Desconstruindo as mistificações de um intelectual petista em coluna de jornal

Publicado em 24/12/2015 16:55 e atualizado em 24/12/2015 17:42
André Singer acusa a "mídia", onde ele já foi chefão, de conspirar contra o PT. É mesmo? Então cobro que ele conte as conspirações de que já participou. Além de provar que está errado

Estou mais ou menos de férias, como sabem. Por três semanas, deixarei de publicar minha coluna na Folha, “Os Pingos nos Is” só voltam ao ar no dia 11, na Jovem Pan, e este blog está em ritmo mais lento. Mas, a exemplo do que faço desde 2006, sempre que acho necessário, volto a esta, como se dizia antigamente, tribuna!

André Singer, colunista da Folha e ex-porta-voz de Lula, escreve neste sábado um artigo de uma desonestidade intelectual como raramente vi. A coisa é particularmente série no que diz respeito ao pensamento porque Singer é professor de sociologia da USP. Pertence àquele grupo seleto de pessoas que é pago pelo estado para pensar com independência. Esquerdista que é, Singer certamente está entre aqueles que acham que o ente público que lhe garante o salário não é “neutro”. Aí ele se dá o direito de enfiar o pé na jaca.

O professor escreve um artigo para tentar demonstrar que a imprensa protege os escândalos tucanos e superdimensiona os petistas, alimentando a falácia de que existe uma conspiração na “mídia” — ele emprega essa palavra — contra o seu partido. André — eu o trato pelo prenome para distingui-lo de outro Singer, o Paul, seu pai, também membro do partido — sabe que isso é mentira. Talvez eu deixasse passar em branco se outro escrevesse as mesmas bobagens. Não ele. E, antes de desmontar suas falácias, explico por quê.

André foi secretário de Redação da Folha. À época em que exerceu essa função, estava logo abaixo do diretor de redação. Como se brinca, era o cara que mandava soltar e prender no jornal. E todos sabem que ele exerceu seu cargo com bastante altanaria. Sua irmã, Suzana Singer, anos depois, ocupou o mesmo cargo. Mais tarde, tornou-se ombudsman — é aquela senhora que me chamou de cachorro quando fui convidado para ser colunista no jornal. Ela não reconhecia em mim a isenção e a serenidade para exercer tal ofício. Não sei se entenderam a graça da coisa.

Muito bem! Se a mídia conspira contra o PT, a família Singer deve ter larga experiência nessa conspiração, já que dois de seus membros exerceram cargos de comando no principal jornal do país. Pergunto:
– alguma vez foram convocados pelo patrão para distorcer a notícia?;
– alguma vez receberam a orientação para perseguir petistas e proteger tucanos?;
– alguma vez tiveram de omitir uma notícia favorável ao PT?;
– alguma vez tiveram de inventar uma notícia contrária ao PT?;
– alguma vez foram forçados a carregar nas tintas contra o petismo?;
– alguma vez foram forçados a minimizar malfeitos tucanos?;
– alguma vez passaram a seus subordinados essa orientação?

Como, estou certo, ambos responderiam “não” a cada uma dessas indagações, pergunto: de quem exatamente André está a falar? Qual é a mídia que distorce? Ou será que esse é um defeito de caráter que atinge outros chefes de redação, mas que jamais afetaria a pureza e a independência de um Singer?

Na Folha, fui editor adjunto de política e coordenador de política da Sucursal de Brasília. Vai ver tenho cara de bobo, e ninguém me chama para conspirar por isso. André e Suzana certamente não participaram de conspiratas por excesso de caráter — devem ter deixado isso para os outros. E eu não participei por falta de esperteza: ninguém me queria para organizar tramoias.

Truque antigo
André recorre a um velho truque da esquerda, que remonta aos escritos de Lênin sobre imprensa. Segundo aquele tarado homicida, ela era necessariamente reacionária porque não controlada pela classe operária — ou, no paradigma leninista, pelos bolcheviques. Lênin, ao menos, tinha a honestidade de dizer que imprensa ruim era toda aquela que não fosse partidária — do seu partido. André omite essa pretensão.

Escreve o articulista (em negrito):
O pagamento de R$ 60 milhões por parte da Alstom, como indenização por uso de propina no mandato do pessedebista Mário Covas em São Paulo (Folha, 22/12), a revelação de que a dobradinha Nestor Cerveró-Delcídio do Amaral remonta ao tempo em que ambos serviam ao governo Fernando Henrique Cardoso (Folha, 18/12) e a condenação do ex-presidente tucano Eduardo Azeredo a 20 anos de prisão (Folha, 17/12), por esquema análogo ao que levou José Dirceu à cadeia em 2012 (condenado à metade do tempo), confirmam que há dois pesos e duas medidas no tratamento que a mídia dá aos principais partidos brasileiros.
Enquanto o PT aparece, diuturnamente, como o mais corrupto da história nacional, o PSDB, quando apanhado, merece manchetes, chamadas e registros relativamente discretos. O primeiro transita na área do megaescândalo, ao passo que o segundo ocupa a dimensão da notícia comum.

Vamos lá:
1: O caso Alstom mereceu e merece atenção enorme do jornalismo. A única coisa que foi abordada com discrição pela imprensa foi o papel ativo que teve o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, nesse episódio, atuando em dobradinha com um deputado petista e com o comando do Cade para tentar implicar o governo de São Paulo na tramoia. Cardozo teve de admitir que enviou, imaginem vocês!, um papel apócrifo ao Cade. A atuação foi de tal sorte exótica que despertou a atenção até da moribunda Comissão de Ética Pública.

2: É claro que houve corrupção em outros períodos da história. A questão é saber quando os corruptos estão num empreendimento pessoal, ou mesmo grupal, e quando atendem a um projeto de poder. Se André tem a informação de que a sujeira serviu ao PSDB, ao governo Covas ou a outros, que, então, diga.

3: Afirmar que “que a dobradinha Nestor Cerveró-Delcídio do Amaral remonta ao tempo em que ambos serviam ao governo Fernando Henrique Cardoso” chega a ser asqueroso. Ambos eram funcionários da Petrobras. De que maneira o PSDB ou o governo FHC se beneficiaram das sem-vergonhices da dupla? André quer fazer de conta que alhos e bugalhos são a mesma coisa.

4: Quem disse que se dá pouco destaque ao caso Azeredo? É uma mentira verificável pelos fatos. Singer deveria observar, por exemplo, que a condenação do ex-governador de Minas, ainda em primeira instância, é maior do que a de qualquer político do mensalão.

O militante petista André não está obrigado a fazer a distinção que vem agora, mas o professor está — se pretende encarar os seus alunos com um mínimo de verdade: o que se chamou de “mensalão mineiro”, mesmo na versão mais extrema, consistiu no uso da máquina pública para fazer caixa de campanha. Tendo acontecido como se diz, a prática é criminosa e tem de ser punida.

Mensalão e petrolão são outra coisa. Trata-se de máquinas de assalto ao estado, de que o crime eleitoral é apenas a sua expressão menos maligna. De resto, Azeredo perdeu a reeleição. O mensalão e o petrolão constituíram formas de criar uma República paralela na vigência dos governos Lula e Dilma.

Por que André distorce tão miseravelmente a verdade?

Ora, o objetivo é empurrar a imprensa não para a neutralidade, mas para a compensação. Ao acusar o jornalismo — majoritariamente petista e de esquerda, diga-se — de perseguir o PT, André pretende incitar as franjas do partido nas redações a cobrar “isenção”, que consistiria, então, em praticar equilibrismo, de sorte que PT e PSDB tivessem um mesmo número de “notícias negativas” no terreno moral. Como se o 

país tivesse assistido em qualquer tempo a coisas como mensalão, petrolão e eletrolão.

O ápice da empulhação teórica está aqui:
Isso não alivia a situação do PT, o qual, como antigo defensor da ética, tinha compromisso de não envolver-se com métodos ilícitos de financiamento. No entanto, o destaque desequilibrado distorce o jogo político, gerando falsa percepção de excepcionalidade do Partido dos Trabalhadores. A salvaguarda do PSDB pelos meios de comunicação reforça a tese de que o objetivo é destruir a real opção popular e não regenerar a República.

Pela ordem:
1: Notem que André não se refere ao PT como “ex-defensor da ética”, mas como “antigo”, no sentido mesmo do anterioridade, quiçá do pioneirismo… Santo Deus!

2: André restringe aos crimes do PT aos de financiamento de campanha. É mentira!

3: Mas, ora vejam, o pioneiro da ética, agora, só não quer um tratamento excepcional: o partido exige ser tratado como um corrupto semelhante aos outros.

4: Observem que, na pena de André, só existe uma “real opção popular”: o PT!  E a imprensa, na qual a família Singer saber ser chefe, estaria interessada em destruir tal opção. É mesmo? O que André, o chefe, fez em favor de tal intuito?

Mais adiante, avança:
Se a mídia quisesse, de fato, equilibrar o marcador, aproveitaria o gancho para mostrar que juízes, procuradores e policiais, vistos em conjunto, têm sido parciais. Enquanto a máquina investigatória avança de maneira implacável sobre o PT, o PSDB fica protegido por investigações que andam a passo bem lento. Aposto que se uma vinheta do tipo “e o metrô de São Paulo?” aparecesse todo dia na imprensa, em poucas semanas teríamos importantes novidades.

Desconstrua-se:
1: André, o ex-jornalista que ainda não conquistou a devida independência para ser um intelectual, não está interessado nem em jornalismo nem em Justiça: ele quer é “equilibrar o marcador”. A imprensa só seria isenta no dia em que o noticiário negativo sobre PT e PSDB fosse o mesmo, independentemente dos crimes cometidos por um e por outro.

2: O colunista também quer que se abandone a notícia em nome de uma abordagem puramente ideológica e persecutória: cobra que se demonstre a parcialidade dos investigadores. Bem, ele poderia ter usado o seu texto para elencar nomes e fatos, por exemplo. O que ele próprio não faz seria um dever indeclinável do jornalismo. E que se destaque: ele ainda pode fazê-lo. As redes sociais estão aí.

3: Prático, André chega a sugerir uma campanha: “E o metrô de São Paulo?”.

No fecho patético de seu artigo, dispara:
Hipótese plausível é que os investigadores poupem o PSDB exatamente porque sabem que não contariam com a simpatia da mídia se apertassem o cerco aos tucanos. Conforme deixa claro o juiz Sergio Moro no artigo de 2004 sobre a “mãos limpas” na Itália, a aliança com a imprensa é crucial para o sucesso desse tipo de empreitada. Trata-se de um sistema justiça-imprensa, que aqui tem agido de modo gritantemente seletivo.

Dou de barato que os Singers, quando chefes de redação, jamais foram chamados para uma conspiração. Ou a teriam denunciado, não? Por que, então, outros desempenhariam tal papel?

Segundo André, o “sistema justiça-imprensa” tem agido no Brasil de modo “gritantemente seletivo”. É… A gente percebe isso pelos efeitos… Mesmo com tanta conspiração, o PT caminha, caso Dilma se segure, para 16 anos no poder. Se dele for apeado, terá sido apenas e exclusivamente por sua obra e por suas escolhas.

O militante André Singer tem o direito de falar a asneira que quiser lá nos domínios do partido e para consumo de sua economia interna. Aquele que escreve na Folha é mais do que o militante — até porque, nesse quesito, há outros mais qualificados e graduados do que ele. O autor do artigo é também um professor de sociologia de uma universidade pública. As duas condições lhe cassam a faculdade de mentir.

A propósito: André foi secretário de Redação da Folha entre 1987 e 1988. Ele procurava “equilibrar o marcador” da cobertura entre as lambanças do governo Sarney e as da oposição, inclusive as do PT? 

Sossegue, rapaz! Assim que você e sua turma forem levados pelo eleitorado para a oposição, a imprensa continuará a ser mais crítica com o governo — com o governo de turno. Porque essa é a natureza do jogo, pouco importando quem esteja no poder. Ao menos tem de ser assim com a imprensa séria, aquela que incomoda o PT. Aquela de que André não gosta mais.

Petista, desde que o PT existe, André sempre foi. Mas ele já soube se comportar como um jornalista. Infelizmente, na academia, ele não conseguiu ainda perceber a dimensão de um professor, repetindo o erro grotesco de outros que se comportam, na universidade, como esbirros de um partido.

Se André quer ser apenas um prosélito, deveria cair na militância pra valer e se candidatar a um cargo no partido.

 

"Mas, afinal de contas, Chico Buarque é ou não é um merda?", por REINALDO AZEVEDO 

 

Este texto vai responder à questão lembrando a obra de seu pai. Fernando Holiday, do Movimento Brasil Livre, também se pronuncia. Atenção! Quem primeiro chama o interlocutor de “merda” é o cantor; pior: fidalgo desde sempre, o filho de Sérgio Buarque exige credenciais de quem fala com ele. O pai diria que o comportamento de seu rebento é a cloaca moral do “homem cordial” de “Raízes do Brasil”

Essa gente não quer mesmo que eu tire férias, né? Eita ano que não termina! E que não vai terminar. Só em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff. Que virá! Vamos seguir. Será que Chico Buarque é um merda? Eu vou responder neste texto. Fernando Holiday, do Movimento Brasil Livre, se pronuncia num vídeo.

Está a maior onda na Internet por causa de um pequeno bate-boca — muito menos grave do que gritaram os coelhinhos do Bambi — entre Chico Buarque, acompanhado de alguns amigos bêbados, e um grupo de rapazes que decidiu lhe fazer algumas cobranças políticas. Creio que todo mundo saiba já do que falo. Se não souber, segue aqui.

Volto
Será que Chico Buarque é um merda?

Em primeiro lugar, todos sabem, e o arquivo está aí, não endosso que pessoas sejam abordadas em restaurantes, bares ou lojas em razão de sua posição política — a menos que seja uma manifestação de simpatia, como vive acontecendo comigo, o que me deixa muito feliz. Mais de uma vez, já escrevi aqui e disse na rádio Jovem Pan que quem pretende cassar o direito de o adversário se manifestar é o PT.

Em segundo lugar, o tal “merda” que tanto barulho fez precisa ser devidamente qualificado. Chico trata seus interlocutores com evidente menoscabo e, num dado momento, a exemplo de alguns outros pinguços que estão com ele, manda ver: “Você é um merda!”. Ao que o outro responde: “Eu queria ouvir da sua boca: ‘Você é um merda’ E quem apoia o PT o que é que é?”. E Chico responde: “Um petista!”. E ouve: “É um merda!”.

Embora eu insista que esse tipo de abordagem, ainda que na rua, não me agrada, não há agressividade na fala dos rapazes, mas indignação com as opiniões políticas de um sujeito que usa a fama conquistada na música para fazer política. Logo, se ele colhe reações políticas de seu discurso — não consta que seus interlocutores estivessem ali para contestar os seus trinados —, isso está absolutamente dentro do aceitável, desde que as coisas sejam ditas e expressas de modo civilizado.

E civilizada, convenham, a conversa estava, até que Chico rompe o padrão para, segundo indica o vídeo, chamar o outro de “merda” (1min08s). Sim, ele o fez primeiro.

O filhinho de papai
Em terceiro lugar, destaque-se a arrogância do fidalgo, que começou a vida sendo incensado porque, afinal, era filho de Sérgio Buarque de Holanda, o autor, entre outros, do clássico “Raízes do Brasil”. É nesse livro que Buarque de Holanda, o pai, explica Buarque de Holanda, o filho.

Segundo Sérgio, um dos traços mais característicos da formação do Brasil é o chamado “homem cordial”, aquele que não distingue o espaço público do espaço privado; que usa da condição alcançada ou herdada na esfera privada para impor a sua vontade no espaço público, de sorte que a lei do compadrio se sobrepõe às instituições.

Vejam lá com que sem-cerimônia Chico exige credenciais de seus interlocutores. Diz um dos jovens, aludindo ao fato de que o cantor, de fato, passa a maior parte do tempo em Paris: “Meu pai também está em Paris. É gostoso Paris, né?”. E Chico, com a empáfia do patronato descrito por seu pai: “Rapaz, engraçado, eu não tou te reconhecendo!”. Aí diz o outro: “Você é famoso! Eu não sou!”. Indagado, o interlocutor revela seu sobrenome, e o Chico do Sérgio o repete, com esgar de desprezo. O filho de Sérgio Buarque exige credenciais de quem fala com ele. O pai diria que o comportamento de seu rebento é a cloaca moral do “homem cordial” de “Raízes do Brasil”.

E quer saber a quais “nomes de família” ele dá a graça de suas bobagens. Sai perguntando a cada um. Um barbudo, visivelmente alterado pela consciência etílica, quer saber de “onde” é um dos que conversam com ele. Ao ouvir um “não interessa”, o pançudo grita: “Interessa! De onde cê é?”.

Há outras coisas até divertidas no vídeo. Quando um dos rapazes lembra que Chico mora a maior parte do tempo em Paris, o que é fato, ele diz, em tom de acusação, que o outro é leitor da VEJA.  Digamos que seja. Chico certamente gosta da imprensa de nariz marrom que incensa tudo o que ele produz e escreve, preste ou não.

Nota: ele já fez músicas de alta qualidade, sim. Seus livros, no entanto, são um lixo subliterário, e ele só parou de ganhar Jabutis em penca depois que apontei a patuscada que fazia dele um vencedor que nem precisa disputar. Ele me atacou num artigo. Demonstrei por que seus livros são ruins. Ele enfiou o rabo entre as pernas. Fidalgo! Será que Chico é um merda?

Irresponsável
Chico Buarque, incensado pela imprensa também por suas ignorâncias, é um homem notavelmente autoritário. Sai por aí, se preciso, a espalhar as mentiras mais asquerosas em nome da ideologia. E, como se nota, não gosta de ser cobrado. Escrevi aqui, no dia 16 de setembro, um https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/as-mentiras-asquerosas-de-stedile-e-chico-buarque/ sobre um vídeo que ele gravou com João Pedro Stedile, o chefão do MST, em que ambos sustentam haver um plano de privatização da Petrobras. Vejam:

Fatos:
– Inexiste plano para privatizar a Petrobras — infelizmente!;
– o projeto a que se referem apenas permite que, caso a Petrobras não possa ser sócia de campos de exploração do pré-sal, abra mão dessa primazia;
– o projeto é vital para o pré-sal porque, pela lei atual, se a Petrobras não puder arcar com os 30% que lhe cabe na sociedade, nada se faz.

Mas Stedile e Chico mentem a respeito com o desassombro de que só o esquerdismo e a má-fé são capazes. Será que Chico é um merda?

Trono da empulhação
Chico Buarque quer defender as causas mais estúpidas, violentas e antipopulares, mas acha um absurdo que possa ser cobrado por isso — o que é repetido bovinamente por boa parte da imprensa. Vejam as barbaridades praticadas nas escolas públicas de São Paulo. Por mais que se possa censurar a Secretaria de Educação por não ter sabido expor direito as vantagens da reestruturação, esta era e é necessária. É mentira, pra começo de conversa, que haverá “fechamento” de escolas.

Não obstante, um grupo de 18 ignorantes disfarçados de artistas, liderados por Chico Buarque, produziu um vídeo hediondo, com uma letra idiota, sobre uma causa estúpida. E tudo em defesa das invasões. O autor da enormidade é um tal Dani Black, capaz de escrever barbaridades como:
“A vida deu os muitos anos de estrutura do humano
À procura do que Deus não respondeu
(…)
Ninguém tira o trono do estudar”.

Procurem no arquivo deste blog. Tenho um “IPI” infalível. O que é o IPI? Índice de Picaretagem Intelectual. Sei que estou diante de um picareta sempre que ele transforma verbo em substantivo, um processo que a gramática chama de “derivação imprópria”. Basta que alguém diga algo como “o estudar”, “o brincar”, “o fazer”, “o reivindicar”, e eu logo me desinteresso e olho para o vazio. É que não suporto “o empulhar”.

Sem contar que Dani Black — quem é esse, caramba?! — acha que a busca de Deus nada produziu de positivo para a cultura, talvez nem a “Suma Teológica”… E o tal Dani e os outros 17 imbecis estão certos de que falam em nome da cultura e da educação.

Como prosador, Chico é uma lástima, mas ele já soube produzir boas letras, até ser derrotado por uma “mulher sem orifício” — seja lá o que isso signifique e que não possa eventualmente ser remediado com Citrato de Sildenafila, Tadalafila, chá de catuaba ou reza braba. É claro que o autor da bela música “Soneto” é capaz de reconhecer uma letra ruim — embora seu soneto tenha se atrapalhado um pouco no ritmo, com a irregularidade das tônicas: os versos ora são sáficos, ora são heroicos, ora não são nada. Mas Chico é um letrista, não um poeta, como dizem.

Prepotentes
O dado mais encantador dos nossos artistas “progressistas” é sua alastrante ignorância. Acham que podem se posicionar sobre qualquer assunto que diga respeito à sociedade, expelir regras, posicionar-se, entrar na rinha política, mas se negam a ser cobrados. Quando isso acontece, agem como Chico Buarque: “Seu merda!”.  Ou, pior ainda do que isso, apelam ao famoso “Sabem com quem está falando?”. Ou não foi isso o que Chico fez, mas de modo espelhado: “Quero saber com quem estou falando…”?

Todos sabem que o movimento de invasão das escolas nada tinha a ver com estudantes. Trata-se de uma inciativa liderada pelo PT — particularmente por uma de suas milícias: o MTST, comandado por Guilherme Boulos — , com um claro propósito político, partidário e ideológico. Será que Chico Buarque é um merda?

Abaixo, publico uma edição que o Movimento Brasil Livre fez do vídeo dos ignorantes engajados, com comentário de Fernando Holiday, um dos coordenadores. Volto depois.

Encerro
Holiday chama de “playboys” os que abordaram Chico. É o único pequeno trecho de sua abordagem de que discordo. Nem sei se são. E se forem? Quando “playboys” se opõem à roubalheira, seja a do PT, seja de qualquer outro, acho isso positivo. Prefiro esses aos playboys e, sobretudo, “playmen” que passaram a puxar o saco do PT para ter o privilégio do Bolsa Juros, do Bolsa Subsídio, do Bolsa Desoneração, do Bolsa BNDES, do Bolsa Rico…

Chico Buarque, que jamais fez uma mísera crítica a ditaduras de esquerda, tornou-se uma das faces visíveis da justificação de um governo criminoso. Do alto de sua sapiência, diz que, se seus interlocutores acham o PT bandido, ele, Chico, acha “o PSDB bandido”. Tem o direito de achar. Mas também tem o dever de apontar onde está ou esteve o banditismo. Não duvido que haja ou tenha havido bandidos no PSDB e em qualquer legenda. A questão está em definir quando a bandidagem se torna um sistema de governo.

É possível que ainda volte ao assunto. Dito isso tudo, acho que vocês já têm mais elementos para responder: será que Chico Buarque é um merda?

Ele deixou claro, de modo arrogante, que nem sabia com quem estava falando. Mas nós sabemos muito bem com quem estamos falando.

Ademais, o mais laureado, nem importa se justa ou injustamente, dos ditos “artistas brasileiros” deveria é se envergonhar de apelar a coisas como a Lei Rouanet para divulgar a sua obra. O subsídio — porque é disso que se trata — à obra de Chico, ora vejam, poderia virar remédio ou leitos nos hospitais do Rio — não na Zona Sul, onde ele solta seus trinados.

Chico, em suma, é o homem que seu pai lastimou em “Raízes do Brasil”.

Será que Chico Buarque é um merda?

 

O Apedeuta em seu labirinto: Receita investiga doações de empresas da Lava Jato ao Instituto Lula

Leiam o que informam Davi Friedlader e Catia Seabra na Folha:

A Receita Federal abriu uma ação para fiscalizar a movimentação financeira do Instituto Lula, fundado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após deixar o Palácio do Planalto.

A Folha apurou que o foco está no relacionamento da entidade com empresas que doaram recursos para manutenção do instituto, especialmente as envolvidas na Operação Lava Jato, que apura um esquema de corrupção na Petrobras. Nessa categoria, aparecem empreiteiras como Odebrecht e Camargo Corrêa.

A Receita quer checar a origem dos recursos destinados ao instituto, como o dinheiro foi gasto e se essas contribuições foram declaradas, tanto pelos doadores como pelo próprio instituto.

A investigação nasceu a partir de dados da área de inteligência da Receita, que colabora com a Operação Lava Jato. Não há prazo para sua conclusão.

Embora o instituto fique em São Paulo, a fiscalização foi aberta pela Demac (Delegacia Especial de Maiores Contribuintes) do Rio de Janeiro.

Há cerca de 20 dias, o instituto foi intimado a apresentar documentos fiscais e informações contábeis.

Tinha até o fim do ano para fazer isso. Na tarde desta terça-feira (22), no entanto, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, esteve na Superintendência da Receita em São Paulo para pedir a dilatação do prazo.

À Folha, ele disse que não poderia cumprir o cronograma fixado pela Receita por causa das festas de fim de ano. Conseguiu mais 20 dias.
(…)

 

BNDES pede a falência do grupo empresarial do amigão de Lula

As empresas de José Carlos Bumlai, o amigo de Lula, estão na pindaíba. E não foi por falta de incentivos oficiais. Não! Estes já foram abundantes. Entre 2008 e 2009, o BNDES emprestou diretamente ao Grupo São Fernando a bolada de R$ 392,5 milhões. Em 2012, quando já havia até um pedido de falência, o banco público emprestou mais R$ 101,5 milhões por intermédio de instituições privadas. A desculpa para emprestar a quem já estava quebrando é que o dinheiro poderia ajudar a reestruturas a empresa, o que seria bom para todos…

Pois é… Nesta terça, o BNDES entrou com um pedido de falência imediata do grupo São Fernando, o que a instituição já havia feito em junho deste ano, com a Lava Jato em curso.

As empresas estão em regime de recuperação judicial, e o BNDES afirma, ao pedir a falência, que se trata apenas de uma procrastinação para não pagar as dívidas. Há um ano as empresas de Bumlai nada pagam ao banco de fomento.

As dívidas do Grupo São Fernando chegam a R$ 1,2 bilhão — desse total, R$ 300 milhões estão espetados nas costas do BNDES.

Pode até ser que a falência do grupo não esteja relacionada às lambanças pelas quais Bumlai é acusado. Mas é claro que há um elemento simbólico nisso tudo.

Parece evidente que o BNDES foi mais um dos instrumentos a que recorreu o PT para privilegiar os amigos do rei. O preço está aí: a empresa falida, o empresário preso, e o banco público com um papagaio de R$ 300 milhões.

 

A impressionante irresponsabilidade de Dilma Rousseff! A propósito: se ela cair, vai voltar ao terrorismo?

A presidente Dilma Rousseff, além de obviamente incompetente, é também irresponsável. Que tenha cometido crime de responsabilidade, bem, qualquer pessoa que tenha lido a Lei 1.079 e que avalie a sua obra chegará à conclusão óbvia: cometeu. Mas é evidente QUE ELA TEM O DIREITO DE LUTAR PELO SEU MANDATO.

Essa luta tem de ser política e jurídica.

No terreno das leis, é lícito que Dilma tente demonstrar que suas pedaladas e gastos não autorizados não caracterizam o tal crime. Como fazê-lo? Não sei. Até agora, não vi a defesa apresentar nenhum argumento consistente. O máximo que se tentou foi no terreno da moral rasa: “Ah, fiz para dar benefício aos pobres”. Isso, além de tudo, é mentiroso. Metade das R$ 40 bilhões das pedaladas de 2014 é constituída de empréstimo do BNDES para pançudos. Chama-se “Bolsa Amigos do Rei” — ou “da Rainha”, para atentar à questão de gênero.

No terreno político, Dilma teria o direito de tentar convencer os brasileiros de que o impeachment seria pior para o país; de que a população terá uma vida mais difícil; de que a instabilidade política que ele acarretaria seria pior para a vida de todos etc. Obviamente, não acredito em nada disso. Mas a ela cabe tentar.

Qual é o direito que Dilma não tem? O de afirmar a bobagem mentirosa, repetida nesta terça pela enésima vez. Segundo ela, o impeachment, em si, não é golpe porque está na Constituição, mas “vira golpe quando não há nenhum fundamento legal”.

E ela foi adiante: “A Constituição é clara: se faz impeachment quando há crime de responsabilidade. Não há contra mim nenhum crime de responsabilidade. Eu sequer fui julgada. Eu tenho uma vida ilibada, meu passado e meu presente”.

Há besteiras e trapaças argumentativas aí. Em primeiro lugar, o crime de responsabilidade aconteceu. Reitero: basta ler os artigos 10 e 11 da Lei 1.079. Em segundo lugar, que bobagem é essa de dizer que “nem ainda foi julgada”? Ora, caso a Câmara autorize o processo de impeachment e caso este seja aberto pelo Senado, ela vai ser julgada.

Dilma tenta fazer crer que, antes da denúncia por crime de responsabilidade, ela tem de passar por um julgamento. Qual? Onde? DE ONDE SAIU ESSA BATATADA? Qual foi o julgamento prévio pelo qual passou Collor? Aliás, o ex-presidente foi inocentado no Supremo. Ele só teve de renunciar à Presidência porque percebeu que seria condenado no julgamento político.

Em terceiro lugar e mais importante: Dilma não tem resposta para um argumento que foi esgrimido, pela primeira vez, por Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre, no programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan. Falo de um jovem de 19 anos que vai começar a estudar direito no ano que vem: se impeachment é golpe — e não se cuida de falar em tese, mas do caso em questão mesmo; isto é, da denúncia em curso —, então o Supremo Tribunal Federal resolveu criar o rito do golpe; então o Supremo passa a fazer parte da conspiração golpista.

Dilma não tem o direito de fazer essas afirmações. Ela está é degradando as instituições ainda um pouco mais. Até porque o risco de ela ser impedida é real, e a resposta que se dará, nesse caso, será institucional.

A propósito: caso ela caia em razão do que considera “golpe”, vai fazer o quê? Aderir de novo à luta armada? Voltar ao terrorismo?

Seja mais responsável, minha senhora! Aos 68 anos, ainda dá tempo de aprender alguma coisa com um jovem de 19.

 

Lewandowski, o militante anti-impeachment, confessa que Supremo “bolivarianou” mesmo!

Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo, resolveu se comportar como presidente do PT e teve, nesta quarta, uma atitude claramente hostil com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que havia lhe pedido uma audiência. Ele concedeu. Mas abriu as portas para a imprensa, num gesto escancaradamente demagógico. Jornalistas lembraram um precedente de Itamar Franco quando presidente. Falso. Digo mais adiante por quê.

Nota logo à partida: Lewandowski pode pensar sobre o deputado o que quiser. Eu, por exemplo, acho que Cunha tem de ser cassado. Mas o presidente do Supremo tem deveres decorosos com o homem que preside uma das Casas do Poder Legislativo. Enquanto Cunha não for cassado, tem de ser respeitado pelo comandante da corte suprema do país em razão de seu papel  institucional.

Não foi o que se viu. Quem abriu as portas do tribunal não foi o magistrado que preza a transparência, mas o militante anti-impeachment, papel que não lhe cabe. Ora, o doutor fala com advogados de criminosos presos, a portas fechadas — ou não fala? Por que não pode fazê-lo com o presidente de uma das Casas do Legislativo?

A propósito: Lewandowski já pediu audiência ao comando do Congresso para tratar do aumento do Judiciário e outros benefícios. Já imaginaram se as portas se abrem, e flagramos lá o herói anti-Cunha a cuidar do pão deles de cada dia? A demagogia é um dos últimos estágios da vigarice intelectual.

De toda sorte, o comportamento beligerante foi útil para que saibamos o que está em jogo. Mais: LEWANDOWSKI FEZ TAMBÉM UMA CONFISSÃO SOBRE O VOTO DE ROBERTO BARROSO, SEU AMIGO DE SIMPATIAS PARTIDÁRIAS. A imprensa deixa passar porque está de tal sorte cegada pelo “anticunhismo” que não consegue enxergar um estupro institucional. Vamos lá.

A audiência
Cunha foi ao Supremo pedir celeridade na divulgação do acórdão da votação que estabeleceu, atropelando a Constituição e as leis, o rito do impeachment. Cunha lembrou que o fato de a maioria dos ministros ter vetado o voto secreto e a comissão avulsa deixava dúvidas sobre a eleição e funcionamento de outras comissões na Câmara.

Eis, então, e, neste sentido, foi bom a audiência ter sido aberta, que Lewandowski diz uma coisa sensacional. Defendendo o voto absurdo de Barroso, o presidente do Supremo disse não haver dúvida nenhuma — é mesmo? — sobre o que foi votado: segundo ele, a proibição de comissão avulsa, a indicação dos membros por vontade dos líderes e o voto obrigatoriamente aberto valem apenas para a comissão do… impeachment!!!

Entendi! Isso quer dizer que o senhor Barroso, de forma clara e deliberada, com a concordância da maioria, resolveu ser mesmo um legislador “ad hoc”. Vale dizer: o Supremo não tomou uma decisão em tese, pautada por princípios e fundamentos. A corte resolveu mesmo criar uma legislação para o caso específico — e, por óbvio, então, da forma como se fez, para beneficiar Dilma. Lewandowski foi literal: “O voto do ministro Barroso deixa bem claro que a decisão se refere à comissão do impeachment, não se refere a outras comissões”.

Vergonha!

Quanto à celeridade, o presidente do Supremo resolveu falar dos prazos regimentais. Os ministros têm até 19 de fevereiro para liberar seus votos, e o tribunal, até 60 dias para divulgar o acórdão, sem contar o período do recesso.

Ok. Estou entre aqueles que acham que a demora conta contra Dilma Rousseff — aliás, ela também. Até porque, como na Ilíada, nuvens negras se formam no horizonte, e há uma grande possibilidade de que seus raios caiam sobre o cocuruto presidencial.

O caso Itamar
Quando Itamar Franco era presidente, o então senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA), que estava na oposição, anunciou ter um calhamaço de denúncias contra o governo. Disse que o entregaria ao chefe do Executivo. Itamar recebeu o senador, mas abriu as portas para a imprensa.

O paralelo com o que fez Lewandowski é descabido. Cunha não foi ao ministro para entregar supostas denúncias, numa linha de confronto. Apenas cumpriu um ritual que, de resto, a elegância até pede. Mas o presidente do Supremo, hoje um dos esbirros do governo Dilma, resolveu surfar na impopularidade de Cunha. Ao fazê-lo, não desprestigiou um deputado enrolado, mas afrontou o Poder Legislativo, pondo-se, como de hábito, de joelhos diante do governo petista.

Ah, não tenho como esquecer os apelos emocionados que Lewandowski fazia em benefício dos réus do mensalão, lembrando, a todo instante, a condição humana dos condenados. Como se nota, nem sempre ele tem aquele coração de manteiga.

Encerro
Achei excelente o conjunto da obra. Lewandowski deixou claro que o juiz isento desapareceu para dar lugar ao militante de uma causa. E confessou que o julgamento no STF foi mesmo uma, digamos, bolivarianada. Ministros decidiram apoiar uma regra inventada para servir a um único propósito: tentar manter Dilma no poder, contra o que dispõe a Lei 1.079.

A isso se resume o gesto heroico de Lewadowski.

 

Carlos Alberto Sardenberg: Uma esquerda neoliberal

Publicado no Globo

Tem uma teoria, tipo conspiratória, que diz o seguinte: governantes de esquerda são mais adequados para fazer reformas ortodoxas, daquelas que mexem com direitos trabalhistas e sociais (Previdência, pensões, abonos etc.). A lógica, suposta, afirma que só um líder esquerdista tem moral para sustentar a necessidade de tais reformas junto aos sindicatos e movimentos sociais.

Se isso for verdade, então o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, reúne as condições políticas para encaminhar as reformas que está prometendo apresentar no começo de 2016. Seu antecessor, o neoliberal e ortodoxo Joaquim Levy, teria esse pecado de origem. Por isso, tudo o que ele propôs foi rejeitado de cara pela ala esquerda do governo Dilma.

Por essa suposta lógica ainda, Barbosa também tem condições de realizar o mesmíssimo ajuste fiscal tentado por Levy. De novo, uma questão de confiança. Os sindicatos e movimentos sociais haverão de entender que Barbosa é de casa.

De modo que caímos neste paradoxo: Dilma tirou o neoliberal Levy e colocou o desenvolvimentista Barbosa para fazer exatamente a política ortodoxa que derrubou o primeiro.

Pode?

Costuma-se apresentar como exemplo prático dessa teoria o primeiro governo Lula. E quer saber? Lula foi de fato muito ortodoxo na política econômica. Fez um forte superávit primário (Levy era secretário do Tesouro), deu autonomia para o Banco Central subir juros e até iniciou uma reforma na Previdência do funcionalismo público.

Também se costuma citar o governo de Felipe Gonzáles na Espanha pós-franquista. Do Partido Socialista Operário, Gonzáles desenvolveu um programa que colocou seu país na rota do moderno capitalismo europeu.

Se estivéssemos na Europa, poderíamos até colocar Fernando Henrique Cardoso como outro exemplo. Vindo da esquerda social-democrata, FHC promoveu um espetacular conjunto de reformas, com amplas privatizações, austeridade nas contas públicas, abertura comercial e mudanças microeconômicas também na direção de um capitalismo moderno.

Ocorre que, por aqui, a maior parte da esquerda não acompanhou esse movimento de FHC e permaneceu com as velhas ideias populistas e estatizantes. Lula assumiu essa esquerda — e se elegeu atacando o neoliberalismo do “sociólogo das elites”. Para governar com a mesma política econômica que atacava.

Mas, reparem, só no primeiro mandato. Tão logo sentiu-se seguro, Lula jogou fora a herança ortodoxa e lançou as bases da chamada “nova matriz” que seria largamente aplicada no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Essa a diferença entre Lula, de um lado, e Gonzáles e FHC de outro. Estes dois últimos efetivamente mudaram seu modo de ver a sociedade e a economia. Convenceram-se da superioridade prática do capitalismo e da iniciativa privada para construir riqueza. Entenderam que o Estado pode agir em favor da igualdade social, mas no limite do orçamento equilibrado. Ou seja, que distribuir benefícios torrando dinheiro público, e aumentando a dívida, termina por gerar a inflação que come a renda dos mais pobres.

A partir daí, foram dois excepcionais líderes que convenceram os eleitores e os políticos da necessidade e da oportunidade das reformas. Sempre pela via democrática.

Lula foi ortodoxo por necessidade. Quando se elegeu, debaixo de enorme desconfiança, o ambiente econômico se deteriorou. A contragosto, engoliu a política econômica sugerida por Antônio Palocci para se sustentar no governo.

Com a ajuda de uma extraordinária bonança global, Lula decolou. Quase ganhou uma estátua no FMI. Era o líder de esquerda mais moderno, com a política social do Fome Zero e a ortodoxia econômica.

Inebriado, e reeleito, Lula resolveu então fazer as coisas de seu jeito. E tinha uma verdadeira esquerdista a seu lado. Como ministra, Dilma Rousseff ajudou Lula a enterrar a ortodoxia de Palocci e iniciar a “nova matriz” — o Estado comanda a economia, distribui dinheiro para os pobres e concede crédito barato para os empresários escolhidos. Distribui vantagens e recursos para os sindicatos e movimentos sociais, enquanto abre os cofres para que os partidos se financiem com dinheiro das estatais e obras públicas. De certo modo, o modelo compra todo mundo.

Tudo isso para dizer o seguinte. Dilma chamou Levy na abertura de seu segundo mandato por necessidade. Estava na cara que a economia naufragava e começava a afundar suas bases políticas. Mas a presidente nunca admitiu que isso acontecia por causa de sua política econômica. E nunca pretendeu mudá-la.

Levy era para dar uma rápida satisfação ao mercado, não para fazer algo. Por isso, as iniciativas do ministro neoliberal eram sabotadas por ela mesma e seu pessoal à esquerda.

Como pode imaginar que o mercado compraria essa manobra?

Ou seja, Dilma agora voltou às origens. Não colocou um esquerdista para fazer uma política ortodoxa. Colocou Barbosa para reaplicar a nova/velha matriz, enquanto diz outra coisa. Não vai rolar.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo, Veja

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

5 comentários

  • elio jose ferreira goiania - GO

    Enquanto a carava passa, como ja dizia Ibrahim Sued, os cães latem e a inveja mata... é isto Reinaldo, continue a ladrar, isto é características dos jornalista, se não falar mal de uma boa figura continue a fazer o que Jorge cajuru faz, pois só sabe falar mal do outros. k,k,k,k,k, bom ano ano novo para você, comece o ano novo fazendo alguma coisa de útil e constritiva.

    15
    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Mimimi, além de lamber o saco do Lênin pé de chinelo e defender ladrões, você faz o que de útil e construtivo Elio Ferreira?

      3
    • Telmo Heinen Formosa - GO

      Por acaso você é produtor de alguma coisa Elio Jose Ferreira? Você defende estes "especialistas" tipo André Singer que são especiializados em fazer colheita no pomar alheio?

      0
    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Mais um que usa "k,k,k,k,k"... Isso é o máximo que suas mentes debiloides conseguem produzir !!!

      0
    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      He! He! (risos). Essa fissura dos petistas em atacar as pessoas que têm outra visão de convivência tem uma explicação dada pelo filósofo e linguista búlgaro, Tzevtan Todorov: O Estado totalitário não existe sem inimigos. Se lhe faltarem, ele os inventará.

      SER INIMIGO É UMA TARA INCURÁVEL E HEREDITÁRIA !!! Palavras de Todorov !!

      VEJAM... NEM FREUD EXPLICA !!!

      Penso, deve ser sofrido ser petista. Como viver com tamanho distúrbio mental?

      0
    • Telmo Heinen Formosa - GO

      O Governo que deseja implantar o socialismo age assim. Ele domina dois tipos de pessoas, os inocentes úteis criados "em quantia" através do "Método de Encino" Paulo Freire pelo "Méqui" e os criminosos. Quando faltam criminosos ele os cria, inventando regras incumpríveis para os empresários, mantendo-os com o rabo preso. Utiliza-se de IDIOTAS úteis que ficam papagaiando convenientes palavras colocadas em sua boca, descartando-os quando não precisa mais deles.... A plebe aplude e os "bons" se omitem como sempre.

      0
  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Não havia lido ainda o artigo de Reinaldo Azevedo sobre André Singer. E agora entendi melhor o por que Telmo Heinen ter colocado a recomendação do Olavo de Carvalho em seu comentário. André Singer é um dos representantes petistas que tem muita influência num dos maiores jornais do País. E essa é um oportunidade para aqueles que querem começar a mudar as coisas, começando por cobrar a FSP, sobre as mentiras de seus colunistas, a exemplo do que fez RA. Quem colocou o nome de mensalão de Minas nos roubos do Azeredo foram os petistas, para tentar confundir a população, fazendo com que pensassem que o roubo de Minas foi igual ao mensalão petista. No mais, chega dessa história de dizer que os crimes do PT são culpa da midia, e que esta tem obrigação de traçar paralelos entre crimes de diferentes partidos, ninguém bate o PT em matéria de crimes, roubos, corrupção, etc... Agora mesmo fiquei sabendo que a chefe da quadrilha que roubava o Carf é a amigona e ex assistente de Dilma, Erenice Guerra, e que a Andrade Gutierrez foi achacada por Edinho Silva e Giles Azevedo, o tesoureiro e o principal assessor de Dilma Roussef, que exigiram 100 milhões de reais para a campanha de 2014, tudo dinheiro roubado dos brasileiros.

    0
    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Já que estamos a falar de "coisas estranhas", veja o que foi editado no site "Diário do Poder": O deputado Irajá de Abreu (PSD-TO), filho da ministra Kátia Abreu (Agricultura), indicou Igo Nascimento para a diretoria da Cia Nacional de Abastecimento (Conab), que, por sua vez, nomeou Carlos Lara Maia à diretoria de Operações e Abastecimento. Carlos advogou para as empresas Raiz Transporte e Transporte Rodoviário 1500, denunciadas pelo Ministério Público por crimes contra a administração pública. Os servidores de carreira da Conab estão revoltados com os privilégios do deputado que é filho da ministra, e vem dando as cartas na Conab. Está revivendo os tempos do ministro Wagner Rossi, cujo filho, deputado estadual de São Paulo, Baleia Rossi, comandava a sua "equipe" de malfeitores dentro da Conab.

      0
    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Sr. Rensi, o que dizer? Será que existe crime contra a "administração pública"? Ou os responsáveis pela "administração pública" cometem crimes contra os brasileiros? Os criminosos tomam posse do Estado brasileiro, suas empresas, instituições, autarquias, etc... agindo impunemente, sabendo que a lei os protege. A maioria dos politicos não está nos altos cargos para, digamos, vender carne aos orientais, de forma que suas principais atividades incluem saquear as empresas públicas. E são esses mesmos saqueadores que fazem as leis.

      0
    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      continuação... O que ele quis dizer com essa pergunta foi: Está tudo errado! Onde estão as leis que me protegem? Onde estão os "meus" líderes? Como isso está acontecendo comigo? Segundo a imprensa Renato Duque é concunhado de José Dirceu, uma simples coincidência do destino, pois a sua indicação para ser diretor da Petrobrás foi por "EXCLUSIVO" mérito seu. Essa é realidade que o petismo quer que eu acredite... TRISTEZA PROFUNDA !!!... pois a sociedade está anestesiada e entende que isso está dentro da normalidade...

      0
    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Essa mensagem é anterior à última! Não sei o que ocorreu, mas sumiu da página, sorte que não a tinha apagado no Word: Sr. Rodrigo, sinceramente não sei mais o que pensar. Diante de uma realidade tão irreal, onde só a mentira é que tem valor, uma sociedade sem escrúpulos, premia os malfeitores e condena os seguidores da moral.

      Triste nação onde seu povo é guiado por lideres que não são lideres, mas meliantes que têm vários processos na justiça e não são afastados dos seus cargos, pois as leis os protegem.

      Está certo aquele bandido ex-diretor da Petrobrás, Renato Duque que se indignou quando estava sendo preso pela Policia Federal e, falou:

      QUE PAÍS É ESSE ???

      0
  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Antes de vencer o Governo Federal é preciso corroer e destruir as suas base de apoio na sociedade civil. Midia, Universidades, Igrejas (especialmente a católica), os sindicatos, a OAB etc... Dá trabalho mas é o único caminho... Se numa guerra cada soldado pensar em balear o comandante do exército adversário em vez de atirar no recruta inimigo que está bem na sua frente, o inimigo já venceu. Não adianta tirar a DILMA, é preciso tirar cada jornalista vendido, cada presidente de sindicato, cada professor comunipetista e cada agente secreto tipo KGB vestido de bispo, especialmente os do CIMI e da CNBB. Um por um!

    Por onde começar? Espalhe esta lição entre seus amigos e peça-lhes que a repliquem; e em segundo lugar páre de dar donativos para as festas da sua paróquia se lá tiver um padre travestido de socialista. Filósofos como Olavo de Carvalho deveriam ser muito mais lidos do que são.

    1
    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Muito bem lembrado Telmo, não há como discordar do professor Olavo, ele está certo. Precisamos fazer isso que ele afirma urgentemente. Só quero lembrar aos interessados, aqueles que não tem interesse em ler os livros do professor, que podem acompanhar o trabalho politico feito por ele através do facebook, clicar em seguir, em mensagens curtas e importantes. No entanto, quem quiser saber o que acontece de fato no Brasil, siga e leia Olavo de Carvalho. Os artigos dele no Diario do Comércio ficam disponiveis no face ou através do site Midia sem Máscara.

      1
  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Chico Buarque é um merdinha, mamador da lei Rouanet. Para isso é que os produtores brasileiros pagam impostos escorchantes, para sustentar esses borrachos imprestáveis.

    1
    • Valdomiro Rodante Junior Porangatu - GO

      Ele é e sempre será sendo amigo dos Stédiles da vida, agora gostaria de perguntar à ele poque não doa o seu apartamento para o MSTeto , o do Rio e o de Paris ? Gente ele só quer é dar tiro com prova alheia

      0
    • carlo meloni sao paulo - SP

      CHICO foi compositor quase bom, pessimo cantor com voz de taquara rachada,

      pessimo escritor, pessimo pai e pessimo marido, um alcoolatra deformado, e por

      ultimo e' esquerdista como Fernando Herique , Lula e Fidel Castro definidos em livro como :::PERFEITOS IDIOTAS SUL- AMERICANOS

      0