A presidente que erra até contas que se aprendem no jardim da infância merece ser cassada por insuficiência mental

Publicado em 31/03/2016 20:16
por AUGUSTO NUNES, de VEJA.COM.BR
Direto ao Ponto / POR AUGUSTO NUNES: 

A presidente que erra até contas que se aprendem no jardim da infância merece

ser cassada por insuficiência mental

“Eu acredito que sou talvez a única governante que tenha tido várias vezes as contas vistas e revistas, porque comigo não basta aprovar uma vez”, desandou Dilma Rousseff na discurseira para um grupo de artistas e intelectuais que aplaudem a presidente com muito mais frequência do que são aplaudidos por plateias minguantes. “É necessário talvez aprovar duas ou três, o que é bastante interessante, é uma matemática política muito, mas muito estranha”.

A presença do talvez nas duas frases informa que até o neurônio solitário anda duvidando das coisas que diz. Mas os dependentes da bolsa-cultura crê no que for necessário para garantir a mesada. A turma acredita, por exemplo, que a aplicação de normas constitucionais regulamentadas pelo Supremo Tribunal Federal é golpe. Errado. Mas acerta ao berrar que não vai ter golpe. O que vai ter é impeachment. Ou cassação da chapa que se manteve no poder pendurada num estelionato eleitoral. Isso sim é golpe.

As contas de Dilma nunca foram vistas e revistas: foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União. Há outras, ainda devassadas pela Operação Lava Jato. A república de Curitiba limita-se a somar, diminuir, multiplicar, dividir — os verbos de sempre. “Matemática política” é a inventada pelos campeões de pedaladas fiscais criminosas. “Muito estranha” é a aritmética que transforma prejuízo em lucro, roubo em superávit, débito em crédito e menos em mais.

Mais estranho ainda é constatar que o Brasil é presidido por uma nulidade incapaz de fazer contas de jardim de infância. Revejam o vídeo famoso. Quem acha que 13 menos 4 é igual a sete merece ser cassada por insuficiência mental.

 

Carlos Alberto Sardenberg: Tem que passar a Lava Jato

Publicado no Globo

Tem uma conversa esquisita rolando em meios empresariais e políticos. Envolve figuras conhecidas do mundo econômico — alguns diretamente apanhados na Lava Jato, outros com medo e outros assustados com a paralisia do negócios. Conversam com lideranças políticas tradicionais.

O que querem?

Não sabem exatamente. Quer dizer, muitos sabem perfeitamente: dar um jeito de brecar ou pelo menos diminuir a velocidade e o alcance da Lava Jato. O que não sabem é como articular isso parecendo que estão querendo outra coisa.

Assim, fala-se em um grande acordo nacional, um governo de união para superar a crise. Até algum tempo atrás, meses, muitos empresários e políticos achavam que tudo poderia começar com uma boa conversa entre FHC e Lula. Diziam que a crise era uma ameaça para “todo mundo”, de modo que era melhor que “todos” se entendessem antes.

Não podia dar certo. Não é “todo mundo” que está sob ameaça. Lula, Dilma, o PT e associados estão. Muitos grandes empresários também.

Mas FHC — e tudo o que representa, de autoridade política e moral — está fora disso.

Queriam, portanto, que FHC entrasse como o avalista, o garantidor desse grande acordo. Claro, o tucano não caiu nessa jogada.

Mas ainda há poucas semanas, a presidente Dilma achou que tinha uma chance. Mandou recados a FHC sugerindo uma conversa, ainda que reservada. O tucano declinou. A marcha do impeachment acelerava.

Convém lembrar que FHC foi contra quando saíram os primeiros movimentos pró-impeachment, lá no início do ano passado. Achava que seria um processo difícil e doloroso, de modo que lhe parecia mais apropriado que a história seguisse seu curso, e o governo petista fosse afastado nas eleições de 2018. Muita gente na oposição formal pensava assim.

Duas coisas mudaram o quadro: o aprofundamento da recessão e o avanço da Lava Jato. A recessão liquidou com a popularidade do governo — 69% de ruim e péssimo, sendo espantosos 54% de péssimo contra ridículos 2% de ótimo, segundo o último Ibope. A Lava Jato acabou com Lula, Dilma, PT e associados.

Não é que a oposição decidiu-se pelo impeachment. O processo tornou-se um ser autônomo, empurrado pela maioria da sociedade representada nas grandes manifestações.

Aliás, aquela inviável tentativa de um acordo nacional deixava de fora o principal ator do momento, o pessoal das manifestações.

Na outra ponta, Lula radicalizava para voltar às suas origens, as bases sindicais e os movimentos sociais organizados.

E a Lava Jato pegando um por um.

Nesse quadro, os senhores estão propondo mesmo qual acordo? — foi o que os diversos interlocutores ouviram de FHC. Ou ainda: “Já combinaram com os russos?” Russos? É, os de Curitiba.

Então ficamos assim: o governo Dilma está acabado. Lula corre o risco efetivo de ser preso. Certamente, será condenado no mínimo pelo que já se sabe — o recebimento de vantagens indevidas —, no máximo pelo que a Lava Jato já sabe e ainda não contou. Delações premiadas que estão por aparecer são demolidoras. A recessão avança, e tudo que o governo tenta fazer para escapar do impeachment, distribuindo dinheiro e empréstimos, só piora as coisas.

E os canais políticos tradicionais estão entupidos, não se comunicam com o pessoal das manifestações. Esse pessoal não é novo e não quer simplesmente o “Fora PT”.

Há muito tempo, andando pelo país, tenho encontrado uma geração de brasileiros que não quer mamar nas tetas do Estado; acha que o governo não cabe no país; acha que a iniciativa privada é que cria riquezas; e por aí vai. Podem chamar de agenda liberal, neoliberal, conservadora, o que seja. Mas esse pessoal entendeu que a Lava Jato não está apenas apanhando um bando de ladrões. Está revelando as entranhas de um arranjo político que funcionou durante anos beneficiando uma turma que não é o povo.

Encontra-se esse pessoal novo tanto no Matopiba — se não sabem o que é, estão por fora — quanto em uma reunião de microempreendedores em Manaus ou em Maringá. É animador.

Mas antes temos o andamento da crise. Não tem “acordo nacional” antes que o ambiente seja depurado, antes que passe a Lava Jato. Um futuro governo Temer terá que passar pelo teste.

Tem jeito?

Sempre tem. Não é verdade que “todo mundo” está na roubalheira, que são todos aproveitadores.

Também não é verdade que a crise seja insolúvel. Lembram-se do governo Itamar Franco? Teve três ministros da Fazenda nos primeiros sete meses. Só começou a sair do buraco quando Fernando Henrique Cardoso foi nomeado ministro da Fazenda em maio de 1993, passando a agir como primeiro-ministro de fato. Naquele ano, a inflação foi de 2.477,15% (notaram a precisão das duas casas depois da vírgula?). Em 94, FHC implantou o Real, e o país mudou para muito melhor.

Hoje, dos seus 85 anos, FHC conversa, sugere caminhos. Mas não pode voltar à cena principal. Quem seria o novo?

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veja.com.br

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