, Fernando Pimentel

Num instante em que gasta energias no esforço para tentar estancar o derretimento da gestão Dilma, a direção do PT passou a ruminar o receio de que o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, também vire alvo de um processo de cassação.

Pimentel foi indiciado pela Polícia Federal sob a suspeita de ter cometido crimes variados: corrupção passiva, tráfico de influência, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Desceu à grelha com autorização do ministro Herman Bernjamin, do STJ, o foro dos governadores de Estado.

Por mal dos pecados, a exemplo do que sucede com Dilma, o governador petista de Minas, amigo da presidente dos tempos de luta armada, também carrega a tiracolo um vice do PMDB, o ex-deputado federal Antonio Andrade.

 

Lula tem toda razão: estão ‘criminalizando’ o PT

Em meio a críticas à imprensa, ao Congresso e à Lava Jato, Lula disse o seguinteao jornalista americano Gleen Greenwald: “…Neste momento histórico, o que existe é a tentativa de criminalizar o PT, de tirar a Dilma e de tentar evitar qualquer possibilidade do Lula voltar a ser candidato a presidente neste país”,

Lula está coberto de razão. As cadeias de Curitiba encontram-se apinhadas de criminosos pilhados em obscuros negócios político-empresariais que resultaram em assalto à Petrobras e a outros cofres do Estado. Alguns já foram condenados. Outros confessaram seus crimes.

O PT enfiou a mão nesta cumbuca. Fez isso porque quis. Estão atrás das grades o tesoureiro João Vaccari Neto e o reincidente José Dirceu. Está preso também o sujeito que exercia em nome do PT a vice-presidência da Câmara, André Vargas. Vários cleptoaliados do PT são investigados no STF. O próprio Lula é alvo de inquéritos. Ou seja, o PT se autocriminalizou.

De fato, o Congresso tenta tirar Dilma da poltrona de presidente. O PT sabe do que se trata, já que pediu o impeachment de todos os presidentes da fase pós-redemocratização. Do bunker que instalou numa elegante hospedaria de Brasília, Lula guerreia para evitar a queda de sua ex-gerentona. Ele faz o diabo para enterrar o processo na Câmara. Se conseguir evitar que a tese do impedimento seduza 342 votos, o jogo estará jogado. Do contrário, a bola rolará para o Senado.

Quanto à “possibilidade de Lula voltar a ser candidato a presidente”, basta que cumpra os requisitos legais. Se ainda tiver condições de exibir a ficha limpa, ninguém poderá evitar. O PT não ousaria negar ao seu melhor representante a oportunidade de se defender na propaganda eleitoral.

 

Temer fala de quase tudo, menos de Lava Jato

Há quatro meses, quando endereçou a Dilma Rousseff uma carta-rompimento —“Sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã—, Michel Temer deixou claro que, mais do que jogar óleo na pista, desejava assumir o volante. Hoje, ao “vazar” um pronunciamento antecipado de posse, o vice-presidente revelou seu itinerário. Afora a extemporaneidade, o discurso espanta pelo que deixa de dizer. Temer falou de quase tudo, só não falou de Lava Jato.

Temer é um orador cuidadoso. Não diz um “bom dia” sem pensar dez vezes. Portanto, não mencionou a Lava Jato porque não quis. Ou não pôde. Temer está cercado de suspeitos. Em algum momento terá de dizer como pretende se relacionar com eles..

O PMDB impregnou a linha sucessória do país de suspeição. A conversão de Temer em presidente da República fará de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, o número dois da República. Renan Calheiros, presidente do Senado, será o número três. O primeiro é réu na Lava Jato. O segundo responde a nove inquéritos no STF.

Na semana passada, Temer licenciou-se da presidência do PMDB para repassar o posto ao primeiro vice-presidente da legenda, o senador Romero Jucá. Que também está encrencado na Lava Jato.

Ao discorrer sobre o futuro, Temer disse em seu pronunciamento: “Sem essa unidade nacional, penso que será difícil tirar o país da crise. O fundamental agora é o diálogo, em segundo lugar a compreensão, e em terceiro lugar, para não enganar ninguém, ideia de que vamos ter muitos sacrifícios pela frente…”

No Brasil de hoje, o futuro à Lava Jato pertence. Qualquer pessoa que pretenda assumir a Presidência da República, para “não enganar ninguém”, precisa dizer se pretende propor “diálogo” a quem precisa de interrogatório e “compreensão” a quem flerta com a prisão.

 

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Blog do Josias (UOL)

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