O POLÊMICO CARDEAL DE DILMA: NUNCA O PERIGO CHEGOU TÃO PERTO DA PRESIDENTE
O POLÊMICO CARDEAL DE DILMA: NUNCA O PERIGO CHEGOU TÃO PERTO DA PRESIDENTE
As denúncias da Lava-Jato já haviam, claro!, atingido Dilma Rousseff. Vocês sabem o que penso: acho que há muito existem elementos para denunciar a presidente por crime de responsabilidade. É que não adianta eu e a oposição acharmos. É preciso que pelo menos 342 deputados pensem a mesma coisa. Por isso, os partidos que combatem o governo federal precisam ter prudência. Não se pode correr o risco de queimar essa alternativa. Ocorre que Dilma está encalacrada ainda no TCU e no TSE — esta, a meu ver, a área mais espinhosa. Se o empresário Ricardo Pessoa repetir ao tribunal o que está em sua delação premiada — deu R$ 7,5 milhões à campanha à reeleição da presidente para não ser prejudicado na Petrobras —, o que farão os ministros? Ignorarão o assunto? O TSE varrerá para debaixo tapete o conteúdo da delação homologada pelo STF? E a situação está ficando ainda mais complicada.
Até havia pouco, um ou outro ainda poderiam argumentar que Dilma foi tragada pela máquina partidária; que muita coisa pode ter sido feita à sua revelia etc. Ocorre que reportagem da VEJA desta semana eleva em muito a temperatura da crise. Eis que surge no cenário uma figura que é unha e carne com a presidente, seu braço-direito, seu companheiro dileto, seu amigo do peito, de sua cota personalíssima de confiança: o nome dele é Valter Luiz Cardeal, diretor de Geração da Eletrobras.
VEJA revela outra bomba contida na delação de Pessoa. Leiam trecho da reportagem:
Num de seus depoimentos, Pessoa contou que, em setembro do ano passado, o consórcio Una 3 — formado por Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa e UTC Engenharia — fechou um contrato para tocar parte das obras da Usina de Angra 3. A assinatura do contrato, estimado em R$ 2,9 bilhões, foi precedida de uma intensa negociação. A Eletrobras pediu um desconto de 10% no valor cobrado pelo consórcio, que aceitou um abatimento de 6%. A diferença não resultou em economia para os cofres públicos. Pelo contrário, aguçou o apetite dos petistas. Tão logo formalizado o desconto de 6%, Cardeal chamou executivos do consórcio Una 3 para uma conversa que fugiu aos esperados padrões técnicos do setor elétrico. Faltava pouco para o primeiro turno da sucessão presidencial. O “homem da Dilma” foi curto e grosso: as empresas deveriam doar ao PT a diferença entre o desconto pedido pela Eletrobras e o desconto aceito por elas. A máquina pública era mais uma vez usada para bancar o partido em mais um engenhoso ardil para esconder a fraude.
A conversa de Cardeal foi com Walmir Pinheiro, diretor financeiro da empresa, escalado para tratar dos detalhes da operação. Depois dela, Vaccari telefonou para o próprio Ricardo Pessoa e cobrou o “pixuleco”. “Quando soube que a UTC havia assinado Angra 3, João Vaccari imediatamente procurou para questionar a parte que seria destinada ao PT — o que foi feito pela empresa”, relatou o empreiteiro. Aos investigadores, Pessoa fez questão de ressaltar que, segundo seu executivo, foi Cardeal quem alertou Vaccari sobre a diferença de 4 pontos percentuais entre o desconto pedido pela Eletrobras e o concedido pelas construtoras. Perguntado sobre o que sabia a respeito de Cardeal, Pessoa afirmou: “É pessoa próxima da senhora presidenta da República, Dilma Rousseff”.
Trajetória polêmica
Pois é… Cardeal nega a acusação, diz-se indignado e anuncia que vai processar Pessoa. Vamos ver, Odebrecht e Andrade Gutierrez dizem jamais ter pagado propina. A Camargo Correa diz que é o consórcio que tem de se posicionar a respeito, lembrando que ele é liderado pela UTC, de Ricardo Pessoa — que é quem faz a acusação.
Cardeal acompanha sua amigona desde há muito. Quando ela foi secretária de Energia do Rio Grande do Sul, nomeou-o diretor da companhia estadual de energia. Nomeada ministra, ela levou Cardeal para o governo federal. O homem comando os conselhos de Furnas e da Eletronorte e chegou a presidir a Eletrobras. Deixou um rastro de polêmicas.
CARDEAL E O LUZ PARA TODOS
Em outubro de 2010, informou VEJA:
O programa Luz para Todos é a versão petista do Luz no Campo, criado no governo FHC. Desde 2003, ele já levou energia elétrica a 2,5 milhões de famílias que dependiam de lamparinas ou geradores. Seria uma boa notícia, não fosse o fato de o Luz para Todos estar, desde o início, imerso em sombras – ao menos quando o assunto é a administração de suas verbas. Na semana passada, VEJA descobriu mais um fio desencapado no programa sob responsabilidade da Eletrobras. Seu diretor de engenharia é o já bastante enrolado Valter Cardeal, homem de confiança da ex-ministra e candidata à Presidência da República Dilma Rousseff.
Como um dos principais responsáveis pelo Luz para Todos, ele tem poder para liberar pagamentos e chancelar os contratos feitos com as empresas que executam o programa. Pois Cardeal achou que, se a luz era para todos, poderia também ajudar a energizar os negócios de sua família no Rio Grande do Sul. Por intermédio da AES Sul – concessionária de energia que atua no estado -. a Eletrobras contratou para trabalhar no programa uma firma chamada… Cardeal Engenharia! É isso mesmo que você leu. Fundada por Valter Cardeal, em 1999, ela passou a ser tocada por dois de seus irmãos, Edgar e Fernando José. O contrato da Cardeal Engenharia com o Luz para Todos, que terminou no ano passado, não envolvia a execução de obras físicas, apenas o “desenvolvimento de projetos”. Por ele, os Cardeal embolsaram 50.000 reais por mês, ao longo de 54 meses, totalizando uma bolada de 2,7 milhões de reais.
CARDEAL E A CGU
No dia 22 de outubro de 2010, informava a Folha:
Escuta da Polícia Federal aponta que o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletrobras, Valter Cardeal, atuou contra investigação da CGU (Controladoria-Geral da União) na estatal elétrica. Procurado, ele afirmou que a CGU reviu a suspeita de irregularidade no programa Luz para Todos, mas negou que isso tenha ocorrido por interferência dele. A CGU afirma que, após pedido de reconsideração, manteve “as impropriedades” anteriores, mas deixou de responsabilizar os diretores individualmente.
O grampo foi feito, com autorização judicial, em 10 de setembro de 2008. Quatro meses antes, Cardeal havia, com base em auditoria da CGU, sido denunciado ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pela Procuradoria da República, acusado de formação de quadrilha, gestão fraudulenta e desvio de recursos do Luz para Todos. Cardeal permaneceu no cargo e ainda teve sua defesa paga pela Eletrobras, que contratou um escritório de advocacia por R$ 1 milhão. O diretor é aliado da presidenciável Dilma Rousseff (PT) no setor elétrico há 20 anos, desde o tempo em que ela era secretária de Minas e Energia do RS.
A escuta telefônica captou uma conversa entre Cardeal e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau (2005 a 2007). Na época, a PF apurava suposto tráfico de influência no setor elétrico e, por isso, grampeou o celular de Rondeau.
CARDEAL E A CEEE
No dia 28 de outubro de 2010, informava a Folha:
À frente da Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, Dilma Rousseff (PT) e seu braço direito no setor elétrico, Valter Cardeal, hoje diretor da Eletrobras, participaram da criação de usina a gás que nunca saiu do papel e gerou prejuízo para a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica).
Batizada de Termogaúcha, a usina idealizada em 2000 foi liquidada seis anos depois pelos acionistas -CEEE, Petrobras, Ipiranga e Repsol-, sem funcionar. Os sócios movem processo contra a CEEE pelos prejuízos causados e por dívidas. A Termogaúcha foi incluída no programa do governo FHC para construir termelétricas. A intenção era utilizar gás argentino, o que não se viabilizou em seguida. Dilma e Cardeal culpam a crise energética argentina pelos problemas.
Documentos obtidos pela Folha mostram que Dilma avalizou a compra de turbinas a gás e a vapor da empresa GE (General Eletric), por US$ 100,3 milhões. Na época, ela ocupava o cargo de presidente do Conselho de Administração da CEEE. Em 2006, as turbinas foram vendidas por menos da metade do preço pago: US$ 43,1 milhões. Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras, uma das sócias, que tentou comprar as turbinas. Cardeal foi para a Eletrobras.
CARDEAL E A CGTEE
Em 2010, o banco KfW, por exemplo, controlado pelo governo alemão, entrou com ação contra a CGTEE (companhia de geração térmica de energia do governo federal) na qual afirmava Cardeal teria conhecimento de uma fraude milionária envolvendo a construção de usinas de biomassa no Sul. A CGTEE é uma subsidiária da Eletrobras. Na ação judicial, o banco diz que “até mesmo alguns políticos conheciam os fatos, como a então ministra, Dilma Rousseff”. A fraude na CGTEE foi revelada pela Operação Curto-Circuito da Polícia Federal em 2007. A PF constatou que parte do dinheiro desapareceu. Conforme a investigação, o grupo que comandava a estatal forjou um aval em nome da CGTEE para ajudar uma empresa privada – a Winimport – a obter empréstimo de 157 milhões de euros para erguer sete usinas de biomassa. Das sete, cinco não saíram do papel.
Encerro
Eis aí. Uma mulher, um homem e a história. Cardeal não é um daqueles petistas que tiveram de engolir Dilma e que Dilma teve de engolir. A relação dos dois é antiga. Ele foi nomeado diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica do governo gaúcho em 1999, ano em que se afastou da Cardeal Engenharia. O governador do Estado era, então, o petista Olívio Dutra, e a secretária de Energia, Dilma Rousseff. Cardeal e Dilma se conheciam por terem atuado juntos no PDT. A partir daí, não mais se largaram. Passaram a trabalhar sempre próximos um do outro e assinaram suas fichas de filiação ao PT no mesmo dia: 18 de março de 2001.
Por Reinaldo Azevedo
Aqui se fala, aqui se paga, falastrão! Nome de Lula derrete, aponta pesquisa Ibope
A cada vez que Lula bravateia por aí um “olhem que eu volto!”, tenho dito aqui: “Isso, volte mesmo! Deixe que o povo diga nas urnas o que pensa!”. Mas ele não vai tentar, não! O Ibope decidiu testar como anda a popularidade do ex-presidente numa pesquisa realizada na segunda quinzena do mês passado. Houvesse uma disputa hoje, em segundo turno, entre o petista e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o tucano a venceria por 59% a 41%. Se o nome do PSDB fosse Geraldo Alckmin, a vantagem do governador de São Paulo se situaria na margem de erro, que é de dois pontos para mais ou para menos: 51% a 49%. Vejam quadro abaixo, publicado pelo Estadão (clique na imagem para ampliá-la).
O que se tem acima é a confirmação inequívoca de que Lula está certo numa coisa: ele, o PT e Dilma estão mesmo no “volume morto”. Desde 2002, o petista venceria com folga qualquer adversário. A situação se inverteu. E parece se agravar quanto mais o próprio Lula e o PT insistem em espancar a realidade. E que se note: mesmo contra Alckmin, seus números são mais vexaminosos do que parecem à primeira vista.
O petista é o político mais conhecido do país: 100% dos brasileiros sabem quem é ele. Alckmin não faz uma campanha nacional desde 2006. Mesmo assim, tudo indica que derrotaria o ex-presidente no confronto direto. Deve-se considerar o óbvio: há pouco a fazer para tornar Lula mais conhecido, mas muito poderia ser feito por Alckmin nesse particular.
Resistências
Segundo o Ibope, Lula tem alguns bastiões de resistência, mas com números bastante minguados em relação ao passado. Contra Aécio, ele ainda levaria vantagem entre os que ganham até um salário mínimo (54% a 46%), têm até a quarta série (53% a 47%) e moram na região Nordeste (58% a 42%). Contra Alckmin, os números favoráveis ao petista nesses quesitos seriam, respectivamente, 64% a 36%; 60% a 40% e 67% a 33%. Nesse segundo caso, o ex-presidente ainda levaria vantagem entre os que recebem de 1 a 2 mínimos (56% a 44%), estudaram da 5ª à 8ª série (53% a 47%) e têm entre 16 e 24 anos (53% a 47%).
A pesquisa evidencia, como era o esperado, que o prestígio de Lula é melhor do que o de Dilma, mas que nunca esteve tão baixo. Segundo o próprio Ibope, apenas 9% consideram o governo ótimo ou bom, contra 68% que dizem ser ruim ou péssimo. Pesquisa do Datafolha dos dias 17 e 18 do mês passado já evidenciava o desprestígio eleitoral do Babalorixá de Banânia: numa simulação de primeiro turno, ele obteria 25% dos votos, contra 35% de Aécio e 18% de Marina Silva. Com Alckmin como o nome do PSDB, o petista empataria com a líder da Rede (26% a 25%), e o tucano alcançaria 20%.
Lula que se cuide! A depender do andar da carruagem, caso decida concorrer, há o risco de nem disputar um segundo turno. Aí, meus caros, o resultado para ele seria realmente PT: perda total.
Aqui se fala, aqui se paga, falastrão!
Por Reinaldo Azevedo
Te cuida, Levy
O clima está meio azedo no Palácio do Planalto em relação a Joaquim Levy. Aloizio Mercadanteacha que Levy tem que afrouxar o ajuste porque a depressão da economia está indo longe demais.
Por Lauro Jardim
“Ela vai resistir”
Um ex-ministro de Dilma Rousseff aconselhou na semana passada um afoito banqueiro que já fazia planos do pós-Dilma: “Só não conte com ela. A Dilma vai resistir até o fim”.
A propósito, algumas alas do PMDB – também afoitas – já discutem como seria o ministério deMichel Temer, caso ele assuma a presidência.
Por Lauro Jardim
Questão de legitimidade
O PSDB – Aécio Neves e FHC à frente – não admitirá publicamente, mas sonha com o seguinte cenário: o TSE cassa a chapa Dilma/Temer e, em vez de empossar o segundo colocado, convoca novas eleições.
A cúpula tucana avalia que a necessária legitimidade só viria com um novo pleito.
Por Lauro Jardim
Em queda 1
Seis das doze maiores construtoras de imóveis do Brasil não fizeram lançamentos neste primeiro semestre.
Por Lauro Jardim
Em queda 2
As companhias aéreas registraram uma queda de cerca de 40% nos assentos vendidos nosvoos domésticos no segmento corporativo neste semestre em comparação com o mesmo período do ano passado.
Por Lauro Jardim
Em queda 3
Por falta de demanda, a Petrobras exportou 50 000 litros de gasolina há quinze dias. A última exportação deste porte deu-se em 2011.
Por Lauro Jardim
O lucro ou as vidas? Um falso dilema criado por sensacionalistas
Nada é mais fácil do que a vida de um sensacionalista. Imbuído de uma autoimagem de nobre abnegado, o sensacionalista se coloca sempre do lado de Davi contra Golias, ou seja, ele é um sujeito bom pois toma sempre o partido do oprimido contra seu opressor forte e insensível. O protetor dos fracos e oprimidos: eis como o sensacionalista deseja se enxergar.
Reparem que um sensacionalista não precisa gastar duas calorias refletindo ou apresentando argumentos num debate realista e sincero: basta ele curtir uma mensagem piegas no Facebook ou escrever um artigo condenando a ganância (dos outros), e logo depois ele pode usufruir de todo conforto que tem como se fosse uma alma desprendida dos sentimentos mesquinhos dos demais seres humanos. É um caminho fácil para os vaidosos.
Quer um exemplo típico? Todo sensacionalista condena o lucro, e diante da pobreza alheia, diz que considera um absurdo as pessoas colocarem o dinheiro acima de seres humanos. O discurso é lindo! Mas há um pequeno problema, ao menos: se ele realmente pensasse assim, deveria distribuir automaticamente o seu próprio dinheiro para salvar algumas vidas miseráveis. Por que não o faz? Por colocar o dinheiro acima de seres humanos?
Na verdade, trata-se, além de pura hipocrisia, de uma falsa dicotomia, de um dilema equivocado criado pela mentalidade marxista, que enxerga a riqueza como um jogo de soma zero, um bolo fixo que precisa ser apenas melhor distribuído, e vê o lucro como exploração. Não existe essa necessidade de escolha entre lucro ou vidas humanas, apesar da retórica sensacionalista.
Tenho um artigo que foi publicado no GLOBO sobre o assunto, rebatendo um ataque comum dos sensacionalistas, que condenam os laboratórios farmacêuticos, que seriam ícones dessa ganância desmedida enquanto vidas se perdem por falta de remédios. Chomsky, o mais sensacionalista de todos, tem até um livro com essa falsa dicotomia no título.
Lembrei disso ao ler o artigo de Cacá Diegues hoje no GLOBO, pois o cineasta esquerdista apela para o mesmo tipo de sensacionalismo barato. Ele força seu leitor a escolher entre as bolsas de valores ou os pobres gregos, como se fosse realmente essa a escolha a ser feita. No fundo, é apenas uma tática sensacionalista para culpar “ricos” pela pobreza dos “pobres”. Abaixo, meu artigo que refuta essa bobagem sensacionalista toda:
Lucro que salva vidas
A notícia divulgada semana passada foi alvissareira para milhões de pessoas. A FDA aprovou o Truvada, pílula para ajudar a prevenir o HIV em alguns grupos de risco. Segundo a agência americana, o remédio pode reduzir em até 73% o risco de infecções causadas pelo vírus da Aids. Trata-se de mais uma importante conquista do capitalismo.
O laboratório responsável pela conquista foi o Gilead Sciences, fundado em 1987 na Califórnia. Nestes 25 anos, a empresa apresentou taxas aceleradas de crescimento, sempre em busca do lucro. Graças a isso, seu faturamento ultrapassou US$ 8 bilhões em 2011, permitindo um investimento acima de US$ 1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento no ano.
O mercado farmacêutico é bastante competitivo. Várias empresas precisam concorrer para atender melhor as demandas dos consumidores. É este mecanismo de incentivos que garante uma incessante busca por novidades desejadas pelos pacientes de inúmeros tipos de doenças e transtornos.
Claro que há o outro lado da moeda: grandes laboratórios pressionando médicos e fazendo campanhas para estimular o uso excessivo de medicamentos. Qualquer desvio do padrão comportamental virou motivo para diagnósticos precipitados. Vejo estarrecido o dia em que a Anvisa vai nos obrigar a tomar antidepressivos. João Ubaldo Ribeiro escreveu um excelente artigo sobre o tema neste jornal há alguns dias.
Mas compare este risco de abuso com a quantidade de vidas salvas graças aos avanços medicinais, com a redução do sofrimento dos doentes, com os sorrisos que retornam aos lábios idosos quando o Viagra devolve sua virilidade. Tanto alívio e tantas vidas salvas não têm preço. Ou melhor: têm sim, e custam caro!
Eis onde entra o capitalismo. Ainda presos na era medieval, muitos criticam o lucro como motivador das pessoas. Gostariam que a humanidade fosse movida somente pelo altruísmo. São românticos bem-intencionados. De boas intenções, porém, o inferno está cheio.
Os países socialistas, que seguiram esta receita, acabaram na miséria e escravidão, praticamente sem nenhuma contribuição relevante à medicina. A despeito da propaganda, o fato é que a medicina cubana é um lixo, principalmente para os pobres (todos aqueles distantes do poder). A União Soviética colocou o Sputinik em órbita, mas faltava papel higiênico e nenhum remédio importante veio deste regime.
Enquanto isso, laboratórios capitalistas em busca do lucro fornecem mais e melhores remédios no mercado. Pfizer, Merck, Eli Lilly, Roche, Sanofi, Novartis, Bayer, Schering-Plough, Astrazeneca e tantos outros, investindo bilhões na busca de medicamentos inovadores. Há quem acenda velas para santos. Eu agradeço a existência destes laboratórios em busca de rentabilidade.
Noam Chomsky, adorado pela esquerda, possui um livro cujo título já expõe a falsa dicotomia tão disseminada entre lucro e vidas humanas. Chama-se “O Lucro ou as Pessoas?”, e é uma crítica ao “neoliberalismo”, este fantasma inexistente na América Latina, mas ao mesmo tempo culpado por todos os males da região.
Chomsky, que já defendeu a candidatura de Heloísa Helena e foi citado com forte empolgação por Hugo Chávez na ONU, é um socialista. Seria o caso de perguntar ao famoso intelectual quantas vidas o regime socialista salvou, já que sabemos quantas ele ceifou: algo na casa dos 100 milhões.
Toda a retórica de nossos “intelectuais” contra o capitalismo não serve para salvar uma única vida. Por outro lado, as dezenas de bilhões de dólares que os laboratórios capitalistas destinam para pesquisas todo ano já salvaram milhões de vidas. E vão continuar salvando mais ainda, se os socialistas não criarem obstáculos demais.
Esta é a parte difícil. O sensacionalismo dos demagogos representa grande ameaça ao progresso. Sempre pregando maiores impostos (o que reduz a quantidade de recursos disponível para novos investimentos), ou então a quebra de patentes para reduzir os preços dos medicamentos (o que gera insegurança no setor e também reduz investimentos), a esquerda costuma agir como Maquiavel às avessas: para salvar dez vidas hoje, condena cem à morte amanhã.
No próprio caso da Aids, a esquerda insistiu que era preconceito falar em “grupo de risco”. Como o vírus não liga para a sensibilidade politicamente correta, milhões de pessoas podem ter contraído a doença desnecessariamente, por falta de maior precaução. A praga do politicamente correto corrói até a ciência, que não possui ideologia.
O mundo seria um lugar muito melhor se tivesse menos hipocrisia e mais laboratórios em busca de lucro.
PS: Talvez um dos mais sensacionalistas em terras tupiniquins, Verissimo se supera na cara de pau em sua coluna de hoje, bem acima da de Cacá Diegues. O humorista, que faz humor involuntário quando resolve falar de economia, afirma que a Alemanha é hipócrita por cobrar dívidas dos gregos, pois já deu calote no passado, e pior, que foram esses calotes que permitiram seu progresso! Sim, para Verissimo, o sucesso alemão não tem nada a ver com as reformas ordoliberais, mas sim com o calote, o presente de não pagar as dívidas passadas. E claro, ele também usa, como bom sensacionalista que é, a falácia dos bancos ricos contra pobres gregos. E termina citando um bolero sobre hipocrisia. Há algo mais hipócrita do que isso?
Rodrigo Constantino
Dilma para Cardozo: “Você fodeu a minha viagem.” Só faltou ele responder: E você, o Brasil
O desespero de Dilma Rousseff transborda em explosões de fúria reveladoras.
Em abril, ela dizia: “Eu tenho certeza de que minha campanha não teve dinheiro de subornos”.
Agora a Folha informa que, após Ricardo Pessoa acusar sua campanha de embolsar propina da Petrobras, Dilma reuniu, no dia 26 de junho, seus comparsas Aloizio Mercadante, Edinho Silva, Giles Azevedo e José Eduardo Cardozo, e disse:
“Não sou eu quem vai pagar por isso. Quem fez que pague”.
É a nova versão do “houve, viu?”, expressão com que ela admitiu a existência do petrolão após meses acusando a oposição de “golpe”.
Dilma sapiens também disse na reunião, com a fineza de costume:
“Eu não vou pagar pela merda dos outros”.
Nem precisa. Basta que pague pela própria.
Furiosa, ela ainda cobrou Cardozo por não ter impedido que as revelações de Pessoa viessem a público dias antes de sua visita oficial aos Estados Unidos, num momento em que buscava notícias positivas para reagir à crise.
“Você não poderia ter pedido ao [ministro] Teori [Zavascki] para aguardar quatro ou cinco dias para homologar a delação? Isso é uma agenda nacional, Cardozo, e você fodeu a minha viagem”.
Assim como Lula, Dilma queria que Cardozo interferisse no Judiciário, o que ela mesma acabou fazendo dias depois, ao atacar os procedimentos de prisão preventiva adotados pelo juiz Sergio Moro e ao ter um encontro clandestino no exterior com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, supostamente intermediado pelo próprio Cardozo, que buscaria assim se redimir.
Como escreve Josias de Souza sobre o golpe português:
“Dilma estava a caminho da Rússia. Aterrissou em Portugal a pretexto de reabastecer o jato presidencial. Em vez de Lisboa, preferiu o Porto. Lewandowski e Cardozo estavam na cidade de Coimbra. Participavam de um seminário de nome sugestivo: ‘O Direito em Tempos de Incertezas’.
Na versão oficial, Lewandowski soube por Cardozo que Dilma faria escala em Portugal. E pediu ao ministro da Justiça que intermediasse o encontro com a presidente. Em Brasília, o mandachuva do STF poderia cruzar a praça a pé para chegar à sala de Dilma. Em Portugal, teve que vencer os cerca de 120 quilômetros que separam Coimbra do Porto. E querem que ninguém faça a concessão de uma surpresa. É certo que o brasileiro baniu dos seus hábitos o ponto de exclamação. Mas há limites para o cinismo.”
Há limites, também, para a oposição permitir que Dilma faça com o Brasil o que Cardozo fez com a sua viagem.
Os brasileiros não aguentam mais pagar pela “merda” de seu governo.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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