Radar TVeja: líderes lavam as mãos e abandonam governo em comissão

Publicado em 11/04/2016 13:31
por VERA MAGALHÃES + REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM ("Atenção! Já não se trata de saber se o impedimento da presidente é a melhor alternativa; ele se tornou a única alternativa")

Radar TVeja: líderes lavam as mãos e abandonam governo em comissão

Por: Vera Magalhães

O que se viu nesta segunda-feira na comissão especial de impeachment foi um governo nervoso, acuado, fazendo uma defesa em tom alarmado – para, logo em seguida, ser abandonado pelos partidos da base aliada, num sinal nada promissor para a votação decisiva de domingo. 

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que apareceu sereno há uma semana e foi até didático ao usar compras de feira para explicar as pedaladas fiscais, nesta segunda estava irritado, abusando da ironia e da agressividade ao se referir ao parecer do relator Jovair Arantes, pela admissibilidade do impeachment.

Se Cardozo esperava encorajar os líderes da base aliada com seu discurso indignado, o tiro saiu pela culatra. Os líderes do PMDB, do PP e do PSD, partidos nos quais o governo mercadeja votos para impedir a abertura do processo, liberaram os votos. O PMDB tem nada menos que seis ministérios. Só um ministro deixou o cargo depois do famoso desembarque do partido. Ainda assim, o líder Leonardo Picciani, para  cuja recondução o Planalto atuou abertamente, lavou as mãos e liberou os votos. 

Em seguida foi a vez do líder do PP, Agnaldo Ribeiro, que, por sinal, é ex-ministro de Dilma. 

O PSD de Gilberto Kassab atingiu o auge: dividiu o tempo da liderança para um deputado pró-impeachment e outro contrário. 

O resultado de tamanho descompromisso foi selar o destino de Dilma na comissão, o que já era esperado, e jogar mais incerteza sobre suas chances no plenário. 

Hoje já há os 342 votos para o impeachment (POR REINALDO AZEVEDO)

A Comissão Especial do Impeachment deve aprovar nesta segunda-feira o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), favorável à continuidade do processo contra a presidente Dilma Rousseff. Os dois lados dão a aprovação como certa, o que, evidentemente, cria um clima negativo para a ainda presidente na votação em plenário, no próximo domingo.

Todos os esforços do governo têm-se mostrado, até aqui, inúteis. Hoje, nesta segunda-feira mesmo, o grupo pró-impeachment dispõe dos 342 votos. A movimentação destrambelhada do governo acabou criando uma situação negativa para a própria Dilma. Virou aquilo que é: desespero. E disso decorre o óbvio: dá-se como certo que, caso a petista consiga se safar do impeachment na Câmara, não vai conseguir governar depois.

Os erros vão se contando em penca, além das circunstâncias, sempre hostis porque hostis são os fatos. Na semana passada, os petistas chegaram a se animar, e Jaques Wagner saiu plantando redações afora que a causa estava liquidada. Um monte de jornalistas caiu na sua conversa.

 

Eis que vieram a público detalhes da delação premiada da Andrade Gutierrez. E os senhores parlamentares perceberam que o governo não sobrevive. Assim, que vá ao diabo antes em vez de ir depois — já que o seu destino é mesmo o inferno.

Outro fator que desanimou os que ainda tentam resistir foi o novo parecer do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra a posse de Lula como ministro da Casa Civil. E, nesse caso, deu-se algo curioso: que ela é ilegal, pautada pelo desvio de finalidade, a todos está claro. Mas isso Janot já sabia. Ao mudar tão radicalmente seu parecer, criou-se nos meios políticos de Brasília a certeza de que ainda vem bomba por aí. Quem está a fim de posar no retrato como aliado de um governo moribundo — e, pior, comprado por Lula?

A movimentação do ex-presidente, que está se tornando um Midas às avessas, passou a ser de tal sorte escancarada e desavergonhada que, nos corredores da capital federal, é frequente que se chame o tal quarto de hotel em que ele despacha de, como dizer?, lupanar. Procurem o sinônimo. É uma casa de tolerância.

Mais: mesmo deputados que estavam dispostos a entregar o corpinho a Lula começaram a se convencer de que, caso o governo consiga sobreviver por mais quase três anos, a sua pauta única será cuidar da candidatura do chefão petista à Presidência da República. E, nesse caso, o destino certo do país é o abismo.

Já nem se trata de saber se o impeachment de Dilma é a melhor saída. A cada dia, ele vai se mostrando a única saída. Todas as alternativas são piores. A tese das eleições gerais — ou ainda que apenas presidenciais — é uma bobagem rematada. A menos que haja dupla renúncia — de Dilma e de Michel Temer —, não há alternativa. Ou, então, duplo impedimento. No caso do vice, qual é mesmo a acusação? A continuidade de Dilma implica manter o país no rumo da desesperança e do desastre renovado.

Saída ótima, como se sabe, não há. E Temer, uma vez presidente, certamente terá muitas dificuldades, até porque o PT e as esquerdas vão tentar violar a Constituição e as leis para criar tumulto. Mas o país dispõe de instituições para enfrentá-los, segundo as regras da democracia, que eles se negam a reconhecer.

Dá para prever o resultado do próximo domingo? Não! Mas, nesta segunda, dá para dizer que os que são favoráveis ao impeachment dispõem de 342 votos. Agora se trata de ganhar margem de segurança até a votação decisiva, prevista para o dia 17.

O Brasil merece essa chance.

(POR VERA MAGALHÃES, RADAR, VEJA.COM.BR)

 

Ary Fontoura para Dilma: “Golpe, quem deu foi a senhora”

Um dos mais importantes atores do país demonstra que não teme as patrulhas ideológicas e que sabe a diferença entre democracia e ditadura

Ary Fontoura é um dos maiores nomes da televisão, do teatro e do cinema no Brasil. Nunca foi do tipo que se acovarda. Também não é de meias palavras.

Nestes tempos em que tantos artistas se ajoelham no milho para fazer um ato de contrição ao PT — seja para não ficar mal na rodinha, seja por causa dos capilés das leis de “incentivo” à cultura —, Fontoura deu uma prova de coragem no “Domingão do Faustão” deste domingo.

E que se note: tanto mais seu ato deve ser reconhecido porque poderia fazer como uma larga parcela, que prefere se esconder no isentismo dos que não se prezam.

Referindo-se à atual situação do Brasil, deixando claro que fazia a defesa da democracia, disse o ator — e foi aplaudido de pé — a partir de 1min11s:
“Fala-se muito que impeachment foi um golpe, sobretudo a presidente do Brasil. Gostaria de mandar um recado pra ela: ‘A senhora está empregando a palavra errada. Golpe, golpe, golpe, quem deu foi a senhora! (aplausos) A senhora deu um golpe, e um golpe baixo, quando prometeu uma infinidade coisas para seus eleitores e não cumpriu. Foi isso o que aconteceu!”

É isso aí! É bom saber que nem toda a classe artística está de joelhos ou escondida debaixo da cama. Há quem saiba distinguir o estado de direito da gritaria de um “grupelho”, que, como lembrou Fontoura, não é dono do Brasil.

Assista ao vídeo.

 

Campanha da Rede, de Marina, é oportunista e mentirosa

Não é verdade que Marina queira eleições diretas; ela aposta na continuidade de Dilma porque está de olho no espólio do PT

Vi ontem as inserções da Rede no horário político gratuito. O partido, que não aderiu ao impeachment, preferiu o oportunismo explícito. Diz apostar na cassação da chapa Dilma-Temer no TSE e pede novas eleições. Chega a dar nojo porque Marina Silva e seus “marineiros” (fico até meio constrangido de escrever essas coisas) sabem que isso não aconteceria, se acontecesse, antes de 2017. Eventual impedimento de presidente e vice nos dois anos finais de mandato resultariam em eleição indireta. Já chamei atenção para isso no blog muitas vezes (textos de arquivo aqui).

Em muitos aspectos, Marina me irrita mais do que os petistas. Ocorre-me apelar a Shakespeare, que punha frases definitivas até na boca de vilões, não é? No caso, adapto o perverso Iago. O PT nos rouba a bolsa — e, assim, rouba-nos o lixo. E ladrões têm, sim, de ir em cana. Marina nos rouba o bom senso. Leva o que não a faz rica e ainda nos deixa pobres de verdade.

De resto, ela não está sendo sincera quando diz querer novas eleições. Então quer o quê? Desvendei o seu segredo numa coluna publicada no dia 22 de janeiro na Folha, intitulada “Sapos, bagres, pererecas e outros bichos”. Permito-me transcrever trechos. Volto para encerrar.

“Não em razão do tamanho do seu partido, mas do número de votos que obteve nas duas últimas eleições e do espaço que ocupa na imprensa, Marina Silva, a líder da Rede, se tornou a principal força auxiliar da presidente Dilma Rousseff. Nem boniteza nem precisão, mas esperteza. Aquele jeitinho de quem só toma vitamina de chuchu com rúcula esconde um modo bem cruento de fazer política.
(…)
[Marina] Concedeu uma entrevista a esta Folha em que abusou do incompreensível a serviço do etéreo. Sua glossolalia política é capaz de produzir coisas como esta: “Impeachment não se fabrica; ele se explicita em função dos fatos que o justificam”. É mais ou menos como dizer que uma peça de mortadela se explicita em função das coisas que a justificam como peça de mortadela. Marina sempre se esforça pra me matar de tédio. Ainda bem que existe a vodca.

A líder da Rede não quer o impeachment porque prefere Dilma se esvaindo no cargo. Pouco se lhe dá se o Brasil terá dois anos consecutivos de recessão perto de 4%, depois de ter crescido 0,1% em 2014 e às vésperas de ter crescimento zero em 2017. Pouco importa a Marina que o país vá para o brejo, junto com os sapos, os bagres e as pererecas. Um PT em frangalhos e uma Dilma que mal consiga pôr o nariz fora da porta são essenciais para seu projeto pessoal em 2018. Só por isso ela não quer o impeachment e também decidiu que Temer é o inimigo.

No domingo, do nada, Marina e seu partido afirmaram que, caso o atual vice venha a ser presidente, há o risco de a Lava Jato ser paralisada. Por quê? Não há explicação. É puro terrorismo. Ela raramente se explica. Emite fatwas, com os seus xales descolados de tecido cru, seu coque severo e sua magreza que parece aspirar à santidade.

Não leu “Júlio César”, de Shakespeare. Deveria fazê-lo. O Número Um de Roma diz a Marco Antônio que mantenha Cássio, o magro, longe dele: é “seco por demais”, “pensa muito”. À sua volta, diz, só quer gordos de cabelos luzidios. Não faço juízo de valor a partir de aparências. Só estou, como se passou a dizer nestes tempos, “problematizando a narrativa” do falso ascetismo, bastante sedutora nesta era pós-leitura.

O que dizer a Marina Silva? Esperteza demais, especialmente quando vazada naquela Niágara de substantivos abstratos e sintaxe rocambolesca, acaba engolindo a dona. Como já engoliu.

Dados os crimes de responsabilidade cometidos por Dilma, e esses são óbvios (isso se chama “base jurídica”), e a incapacidade da presidente de tirar o país do buraco –ao contrário: ela o afunda ainda mais (e isso se chama “questão política”)–, a única coisa sensata a fazer é aderir ao impeachment. A menos que um valor mais alto do que o país se alevante.

Marina acha que a única coisa sensata que pode acontecer é ser ela a presidente do Brasil. Apela, como de hábito, a substantivos celestes, mas de olho em coisas bem mais terrenas. A turma que toma vitamina de clorofila se extasia e tem visões do paraíso.

Mesmo com o país no brejo dos sapos, dos bagres e das pererecas.”

Retomo
Como a gente nota, essa Marina da “Rede”, desse mundo virtual que iguala com tanta facilidade pérola e porcos, já era manjada por Shakespeare, né? Que ela engane ainda hoje muita gente, eis uma evidência de que não se perdem tempo, dinheiro ou ambos apostando na tolice alheia.

“E por que apostar na sabedoria alheia, Reinaldo?” Por uma questão de imperativo ético, de bom gosto e de vergonha na cara.

 

Rede fecha questão pró-impeachment, mas libera deputados

Após dois dias de reunião a Rede decidiu fechar questão e apoiar a admissibilidade do impeachment.

A decisão, na prática, acaba sendo mais uma manifestação política do partido que uma orientação que se transforme em voto unanime na bancada.

Isso porque, apesar da posição da sigla, a Rede dirá que respeita a pluralidade de posicionamentos, por isso não vai obrigar seus deputados a votarem pelo impedimento de Dilma Rousseff.

Cada parlamentar votará de acordo com sua consciência.

E, fora a questão mais imediata do impeachment, a Rede segue defendendo que a cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE e a realização de novas eleições são a melhor solução para o país.

 

 

J. R. Guzzo: Tempo de desvario

Publicado na versão impressa de VEJA

Nunca antes na história deste país houve tantas oportunidades claras de dizer ‘nunca antes na história deste país’. É raro, hoje em dia, que se passem 24 horas seguidas sem que aconteça alguma coisa jamais acontecida antes ─ algo sem precedentes, sem registro anterior, inédito, nunca visto, observado pela primeira vez, e assim por diante.Há também a questão do tempo. Todas essas coisas não acontecem desde a proclamação da República, ou o grito do Ipiranga, ou a assinatura do Tratado de Tordesilhas, ou alguma outra data imensa que se desbota lentamente na escuridão do passado.  Para os jornalistas, que têm a vaga obrigação de não repetir demais as palavras que escrevem, é uma chateação. Mas o que se pode fazer? O ‘nunca antes’ é um bicho que não dá trégua a ninguém no Brasil de hoje. Ei-lo outra vez: alguém já viu o maior partido brasileiro, o PMDB, sair por vontade própria de algum governo? Pois foi justamente o que fez na última semana desse funesto mês de março, ao decidir em três minutos, e por unanimidade, abandonar o governo de Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula, do PT e dos parasitas pendurados em todos eles ─ mais um passo rumo ao atestado de óbito de governantes reduzidos, por seus próprios desatinos, a um aglomerado que vive em delírio, não governa mais nada e declarou guerra à democracia brasileira.

Só um governo patologicamente ruim conseguiria levar um partido como o PMDB a largar o osso, que roeu em mansa sociedade com Lula, Dilma e o PT desde que foram para o Palácio do Planalto, treze anos e três meses atrás. É mais uma taça na categoria ‘Obras inéditas’, em que tanto vem brilhando. Nunca se roubou tanto dinheiro público no Brasil como nos governos de Lula e de Dilma. Alguém pode citar algum outro? Nunca o país foi administrado com uma incompetência tão desesperada. Para ficar só nos números mais horrorosos e mais recentes, o governo pretende ter um rombo superior a 95 bilhões de reais em suas contas de 2016. Ainda outro dia, no comecinho do ano, tinha uma meta de 60 bilhões de déficit ─ não dobrou a meta, como Dilma gosta, mas tem tempo de sobra para chegar lá até dezembro, caso continue por aí. E a Petrobras? A empresa sagrada da esquerda nacional fechou 2015 com um prejuízo de 35 bilhões de reais, que se somam aos 20 bilhões perdidos em 2014; há também os 40 bilhões torrados em corrupção pura, pelos cálculos da Operação Lava ­Jato. Que outro governo brasileiro destruiu tanto o patrimônio da Petrobras?

Nunca houve uma campanha tão frenética a favor da corrupção como a que se faz agora sob o comando de Lula, e que está à vista de todos com o bombardeio contra as investigações em andamento no Poder Judiciário ─ especialmente contra o juiz Sergio Moro, acusado de nazista, bandido, conspirador decidido a eliminar o estado de direito no Brasil e daí para baixo. Nunca um governo recorreu tanto à cesta das soluções cretinas como o atual; seu último feito, aí, é a tentativa de obter ‘apoio internacional’ contra o impeachment de Dilma e futuros processos penais em que Lula possa ser réu. Nesse caso já não se trata de estupidez ─ é desvario. Cinco minutos depois de tomar posse, um novo governo que venha a substituir Dilma já será reconhecido por todas as nações, salvo, talvez, por uma Venezuela qualquer. É bom não contarem com Cuba: hoje o herói de lá é Barack Obama, não Lula, e o grande projeto cubano é dar-se bem com os Estados Unidos.

Nunca antes, enfim, um grupo político ameaçado de ruína bolou uma estratégia de defesa tão alucinada quanto essa tentativa de barrar o impeachment gritando ‘não vai ter golpe’. Claro que não vai ter. A lei diz que não é golpe; aliás, exige que 342 deputados e 54 senadores votem pelo impeachment. O STF diz que não é golpe ─ escreveu, inclusive, o regulamento a ser seguido no Congresso para a deposição legal de Dilma. Câmara e Senado dizem que não é golpe. A Ordem dos Advogados diz que não é golpe. A deputada Luciana Genro, comandante de um partido descrito como de ‘extrema esquerda’ e que prega o fim do ‘modelo capitalista’ no Brasil, diz que não é golpe. ‘Não estamos numa situação de golpe’, garante Luciana; não vem aí, explica ela, nenhum governo que ‘vá censurar, que vá prender, que vá torturar’. Diz que as ‘castas políticas’ estão tentando uma ‘operação abafa’ na Lava Jato e que Moro ‘não é um fascista’. Para completar, diz que ‘Lula é indefensável’ e ‘está comprometido com os interesses dos megaempresários que saquearam os cofres públicos’. Depois disso, a quem apelar?

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