Ronaldo Caiado no Roda Viva: saída para a crise é a renúncia de Dilma e a realização de outra eleição presidencial

Publicado em 04/08/2015 19:12
por RODRIGO CONSTANTINO, de VEJA.COM

No Roda Viva, Caiado afirma que a saída para a crise é a renúncia de Dilma e a realização de outra eleição presidencial

No Roda Viva desta segunda-feira, o senador Ronaldo Caiado, do DEM de Goiás, afirmou que a saída para a crise é a renúncia de Dilma Rousseff e a imediata convocação de uma nova eleição. Entre outras acusações, o entrevistado disse que Lula transformou a corrupção em “hóspede oficial do Planalto”, acusou a atual presidente de ter cometido crimes que justificam um pedido de impeachment e reiterou que “é preciso extirpar o PT do governo”.

Participaram da bancada de entrevistadores cinco jornalistas: Silvio Navarro, editor de Brasil do site de VEJA, João Gabriel de Lima, diretor de redação da revista Época; Bela Megale, repórter de política daFolha, Cesar Felício, editor de política do Valor Econômico, e José Alberto Bombig, editor de política do Estadão. Transmitido ao vivo pela TV Cultura, o programa foi ilustrado por desenhos em tempo real do cartunista Paulo Caruso.

 

 

Ronaldo Caiado no Roda Viva: uma reação liberal incipiente, mas crescente

O senador Ronaldo Caiado, do DEM, foi o entrevistado no Roda Vivadesta segunda. Saiu-se bem. Logo na largada, disse seguir o pensamento liberal, sem rodeios. Já é algo raro em se tratando de Brasil, onde a esquerda detém (ou detinha) o monopólio da política e também cultural, e “neoliberalismo” virou palavrão após muita lavagem cerebral e propaganda enganosa. É verdade que logo depois qualificou que liberal não é anarquista (correto), e que ele enxergava a necessidade de um estado forte em certas áreas (ok), e incluiu nelas a regulação contra os excessos do mercado (um deslize perdoável).

Mas não deixa de ser alvissareiro ver que alguém como Caiado tem crescido sua base de apoio, tem ganhado destaque, sem medo de levar uma mensagem mais liberal aos eleitores, e também sem receio de enfrentar o PT com coragem e determinação, ao contrário do PSDB. Os tucanos, com sua postura pusilânime demais, poderiam aprender um pouco com Caiado sobre como lidar com os petistas.

O ponto alto da entrevista, em minha opinião, foi quando Caiado reafirmou o que já dissera antes, justificando seus motivos, que Lula é um bandido frouxo. A jornalista tentou arrancar dele um tímido recuo, como se ele tivesse incitando o clima de antagonismo, mas ele esfregou em sua cara quem faz isso, lembrando que sempre foi o próprio PT e o Lula que segregaram o país em “nós” contra “eles”. E ainda deixou claro porque Lula é frouxo sim, e irresponsável: quando acuado, convocou o “exército de Stédile” para lhe defender. Cesta de Caiado, jornalista com cara de paisagem.

Quando o assunto foi impeachment, Caiado deixou claro que defende novas eleições, e que a própria presidente Dilma deveria reconhecer a impossibilidade de continuar “governando” após o estelionato eleitoral, as “pedaladas fiscais” e a completa perda de legitimidade e credibilidade. Aécio Neves, se quiser capturar a indignação da população brasileira com Dilma e não perder muito espaço para Caiado, terá que adotar discurso mais firme também, afastando-se de FHC.

Uma pergunta capciosa tentou jogar todos os partidos na vala comum, questionando se Caiado agiria da mesma maneira se alguém do DEM fosse citado no escândalo. Sua resposta desarmou a jornalista: não é preciso especular, basta olhar os fatos. O DEM expulsou Arruda e Demóstenes Torres, enquanto o PT trata como heróis injustiçados os mensaleiros. A diferença de postura é evidente, e só não vê quem não quer, quem tem coração petista e saiu do “nunca antes na história deste país” para o “sempre antes na história deste país” como quem não quer nada, para defender o PT alegando que ele é “apenas tão ruim” quanto os demais.

Caiado mencionou outra característica podre do PT: a de demonizar os adversários, criar rótulos, espalhar mentiras. Ele mesmo já cansou de ser alvo dessa tática suja petista. Esse tipo de atitude mancha nossa democracia, impossibilita um debate sério calcado em ideias, prejudica os eleitores e o próprio país. Incapaz de conquistar seguidores por suas ideias e programas, os petistas partem para a grosseria, para o jogo sujo, para o “vale tudo”, dispostos a “fazer o diabo” para ficar no poder. O mensalão, Caiado disse e repetiu, era justamente um esquema corrupto de assalto do estado, um projeto totalitário de perpetuação no poder, e é preciso chegar ao chefe de tudo.

Em resumo, a entrevista foi boa, e mostra que a oposição ao PT não está morta. Caiado é articulado, mas pode melhorar ainda no embasamento das ideias liberais, nas propostas. Saiu-se bem na última pergunta, quando Augusto Nunes pediu para que comentasse a declaração de Sibá Machado, líder do PT na Câmara (sério!), de que a prisão de José Dirceu na nova fase da Operação Lava-Jato era um “golpe”, uma “aberração”, algo “orquestrado” e “midiático”, uma “perseguição contra o PT”. Caiado mostrou o quão infeliz e infantil foi a fala do petista, mas depois espetou: é triste acabar a entrevista rebatendo alguém como Sibá Machado!

De fato: é cada vez mais difícil levar qualquer petista a sério, ainda mais alguém como Sibá, o mesmo que afirmou que a CIA estava por trás das manifestações de milhares de brasileiros nas ruas do país todo. A que ponto o PT chegou?! Mas é o que lhe resta: afinal, ninguém muito melhor do que Sibá Machado aceitaria o papelão de defender o PT hoje em dia, de forma tão escancarada e ridícula.

Talvez o apresentador Jô Soares, que já disse que a biografia de Zé Dirceu era “impecável” e que Dilma não enganou seus eleitores. Mas há controvérsias se Jô é melhor mesmo do que Sibá Machado. Triste fim do PT. E que venha, finalmente, a oposição liberal, com muitos outros políticos como Ronaldo Caiado ou até mais enfáticos na mensagem em prol de menos estado e mais liberdade!

Rodrigo Constantino

 

FHC: um velho socialista fabiano…

Minha carta aberta a FHC e depois meu desabafo geraram bastante repercussão, e impressionou a quantidade de leitores do blog revoltados com o ex-presidente tucano. Alguns chegaram a “brincar”, usando o próprio bordão petista, que é, sim, tudo “culpa de FHC”, pois graças a ele o PT estaria onde está. Outros mencionaram a “teoria das tesouras”, alegando que o PSDB é uma espécie de “linha auxiliar” do PT numa estratégia perversa comunista, algo um tanto conspiratório para o meu gosto.

Um terceiro grupo questionou se Fernando Henrique não estaria gagá, ou então sob sequela dos efeitos da maconha, cuja legalização ele transformou em uma das mais importantes bandeiras no momento. Muito cruel. Por fim, um último grupo levantou a hipótese de ele ter o “rabo preso”, e por isso ter de adotar postura tão leniente com os bandidos disfarçados de políticos no PT.

Tudo errado, em minha opinião. FHC não é “linha auxiliar” do PT, tampouco está gagá ou sob efeito da erva. Não creio ter “rabo preso” também. Para mim, Fernando Henrique é, como quase todo mundo, uma figura ambígua, com qualidades e defeitos. Como presidente, abandonou parcialmente sua visão de mundo de intelectual de esquerda, e fez importantes reformas para o país, mas também plantou as sementes de vários programas “sociais” ruins, como as cotas raciais.

Como ex-presidente, teve postura quase de estadista, ainda mais se comparado ao Lula. Soube se afastar das intrigas do poder, manter uma distância saudável do dia a dia da política, ao contrário de Lula, que nunca abandonou de verdade o Palácio do Planalto e os palanques, voltando a fazer bravatas sensacionalistas como se ainda fosse um pelego oportunista disputando o poder, e não alguém que já havia exercido o importante cargo de presidente. Perto do sapo, o intelectual realmente parece um príncipe!

Mas eis, talvez, o grande problema: FHC é “diplomático” demais. O que se confunde, às vezes, com covardia, negligência, leniência, cumplicidade. E isso se deve, em minha opinião, ao seu passado de socialista fabiano. Para quem não sabe, o socialismo fabiano nasceu em Londres, e os intelectuais ingleses, mesmo quando de esquerda, costumam ser educados, refinados, quase esnobes. Está na alma de sua elite.

Os fabianos não queriam uma revolução armada como os comunistas, e sim uma “evolução” gradual rumo ao socialismo. Ícones da intelectualidade como George Bernard Shaw, Virginia Wolf e Bertrand Russell fizeram parte do movimento, liderado pelo casal Sidney e Beatriz Webb. Os comunistas muitas vezes encaravam o grupo como inimigo, pois achavam que suas bandeiras eram tímidas demais e serviam para impedir a revolta do proletariado, que ficaria satisfeito com algumas poucas conquistas, como salário mínimo e rede social de proteção.

Talvez por isso até hoje os petistas insistam na tese ridícula de que o PSDB é um partido de direita, e não de esquerda. Os tucanos se inspiraram nos fabianos, em especial Fernando Henrique Cardoso, com sua postura de “lorde tupiniquim”. Para “bater” no PT, só com luvas de pelica, com muita delicadeza. Por isso a fama de “mulher de malandro”, que só apanha, mas sempre volta, pedindo mais. Não é da natureza de FHC comprar briga, ainda mais com seus “dissidentes” de esquerda.

É inegável que Fernando Henrique sentiu uma pontada de satisfação quando Lula chegou ao poder e recebeu dele a faixa de presidente. FHC não esconde o orgulho pela trajetória do metalúrgico de esquerda. É, novamente, sua alma de fabiano. Um liberal, que valoriza o mérito individual e o empreendedorismo que efetivamente cria riqueza, jamais compartilharia desse orgulho de alguém que nunca passou de um oportunista, um bravateiro populista, um líder sindical sem escrúpulos.

Chegamos, então, ao cerne da questão: FHC trata Lula e o PT com condescendência demais, não por ser parte da uma conspiração gramsciana, ou por ter “rabo preso”, ou ainda por estar gagá ou “fumado”, e sim porque realmente enxerga Lula como alguém que merece respeito, apesar de tudo. Os fabianos condenam os métodos dos “revolucionários”, mas não seu suposto idealismo, seu objetivo final. Para FHC, o PT realmente deseja melhorar a vida dos pobres, e eles apenas divergem no grau de concessão que deve ser feita ao “mercado”, ao capitalismo.

O PSDB evoluiu mais, em resumo. É social-democrata, ou seja, respeita o básico da economia de mercado e aceita o jogo democrático. O PT não. O PT está mais para um movimento revolucionário que usa a democracia e o próprio mercado para seu objetivo de se perpetuar no poder e mudar essencialmente a sociedade, de cima para baixo. O PT é esquerda carnívora, o PSDB herbívora. O PT é bolivariano, o PSDB não. Mas não peçam muito mais do que isso aos tucanos da velha guarda, pois está, provavelmente, acima de sua capacidade rechaçar com veemência o que, por sua ótica, não deixa de ser um irmão rebelde e desgarrado.

O grande problema, que Fernando Henrique parece não ter percebido ainda, é que o Brasil está mudando. Boa parte da população acordou para o engodo populista que é o discurso de esquerda, que monopoliza as virtudes e a preocupação com os pobres. É questão de tempo até muitos compreenderem que o liberalismo é o único caminho. Como comenta o liberal Paulo Guedes em sua coluna de hoje, FHC já se deu conta de que há uma total descrença no sistema político, mas ainda não absorveu, ironicamente, uma mensagem de Marx, válida tanto para tucanos como petistas: enormes somas passando pelo estado são um convite à corrupção.

Ou seja, a social-democracia que o PSDB prega também contribuiu para o estado calamitoso em que o Brasil se encontra. Ainda assim, as divergências são naturais e até saudáveis numa democracia, e como já cansei de repetir, sempre haverá espaço para uma esquerda civilizada na disputa pelo poder. O PSDB é como o Partido Democrata nos Estados Unidos ou o Partido Trabalhista na Inglaterra. Já o PT não. Seus métodos são antidemocráticos, suas amizades com as piores ditaduras e sua sociedade no Foro de São Paulo são inaceitáveis, seu cinismo crônico faz mal ao debate político e a constante demonização dos adversários, tratados como inimigos mortais, impede qualquer aliança pragmática em prol do país.

É isso que FHC ainda não se deu conta, talvez por uma nostalgia dos tempos de socialista fabiano que discordava, mas com respeito e quase admiração, dos companheiros de luta. FHC provavelmente faz parte do time dos que lamentam os “desvios” e as “manchas no currículo” de figuras como José Dirceu e Lula, não daqueles que sabem que o mensalão e o petrolão apenas revelaram ao público sua verdadeira natureza. Em sua coluna no domingo, FHC deixa claro que ainda enxerga no PT um potencial de mudança, de amadurecimento, ignorando seu DNA, sua essência, sua raiz revolucionária:

Decidam a Justiça, o TCU e o Congresso o que decidirem, continuaremos a ter uma Constituição democrática a nos reger e a premência em reinventar nosso futuro. Tomara que as aflições pelas quais passam o PT e seus aliados lhes sirvam de lição e os afastem da arrogância e do contínuo desprezo pelos adversários, até agora tratados como inimigos.

É hora de reconhecerem de público que a política democrática é incompatível com a divisão do país entre “nós” e “eles”. Para dialogar, não adianta se vestir em pele de cordeiro. Fica a impressão de que o lobo quer apenas salvar a própria pele. Mais ainda, passou da hora de o lulopetismo reconhecer que controlar a inflação e respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal nada têm a ver com neoliberalismo, senão que são condição para que as políticas sociais, tanto as universais como as específicas, possam ter efeitos duráveis.

Em suma, cabe aos donos do poder o mea-culpa de haver suposto sempre serem a única voz legítima a defender o interesse do povo.

Hoje os jornais já dizem que, se o PT fizer esse reconhecimento público, FHC até aceitaria o diálogo. Ou seja, não aprendeu nada! Não entendeu, ainda, o que é o PT, qual a sua natureza. E não conseguiu ver essa obviedade pois sua lente está obnubilada pelo viés ideológico, pelo ranço do socialismo fabiano. Não acho que seja má-fé, tampouco algum tipo de pacto revolucionário arquitetado nos bastidores. Também não creio em medo por algum “rabo preso”.

Acho que FHC é apenas um velho socialista fabiano mesmo, alguém que evoluiu muito desde os tempos de “intelectual”, mas que não conseguiu abandonar completamente sua visão equivocada de mundo. E dela faz parte a “elegância” diplomática que mascara a pusilanimidade diante dos “revolucionários”, assim como o excesso de concessões ao adversário que o enxerga como inimigo mortal. A mulher de malandro sempre encontra uma desculpa para retornar, pois dessa vez sim, ele vai aprender e se tornar um gentleman com ela. Até o próximo olho roxo…

Rodrigo Constantino

 

Reforma ministerial: alguém acredita mesmo que Dilma vai reduzir drasticamente quantidade absurda de ministérios?

Dilma e seus ministros: um batalhão de feudos!

Um governo acuado, sem credibilidade, em meio a uma enorme crise política e econômica, com petistas graúdos voltando à prisão, precisa de factoides. O corte na quantidade de ministérios, nova bandeira da presidente Dilma (apenas mais uma que a oposição usava), cai como uma luva. Há claro apoio popular, pois ninguém consegue enxergar o menor propósito em quase 40 pastas ministeriais, que servem só para inflar os gastos públicos e serem usadas como moeda de troca política. É a forma de o governo dizer que vai cortar na própria carne também.

Tudo muito bonito no discurso. Mas alguém realmente acredita num corte drástico feito pela presidente Dilma? E mais: alguém acha que o corte será para valer, nos feudos controlados pelo próprio PT? Eduardo Cunha, presidente da Câmara, já disse que a presidente deve reduzir os ministérios e cargos dos petistas. Dilma está fragilizada, sem apoio no próprio partido, sem falar da “base aliada”. Vai bancar a corajosa e enfrentar esse vespeiro, justo nesse momento de extrema fraqueza? Quem quiser apostar nisso, é livre para tanto. Mas parece uma postura um tanto ingênua.

editorial do GLOBO fez o alerta: cortes nos ministérios não podem ser apenas subterfúgios para desviar a atenção das várias crises que assolam o país. Mas mesmo ciente do risco, o jornal dá um voto de confiança à capacidade da presidente Dilma de aprender com os próprios erros:

Tudo indica, é mais um resultado do caráter pedagógico das dificuldades econômicas e políticas. É certo que, diante do tamanho avantajado dos rombos nas contas públicas, não será este corte que resolverá o problema. Mas será um gesto político importante, no momento em que o Congresso surge, de maneira inconsequente, como empecilho ao incontornável ajuste fiscal. E a presidente ganhará autoridade nas negociações em torno dos cortes, sem considerar os ganhos em termos de velocidade nas decisões e sua execução no primeiro escalão do governo.

Mas tudo não passará de um gesto vazio, a depender das Pastas a serem extintas. Por exemplo, se forem preservadas, como se noticia, as secretarias com status de ministério sob controle dos chamados “movimentos sociais” — secretarias da Igualdade Racial, das Mulheres, dos Direitos Humanos.

Se isso acontecer, a reforma terá como saldo o aumento da presença do PT no novo Ministério, pois esses “movimentos” e o partido se confundem. Mantidas essas secretarias, a presidente não terá argumentos para suprimir ministérios em mãos de partidos aliados.

Se? Alguém realmente tem dúvida? Alguém acha que Dilma vai fazer a coisa certa, cortar na própria carne, mexer no vespeiro dos “movimentos sociais”, os únicos que, a soldo do próprio governo, ainda conseguem defendê-la? Miriam Leitão também foi na mesma linha em suacoluna de hoje, mostrando os desafios, onde cortar se a mensagem for para valer, mas de alguma forma acreditando que Dilma tem a vontade e a capacidade de fazer a coisa certa:

O governo está falando em reforma administrativa e redução de ministérios. Tomara que seja a sério e não para conseguir algum noticiário positivo neste turbilhão de más notícias em que vive imerso. Se quiser fazer uma reforma, terá motivo e forma de fazer. Dá para cortar, no mínimo, 18 ministérios. Isso diminuiria custos com a sua estrutura e ainda daria alguma esperança.

[...]

Os ministérios da Aviação Civil e dos Portos ficariam, claro, dentro de Transportes, onde sempre ficaram. O de Relações Institucionais iria para a Casa Civil, que sempre teve a função de fazer a articulação política. É claro que não precisa de um Ministério da Integração Nacional e outro de Cidades. Pode-se ter um só que tenha uma secretaria de assuntos urbanos. Desenvolvimento Agrário pode ficar dentro da Agricultura, como sempre ficou, onde também ficaria a Pesca e Aquicultura. O dedicado às micro e pequenas empresas foi invenção recentíssima apenas para dar um cargo ao partido de Gilberto Kassab. Pode ficar dentro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O do Turismo pode ser extinto e suas funções serem exercidas pela empresa estatal que cuida de turismo, a Embratur, como era anteriormente.

Faz sentido ter um Ministério do Planejamento e um Ministério de Assuntos Estratégicos? Alguém faz planejamento sem pensar em questões estratégicas? No primeiro mandato, esse ministério só serviu para produzir estudos para alavancar a propaganda do governo. No atual, está criando uma duplicidade com o Ministério da Educação. Já conversei com pessoas que me disseram constrangidas por serem chamadas para conversar com o ministro de assuntos estratégicos sobre temas que deveriam ser assunto na Educação. Em que os esportes do Brasil melhoraram desde que o assunto saiu da pasta da Educação? É outro que pode ter suas funções mais bem alocadas.

Acho legal tentar manter o otimismo, ser propositivo, mostrar o que deveria ser feito. Mas daí a crer que alguém como Dilma poderá, de fato, fazê-lo vai uma enorme distância. Aquela que separa pessoas realistas de sonhadores que se negam a enxergar a realidade como ela é. Dilma é um fracasso em todos os sentidos. Já foi vendida ao público como “faxineira ética”, como “gerentona eficiente”, como “trabalhadora séria”, como “exigente com os subalternos”, como “dona de casa e super família”, como “coração valente”. Não é nada disso. Tudo engodo. Mil caras, várias máscaras criadas pelo marqueteiro, mas nenhuma captura a verdadeira essência da presidente.

Sim, o Brasil precisa de uma reforma ministerial para valer, que reduza pela metade a quantidade de ministérios, que acabe com as boquinhas infindáveis dos partidos, que diminua as capitanias e os feudos partidários, os cargos de confiança, as mamatas com as ONGs engajadas, com os “movimentos sociais” etc. Qualquer pessoa minimamente razoável sabe disso. E qualquer pessoa minimamente razoável também sabe que Dilma não vai fazer nada disso, nada perto do que deveria.

Podem me cobrar na frente, como podem olhar lá atrás o que eu falava dos resultados econômicos de sua “nova matriz macroeconômica”, quando muitos ainda estavam eufóricos com o governo Dilma no começo (os mesmos que, pasmem!, ainda são entrevistados pelos jornais e canais de televisão como “especialistas” em economia). Essa “reforma ministerial” será mais um fracasso, um engodo, um factoide, algo para “inglês ver”, ou para sonhadores ingênuos acreditarem. 

A única reforma possível, no momento, é tirar Dilma e o PT do governo. Achar que as mudanças necessárias virão deles mesmos é simplesmente ignorar o que é o PT, qual a sua natureza, seu DNA. É não ter aprendido nada nos últimos 13 anos. É deixar a vã esperança dominar a experiência. É colocar a emoção à frente da razão. Se Dilma quer mesmo fazer a coisa certa, mudar, caminhar na direção correta, então a única coisa a fazer é renunciar ao mandato!

Rodrigo Constantino

Covardia e inveja no país dos coitadinhos

Sei que não será fácil atrair a atenção do leitor hoje para algum assunto que não seja a nova prisão de José Dirceu. Agosto, mês da volta às jaulas. O homem foi preso no regime militar, e duas vezes na democracia, com seu próprio partido no poder. Azar? Culpa do sistema? Ou falta de caráter do próprio?

Como não dá para desviar muito do assunto, vamos usá-lo como gancho para o tema mais abrangente tratado aqui: a covardia que, somada à inveja, levam ao “país dos coitadinhos”. No novo filme de Tom Cruise, o quinto “Missão Impossível” (muito bom, por sinal), o vilão é um total psicopata que enxerga nas mortes todas que causa apenas um meio aceitável para seus fins, e coloca depois a culpa no “sistema” por ele ser assim, fazer tais coisas.

O primeiro ato dos fracassados e marginais é se eximir de responsabilidade, apelar para algum coletivo qualquer. A esquerda, que vive de explorar o fracasso e a inveja alheias, adora esse discurso, sempre tratando bandido como “vítima da sociedade”. Abstrações coletivistas que servem para transferir a culpa para terceiros, sempre.

Em sua coluna de hoje na Folha, o filósofo Luiz Felipe Pondé trata do assunto, e conclui algo meio fora de moda: temperamento é destino. O preguiçoso dificilmente será bem-sucedido, e depois culpará o “sistema” por seu fracasso. O covarde, então, precisará do bando para compensar sua fraqueza:

Gente covarde. Piorou, né? Piorou porque hoje todo mundo é legal. Ou, se não é, é por culpa de alguma forma de opressão. Até mesmo a psiquiatria e as neurociências estão virando desculpa para temperamentos sem muitas virtudes justificarem seus fracassos. Dia desses, as pessoas virão com “manual de funcionamento”, e, por exemplo, aprovações em escolas e faculdade serão dadas por juízes e psiquiatras, e não mais pelos professores.

Bem feito para eles, os professores, que são bem culpados por isso tudo, uma vez que têm ensinado o “culto da vítima” há algumas décadas para os alunos. As crianças nem sabem mais as capitais dos Estados e dos países porque seus professores estão mais preocupados em pregar todo tipo de ideologia salvacionista. Quem diria que a sala de aula iria virar uma igreja?

Mas voltemos à covardia. Em épocas de guerra é mais fácil enxergar a covardia e ver que ela é uma epidemia. Em tempos de paz, ela fica mais disfarçada. Mas, ainda assim, você a vê aqui e ali. A covardia gosta de andar em bandos. Fala sempre “nós” e adora ser parte de algum “coletivo” ou “instituição”. A covardia é incapaz de sair do protocolo. Sente-se em casa num protocolo. Por isso é prolixa e, assim, enche o saco da coragem que tende a ser impaciente com ela. A coragem é sua inimiga mortal, inclusive porque é mais bonita e inteligente do que ela. A covardia adora ouvir o som da própria voz.

A originalidade é terra estranha para a covardia, que prefere copiar. Ela, a covardia, costuma se dar bem quando a regra é obedecer a mediocridade. É sempre um risco enfrentar a mediocridade porque ela tem a maioria em seu exército. Covardia e mediocridade são irmãs gêmeas. Uma se reconhece na outra. Uma defende a outra com uma fúria que só miseráveis de caráter sentem. Normalmente, essa fúria é alimentada pela inveja, prima irmã da covardia e da mediocridade. Todas as três são feias de doer. Diria, em gíria popular: três barangas de matar!

O covarde precisa do aplauso da plateia, precisa ser querido por “todos”, o que o leva ao sensacionalismo, ao populismo, à demagogia. Precisa, também, atacar o forte, o melhor, que ele inveja, o que leva ao coletivismo que tenta anular o indivíduo. Pondé fala ainda da mesquinhez e da vaidade, outros ingredientes típicos dessa turma que, infelizmente, dominou e ainda domina o ambiente cultural em nosso país há décadas. Foram as ideias paridas por essas pessoas que criaram o país dos coitadinhos.

Estou lendo, por sinal, o livro exatamente com esse título escrito por Emil Farhat na década de 1960. Deveria ser reeditado, pois consegui apenas um exemplar em sebo, bastante desgastado. Revela a alma do Brasil, que já em 1966 mostrava o caminho que iria tomar ao idolatrar o fracasso e culpar o sucesso. Abaixo, alguns trechos do longo prefácio, que já resume bem a situação lamentável de nossa mentalidade:

[...] este país tem que tomar opções diante do futuro, tem que livrar-se do complexo das encruzilhadas e libertar-se para sempre da “filosofia” hipócrita da frouxidão, e da esterilidade comodista da inércia.

[...] É preciso que as novas gerações, desavisadas ante certas distorções da piedade, e nisto tão ludibriadas, se acautelem contra as artimanhas intelectuais desses exploradores do “coitadismo”. Pois suas armadilhas sibilinas já quase chegam à audácia de erigir os albergues em símbolo dos lares que devemos ter… e parecem querer fazer dos pobres favelados a própria imagem “heroico-romântica” do que todos deveríamos ser…

[...] Não há dogma político, nem sofisma religioso que possa fazer aceitar a inaptidão do incapaz, ou a inércia do preguiçoso, ou a improdutividade do desleixado, ou a esterilidade do indivíduo sem iniciativa, como padrão além do qual tudo é “espoliação”: a dedicação do estudioso, a persistência do incansável, a inventividade do talentoso, a audácia do pioneiro, o inconformismo do homem dinâmico, a insatisfação do realizador.

Medir para baixo é estratagema dos frustrados e complexados que querem assim deter a potencialidade criadora dos cidadãos capazes.

[...] O que leva as nações para a frente é a divina obsessão dos que amam competir, dos que incansavelmente constroem, dos inquietos criadores, dos que rompem a inércia; dos que rasgam os pantanais humanos ainda que espadanando a preguiça; dos que desabam dilúvios de atividades ainda que estas perturbem a placidez do vazio e a esterilidade do nada.

Uma nação marca o seu destino quando a massa do seu povo passa a entender que a vida é uma permanente maratona viril de vontade, talento e audácia, onde não há lugar para a conspiração dos mesquinhos que buscam fanaticamente a compensação de bitolar todas as coisas pela curteza da sua inaptidão, ou pelo descompasso das suas frustrações.

[...] Este país não pode desorientar-se pela sinistra litania dos que se perderam ou se marginalizaram e querem, por isto, desmarcar e confundir as rotas alheias. Nem pode passar a temer a ação dos mais capazes – forçando-os a que simplesmente se igualem aos que fazem mal as coisas, ou nem as fazem. Nem pode punir o mérito, por este exceder ao desvalor dos que não se cuidaram. Nem deve estiolar-se na ideia estéril e mesquinha de que tirar dos que conseguem ter é a única e só maneira de dar aos que não sabem ter.

Agora apertemos o fast forward até o presente, e voltemos ao José Dirceu: alguém assim poderia chegar onde chegou sem essa mentalidade do coitadinho espalhada pelo país? O PT, partido populista e demagógico, teria ficado no poder por tanto tempo sem Paulo Freire e companhia espalhando por aí que os piores são, na verdade, os melhores? Haveria mensalão e petrolão se a covardia não fosse tão marcante em nosso país, se a inveja não dominasse tantos corações medíocres, que desejam destruir os melhores mais do que ajudar os piores?

Dirceu, não custa lembrar, foi tratado como “herói injustiçado” por seu partido, mesmo depois de condenado pela Justiça! Para essa gente, seus meios nefastos são aceitáveis para os “fins nobres”, como a “justiça social”. O monopólio das virtudes servia como justificativa para todo tipo de crime. A narrativa segregava o povo entre “nós” e “eles”, entre os “do bem” e os “maus”, da elite golpista, insensível, capitalista. Ser petista era estar a favor dos desvalidos, dos oprimidos, dos coitadinhos!

Deu nisso. Não poderia dar em outra coisa. O Brasil jamais vai se livrar dessa praga enquanto não mudar a mentalidade que serve como terreno fértil a essa praga, enquanto não abandonar o culto do coitadinho, a marcha dos oprimidos. Da próxima vez que o leitor escutar algum seguidor de Paulo Freire repetindo a máxima relativista de que ninguém é melhor do que ninguém, olhe-se no espelho e veja se você é ou não melhor do que alguém como José Dirceu.

É? Então não se deixe levar pela mensagem canalha dos covardes e dos invejosos. Eles já dominaram o Brasil por tempo demais. Está na hora de dar uma chance aos melhores, não é mesmo?

Rodrigo Constantino

 

Ricardo Noblat: Dilma, leniente ou cúmplice

Publicado no Globo

RICARDO NOBLAT

O PT sempre tratou seus adversários com um solene desprezo. Lula, que exerceu um único mandato de deputado federal, disse em certa ocasião que havia no Congresso 300 picaretas. Pouco mais, portanto, que a soma de deputados e senadores.

E o que ele fez quando assumiu a presidência da República pela primeira vez? Passou a governar com os picaretas. Se bem pagos, eles dão pouco trabalho.

Comparado com Dilma, dizem que Lula é um craque. Que sempre soube fazer política. Mas que tipo de política ele fez depois de se tornar inquilino do mais prestigiado gabinete do Palácio do Planalto?

O da farinha pouca, meu pirão primeiro? O do toma lá me dá cá? O do é dando que se recebe? O que aos amigos confere tudo, e aos inimigos os rigores da lei? A resposta é sim a todas as perguntas.

Nunca antes na história deste país houve tanta corrupção. E ela deve ser debitada, de preferência, na conta de Lula e de Dilma.

Não há maior engodo do que se atribuir a descoberta da ladroagem à independência concedida pelos governos do PT à Polícia Federal. O país já está crescidinho. Suas instituições estão sólidas e suportam crises.

A reeleição para cargos majoritários aumentou o apetite dos políticos pelo poder. Ninguém mais se elege pensando em fazer um bom governo em quatro anos. Elege-se pensando em obter um novo mandato.

E aí se gasta o que não se pode, rouba-se com vista à próxima eleição, e suborna-se para atrair apoios, garantindo-se  mais tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão.

No caso da presidência da República, mas não só, nunca antes a corrupção fez parte de um esquema tão ambicioso para a eternização no poder de um determinado partido.

É do PT, de Lula e de Dilma a responsabilidade política pelo que aconteceu. Foram eles que mais se beneficiaram de tudo. Se agora receiam que a polícia lhes bata à porta… Sabem o que fizeram.

Por cálculo político, esperteza ou porque creem, 10 entre 10 estrelas da política afirmam que Dilma é uma pessoa honrada. Que jamais roubou um tostão e que jamais roubaria.

O vilão é Lula. Foi nos governos dele que tudo começou. Fernando Henrique Cardoso defendeu essa tese em entrevista recente a uma revista alemã. Gentil homem!

Perguntem às estrelas se elas acreditam que Dilma é distraída a ponto de desconhecer o que se passava ao alcance dos seus olhos ou ouvidos. Dez entre 10 estrelas da política, sob a garantia de anonimato, responderão que não. É impossível que não soubesse ou que não desconfiasse.

Dou de barato que não roubou. Não a considero, porém, uma tola formidável capaz de ser enganada facilmente.

Quer dizer que Dilma nunca fez ideia que dinheiro sujo, derivado de negócios entre empreiteiras e a Petrobras, irrigou suas campanhas?

Que diretores da Petrobras, nomeados por Lula, desviaram recursos para alimentar os caixas do PT e de aliados?

E que cargos presenteados por ela a políticos sempre serviram ao roubo e continuarão servindo? Só a Petrobras perdeu algo como 19 bilhões de reais.

Dilma, ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da Petrobras, presidente da República, não viu que a empresa estava sendo saqueada?

E que não era a única?

Se não viu deve pedir desculpas e as contas por leniência. Se viu, deve ser mandada embora.

A alternativa é a manutenção no poder de alguém sem autoridade política para governar um país conturbado.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário